Acompanhei este evento à distância, de velho cachecol posto, de ouvidos na rádio, com o coração num cesto, como se fosse uma final europeia. A notícia dos 600 votos de vantagem fez-me acreditar, quando de repente me apercebo que algo obscuro se passava. Temi o pior e o pior aconteceu. Senti nojo.
Notas laterais:
A palavra “nojo” descende do latim “in odium”: «em ódio». Ainda hoje se utiliza a expressão “dias de nojo” aquando da morte de um familiar por oposição a “dias de gala” aquando da celebração de um evento jubiloso como o matrimónio.
[i][b]DIAS REGULAMENTARES POR NOJO
Dias a que cada pessoa tem direito por falecimento de familiar.
Lei nº 99/2003 de 27 de Agosto - Código do trabalho[/b][/i]
Contudo a palavra “nojo” tem no vernáculo alguns significados mais extremos. Nojo é também uma profunda aversão, repulsa, asco emético. Há, no entanto, situações onde os significados algo divergentes se manifestam em simultâneo, apelando à união de ambas as semânticas no mesmo signo. Hoje senti profundo nojo em ambos os sentidos: Luto e Asco. Estou de luto e estou repugnado.
O processo
Durante toda a campanha, diversas candidaturas actuaram como “stool pigeons”, “decoys”, agentes ao serviço de um mesmo objectivo. Perante a queda eminente, perante o seu fim em cuecas e o possível destapar da verdade, uma dinastia de gente sombria montou uma estratégia de guerra própria dos livros de Machiavel. Batedores, Flanqueadores, Espiões, Infiltrados, Contra-Informadores, actuaram em 4 candidaturas, usando as suas perniciosas influências na vida social e unindo-se num único objectivo: impedir que o Sporting Clube de Portugal saísse do controlo de uma hermética rede de famílias de barões, banqueiros, maçons, diplomatas, mecenas, corruptos, oportunistas e, claro, vendidos. Gente sinistra que se blindou no Sporting e que o usa como plataforma sócio-económica para seu consumo interno. Gente sinistra e até consaguínea.
Nature of the beast
Instalados como ténias, estes parasitas tomaram o clube. Exploram-no e tiram proveito de uma herança construída por milhares de atletas e milhões de adeptos, por gerações inteiras que elevaram o Sporting com sangue, suor e lágrimas, em campo, aos mais altos estratos da vitória apaixonante e do amor incondicional. Somos agora reféns desta rede. Cativos de um grande amor, temos alimentado a coutada destes sinistros personagens de nomes esquisitos que vivem numa realidade paralela à nossa. Temos continuado a pagar quotas, bilhetes de época, deslocações, transmissões. Gritamos, sofremos, choramos, somos humilhados. Para quê? para alimentar uma máquina de lavar dinheiro, onde se vampiriza o clube e onde gente sem escrúpulos se passeia e exibe, impune.
A derradeira batalha contra um inimigo sem escrúpulos
Ontem o Sportinguismo combateu com honra e dignidade até ao fim. As notícias que chegavam de fonte segura davam ao alvo comum desta gente uma vantagem de 600 votos sobre todos os outros. Chegaram a ser feitas declarações de assunção da derrota por parte da oligarquia, quando de repente se anuncia um volte-face cujo diferencial se aproxima dos 1000 votos. Não estamos a falar de 1 milhar de votos num universo de milhões, estamos a falar de 1000 votos em 88000, uma reviravolta significativa. Não é um erro de contagem de alguns votos. Até bem de madrugada, a vitória da candidatura da ruptura era confirmada como vitoriosa, por tal, o discurso tardio por parte Lino de Castro —de que o CCC (candidato da continuidade da corrupção) esteve sempre à frente soa pouco credível—. Os locais onde decorreram as contagens não estavam selados e a informação sempre foi de que excepto nas mesas mais antigas, Bruno de Carvalho esteve sempre na frente.
