Sou surpreendido (mas pouco) com pedidos para que as criticas de Bruno de Carvalho à arbitragem de Manuel Mota sejam analisadas pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol. Afinal, para o Presidente da APAF, Sr. Fontelas Gomes, as declarações são graves, devem ser analisadas por quem tem o poder de punir exemplarmente e (segundo a TSF, nas palavras do Sr. Presidente da APAF) o futebol assim não pode ter “…paz e tranquilidade.” Os árbitros lidam bem com a crítica, não lidam bem é quando atingem a sua dignidade, a sua honestidade, o seu profissionalismo.
Ora, pois está claro. Tem de pedir punição e defender os meninos. Com certeza o grupo de apoio no Facebook à candidatura deste cavalheiro à APAF (lista única, vitoriosa em Fevereiro último), do qual faz parte o Sr. Manuel Mota, esteve on fire! Tudo pela defesa dos árbitros! Tudo pela defesa do futebol! Tudo pela paz e tranquilidade!
Mas vamos então comparar:
Luís Filipe Vieira, 2 de Março de 2012, sobre a actuação do “melhor árbitro do mundo e intocável para a APAF”, Pedro Proença num derby: “O Sr. Pedro Proença presta um grande favor ao Benfica se não apitar mais nenhum jogo do Benfica”.
Pinto da Costa, 22 de Abril de 2013, sobre a actuação de João Capela num derby: "Foi aquilo que esperava. […] uma boa arbitragem e um árbitro com futuro. Acho que a arbitragem foi excelente e o árbitro tem grande futuro. Estou de acordo com o treinador do Benfica e com os comentadores do canal que passou o jogo em directo. O árbitro teve um critério largo, foi muito inteligente e não marcou falta nenhuma. É uma questão de critério. Agora, os árbitros podem pôr as leis no bolso e não as aplicar. Foi uma excelente arbitragem, este árbitro vai ter, de certeza, muito futuro.[…] (já comparando com a actuação do mesmo árbitro numa derrota do FC Porto contra o SC Braga) Nessa altura, o critério do árbitro foi mais apertado. Talvez porque a ponte de Coimbra é mais estreita, ele veio de Lisboa e teve um critério apertado. É que a Ponte 25 de Abril é mais ampla, tudo é mais amplo, e por isso teve um critério largo no dérbi. Em todo o caso, repito, foi uma excelente arbitragem e este árbitro vai ter muito futuro”.
Pinto da Costa, 28 de Setembro de 2013, sobre a actuação do árbitro Bruno Esteves: “O árbitro não viu nada, os delegados não viram nada, o coordenador não viu nada. Apetece-me dizer que aquele foi o dia do invisual. O meu Dragão (o cão de PdC) que, coitadinho, está cego, podia ter sido delegado a esse jogo porque não via nada também.”.
Luís Filipe Vieira, 29 de Setembro de 2013, sobre o árbitro Jorge Tavares: “O árbitro ou é cego ou não tem competência. […] Não sei se já há faixas encomendadas por alguém,[…]Nas alturas menos boas temos de defender aquilo que é nosso e revoltarmo-nos com aquilo que nos estão a fazer. […] Temos de dizer basta.[…] O Benfica é sempre nitidamente prejudicado”.
Sobre isto que disse o Sr. Fontelas Gomes? Nada… Mas é o mesmo Sr. Fontelas Gomes que veio pedir castigos ao mesmo Bruno de Carvalho após (editado) o derby lisboeta.
Mas podemos ver ainda um pouco mais:
23 de Setembro de 2012. O Benfica joga em Coimbra, contra a Académica. No final, duras críticas de Jorge Jesus à arbitragem. Um vice presidente do SL Benfica vem até dizer que já sabia o que se ia passar pois Benfica e Vítor Pereira “…já tinham sido avisados do que podia acontecer ontem à noite em Coimbra[…]um roubo…de Vaticano”. O Sl Benfica, no seguimento das críticas, coloca ainda um vídeo com erros do mesmo árbitro, rotulando-o (sem o expressar, mas a ideia é essa) de incompetente… e gatuno.
Sobre isto, diz o Sr. Fontelas Gomes: “São críticas que nós, após termos consultado o árbitro e a própria APAF ter reunido e analisado algumas questões do fim de semana, pensamos que atingiram o limite do razoável. Não passou daí, não puseram em causa a equipa de arbitragem, no seu sentido de honestidade ou idoneidade, apenas têm uma divergência de opiniões em determinados lances. […] Para essas pessoas o lance é fora da área, para a equipa de arbitragem é dentro. É uma divergência de opinião técnica e não passou disso. Penso que não nos merece uma acção que não seja o de, mais uma vez, pedirmos aos agentes desportivos que tenham contenção nas palavras e não prejudiquem o futebol português com estas críticas.”.
Castigos? Naaa! Apenas um «Faz favor, falem mais baixo e não sejam tão duros… Se puder ser, senão a malta aguenta. - Já agora, alguém tem aí vaselina? É que a minha acabou!»
E para terminar:
Jorge Jesus, 5 de Março de 2011, sobre a nomeação de Carlos Xistra para um SC Braga- SL Benfica: “Por norma não ligo às nomeações dos árbitros. O Carlos Xistra é um bom árbitro e já estava habituado, quando treinava em Braga, de ser um árbitro de quem os adeptos e direcção do Braga gostavam, quando nos ia arbitrar. Amanhã vai estar lá contra o Benfica e é um árbitro que as pessoas de Braga gostam”.
Luís Filipe Vieira, 6 de Março de 2011, após esse jogo: “Se dúvidas houvesse, ficou provado que seria muito difícil ao Benfica chegar lá acima. Fomos constantemente empurrados. O protagonista do jogo de hoje já havia tido o protagonismo em Guimarães, onde anulo um golo ao Cardozo e não assinalou um penalti descarado sobre o Carlos Martins. É pena, mas este é o futebol que temos.”
Aqui era Presidente da APAF o Sr. Luís Guilherme. Era Vice-presidente o Sr. Gustavo Sousa. Após a saída do Sr. Luís Guilherme, foi “promovido” a Presidente o Sr. Gustavo Sousa, encabeçando uma lista única à Direcção. Nessa lista, constava o Sr. José Manuel Teixeira Fontelas Gomes como Vice-presidente. O Sr. Gustavo Sousa fica com mandato suspenso, sobre interinamente o Sr. Fontelas Gomes. O Sr. Gustavo Sousa demite-se, é eleito (em lista única) o Sr. Fontelas Gomes como Presidente. Ah valentes!
Que eles são coerentes, não há dúvida! Na forma como passam o cargo, na forma como criticam, na forma como baixam as calças. Viva a coerência!