Já passaram cinco anos desde a inauguração do novo Estádio. Já há com certeza jovens sportinguistas que seguem o clube com paixão, mas que não se lembram do velho Alvalade, nem nunca chegaram a ver um jogo nele disputado. E, para muitos adeptos mais antigos, que ainda se recordam vivamente daquele querido Estádio, este está associado a dias felizes, talvez à juventude que já passou e é recordado com saudade. Porque o sportinguismo também se faz de nostalgia e do justo tributo ao passado, lembrei-me de fazer uma pequena história do Estádio José Alvalade e completá-la com as minhas memórias do mesmo.
Aqui vai.
O Sporting já teve vários estádios, todos eles situados na mesma zona da cidade de Lisboa, entre o Campo Grande e a Quinta das Mouras. O primeiro campo, inaugurado em 1907, foi o do Sítio das Mouras e o mais significativo, até ao primeiro Estádio José Alvalade, foi o chamado “Stadium de Lisboa”, inaugurado em 1914. Até ao surgimento do relvado das Salésias, o “Stadium” era o melhor campo de Lisboa e muito requisitado para jogos que despertassem grande interesse.
O Estádio de Alvalade foi inaugurado em 10 de Junho de 1956 e inseriu-se numa onda de construção de novos recintos que só encontrou paralelo no início do século XXI, aquando da preparação do Euro, e que incluiu a edificação de novos estádios para os principais clubes do país (Sporting, Benfica, Porto e Belenenses). O Estádio foi construído com grande rapidez, tendo as obras, executadas por um número de trabalhadores que chegou a atingir 1.400, durado pouco mais de um ano. Talvez tenha sido tanta rapidez que levou o futuro presidente da FPF Silva Resende, então jornalista da Bola, a escrever, no dia da inauguração, “vê-se e mal se acredita”.
O projecto foi assinado pelos Arquitectos António Augusto Sá da Costa e Anselmo Fernandez, este um dos maiores sportinguistas de todos os tempos. Basta recordar que foi atleta do clube durante dezassete anos, que não cobrou honorários pelo seu trabalho na elaboração do projecto e que foi o treinador da equipa que conquistou a Taça das Taças em 1964, cargo que também exerceu gratuitamente. Um dos momentos mais penosos que associo ao velho Alvalade ocorreu durante o minuto de silêncio que, antes de um jogo de campeonato, assinalou o seu falecimento. Quando se ouviu que o silêncio homenagearia o arquitecto Anselmo Fernandez, o espectador que estava à minha frente murmurou para o parceiro do lado “Anselmo Fernandez, quem era esse gajo?”. Tal ignorância (na Superior Sul!) foi para mim simplesmente imperdoável.
Curiosamente, o projecto inicial nunca foi concretizado. Estava previsto um estádio simétrico, com a bancada central poente a encontrar uma réplica exacta a nascente – duas centrais, com uma pala cada uma. No entanto, a bancada nascente nunca viria a ser construída, sendo a parte do Estádio que lhe estava destinada ocupada pelo peão e, a partir de 1982, pela Bancada Nova, que não era fiel aos planos originais.
Muito do dinheiro necessário ao pagamento da construção do Estádio foi doado pelos sócios. Em 30 de Maio de 1954, mais ou menos por altura do início dos trabalhos, já se estimava que os sportinguistas tivessem contribuído com cerca de oito milhões de escudos, quantia assinalável para a época. Sob a liderança do Presidente Góis Mota, os sócios e adeptos mobilizaram-se e ficaram célebres as sessões de “picaretada”, nas quais os leões pagavam às vezes até vinte escudos pelo direito de ajudar na demolição do campo antecessor do Estádio José Alvalade.
A festa da inauguração foi memorável e grandiosa, à maneira da época. Estiveram presentes cerca de 60.780 espectadores, que viram desfilar representantes de duzentos clubes, incluindo setenta e uma filais do Sporting Clube de Portugal, e viram também um Sporting reforçado com elementos de outros clubes perder por 2-3 com o Vasco da Gama. Nesse jogo histórico, alinhámos da seguinte maneira: Carlos Gomes, Caldeira e Pacheco; Cabrita (do Sporting da Covilhã), Falé (do Lusitano de Évora) e Juca; Hugo, Vasques, Miltinho, Imbelloni (sem clube) e Martins (o tal Martins que, em 1955, marcou o golo que tirou o título ao Belenenses para o dar ao Benfica, numa grande prova do desportivismo e lealdade que devem ser sempre a marca do Sporting). O primeiro golo foi marcado por Juca, na própria baliza, o primeiro golo do Sporting por Miltinho, que fez o 1-2.