Retrospectiva
Indo mais atrás, é sabido que a votação esteve envolta num clima de provocação por parte dos cães de guarda da Continuidade, que procuraram desestabilizar todo o processo eleitoral, com uma postura passivo-agressiva em relação a Bruno de Carvalho. Todos sabemos que a haver recrutamento e impingimento de voto, estes foram apanágio e trunfo exclusivos da Lista A.
Não só o direito à indignação, mas o direito à intuição…
Todavia, e sendo eu humano, ninguém me tira da cabeça que, para além de todo o processo insidioso que envolveu estas eleições, durante a contagem inicial houve ainda mais fraude eleitoral que se veio a reflectir nas recontagens. Um processo eleitoral que nos remonta para a fraude de Américo Thomaz, George Walker Bush ou Viktor Yanukovich.
…ou pior ainda
Caso eu esteja enganado quanto à minha suspeita de fraude eleitoral, o caso afigura-se ainda pior.
Estamos pois perante um clube fechado dentro de um círculo de ignorância onde reina um desequilíbrio eleitoral premeditado que premeia a cegueira mental e a absoluta inoperância intelectual. É premiada pois a memória de peixe e a incapacidade de interpretar as imagens projectadas pela retina no cérebro, desde que se prolongue no tempo. Se cada sócio tivesse valido por um voto, Bruno de Carvalho e o seu projecto teriam ganho com 1500 sócios de vantagem: num universo de 14000 votantes, é uma diferença esmagadora. Mas perante uma votação viciada à partida, não chegou adicionar-se-lhe uma campanha negra, como foi preciso assegurar o resultado final de uma forma própria das grandes falcatruas.
O triunfo de Pirro
Se se confirmar a eleição deste sócio de 1994, obscuro personagem retornado da sombra, responsável directo pelo desastroso processo do novo Estádio de Alvalade e inquirido num grave caso de corrupção que lesou o Estado Português e do qual não saiu ilibado mas, sim, absolvido por insuficiência de provas, não poderei continuar a compactuar com esta instituição chamada Sporting Clube de Portugal.
Acta est fabula. Plaudite!
Perante este derradeiro episódio, afasto-me deste clube e desejo que perca, especialmente no seu futebol, em toda a linha. Só depois de morto, os agentes microbianos que o poluem, abandonarão o corpo moribundo. Até morrer nunca o deixarão em paz, é assim com as doenças infecto-contagiosas em pacientes fragilizados, por isso que morra de vez com todas as ténias lá dentro. Qualquer clube liderado por esta gente não é a minha casa. Não me revejo nesta gente. Finalmente e após 6 anos de reflexão, este episódio é a gota de água que põe termo ao meu gosto por este clube. O Sporting que me emociona já não existe. Agora só resta um clube que usurpou o Sportinguismo. Tranquilos fiquem que não sou vira-casacas nem tenho nenhuma necessidade de estar “in”, por isso jamais apoiarei outro “grande” ou até um Braga desta vida. Há bom futebol amador por esse país fora.
Simplesmente não tenho mais nada a ver com este clube a não ser numa perspectiva histórica e cronista. Perante isto, o Sporting já não é o meu clube.
[b]PS: para os que alinharam com Godinho Lopes e seus convictos militantes, desde Pedro Cunha Ferreira a Mário Moniz Pereira, faço destas as minhas palavras:
[i]“Uma nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos. Mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si mesma. Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega as suas bandeiras abertamente. Mas o traidor move-se livremente dentro do governo, os seus melíferos sussurros são ouvidos entre todos e ecoam no próprio vestíbulo do Estado. E esse traidor não parece ser um traidor; ele fala com familiaridade às suas vítimas, usa a sua face e as suas roupas e apela aos sentimentos que se alojam no coração de todas as pessoas. Ele arruína as raízes da sociedade; ele trabalha em segredo e oculto na noite para demolir as fundações da nação; ele infecta o corpo político a tal ponto que este sucumbe. Deve-se temê-lo mais que a um assassino.”
(Marco Túlio Cícero)[/i][/b]
« Penúltima modificação: Março 27, 2011, 11:30 por Viridis »