SI VERA EST FAMA
PSYCHE & MANIAE : PSICOPATOGRAFIA DE UM MONSTRO – XXVI
Na noite de 13 para 14 de Outubro de 1918, Hitler foi vítima de um ataque com gás mostarda perto de Ypres, na Bélgica. Parcialmente cego, foi enviado para o hospital militar de Pasewalk. Durante a sua convalescença, Hitler tomou conhecimento da derrota da Alemanha e, segundo o próprio, sofreu um segundo ataque de cegueira em consequência do profundo choque emocional.
De acordo alguns investigadores, a cegueira de Hitler foi tratada pelo psiquiatra alemão Edmund Forster. Segundo o testemunho do psiquiatra de origem judaica Karl Kroner, que também trabalhou nesse hospital em 1918, (Kroner foi, em 1934, detido pela Gestapo e enviado para um campo de concentração, tendo posteriormente conseguido exilar-se na Islândia), Forster examinou Hitler e diagnosticou-lhe “histeria”, sujeitando-o a sessões de hipnotismo.
Embora considerasse que a cegueira de Hitler era de natureza puramente histérica, Forster concluiu que nenhuma das terapias convencionais lhe permitiria recuperar a visão. Por fim, decidiu instrumentalizar o nacionalismo fanático do paciente e ordenou que Hitler fosse levado ao seu consultório para aplicar essa estratégia.
Edmund Forster e Karl Kroner.
Depois de examinar cuidadosamente os olhos de Hitler, Forster mentiu afirmando que devido à extensão das lesões, era improvável que algum dia voltasse a ver. No entanto, disse-lhe que havia uma réstia de esperança, que um “milagre” era possível, na condição de Hitler demonstrar ser uma pessoa com excepcional força de vontade e uma energia mental sem limites. Disse-lhe: “Sabe que a Alemanha, agora, precisa de pessoas que tenham energia e fé absoluta em si próprias. Para si tudo é possível!".
Forster fez uma pausa e acendeu uma vela, explicando que, se Hitler fosse capaz de ver a chama, isso seria a prova definitiva das suas qualidades únicas como ser humano e de que Deus o tinha destinado a conduzir a Alemanha até à glória. Passados minutos, o paciente murmurou que conseguia ver a chama e, depois, todos os recantos do consultório. Ao recuperar a visão, Hitler adquirira uma fé inabalável na missão histórica que a Providência lhe teria atribuído
Com base nessa narrativa, Edmund Forster teria assim curado a cegueira de Hitler, mas, ao fazê-lo, criara um monstro. Numa trágica ironia do Destino, este médico seria vítima do seu próprio sucesso quando, em 1933, se suicidou por medo de represálias.
Saudação aos Prisioneiros, de Pasquale Pacelli, 2017.
ANNO CXXXV
