Tópico sobre História Universal e Arqueologia

[b]Pia esculpida numa rocha na ilha Terceira datada com 950 anos Félix Rodrigues, professor da Universidade dos Açores, descobriu há três anos na Grota do Medo o que julga ser um complexo megalítico anterior ao povoamento português dos Açores.[/b] 0 Lusa | 14:41 Quarta feira, 15 de outubro de 2014

Félix Rodrigues diz que a estrutura pode até ter mais do que 950 anos, porque “a amostra representa apenas a data em que a pia foi fraturada e não forçosamente a data em que a pia foi construída”
Félix Rodrigues diz que a estrutura pode até ter mais do que 950 anos, porque “a amostra representa apenas a data em que a pia foi fraturada e não forçosamente a data em que a pia foi construída”
Uma amostra de uma pia esculpida numa rocha na Grota do Medo, na ilha Terceira, foi datada com 950 anos por um laboratório norte-americano, o que comprova, segundo o investigador Félix Rodrigues, a presença pré-portuguesa nos Açores. “É fundamental continuar a estudar com objetividade, com muito cuidado e preservando o que provoca estranheza”, defende o investigador em declarações à Lusa, acrescentando que a técnica que datou a amostra é “extremamente precisa”.

Félix Rodrigues, professor da Universidade dos Açores, com formação em Física, descobriu há cerca de três anos na Grota do Medo o que julga ser um complexo megalítico anterior ao povoamento português dos Açores. Desde então, o investigador tem defendido um inventário das estruturas e a sua datação, junto da Direção Regional da Cultura dos Açores, mas a tutela criou, há cerca de um ano, um grupo constituído por 13 especialistas de Arqueologia, História e Geologia, que visitou a Grota do Medo e outros locais, durante uma semana, e considerou que as estruturas identificadas não eram anteriores ao povoamento português.

Não convencido com o resultado, Félix Rodrigues recolheu uma amostra de um material aglomerante, que soldou uma fratura existente numa pia quadrangular esculpida numa rocha no alegado complexo megalítico da Grota do Medo, e enviou-a para o laboratório da Beta Analytics, em Miami, “certificado pela norma ISSO-17025”. “A idade convencional obtida pelo método de radiocarbono foi de 950 anos, com um erro associado de 30 anos. Tal resultado aponta para a construção de uma peça arqueológica construída pelo homem na ilha Terceira há pelo menos 950 anos, ou seja, no ano de 1064, com um erro de 30 anos”, frisa Félix Rodrigues.

O investigador salienta que possui um certificado da datação e calibração efetuadas pela Beta Analytics, acrescentando que “todo o processo, desde a recolha até à análise da amostra foi devidamente registado para garantir a objetividade do processo científico”. Para o investigadoraçoriano, o resultado da análise “permite concluir que houve presença pré-portuguesa na Terceira” e não há hipótese de a pia ter sido transportada para o arquipélago posteriormente, porque “faz parte de um aglomerado rochoso e está preso à ilha”.

O docente da Universidade dos Açores considera mesmo que a estrutura pode até ter mais do que 950 anos, porque “a amostra representa apenas a data em que a pia foi fraturada e não forçosamente a data em que a pia foi construída”.

A datação por “espetroscopia de massa acoplada a acelerador de partículas” só foi possível porque a amostra continha no seu interior material orgânico.

Félix Rodrigues diz ainda não ter qualquer dúvida de que a pia foi construída pelo Homem, alegando que nenhum dos arqueólogos que visitaram o local colocou em causa a intervenção humana, apenas a data em que foi construída. “Se as pias circulares poderão ser resultado da erosão, as formas cúbicas não resultam de um processo material de erosão e há marcas de intervenção humana claramente identificadas”, frisou.

Segundo o investigador, estão presentes na rocha outras intervenções humanas “produzidas pela técnica de cinzel e percutor, como uma cavidade ovalada com canal, de um lado, e um arco de forma arredondada, no outro”. Félix Rodrigues diz que existem outras pias esculpidas, circulares e cúbicas, mas algumas apresentam “enorme desgaste resultante da saída de água do seu interior”.

“Já há outros materiais aglomerados identificados, mas este é um primeiro passo que parece extremamente importante para clarificar a presença humana na ilha”, conclui.

http://expresso.sapo.pt/pia-esculpida-numa-rocha-na-ilha-terceira-datada-com-950-anos=f893776

Já se fala nesta possibilidade por cá há algum tempo, mas incompreensivelmente tem havido alguma resistência por parte das entidades governamentais da região em estudar o caso como deve ser. Esse mesmo professor da Universidade foi aliás várias vezes descredibilizado e enxovalhado diria mesmo, em praça pública por pessoas ligadas a esse tipo de entidades.

