O Impacto do Scouting no Sucesso dos 3 Grandes
A maior ou menor competência com que a política de contratações e de vendas de jogadores é executada afeta tremendamente o sucesso desportivo e financeiro de qualquer clube.
A capacidade de scouting, ou seja, a capacidade de, por um lado, conseguir determinar corretamente as verdadeiras lacunas que importa preencher num plantel e, por outro, conseguir descobrir os melhores jogadores que melhor se enquadram no preenchimento dessas lacunas tendo em conta o orçamento disponível está verdadeiramente na raíz deste sucesso ou deste insucesso.
No caso dos 3 grandes, o impacto do scouting transcende em muito a vertente meramente desportiva e acaba por ser ainda maior pois é ele que está na própria base de um modelo de exploração que depende fortemente da obtenção de receitas com vendas de jogadores, receitas essas que representam 32% das receitas globais das SAD’s desde a sua fundação.
Se pensarmos que os resultados das SAD’s, excluindo compra e vendas de jogadores, é deficitária (por vezes, de forma extremamente pronunciada), percebemos bem o tremendo impacto que esta capacidade para fazer boas vendas tem depois na capacidade de reinvestimento dos clubes em novos jogadores.
Nas tabelas abaixo apresenta-se o que têm representado, do ponto de vista percentual, as receitas com vendas de jogadores no universo de receitas global e o que têm representado os custos de investimento em contratações de jogadores e salários no universo de custos global dos clubes.

Como seria de esperar, estas percentagens são tremendas em organizações cujo negócio é o futebol.
Sublinho ainda a tendência de crescimento das receitas com vendas de jogadores nos últimos anos, quer em valor relativo, quer em valor absoluto, o que ainda mais tem acentuado a dependência das SAD’s deste tipo de receitas.

Olhando ainda para os números acima, percebe-se claramente a grande diferença que os 3 grandes têm tido neste tipo de receitas.
O FCP tem sido o Campeão de vendas, o que lhe tem permitido também ter sido o Campeão das compras e dos salários oferecidos. Esta maior capacidade de investimento tem-lhe garantido melhores equipas e melhores resultados desportivos.
Nos últimos anos, o SLB tem vindo a conseguir também garantir grandes volumes de receitas com vendas de jogadores, o que lhe permitiu aumentar o investimento e passar a competir com mais sucesso com o FCP.
O SCP, continuando longe de conseguir fazer a mesma ordem de grandeza de vendas dos seus rivais, continua longe também de poder assumir a mesma ordem de grandeza de investimentos, algo que diverge do que conseguia fazer no princípio do século. Este tem sido um dos nossos grandes problemas!
Inclusivamente, mesmo investindo muito menos tanto em compras de jogadores como em salários, o que, ainda assim, se tem verificado, têm sido défices de gestão desportiva maiores no SCP do que nos seus rivais (ver tabelas abaixo).
A exceção, se incluirmos custos com o pessoal, tem sido o SLB.
Isto é verdadeiramente grave!

Se olharmos para estes números, entre compra e venda de jogadores, perdemos 244ME para o FCP e 107ME para o SLB desde que há SAD’s. Pior do que isso, não fomos sequer capazes de ter lucro nestas operações e fomos aliás o único grande que não conseguiu.
A principal razão para isto tem sido a nossa incompetência de Scouting.
Seja porque o departamento de scouting não é competente ou seja porque é competente e não é ouvido, o que é facto é que, ao longo dos anos, não têm sido contratados os jogadores certos.
Depois, a consequência natural disso tem sido que as vendas também não podem ser boas a partir do momento em que se falhou a aquisição de ativos valorizáveis.
Entrámos assim num ciclo vicioso como o da figura abaixo:

Más Compras → Más Equipas → Más Vendas → Redução da Capacidade de Investimento
Cada vez que executamos um ciclo destes, a nossa situação desportiva e financeira piora.
A nossa força diminui. Afastamo-nos dos nossos rivais.
Ora, o que nós precisamos é de entrar num ciclo virtuoso do scouting como o da figura seguinte:

