Eu também era ateu e hoje sou catequista e o meu pai era catequista e agora é ateu.
Porquê? Porque o meu pai não percebeu que as religiões Cristãs não são só sobre rezar e receber as graças que nós queremos. A personagem principal do Cristianismo morreu crucificado para poder transmitir a sua mensagem. É uma religião de dor e superação. Não de facilidades. E as pessoas são livres de optar pelo caminho que quiserem.
Resumindo o bom Cristianismo numa frase: Fiat Voluntas Tua. Seja feita a Vossa vontade.
E agora falando no global, para religiosos (Cristãos ou não), agnósticos, ateus, etc… Se refletirmos um bocado, nós nunca evoluímos, de forma consistente, com facilidades. Nós evoluímos, quase sempre, da dificuldade, da dor, do sofrimento…
Sempre que eu passei pelas fases mais complicadas da minha vida, já praticante da minha religião, em que duvidei, invariavelmente acabei a perceber o porquê do sofrimento e porque o sofrimento me levou a algo melhor. O exemplo mais recente foi quando, no ano passado fui despedido. O meu trabalho anterior era suficiente para me sentir realizado. Eu gostava daquilo. Ganhava o suficiente, tinha lá os meus amigos, era respeitado pela qualidade do meu trabalho… Mas não conseguia dormir menos de 8 horas por noite, andava com a tensão a mil, andava com um feitio de merda para toda a gente (afastei alguns), andava a beber… E nem me apercebia que, afinal, o trabalho me estava a destruir a vida. E fui despedido. Fiquei ainda pior, no momento em que foi.
Mas, a pouco e pouco, no tempo que estive sem trabalho, aproveitei para passear, ver o sol, mergulhar (foi no Verão), ouvir o silêncio (andei sempre sozinho) e, naturalmente, procurar emprego. Fui a várias entrevistas, todos gostaram de mim, mas eu só gostei de uma empresa. Curiosamente foi a única empresa que me quis mesmo contratar. E cá estou eu. Trabalho melhor, mais calmo, melhor horário, melhores folgas, melhor ambiente, melhores colegas, melhor salário, melhores perspetivas… Do pior turbilhão da minha vida, saiu um dos maiores saltos em frente que tive. Com direito a indemnização para me ajudar a reestruturar a minha vida e férias prolongadas para me recompor. Do aparentemente mau, saiu o óptimo.
Quanto à oração. Confesso que não acho grande piada ao estar constantemente a debitar orações feitas. Ou por outro lado, compreendo quando a oração é feita sentindo o que se diz, e a intenção com que se faz. A oração não serve para pedir nada, a não ser perdão, e reafirmar a confiança numa entidade superior. Mas, a maior parte das pessoas, vai para Fátima a pé debitar o que aprendeu na Catequese, como quem debita a tabuada, para pedir à Virgem que lhe dê dinheiro para comprar um carro novo. Rezam no ‘Pai Nosso’ para que ‘seja feita a Vossa vontade’, mas depois pedem dinheiro, saúde, que o marido não a traia, que a vizinha faleça… E, no final, não percebem porque é que Deus não lhe dá essas ‘graças’. Nisto está absolutamente tudo errado! 90% do Catolicismo que se pratica em Portugal está errado, e leva os outros 10% a afastarem-se da religião, confundido a árvore com a floresta. É uma religião interesseira. Pessoas fazem sacrifícios e penitência, mas apenas para que Deus lhe conceda coisas que, muitas vezes, ou são capricho, ou não têm vontade de conquistar por si. Profundamente errado.
A minha oração é sem usar palavras. É o silêncio meditativo e contemplativo. Se Deus é omnipresente, omnipotente e omnisciente, não são precisas palavras.
E tenho uma história, claro! Quando o meu pai foi diagnosticado com cancro, não se sabia bem o que aquilo ia dar. Obviamente que me refugiei nas minhas crenças. Cruzei-me (não me lembro bem como) com a história da Thérèse de Lisieux e a fábula de, quem pede a sua intercessão, recebe uma rosa, como sinal de que a graça lhe será concedida. Ora, como eu não peço graças, nem sou muito apologista da ‘religião espetáculo’, achei a história engraçada, mas não pedi a cura do meu pai, nem muito menos a rosa. E não é que, imediatamente a seguir, ao ver uma série que andava a acompanhar, numa das primeiras cenas, uma chuva de rosas é lançada de um helicóptero? Entretanto, numa outra coisa que me levou a refletir e a orar bastante (mas que vou guardar para mim) uns dias depois, apareceu-me uma rosa debaixo da cama. Essa foi absolutamente arrepiante. Como é que aquilo foi lá parar?