Meu caro Frank:
Seria de bom tom dar-te – deixa-me tratar-te por tu, porque quem treina o Sporting é da família – as boas-vindas e dizer-te que espero que tenhas o maior sucesso e essas mariquices todas. Mas vou passar isso à frente e explicar-te o que é fundamental que saibas. Então aqui vai.
Aqui, no Sporting, não se exige ganhar. Não. Aqui, no Sporting, exige-se ganhar com mérito. Porque é essa, para os sportinguistas, a única forma de ganhar.
Aqui exige-se ganhar com mérito porque tens tudo – leste bem: tudo – o que é necessário para ganhar. Tens os melhores adeptos do mundo, esse bando de lunáticos que, por mais que o clube perca, estão aos milhares no estádio a aplaudir, à espera do milagre que nunca chega. Tens uma situação que, por não poder estar pior, só pode melhorar. Aproveita-a. Mas tens, sobretudo, aquilo que – por mais que muitos queiram apregoar o contrário, por mais falsos especialistas que por aí andem a contrariá-lo – faz com que as vitórias aconteçam dentro de campo: qualidade, talento, recursos humanos de excelência. Deixa-me apresentar-tos num instante.
Guarda-redes: temos o titular da selecção portuguesa e um dos mais desejados do futebol europeu. E como se não bastasse temos um suplente que está, no mínimo, ao mesmo nível – e que se começa a jogar ainda se arrisca a só parar na selecção brasileira. O Benfica tem o Artur, que nem de binóculos vê alguma selecção, e o Porto tem o Hélton, que é grande – mas que em breve pendura as botas. Do Braga, perdoa-me, nem vou falar. Acredito que o Sporting só deve comparar-se aos maiores.
Lateral-direito: temos um miúdo com velocidade, com personalidade, que cruza como há muito não se via em Alvalade. E temos um colombiano que parece ter asas nos pés – e que se lhe deres confiança nunca mais ninguém o pára. O Benfica tem um médio-centro adaptado, trabalhador mas lento. E o Porto tem um brasileiro de grande qualidade - mas que ainda não sabe se é defesa ou se é médio – e um suplente do Braga na época passada.
Lateral-esquerdo: temos um comboio, um monte de força e de velocidade, com um remate que decide jogos – internacional argentino de pleno direito. Mas temos mais: um croata que sem deslumbrar cumpre, perfeitamente fiável e com bons pés e capacidade de cruzamento. O Benfica tem um extremo adaptado que não sabe o que é posicionamento defensivo. E o Porto tem um titular da selecção do Brasil, bom de bola mas sem a capacidade de explosão que pode fazer a diferença no domínio ofensivo.
Centrais: temos um internacional argentino, jovem, rápido, com personalidade – mas ainda a precisar, aqui e ali, de acalmar os ímpetos. E depois ainda temos um internacional holandês experiente, um patrão; um brasileiro que sabe marcar golos de calcanhar, imponente no ar, rápido – mas a precisar de melhorar no capitulo do passe, tão decisivo na primeira fase de construção; e um capitão desde sempre, formado em Alvalade, líder por natureza, que não é bem-amado nem é brilhante – mas que tantos viram como capaz de triunfar ao mais alto nível. O Benfica tem um internacional brasileiro que demora 20 minutos a chegar dos 0 aos 100, e um argentino de valor – mas que não deslumbra. E o Porto tem um antigo suplente do Nacional, muito rápido e forte, e um internacional argentino que mede ainda menos do que o nosso mais baixo que toda a gente acusa de ser baixo.
Médio-defensivo: temos um internacional argentino que tinha lugar em qualquer equipa do mundo, capaz de construir e de destruir com a mesma qualidade, um líder por natureza. E temos um suíço que é um animal de força e de dedicação – e que até não passa mal. O Benfica tem um gajo grande que na última época fez meia dúzia de jogos. E o Porto tem um homem que parece um polvo – mas que marca menos golos do que eu de muletas.
Médios-interiores: temos de tudo. Portugueses jovens e tecnicistas, formados em casa e com vontade de mostrarem o que valem; um super internacional brasileiro que parece ter tudo e ainda não mostrou nada; um internacional russo que se estiver bem é o melhor médio em Portugal e a quem só falta pôr a bola a falar; um internacional holandês que joga como poucos ao primeiro toque, com aura de líder e um pé esquerdo muito fiável no passe de média e longa distância – e que ainda por cima marca golos; e um jovem internacional marroquino que era estrela de topo na Holanda, imparável no um-para-um e capaz de inventar desequilíbrios e golos do nada. O Benfica tem um miúdo que nunca na vida há-de ser o craque que querem fazer dele, um argentino que muitos queriam despachar no início da época, um ex-jogador nosso que passa mais tempo no departamento médico do que em campo, e um velhadas que de vez em quando ainda faz umas coisitas engraçadas. E o Porto tem um argentino que joga simples e eficaz, com boa técnica e capacidade de passe – mas com pouca mobilidade e flexibilidade nas transições defensivas -, e um português que já foi nosso capitão, um médio que passa bem, recupera bem e faz tudo bem – mas que precisa de rematar mil vezes para fazer um golo.
Médios-ala: temos dois espanhóis de topo, rápidos, desconcertantes e ainda jovens; um peruano que vale milhões, que finta do nada e que só tem de aprender a ser mais sério; e temos ainda, assim abras os olhos para a equipa B, o nosso Neymar, veloz, com diamantes nos pés e com a capacidade de, quando concentrado, virar uma equipa do avesso. O Benfica tem um brasileiro de terceira linha e um argentino de grande qualidade – mas que não vale metade do que deram por ele. E o Porto tem um dispensado nosso, veloz e com boa capacidade de finalização, e um colombiano de ouro – mas que não é, nunca será, um médio-ala.
Avançados: temos um holandês veloz, lutador, que desperdiça muitas oportunidades mas que, se for bem aproveitado, pode marcar mais de 30 golos por época; um argentino que é exímio a jogar de fora para dentro, das alas para o meio, desequilibrador, muito rápido e incisivo; e temos ainda um menino que parece incapaz de fazer mal a uma mosca, que pouco se mexe – mas que, à lá Jardel, de meia oportunidade faz um golo. O Benfica tem dois matadores de verdade – um mais móvel do que outro – e um espanhol que se mexe bem e que causa desequilíbrios. E o Porto tem um colombiano que é uma espécie de Weah, pleno de força e de técnica – mas a alternativa é um brasileiro que não marca golos desde que o Passos Coelho cumpriu uma promessa eleitoral.
E pronto, Frank. É isto que tenho para dizer. Parece-me que tens todos os argumentos, pelo menos os argumentos que interessam, para ganhar. Se não ganhares, aqui estarei – e todos os sportinguistas também – para te pedir, por justa causa como pudeste perceber acima, para te ires embora. E quem te trouxe também.
Atenciosamente,
20Ensinar
@20Ensinar 2012