Eles andam aí. Burlões, vigaristas, trafulhas e aldrabões. Se alguns acabam por ter a sua piada, quer pela criatividade com que enganam as pessoas quer pela inocuidade e puerilidade da trafulhice, outros são verdadeiros parasitas, seres cínicos e autistas sem o mínimo de escrúpulos ou noção do que é viver em sociedade.
Na primeira categoria incluir-se-ia, por exemplo aquele indivíduo que certo dia se fez passar por médico, e a pretexto de um rastreio gratuito do cancro da mama usando uma sofisticada mamografia via satélite, dirigia-se à casa das mulheres e pedia-lhes para se despirem e virarem as mamocas para o céu (porque um satélite tem um raio de cobertura limitado, caramba). Uma refinada táctica para conseguir uns minutos de deleite visual com a peitaça da vizinha. Ninguém se magoou, ninguém perdeu dinheiro, as pessoas ficaram a saber que a tecnologia ainda não chegou tão longe e o caso ainda deu matéria para gargalhada nacional.
Agora, os da segunda categoria, ide para a p*ta que vos pariu.
Exponham neste tópico as fraudes de que já foram alvo. Eu apresento a última que me tentaram impingir, uma subtil derivação/fusão de dois clássico das fraudes, as do “você ganhou o 1º prémio na Lotaria X” e “você herdou uma fortuna da pessoa Y”:
Recebo na semana passada um email de um tal Steve Smith, recém premiado da Lotaria Nacional Britânica com 19 Milhões de libras. O drama do homem: não tem descendentes, está com uma doença terminal, a mulher teve recentemente uma trombose, e…não há lojas no cemitério. Então achou por bem doar todo o dinheiro à caridade. E achou melhor em designar-me a mim, Eddie Verdde, embaixador desta empreitada de distribuir pela caridade 19 Milhões de libras. :dance:
O giro da história: há efectivamente um Steve Smith que ganhou a Lotaria Britânica recentemente e que pouco uso poderá dar ao dinheiro devido ao seu estado de saúde. A notícia foi difundida pelos media e encontra-se online.
Adiante, no fim do email reiterava-me o pedido de ajuda no sentido de distribuir o dinheiro pela caridade (especialmente em África, para combater a pobreza) e concluía pedindo-me o meu contacto telefónico de modo a poder falar comigo pessoalmente. Ora, eu nesse dia estava particularmente bem-disposto, então decidi alinhar na brincadeira a ver onde é que aquilo chegava (mas também porque, lá no fundo, no fundo, precisava de ter a certeza que aquilo era mesmo um logro, devo confessar). Disse-lhe que tinha confirmado a veracidade da história e perguntava-lhe simplesmente como tinha obtido o meu endereço de email.
O email que me foi enviado a seguir, foi muito mais elaborado: já punha o acento correcto no meu nome próprio, fazia descrições detalhadas da sua condição de saúde, fazia referências constantes a Deus, pseudo-filosofava sobre a condição do ser humano e dizia que o próximo passo seria fornecer-me o contacto do seu gestor de conta, de modo a dar início aos trâmites da transferência dos 19 Milhões de Libras para a minha conta. No entanto continuava sem me dizer como tinha obtido o meu endereço de email, embora ressalvasse que tinha rezado muito e feito jejum antes de contactar as pessoas, esperando que o vontade Divina lhe indicasse as pessoas certas. Guess what! Fui eu o escolhido! :dance:
Perguntei-lhe novamente (sempre de forma educada) como é que tinha obtido o meu endereço de email e disse-lhe, por eufemismos, que toda a história cheirava a fraude. No 3º email finalmente dizia que tinha arranjado o meu contacto num “international trade link”, e a tranquilidade e falinhas mansas dos emails anteriores deram lugar a uma espécie de apelo desesperado e meio frustrado, já sem pachorra para conversa fiada, tal era a sede de ir ao pote, tal era a antecipação que o burlão já fazia de ver a burla consumada: de repente o seu estado de saúde tinha-se agravado e o médio proibía-o de falar comigo pessoalmente ao telefone, de repente a mulher, que tinha tido um AVC em Fevereiro, já só tinha uma semana de vida, e de repente já me dava toda a liberdade para negociar com o seu gestor de conta a transferência bancária e pedia-me para entrar em contacto com ele urgentemente para lhe fornecer os dados que ele me pedisse.
Neste ponto já só dava mesmo para rir. Respondi-lhe que teria todo o prazer em encontrar-me pessoalmente com ele e com o seu gestor de conta para discutirmos os detalhes do processo e que, para tal, fizesse uma reserva de avião em meu nome para o aeroporto mais próximo dele e me enviasse o bilhete electrónico por email (não era pelos 1000 dólares da viagem que o fundo para a caridade ia ficar depauperado). Evidentemente, ainda estou à espera de resposta.