Outro momento alto foi a aparição de uma frota de Vespas, numa das quais se transportava terra vinda de Olímpia, de certa forma a pátria do desporto, terra que foi simbolicamente incorporada no Estádio, que, dotado de pista de ciclismo, fora idealizado para acolher vários desportos, o que lhe dava um cariz verdadeiramente “olímpico”.
O primeiro título de campeão festejado no Estádio José Alvalade foi o de 1957/58. Uma equipa onde pontificavam os últimos dois violinos em actividade, Vasques e Travassos, derrotou o Caldas por 3-0 perante um Estádio cheio. A última festa do título em Alvalade, como todos se recordarão, foi a de 2001/02, mais uma vez com o Estádio cheio, para presenciar a vitória por 2-1 frente ao Beira-Mar obtida pelos já virtuais campeões (e não esquecer a mítica noite de Maio de 2000, quando dezenas de milhares invadiram Alvalade e ali ficaram até de madrugada para vitoriar os jogadores que tinham acabado com o grande jejum).
A pista de atletismo foi inaugurada em 1977, desaparecendo a de ciclismo, entretanto tornada famosa pela sua utilização na Volta a Portugal. A pista de atletismo acabou por se tornar num dos “ex-libris” do estádio, não só por fazer dele o maior estádio “olímpico” do país, mas por se tornar num símbolo da força da secção de atletismo do Sporting, orientada pelo “eterno” Professor Moniz Pereira e que, só nos últimos 20/30 anos, produziu e incentivou atletas do calibre de Carlos Lopes, Fernando Mamede, os irmãos Castro, Naide Gomes, Francis Obikwelu, etc. e deu tantas glórias a Portugal em Olímpiadas, Campeonatos do Mundo e Campeonatos da Europa.
A Loja Verde foi inaugurada em 17 de Novembro de 1980 e eu visitei-a pouco tempo depois – um ano? dois anos? – não sei ao certo, mas sei que foi lá que o meu pai me comprou a camisola, que ainda hoje guardo, que usei quando fui ver a final da Taça de 1982, a tal do Quinito com “smoking” creme e camisa aos folhos. Durante muito tempo o Vasques (o tal que se seguia ao Jesus Correia e antecedia o Peyroteo) podia ser visto na Loja, onde trabalhava. Mas olhando para aquele homem discreto e modesto, ninguém imaginaria que estava perante uma das maiores lendas do clube.
O Estádio José Alvalade tornou-se conhecido, nos seus últimos anos, pela sua utilização como palco de espectáculos musicais. Foi uma boa maneira de rentabilizar o Estádio, mas com consequências para a qualidade do relvado, que culminaram no famoso atoleiro em que se jogou uma partida da Champions contra o Mónaco, daquela vez que mandaram vir um helicóptero para pairar sobre o relvado numa tentativa de o secar e acabaram por encher tudo de areia. Como ganhámos 3-0, se calhar deviam era ter mantido a receita…
O Estádio de Alvalade testemunhou muitas exibições notáveis do Sporting e grandes jogos de futebol. Destaco dois, que estabeleceram recordes que ainda hoje perduram. Os 16-1 ao Apoel Nicósia na Taça das Taças de 1963/64, maior goleada da história das competições europeias, em 13 de Novembro de 1963, jogo em que Mascarenhas marcou 6 golos, e os 21-0 ao Mindelense (na altura algumas equipas das colónias participavam na Taça de Portugal, vindo jogar à “metrópole” com todas as despesas pagas), maior goleada da história da prova, em 24 de Maio de 1971, com 8 golos de Peres.
Quisesse eu evocar todos os jogos lendários que se disputaram no velho Alvalade, teria que escrever milhares de palavras, pois foram tantos, desde os 5-0 ao Manchester United de Charlton, Law e Best aos SETE-A-UM ao célebre jogo com o Rangers, com o grande Damas a defender penaltys inutilmente, aos famosos 3-1 ao Benfica de 1981/82, com a agressão de Bento a Manuel Fernandes que fez um colega meu (da escola primária) deixar de ser do Benfica para passar a ser do Sporting porque “não perdoava” aquele acto bárbaro…
E, finalmente, não posso esquecer os tristes acontecimentos de 7 de Maio de 1995, o dia em que morreram dois adeptos na queda do varandim, José e Paulo. Também eles ficarão, para sempre, ligados à história do Estádio José Alvalade.
