Goncalojbcorreia:
PS - Desculpa os devaneios ;D
Sempre um prazer! :great:
Goncalojbcorreia:
Citação de: Lion73 em Hoje, 00:53
Pondo a questão de uma forma mais directa e específica:
- O Gonzalo Higuain leva, no Campeonato, 14 golos marcados, somando 876 minutos. Dá uma média de um golo a cada 63 minutos.
- O Karim Benzema leva, no Campeonato, 10 golos marcados, somando 1097 minutos. Dá uma média de um golo a cada 110 minutos.
Alargando para todas as competições, Benzema até tem mais golos marcados que Higuain, este ano. Seja como for, não penso que esta comparação, pela base amostral, sirva de ponto de comparação. Falamos de metade de uma época, em que determinados momentos de forma quer colectivos, quer individuais têm um papel decisivo na performance dos jogadores e daí é complicado extrair uma tendência. Também acho o francês mais jogador mas este não deixa de estar presente e ser eficaz em frente da baliza.
A primeira discordância, e acho que é fulcral, é exactamente na questão de "alimentar" o ataque. Eu acho que o futebol não é um jogo onde uns alimentem outros, uns criem e outros definam. Claro que tem de haver complementaridade... mas não "compartimentação".
É o ataque que tem, tal como os outros sectores, de alimentar o jogo da equipa. De a tornar una. Se o Sporting não tinha equipa? Talvez. Mas nos primeiros anos de Bento, teve. E o Liedson, ganhando foco individual, criou para mim problemas colectivos.
Este ano e nas piores fases do Sporting vi Wolf a correr que nem um desalmado, não parando de dar linhas de passe que poucas vezes eram aproveitas. Vi os extremos a receber a bola e com pouquíssimos apoios a näo ser os dados pelos laterais, provocando engarrafamentos, a partir do momento que os adversários começaram a povoar as linhas. Parece-me óbvia a incapacidade da equipa em transportar jogo até ao último terço do terreno. Quem está à frente, é quase uma pequena ilha e se baixam as linhas saindo da sua área de influência, irão sobrepovoar zonas de terreno já de si muito densas. O Barcelona pode-se dar ao luxo de fazer isto pela sua capacidade inigualável de troca de bola, mesmo em pequenos espaços de terreno. Nós não.
Exacto: nós dependíamos apenas do Liedson. E isso não é colectivo, isso não é equipa, isso não é jogo. O grande problema para o brasileiro era que precisava exactamente de uma equipa que dependesse totalmente dele no ataque.
Näo vejo porquê. Mais jogadores o Sporting tivesse capazes de criarem impacto no jogo, mais a marcação adversária seria repartida. Mais jogadores o Sporting tivesse com capacidade de ter bola e de serem efectivos com a mesma perto da área contraria, mais soluçoes teriamos que nao passassem apenas por Liedson. Repito, a dependência de Liedson não a entendo como uma opção de jogo, mas sim por necessidade. O problema näo foi o 31. Tivéssemos mais 1 ou 2 jogadores de ataque ao nível deste, näo teríamos festejado apenas taças e supertaças, teríamos festejado primeiros lugares.
Uma pergunta directa: quantas vezes vias Liedson jogar a um toque e desmarcar-se sem bola? Ou, no máximo, a receber, e a passar logo de seguida? Muito poucas. Melhor dizendo: demasiado poucas para um jogador.
Quantas vezes viste, no Sporting, uma equipa com características de tracção à frente, com apoios perto de Liedson e com capacidade de definiçäo? De último passe e finalização? Quando teve Derlei a seu lado, vi combinaçöes bem interessantes entre os dois. Vi-as com Nani também. Com Yannick, nos bons momentos deste.
O problema era não ter companheiros a desmarcar-se? Seria se só cá estivesse estado desde meados de 2008/2009. Mas não esteve.
A falta de qualidade individual de quem acompanhou Liedson foi quase sempre, confrangedora. Falo dos outros avançados que jogavam a seu lado, falo de jogadores capazes nos desequilibrios e no último passe. “O Liedson resolve” não apareceu do nada, apareceu da capacidade do brasileiro em sacar vitórias. No seu tempo de Sporting, teve equipas que bateram recordes em termos de ( poucos ) golos sofridos, mas não teve colegas de chegar aos 2 digitos de golos marcados ou assistências. O problema, não foi Liedson.
Isso é complicado de analisar. Golos obtidos por bolas que recuperou foram muitos, no seu período no Sporting. Mas esse período foi simplesmente enorme (quantos anos?). Por temporada? Seriam alguns.
Por temporada. Estou certo que muito mais que a média que qualquer outro avançado. A bola que sacou a Maicon, expulsando o adversário, pouco tempo antes da sua saída, foi uma das imagens de marca de Liedson. Nenhum defesa estava descansado com o 31 por perto.
Sim, exactamente, correr sem critério. A não ser que achemos que correr direito a um defesa-central e ir atrás dele, seja por si só correr bem. Eu não acho que seja.
Curiosamente, deixa-me dar-te um exemplo de uma pressão interessante, e nem gosto particularmente do jogador em questão. Foi num jogo pela Selecção do Hélder Postiga.