[youtube=640,360]http://www.youtube.com/watch?v=6lnwt4mAYRI[/youtube]

Deixo aqui um vídeo com algumas imagens do local já agora.

Não é a primeira vez que se fala da possibilidade de ter havido presença humana nos Açores antes do século XV. Curiosamente, as primeiras narrativas do género são de origem portuguesa…

http://pt.wikipedia.org/wiki/Estátua_equestre_do_Corvo

A história deste país é tão mal contada que até doí. Então quando falamos de Descobrimentos e expansão Portuguesa parece que muitas vezes, o Vasco da Gama chegou a India e depois não aconteceu mais nada.

Existem personagens históricas que muito poucos Portugueses conhecem. Fernão Mendes Pinto, Pedro Nunes, Afonso de Albuquerque (tenaz!), Duarte Pacheco Pereira (há quem lhe tenha atribuído tanta genialidade quanta a de Da Vinci!), inúmeros Cartografos, Bartolomeu de Gusmão (primeiro Europeu a ser bem sucedido a lançar um aparelho Aéreo), Padre António Vieira…

Aposto que o mero Português só conhece estes 3:" Afonso Henriques, Camões e Vasco da Gama". :wall:

Na verdade é um conjunto de razões, desde nacionalismo bacoco com medo que se confirme que já está confirmado, a egos académicos de certas pessoas de Lisboa, até determinadas pessoas que estão no Governo Autónomo, porque o poder local até tem tentado promover investigações.

Verdade, mas cuidado com o termo descobrimentos. É um daqueles que é popular na Europa, porque quando se diz por exemplo que os portugueses descobriram o Brasil, é nonsense. Primeiro o Brasil foi criado ao longo de muito tempo, não existia tal coisa e além do mais, era habitado por milhões de pessoas. O mesmo vale para o Colombo. E isto acontece com outras coisas que insistem em nos enfiar pela goela abaixo como o “descobrimento da Madeira” que já tinha sido descoberta pelos Vikings quase 500 anos antes…

Chama o que lhe quiseres. Descobrimentos, Expansão, exploração.

O que é certo é que há muitos personagens históricos que ninguém conhece. Aqui e lá fora.

Nem dos Descobrimentos nem de outros tempos.

O público leigo com que tenho lidado no estrangeiro sabe praticamente zero sobre Portugal, já me perguntaram se era um sítio em Espanha várias vezes e normalmente falam de nós devido ao tráfico negreiro. Acho que em ambos os lados da barricada há exageros, do lado de fora não se presta muita atenção ao impacto cultural do país pelo mundo ao longo de vários séculos, e em Portugal há quase uma obsessão de elevar aos píncaros o que foi feito, fechado os olhos a tudo o que possa denegrir a imagem dos “descobrimentos”.

Caro Roderick,

A falta de cultura histórica da grande maioria dos Portugueses tem causas profundas e multifacetadas. Como por exemplo, a nossa falta de hábitos culturais…

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/quando-foi-a-ultima-vez-que-foi-ao-cinema-e-ao-teatro-e-ha-quanto-tempo-nao-visita-um-museu-1613057

Muito de vez em quando, entre telenovelas, futebol e concursos, a televisão generalista lá vai dando o seu contributo para minimizar a ignorância. O que é manifestamente pouco…

http://www.dn.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=1692996&seccao=Televis�o

E na Escola o ensino da História depara-se com os efeitos de sucessivas políticas educativas erráticas e inconsequentes…

http://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=14410&langid=1

Ambos os dois estão certos.

Por mim Bartolomeu de Gusmão, o primeiro homem a conseguir com sucesso fazer uma objeto voar não merece destaque? 200 anos antes dos Irmão Wright já andava ele a por uma passarola a voar. E foi por 2 vezes.

Ou o Carlos Seixas, cujo a obra foi destruída com o maldito terramoto, antecedeu a Mozart. Não deixou de ser um dos melhor compositores de música clássica do seu tempo e Português de sempre.

É overwhelming a capacidade dos Portugueses nos mares. Aí ninguém nos bate.

Ligamos a Europa ao Japão por mar pela primeira vez, ligamos a Europa à América do Sul, à Índia, a África… Por isso! Somos os melhores a navegar.

PS: Agora se não estivesse no tablet punha o sete mares dos Sétima Legião! :smiley:

Éramos… (os melhores a navegar)

E ainda somos efectivamente dos povos com maior ligação ao mar. Pelo menos na Europa.