A última época em que o Estádio foi usado, já com parte da Superior Sul demolida, foi 2002/03. A UEFA exige que os estádios em que se disputem jogos dos campeonatos da Europa tenham pelo menos um ano de uso, pelo que era necessário que a época 2003/04 já fosse disputada no novo Estádio. O velho José Alvalade guardou alguns mistérios até ao fim, como por exemplo um velho balneário abandonado e emparedado, onde ainda foram encontrados alguns equipamentos em farrapos. Com a demolição findaram 47 anos de história e desapareceu para sempre o local onde muitos de nós aprendemos a amar o Sporting.
E agora, passo a relatar algumas das minhas memórias do Estádio. Não as escrevo todas, algumas guardo para mim e espero levar-vos a recordar o Velho José Alvalade:
1 – Ir aos jogos
Ainda não me esqueci deste ritual (como poderia esquecer-me?). Entrar pela porta 12. Subir as escadas até que elas se bifurcassem e, então, virar à esquerda. Subir o resto das escadas até me encontrar no vão da bancada. Virar à direita e seguir em frente, até ao acesso à bancada directamente à minha frente. Entrar na Superior Sul, tendo a Juve Leo logo à minha esquerda. Olhar em frente, para a Norte, para ver se ela a) estava fechada, b) estava com pouca gente ou c) estava com bastante gente, o que seria mau sinal, pois significaria que com certeza já não haveria bons lugares na Sul, tendo eu que me contentar com um lugar nas escadas ou quase no cimo da bancada. Começar a subir a bancada e procurar um lugar a) no meio da Juve Leo, b) o mais próximo possível da Juve Leo, do mesmo lado da escada que levava ao cimo da bancada, c) o mais próximo possível da Juve Leo, do outro lado da escada, d) onde houvesse. Ver o jogo.
2 – Anunciantes e patrocínios
Serei eu o único a imaginar que o Balakov ainda tem uma arca frigorífica cheia de paios de York e chouriços da marca Viçosos (ou seria Viçosus?), que se fartou de ganhar ao marcar o primeiro golo em jogos disputados no velho Estádio? Quem não se lembra dos peculiares anunciantes cujos produtos eram publicitados pelo sistema sonoro? Viçosos/ Viçosus, Marlboro Classics (que davam roupa ao guarda-redes quando ele não sofria golos, com certeza que o Costinha ainda hoje deve usar umas velhas calças de ganga Marlboro Classics para lavar o carro ou ir pôr o lixo ao contentor), Mini Foto Estúdio, há 30, 31, 32, 33, 34, etc. anos no Lumiar, junto aos Inválidos do Comércio, Restaurante Duas Amazonas, Restaurante o Retiro do Mocho, Top Tours, quantas vezes não ouvimos nós os anúncios destes e de outros leais apoiantes do Sporting, todos eles com esquemas de descontos para os sócios?
E os patrocínios que se foram sucedendo na camisa do Sporting? Primeiro a FNAC, não a loja de livros e discos, mas uma companhia de ar condicionado entretanto falida, mas que nos anos 80 era das mais importantes do país, patrocinando-nos a nós, ao Benfica, ao Salgueiros e a mais algumas equipas. Depois foi a Nissan. E depois a Bonança. E depois uma quantidade de marcas, desde a cerveja FAXE ao Queijo Castelões à SIC às Águas do Caramulo, até se chegar ao domínio das empresas de telecomunicações (Telecel, PT, TMN, Meo, Sapo e quejandos) e do BES.
3 – Claques
Juve Leo, Força Verde, Onda Verde, Torcida Verde e nos últimos anos do Estádio Directivo XXI. Também havia uma misteriosa tarja do Núcleo Sportinguista de Paço d’Arcos que estava sempre afixada na vedação da Superior Norte, mesmo quando esta bancada estava completamente vazia. Durante brevíssimo tempo, houve uma claque feminina chamada Wild Ladies, ao que parece uma secção feminina da Juve Leo, sobre a qual li no Jornal do Sporting, mas que não me lembro de ver no Estádio.