Ele não recuperou bola nenhuma (creio) e não andou sempre em cima dos defesas. Porém, sem sequer se preocupar com a bola, esteve o jogo todo posicionado por forma a que os centrais fossem impedidos de jogar para o médio-defensivo. Sempre.
Postiga não recuperava bola nenhuma, nunca. Claro que há excepçöes, sempre há. Liedson corria atrás da bola e tirava resultados disso mesmo, como nenhum outro, Postiga era risivel, pela sua incapacidade em ganhar uma bola dividida e pela forma como os defesas brincavam com ele.
A referencia que fazes a Liedson, neste aspecto, é como se me dissesses que Rinaudo é um jogador amorfo sem bola.
É só um exemplo; No geral, acho que ir á queima e andar a correr de um lado para o outro atrás dos defesas tanto pode dar golo (e deu várias vezes), como se pode ser ultrapassado (ficando o adversário com uma maior vantagem numérica) e/ou permitir ao adversário colocar a bola em zonas centrais (se a pressão for feita de forma lateral, i.e., se por exemplo o Liedson estivesse antes a pressionar o lateral).
Ultrapassar Liedson? Com a bola controlada? Quem? Quem o tentasse estaria a brincar com o fogo.
No que corria, não concordo. Mais que não seja por preferir recuar e dar uma linha de passe, que tentar explorar o espaço nas custas e "distanciar" os sectores nas zonas centrais.
Postiga era eximio em intrometer-se no espaço dos colegas, retirar-lhes espaço para um pequeno toque sem resultado ofensivo. Falei da imagem de marca de Liedson e vou fazer a menção à de Postiga… tenho ideia que foi num dos últimos jogos da época passada e ficou-me marcado, pelo absurdo… Matias rodeado por vários adversários, sai entre eles com 2 toques primorosos e inicia uma transição rápida com todo o espaço à sua frente, até esta ser cortada pelo Postiga, que lhe barra a progressão ao colocar-se diante dele, trazendo consigo o defesa. Matias tem que travar e passar para trás. Anedótico.
Na finalização, sim. Era penoso.
No último passe… acho que faltou gente a entrar pela área nos últimos anos. Houve Valdés, e quando houve Valdés, Postiga tornou-se mais útil na construcção e no último passe (porque tinha alguém a quem passar e que, ainda por cima, chutava muito melhor que ele).
Os números de Postiga em assistências, são ainda mais penosos que os dos golos. E bem inferiores aos de Liedson, basta consultar sites que contenham estes dados.
Não acho que desequilíbrios e golos sejam única e exclusivamente responsabilidade de um jogador. São responsabilidade da equipa, dos processos ofensivos. Para não utilizar o Barcelona (é chato utilizar sempre o mesmo exemplo, no que ás boas ideias diz respeito), opto por outros dois.
Um nacional e outro internacional.
O internacional: Arsenal. Cria imensos desequilíbrios por jogo, inúmeras situações de golo e tem um processo ofensivo brilhante. Situações de um jogador enfrentar o adversário, de um jogador ter a bola uns 10 segundos em sua posse, de um jogador partir para cima dele sem se focar nos colegas? Raríssimas (para não dizer nulas).
No caso nacional, o Benfica. Também cria bastantes situações de golo por jogo, e por norma é através de passes e de desmarcações (não de um jogador pegar na bola, olhar, e partir para cima dele tentando “arrancar-lhe os rins”). Situações colectivas, toque de um desmarcação de outro.
Não dependem excessivamente de nenhum jogador. Nem mesmo do Aimar, que é genial. Muito menos de Cardozos, Rodrigos, Saviolas (outro fantástico, e até pode ter marcado 10 golos ou menos, que no ano do título, foi dos mais preponderantes, a par do Aimar).
E aqui é que está: num modelo colectivo na vertente ofensiva, que priviligie os passes e as desmarcações ás iniciativas individuais de jogador x com bola… há uns jogadores que terão mais sucesso que outros. Por serem menos individualistas e por olharem mais para os colegas.
Lá está. O teu comentário ao benfica sublinha as referências de ataque que estes têm, em nùmero e qualidade. Não dependem exclusivamente de um jogador porque têm quem divida as respnsabilidades no ataque. O mesmo se passaria com Liedson se tivesse tido este tipo de companhia e a sua forma de jogar, teria sido algo diferente.
Surpreende-me até como podes colocar aí o passe, e depois perguntar por desequilíbrios. É o mesmo que dizer que uma equipa que não deve atacar em conjunto, é passar a bola a alguém, e este quando tiver um mínimo espaço aí vai ele á margem...
Nada disso. Abomino é a inoperância, a lateralização, a falta de assumpçäo de risco e Liedson era aquilo que gosto no futebol, contundencia, eficàcia e impacto.
Abomino os passes para o lado sem qualquer intuito de verticalização, o medo da perda de bola. Abomino que recorrentemente se olhe para trás e para o lado. Abomino gente que se esconda ou que dá todos os sinais que não sabe o que está a fazer quando a adrenalina aumenta e a baliza se aproxima. É por isso que detesto Postiga e é por isso que Liedson ficou no meu imaginário. E na história do Sporting.