Como ponto prévio, dizer o óbvio, por o ter exprimido anteriormente, várias vezes. A minha posição sobre a actual situação do Sporting está sustentada no desagrado pelo processo de destituição da direcção anterior, pelo condicionamento político das últimas eleições e pelas muitas dúvidas que tenho sobre a postura de Frederico Varandas e alguns elementos da sua equipa num contexto que entendo artificialmente, em muitas questões, fabricado. Ou exponenciado.
E é uma posição que não abdico, por verdadeira e sentida, por clubismo ou cedência a cenários de establishment. É uma nota que gostava de deixar clara, porque este texto não pretende ser imparcial e isento mas sim honesto e justo. Isto antes de deixar aqui outras notas, soltas, sobre este quase um mês de mandato da nova direcção do Sporting Clube de Portugal. Não que em um mês haja muita coisa relevante a dizer, porque não há, mas há sinais que podemos ( ou não ) identificar e um contexto a montante desta direcção, para o qual esta não tem responsabilidade directa, mas com que tem que lidar.
- #UniroSporting
Na linha do esperado, há fissuras que não se disfarçam a curto prazo. Nas redes sociais, blogues e fóruns, assiste-se a uma guerra fracticida; no estádio, depois dos aplausos da central das primeiras semanas pós destituição a Marta Soares e aos seus comissionários, estes saem do Sporting sob uma chuva de assobios e apupos; a equipa de futebol liderada por José Peseiro é assobiada quando ganha por 2-0.
Frederico Varandas tem um caminho e é bom não esquecer que não recolheu a preferência da maioria dos sócios nas últimas eleições. Não que o caminho seja diferente para qualquer outro presidente, em qualquer outro momento, mas nem todos tiveram o clube tão dividido como actualmente está. Nem muito menos tiveram uma oposição mobilizada como Varandas tem e vai continuar a ter. O caminho é: Recolocar o clube em condições, de facto, de ganhar no futebol, que muito dificilmente o tem neste momento, a não ser por qualquer alinhamento planetário que possa acontecer.
Digo eu que seria importante complementar a coisa com uma visão global do Universo Sporting e tentar sarar algumas feridas abertas, várias crónicas e intrínsecas ao ADN do clube, outras empoladas e /ou de autoria de Bruno de Carvalho, muitas outras tomaram uma dimensão preocupante na tentativa desonesta de reescrever o passado recente, que teve muitos momentos positivos e estes não podem ser expurgados da nossa história, como se está a tentar fazer.
- ValoresSporting
Não existem na medida em que vejo discutidos. Cada sportinguista tem uma visão do seu clube e do que quer para o clube. De acordo com a sua própria personalidade, valores e convicções. “Esforço, Dedicação, Devoção e Glória”, é o nosso lema e aquilo que nos deve unir. Tudo o resto é acessório e as divergências mais que naturais.
Mas há limites que não devem ser ultrapassados. Após o linchamento público e assassinato de carácter da liderança anterior, a resposta agora não pode ser feita na mesma medida, obedecendo aos “olho por olho, dente por dente” e “morrer com o próprio veneno”.
O que quero dizer com isto? Não posso subscrever, como não subscrevi no passado e nunca o farei, a mentira, a falácia, a difamação, a calúnia, as fakes news para daí se satisfazer uma narrativa. Os sportinguistas disparam para todo o lado, como se receassem o inimigo a qualquer esquina e afinal muitas vezes a coisa não é mais que o vento que sopra. Ora, vento há sempre. E sopra. Sempre. A verdade e a honestidade são valores dos quais não podemos abdicar.
- Comunicação Sporting
Eu percebo que, após e particulamente no último ano, a tal “comunicação minimalista” seja um cenário que agrade. Afinal, viveram-se guerrilhas sucessivas, muitas delas perfeitamente escusadas, que colocaram o Sporting no olho do furacão. Aliás, de vários furacões. Eu próprio estava cansado de convulsões, algumas inúteis e infantis.
Mas não nos enganemos. Essas convulsões aconteceram TAMBÉM porque o Sporting se fez ouvir, porque o Sporting afrontou os poderes instalados, porque o Sporting se tornou proactivo em vez de reactivo e amorfo, porque o Sporting cresceu e se posicionou como um perigo aos interesses de terceiros.
E não nos enganemos noutra questão, também. “Comunicações mimimalistas” foi o que o Sporting teve durante muitos anos. Com os resultados que se sabe. Um Sporting que não se fazia ouvir, um Sporting que não incomodava, um Sporting que não mobilizava.
O tempo é curto, mas os rumores sobre os objectivos e postura futura do clube na envolvente do futebol português ( a que acrescem as escolhas para a Comunicação ), mais os tais mínimos comunicacionais que são elogiados pelos especialistas e não especialistas, pessoalmente preocupam-me.
Por termos tido o 80, não podemos passar para o 8. Bem, até podemos. Mas esse não será o Sporting que EU quero. Farto de ver o meu clube secundarizado, subalternizado e a fugir do confronto por medo de picar os poderosos do futebol português.
Quer queiram, quer não, o Sporting foi um clube mais vivo nos últimos 5 anos, mais mobilizado e com adeptos e sócios mais presentes.
Não podemos perder isso.