Quem já me conhece deste plano futebolístico, sabe e percebe que sou aquele tipo de adepto que prefere olhar para dentro do seu próprio clube e só depois para os adversários e rivais, e não aquele tipo de adepto que mede todo o sucesso e insucesso do seu clube pelos sucessos ou insucessos dos seus rivais. Sou portanto sportinguista, só sportinguista, muito mais do que anti-benfiquista, anti-portista ou anti-outracoisqualquer. Mas actualmente acho tão insuportável a algazarra dos mais que prováveis próximos campeões nacionais, que me parece moralmente justificável fugir à temática habitual das minhas diatribes, para dedicar umas palavrinhas a essa escumalha que se designa por instituição benfiquista.
Seja porque na germinação do meu sportinguismo tive uma influência cândida e nunca fui ensinado a odiar especificamente o Beifica, seja porque cresci a ver o Sporting ser roubado dentro e fora do campo em campeonatos sistematicamente ganhos pelo FCP, o certo é que na projecção do meu ódio pelos rivais nunca privilegiei o Beifica ao FCP e nunca me considerei mais anti-benfiquista do que anti-portista. Na verdade, creio que sempre vi o FCP como um rival mais sério e perigoso do que o Beifica, porque se no primeiro caso a maldade potencial se materializava em vitórias e conquistas, no segundo caso o que se via era um clube a viver do passado e a afundar-se em Operações Coração, em goleadas de 7-0 frente ao Celta de Vigo e em contratações de coxos em catadupa. Uns inspiravam respeito e terror pelo poder que adquiriram nas últimas três décadas enquanto outros suscitavam diversão, quando não pena, pelos tiros no pé e pelos delírios utópicos próprios da decadência. Mas ultimamente, por condicionantes da vida a que não posso fugir, passei a estar rodeado de lampiões, logo por azar numa fase em que o Beifica, há que reconhecê-lo, está forte dentro e fora do relvado. E tudo indica que será campeão, a menos que o Papa Bento aproveite a sua visita a Portugal para, num gesto que seria de progresso civilizacional e de solidariedade para com o Clero nacional, fazer um milagre e dar o título ao clube da “Cidade dos Arcebispos”. Posso dizer portanto que o Beifica já não me diverte e só me mete nojo. Tanto nojo que me sinto na necessidade de reequilibrar os pratos da balança onde peso o ódio que dedico aos nossos dois rivais, e reafirmar o carácter infecto da miserável e pequenina nação lampiónica:
- o lampião médio é um pedante. É um fala-barato que pensa que é mais esperto do que os outros, que pensa que sabe tudo mas não sabe nada e não tem humildade para reconhecer quando está errado nem para moderar uma jactância verbal que dá vontade, a quem tem de o ouvir, de lhe partir os dentes à cabeçada.
- o lampião médio é mesquinho, pequenino e não sabe perder nem ganhar. Quando ganha, assume a configuração de um chimpanzé com as suas fosquinhas primárias e básicas que lança ao adversário derrotado. Quando perde, diz que a culpa foi do lançamento lateral mal assinalado pelo árbitro, ou então mete-se a insinuar por gestos, que os jogadores adversários estavam dopados.
- o lampião médio é um desconfiado doentio e sofre de mania da perseguição. Como é maldoso e desonesto, pensa que todos os outros também o são. Projecta em toda a gente a sua própria maldade e desonestidade e por isso pensa que o Mundo inteiro lhe quer mal. Acha que ganha sempre contra tudo e contra todos e quando perde diz que é por causa dos caldinhos e jogadas de bastidores. Diz que os jogadores do Rio Ave vão receber um incentivo do Braga para darem o litro no jogo da luz e também diz que os jogadores do Nacional vão ser subornados para deixarem o Braga jogar.
- o lampião médio é intelectualmente desonesto. Diz que o Di Maria levou amarelo para não poder jogar na última jornada mas não fala do amarelo ao Falcão na jornada anterior. Diz que o Fucile já devia ter sido expulso na 1ª parte, mas não fala das expulsões perdoadas ao Luisão e ao Máxi Pereira, nem do segundo amarelo ao Di Maria que ficou por mostrar. Diz que se o árbitro assinalasse um “penálte” logo ao princípio do jogo a vitória era certa, mas esquece-se que mamou dois golos do FCP em superioridade numérica. Diz que isto são tudo jogadas de bastidores feitas para o Beifica não ser campeão, mas não fala do castigo ao Hulk ou ao Vandinho. Quando o autocarro da equipa é apedrejado diz que aqueles gajos do Norte são uns selvagens e que os do Beifica não fizeram nada para ter aquela recepção, mas quando lhe falam dos crimes dos nenucos, já diz que isso é em todas as claques de todos os clubes.
- o lampião médio é egoísta e invejoso. Tem um cérebro impermeável ao conceito de ética, não tem códigos de conduta e toda a sua existência e acção visam o próprio interesse, à revelia dos interesses dos outros. Não gosta de partilhar nada com ninguém, fura as filas desavergonhadamente e não gosta de cumprir regras. Quando desrespeita as regras não aceita os castigos. Se vê alguém bem na vida e mais bem sucedido do que ele, insulta-o pelas costas, questiona a honestidade e o mérito dessa pessoa e fica todo contente quando lhe acontece um azar.
- o lampião médio é o típico maldizente que gosta de esmiuçar a vida dos outros, de semear intrigas, e que é tão rápido a criticar e julgar os outros quanto rápido é a esquivar-se às críticas e julgamentos que lhe fazem a ele próprio.
- o lampião médio é demasiado totó para se perceber a si próprio e ao que o rodeia e portanto não tem sentido de gosto nem de estética, limitando-se a ir atrás da maioria ou daquilo que lhe é imposto. Por isso é que quem não liga peva ao futebol diz que é do Beifica: porque vê muita gente que é do Beifica e porque em todo o lado só se fala no Beifica. E por isso é que eles são tantos.
- o lampião médio acha que a grandeza se vê na quantidade e não na qualidade. Por isso, faz questão de apregoar aos 4 ventos números e estatísticas e fica todo orgulhoso por ver nesses números e estatísticas um poder que na verdade só o é pela força bruta da quantidade.
Por tudo o que foi exposto e que ficou por expor, conclui-se portanto que o lampião médio, aquele que dá corpo e voz ao Beifica, é um indivíduo básico e pouco civilizado. De tal modo que na próxima segunda-feira, se se confirmar o pior cenário, não devemos ir para o trabalho ou para a escola cabisbaixos, frustrados e com aquela angústia pela antecipação da zombaria e festa vermelhuscas que vai desfilar perante os nossos olhos. Não senhor! Iremos de cabeça erguida a trautear o “Cantinho do Morais” e de cada vez que nos aparecer um lampião à frente iremos apenas esboçar um sorriso de desdém e condescendência por essa “instituição” tão patética que é o Beifica e por essa gentinha tão ignóbil que são os beifiquistas.
E agora que reli esta minha posta, pergunto-me se seria necessário escrevê-la. É que eles passam a vida a dizer que são 6 milhões, ou seja quase 2/3 da população nacional, e se este país está a merda que está, isso não deveria dizer tudo?