No início, a Juve Leo estava na Bancada Nova, na sua extremidade sul. Depois, mudou-se para o centro da Superior Sul. A Torcida estava na lateral entre a Sul e a Nova, no que chamavam a “Curva Stromp”. Os “megatifos” ocorriam praticamente todos os jogos, com bandeiras, estandartes, fumos, camisas gigantes, panos a cobrir grande parte da Superior Sul, etc. Os fumos não faltavam e, nos jogos grandes, com a Superior Sul com mais gente do que a lotação prevista (que sensação era olhar para trás e ver um mar de gente, sem clareiras, até ao cimo da bancada!), acabava por ter que ficar tudo de pé e todos os adeptos participavam da festa.
4 – Primeiro jogo
O primeiro jogo que eu vi em Alvalade: Sporting, 3 – Sevilha, 2 (1-1 na primeira mão), a contar para a Taça UEFA, em 28 de Setembro de 1983 (faz agora 25 anos!). O Sporting alinhou com Katzirz, Gabriel, Zezinho, Virgílio e Mário Jorge; Lito, Kostov (Futre, aos 51 minutos) e Romeu; Manuel Fernandes (capitão), Oliveira e Jordão (Fernando Cruz, aos 85 minutos). O treinador era Jozef Venglos e o Sporting assegurou a vitória com um golo de Oliveira aos 89 minutos, após ter estado a perder por 0-1 e 1-2. Os outros dois golos foram de Kostov (31 minutos) e Mário Jorge (60 minutos).
Vi o jogo na Bancada Central, onde poucos mais veria. A esmagadora maioria das vezes ia para a Superior Sul, mas vi jogos em todas as bancadas, Sul, Norte, Central e Nova e até em camarotes e mesmo na Tribuna Presidencial.
5 – Casas de banho
A minha regra de ouro era: caso sentisse o mínimo aperto na bexiga, ir à casa de banho antes do jogo. Os urinóis da Superior Sul eram uma coisa espantosa. Ficavam numa sala quadrada, com urinóis ao longo de três paredes e de parte da quarta, que também tinha um espaço aberto que servia de entrada e saída. Os urinóis eram individuais, mas todos “desaguavam” para um roço que começava numa ponta, dava a volta à sala e dasaparecia pela parede dentro. O problema era que em horas de ponta o roço não dava conta do recado e a urina transbordava, inundando o chão. Por isso, ir sempre antes do jogo, enquanto o chão estava seco e não tinha que se chapinhar no mijo alheio.
Nunca entrei na casa de banho das mulheres, por motivos óbvios, mas lembro-me bem da sua porta, onde pontificava uma funcionária de rolo de papel higiénico em punho, que ia entregando às utentes que o pedissem.
6 – Treinos
Não havia Academia, os campos de treinos eram à beira da segunda circular, basicamente onde hoje é o Estádio Novo. Quem quisesse, ia ver. Treinos à porta fechada, só no relvado principal ou noutro sítio que não em Alvalade. Júniores, Juvenis, Infantis, Séniores, todos os treinos ali à mão de semear. E havia sempre gente a vê-los…
7 – Entre jogos
No velho Alvalade havia sempre uma porta aberta. Geralmente a Porta 8 (Superior Sul). Quem quisesse, podia entrar, entrar no Estádio em qualquer dia da semana, ir para as bancadas vazias, olhar em volta. Fiz isso algumas vezes. Havia ocasiões em que estava tudo deserto, noutras só se ouviam os aspersores, noutras havia tratadores de relva, que, por vezes, me faziam sinal a mandar-me embora. Mas geralmente podia estar à vontade, a memorizar o Estádio. A tribuna, com os anéis olímpicos, o leão desenhado pelas cadeiras na Bancada Nova, a publicidade nos postes de iluminação, a arrecadação branca que ficava entre a Nova e a Sul, a pista. Em paz.
E depois voltava, passava pelos veteranos sentados no vão da Sul, escorraçados para ali depois da sala de convívio que havia ao pé do bar “Toca do Lagarto”, entre a Sul e a Central, se ter transformado na sede duma das sociedades do “Grupo Sporting” e ia à minha vida.
8 – Porta 10-A
Há quem diga que veio da antiga sede da Rua do Passadiço. Era o centro nevrálgico do Estádio. Por ali entravam e saíam os atletas, os treinadores, ali eram vitoriados ou insultados pelos adeptos. Ali se reuniam, a meio da tarde, aqueles que ficavam à espera de ver os “craques” ir para casa depois do treino. Por ali se podiam ver lendas como Hilário ou Osvaldo Silva.
Ainda me lembro de ver a primeira mulher do Oceano dentro do carro à espera dele, à espera que ele passasse pelos netos e avós que lhe davam palmadinhas nas costas e lhe pediam autógrafos.