Bem nós quanto mais tivémos redescobertas, porque não se pode descobrir algo onde vivem milhões de pessoas. Um exemplo disto são os contactos entre a Ilha da Páscoa e as Américas antes de Colombo lá ter chegado como demonstram estudos genéticos publicados na Revista Current Biology de dia 23 deste mês, usando a comunidade do Botocudos como case-study. http://phys.org/news/2014-10-genomic-early-contact-easter-island.html

Isto lembra-me de uma notícia, relativamente recente que finalmente dos EUA se começam a aceitar os registos arqueológicos do Sítioda Capívara no Brasil, onde se mostra que o homem chegou ao continente não há 9000 anos como se pensavam mas no mínimo há 20 000, havendo datas em discussão de até 45 000 anos.

Outra notícia interessante, que já se sabia, mas está agora mais aprofundada é a dieta vegetariana do gladiadores romanos, complementada por bebidas com cinzas de árvores. http://www.sciencedaily.com/releases/2014/10/141020090006.htm

De resto acrescento que estou curioso para ver o que sai dos Açores com essa notícia. Talvez se possa finalmente começar a estudar o impacto cultural e económico das populaçãos africanas,não só, mas principalmente na Península Ibérica durante aquilo que ainda se insiste chamar de Neolítico e idade do Bronze, sem preconceitos eurocêntricos.

Redescobertos que ligaram continentes a outros pela primeira vez na história.

Especialmente América, Africa Subsaariana, Ásia (mais para os lados da Indonésia, Filipinas, China, Japão…) e Oceania.

Ligaram-se continentes e as civilizações isoladas começaram a contactar com outra civilizações.

O mundo como o conhecemos deve-se muito às viagens Ibéricas!

Em relação ao primeiro bold, leste a primeira notícia? Além do mais haviam ligações com África e Ásia bem antes das nossas navegações, da mesma maneira que existiam trocas comerciais entre a costa este de África com a Índia e China. O máximo que poderás dizer é houve um redimensionamento das estruturas comerciais, mais do ponto de vista da Europa, e passamos a conhecer ou confirmar a existência de certas culturas. Agora não se pode afirmar que se ligou continente a outros pela primeira vez na história.

Outro ponto importante é entender o que se chama de “contactar”. Por exemplo, planos que tinhamos para os ameríndios eram uma forma de contacto, mas seria a ideal? Claro que houve certas culturas que nós nem tinhamos capacidade de bater o pé e impor a nossa vontade, correndo com os portugueses quando lhes apeteceu, casos da China, Japão ou Reino do Benin.

Por fim, o mundo que conhecemos é uma construção cultural ocidental, pelo que sim está intimamente ligado a qualquer acção europeia. Mas este mundo nasce de uma ontologia e epistimologia naturalistas ocidentais e nos fazem avaliar o mundo de uma certa maneira. Muito povo vê o mundo de maneira diferente e tem por consequência um mundo bem diferente do que nós imaginamos.

Todo o mundo é algo influenciado ocidentalmente.

A mim não me espanta.

Ontologicamente nem todo o é mundo influenciado, mas ambientalmente é dificil da fugir da influência do caos que estamos a criar.

Han? Explica melhor.

O mundo como o imaginamos é uma construção social. Nações, países, governos, continentes e muito mais não passam de idealizações humanas que não são sequer comuns a todos os humanos. Nós olhamos este conceitos como definitivos e naturais, quando não são, e esquecemos que nem todos as culturas estruturam a vida no planeta assim.

A ontologia naturalista ocidental tem uma divisão entre natural e cultural, entre humanos e animais e natureza, atribuído senciência ou uma alma somente a humanos. No entanto temos culturas que possuem uma ontologia diferente da nossa, onde estes conceitos não existem e por consequência o mundo que eles veêm é muito diferente do nosso.

Mas por mais que estas pessoas tenham um paradigma alternativo, ninguém escapa às consequências ambientais, geradas por um conceito de desenvolvimento ocidental, aplicadas pelo mundo fora. Temos comunidades indígenas na Amazónia que começam a não ser capazes de sobreviver da maneira tradicional porque as alterações climáticas o impedem. Não se pode confiar totalmente no clima para a pesca ou agricultura como se fez durante séculos, porque a acidificação das chuvas está a alterar o solos e rios, isto aliado a uma deflorestação da Amazónia está a impedir esta gente de viver como quer para serem forçados a se integrarem no nosso sistema. No entanto muitos lutam, e se lutam, para se manterem na sua cultura e manterem a suas visões de como o mundo é sem serem absorvidos pelas nossas crenças.