Boas Compras → Boas Equipas → Boas Vendas → Aumento da Capacidade de Investimento
Cada vez que executamos um ciclo destes, a nossa situação desportiva e financeira melhora.
Só executando vários ciclos destes podemos resgatar o nossa posição de volta.
A resposta à dúvida quase existencial sobre se a política certa num clube de futebol como o SCP é uma política de investimento ou uma política de desinvestimento não é a mesma consoante os intérpretes.
Uma política de investimento é boa quando tem retorno. É má quando não tem.
A probabilidade de uma política de investimento ter retorno é tanto maior quanto maior for a competência de quem a executa nos aspetos que mais a influenciam e quanto melhor for o contexto em que ela se insere.
No caso dos 3 grandes, o contexto é favorável pois apesar do bancos já não concederem as facilidades que concediam há 10 ou 20 anos, a verdade é que a principal variável de contexto está assegurada. E essa é o mercado, são os clientes com dinheiro, são os clubes compradores com capacidade de investimento suficiente para abastecer a nossa necessidade de vender. As recentes renegociações dos direitos televisivos de ligas como a inglesa, a espanhola ou a alemã vieram garantir a sustentabilidade deste sistema para os próximos anos.
Resta aos 3 grandes não falhar naquilo que depende deles que é o scouting e a capacidade de trabalhar os jogadores.
Existe o scouting ao nível das camadas jovens e o scouting sénior.
Ambos são muito importantes.
Um grande não é capaz de ser sustentadamente candidato ao título se só apostar na formação.
O SCP, dono de uma excelente formação, é disso um excelente exemplo.
A formação não é capaz de garantir bons jogadores todos os anos para todas as posições.
Por outro lado, os grandes jogadores que, aqui e ali, aparecem, acabam por ser alvos de uma pressão tremenda do mercado que os obriga a sair, ficando o clube entregue aos restantes jogadores que não têm a mesma qualidade.
Isto não quer dizer que a aposta na formação não seja importante.
É extremamente importante pois garante 3 coisas:
- Alguns jogadores de grande qualidade que terão retorno desportivo e financeiro a baixo custo.
- Razoável quantidade de jogadores de boa qualidade a baixo custo (investimento inicial e salários).
- Manutenção da mística e da identidade do clube.
Estamos pois a falar de aspetos essenciais como o são a identidade do clube e a redução dos custos, o que permite a redução do risco financeiro associado à exploração.
Aliás, esta é a grande vantagem de que o SCP beneficia atualmente em relação aos seus rivais.
É fundamental manter isto! Um clube como o SCP não pode abdicar deste trunfo!
Isto é ar para os nosso pulmões!
Independentemente desta situação, é notório que, não só é importante recorrer ao mercado para ir buscar jogadores para posições a que a formação não responde, como é importante também não perder essas oportunidades para valorizar ativos e realizar à posteriori mais-valias financeiras capazes de contribuir para a realimentação do modelo.
No fundo, trata-se aqui de não desperdiçar uma base de scouting do tamanho do mundo.
A arte estará em conseguir encontrar um equilíbrio sustentável entre a aposta na formação e a aposta no mercado externo tendo como base um scouting de excelência.
Analise-se pelo angulo que se analisar e seja qual for o modelo escolhido (penso que fui bem claro sobre o modelo que considero que melhor se adequa ao SCP e aos seus rivais), o scouting será sempre um aspeto absolutamente decisivo para o sucesso desportivo e financeiro dos clubes.
A qualidade global do scouting determinou a saúde e a vida das SAD’s no passado, determinou a situação em que estamos no presente e vai continuar a determinar o futuro.
Será mais forte quem for mais forte nesta vertente chave.
Como podemos avaliar a qualidade global do scouting de um clube?
Uma boa aproximação podia ser olhar para os resultados desportivos que correspondem à diferença entre as receitas com vendas de jogadores e as amortizações relativas às compras de jogadores. Grosseiramente, estaríamos a falar da diferença entre as compras e as vendas dos jogadores, embora com o erro associado de não estarmos a ir ao detalhe de comparar nos mesmos anos os valores de compras e vendas dos mesmos jogadores.
O modelo é arriscado e falha se o aplicarmos à avaliação de apenas 1 época. Mas se a avaliação for feita a várias épocas, o modelo já é uma boa aproximação.
No entanto, há ainda uma falha, é que não é justo avaliar a competência de scouting dos clubes por valores absolutos dado que é mais fácil obter grandes mais valias a partir de grandes investimentos do que a partir de pequenos investimentos.
Para ultrapassar este problema podemos definir um índice de eficiência de scouting como o quociente entre os resultados desportivos e o investimento em compras de jogadores.
Eficiência de Scouting = (Receitas com Vendas de Jogadores – Custos de Compras de Jogadores)/( Custos de Compras de Jogadores)
Se quisermos ser ainda mais rigorosos, podemos incluir nesta fórmula o peso dos salários.
E assim teremos:
Eficiência de Scouting (incluindo salários) = (Receitas com Vendas de Jogadores – Custos de Compras de Jogadores – Salários de Jogadores)/( Custos de Compras de Jogadores + Salários de Jogadores)
Estes 2 índices são verdadeiramente cruciais para qualquer clube.
Apresento abaixo a respetiva evolução histórica de cada um deles nos 3 grandes.

Estes números são de uma importância absolutamente crítica para SCP, FCP e SLB.
Por aqui se percebe a vantagem que o FCP tem tido e que lhe tem garantido, ao longo dos anos, a supremacia no futebol português. Por aqui se percebe a recente tendência de recuperação do SLB. E finalmente, por aqui se percebe também a grande incompetência que temos tido em que nem excluindo a variável de salários conseguimos ter um índice positivo.
Foi preciso sermos mesmo muito incompetentes para termos resultados tão desastrosos!
Uma única nota positiva:
Logo no 1ºano de Bruno de Carvalho, os nossos resultados registaram uma melhoria significativa.
Precisamos de mais!
Uma sucessão de índices de 1,36 como conseguimos em 2013/2014 colocar-nos-á, inevitavelmente, no topo em poucos anos. Isto é uma certeza matemática!
Esta é, sem dúvida, a minha grande esperança com esta direção!
É que o potencial transformador de um scouting de excelência é tremendo.
Se há área em que não se deve poupar, é nesta!
Aqui queremos sempre os melhores profissionais, os melhores planos de formação para esses profissionais, as melhores ferramentas e a máxima qualidade na informação trabalhada.
É uma área verdadeiramente estratégica como nenhuma outra num clube de futebol.
Uma verdadeira galinha dos ovos de ouros mas que se pode transformar numa autêntica ave de rapina se for tratada sem cuidado.
Não sendo naturalmente a única área importante dentro de um clube, considero que é a única capaz de revolucionar de forma sustentada os seus resultados em poucos anos.
É isso que eu espero ver no SCP!
É que o nosso futuro depende muito disto!