Nos últimos tempos foi posta uma vedação amovível, daquelas usadas pela Polícia, para demarcar os lugares de estacionamento reservados aos jogadores, mesmo em frente à 10-A. Claro está que um dia que passei pelo Estádio de madrugada, me dirigi à Porta, parei o carro dentro da vedação, à jogador, voltei a arrancar e fui-me embora.
9 – No relvado
Só o pisei em concertos. A primeira vez em 11 de Setembro de 1997, para ver os U2 e olhar em volta, para ver, também, as bancadas cheias de gente como a veriam os jogadores.
10 – Chuva
Quando chovia, azar. A menos que houvesse tão pouca gente que a Direcção convidasse, pela instalação sonora, os 4 ou 5 mil presentes a abrigarem-se todos debaixo da pala. Uma das vezes que aconteceu foi em 23 de Outubro de 1999, no ano do título. 2-0 ao Braga com golos de Iordanov (o único que ele marcou essa época e posso dizer que ainda hoje fico feliz ao lembrar-me que ele marcou um golo em 1999/2000) e De Franceschi. Foi toda a gente para debaixo da pala, menos os irredutíveis da Juve Leo (e chovia a cântaros). Foi o bom e o bonito. Os cativos que chegaram em cima da hora do pontapé de saída viram os seus lugares ocupados por pessoal desconhecido e desataram a protestar, a dizer pago não sei quantos contos por este lugar e não me posso sentar. Chefe, dissémos nós, a culpa não é nossa, é do Dr. Roquette, ele é que nos convidou.
11 – Placas de homenagem
Ficavam ao pé da entrada da bancada central, em frente da Loja Verde. Uma era dedicada ao Dr. Góis Mota, o grande obreiro da construção do Estádio. Outra a Francisco Stromp. Outra aos operários que tinham construído o Estádio. Outra a António Oliveira (por cada leão que cair, outro se levantará). Quando se passava por elas após um mau resultado, pensava-se sempre no que aqueles distintos sportinguistas, vivos ou mortos, estariam a sentir.
12 – Marcador
Antes da construção da bancada nova, o marcador ficava no peão. Depois, entre 1982 e 1995, não houve marcador. Quando finalmente instalaram um, puseram-no no topo da Sul, ainda hoje não sei porquê. Obrigava os espectadores que estavam na bancada mais concorrida a torcer o pescoço cada vez que queriam ver quem é que tinha marcado um golo numa jogada confusa do outro lado do campo. Lembro-me de o ver a funcionar pela primeira vez num jogo com o Felgueiras (4-0), mas é possível que tenha sido instalado antes.
13 – “Vamos todos ao Funchal”
Quem não se lembra desta? Na jornada anterior a uma deslocação à Madeira, para jogar com o Marítimo, o Nacional ou o União, lá vinha o anúncio. “Vamos todos ao Funchal” com a Top Tours, salvo erro, que chegou a ter uma loja no Estádio. Nunca mais me esqueço desse anúncio.
14 – A última vez…
… que vi o relvado de Alvalade, pouco antes da demolição, tinha ido ao Lumiar em trabalho e apeteceu-me ir a pé até ao Campo Grande (onde a linha amarela terminava, nesse tempo remoto). Ao passar em Alvalade, vi que a porta que dava acesso à Entrada da Maratona estava aberta e vi um bocadinho do relvado, iluminado pelo Sol. Nesse momento veio-me tudo à memória, o primeiro jogo contra o Sevilha, as festas, os desaires, chapinhar no mijo ao intervalo, gritar até ficar rouco, apanhar chuva (e constipações) na Sul, comprar nogás e queijadas de sintra, comprar a minha primeira camisola na Loja Verde mais de vinte anos antes – que número queres? O seis. Não há. Então quero o nove. Mas é o mesmo, só que cosido ao contrário. Então o quatro. – o desfile do luto pela verdade desportiva, e dei-me conta que não voltaria a entrar naquele Estádio, que ele ia desaparecer sem apelo nem agravo.
Não é que não tenha ficado contente com a construção de um novo Estádio. Pelo contrário, sempre lhe fui favorável. Mas nesse momento senti um aperto no coração, que ainda hoje sinto, sempre que me lembro. Meses depois, no dia da inauguração, calhou dar a volta ao Novo Estádio e subitamente olhar para o lado e ver um vazio e tive outra vez a mesma sensação. Coisas de adepto…
Saudações leoninas a todos.
© Pireza 2008