Excelente tópico e parabéns @Strikerr por o abrires, agora que as eleições se aproximam esperava que alguém o fizesse e felicito-te por teres sido tu a fazê-lo.
Antes de mais, deixa-me dizer-te que faço das tuas as minhas palavras. Subscrevo tudo inteiramente e sem mudar uma vírgula.
O momento que estamos a viver é de ouro para a nossa realidade. Provavelmente algo com que sempre sonhámos e que só os nossos avós nos podem contar algo semelhante.
A verdade é que, depois do Mourinho em 2001, e em parte do JJ em 2009, acho que o Sporting finalmente não desperdiçou uma oportunidade histórica e sacou aquele que é o melhor treinador do campeonato, que nos impulsionou para outro patamar e sabe tudo o que o Clube precisa, independentemente do actual momento ou de outros momentos pelos quais possamos passar.
Eu tenho muito medo que o Sporting deixe de ganhar e isto seja só uma vento passageiro. Porque o Sporting para mim, embora esteja bem representado actualmente na equipa de futebol, pode e deve ser muito mais que isto. E começa logo quando olhamos para os nossos rivais. Os momentos que passamos hoje eles passaram-no várias vezes nas últimas décadas e nos últimos anos. O Benfica foi tetra, o Porto foi tri e tetra e tem sucesso europeu. Nós estamos nem a metade daquilo que eles alcançaram, e é para isso que temos de orientar as nossas ambições.
Mas sem euforias, tudo ponderado e sem almejar destinos desmedidos. Por exemplo, não podemos querer triunfar na Europa ou almejar ganhar uma das competições europeias sem termos resultados internos e andarmos cá dentro a lutar com o Braga, como tantas vezes fizemos nos últimos 10 anos. Primeiro temos de criar bases cá dentro, e depois então começar a pensar em lutar por algo mais la fora. É olhar para o exemplo do Porto e até do próprio Benfica, que mesmo não ganhando nenhuma das Ligas Europas de 2013 e 2014, ganhou títulos cá dentro e foi sempre muito forte no paradigma nacional.
O sucesso, para começar, reside na peça de engrenagem que é o segredo de tudo: Rúben Amorim. Por muito que alguém possa chegar aqui e pagar 30 milhões, eu não aceitava. O Rúben é a chave de todo o projecto, é um verdadeiro manager no sentido inglês do termo, porque não serve só para treinar a equipa, ele próprio a constrói e a dirige como fez o Ferguson e como mais recentemente fez o Klopp. Foi ele que começou tudo do zero e construiu algo à sua imagem. E depois claro, encaixou em tudo aquilo que o Varandas pretendia: treinador jovem, ambicioso, com conhecimento claro da realidade Sporting, humilde, aposta na formação mas sabe que só esta não chega para ganhar, sabe como fazer um bom grupo e tem uma identidade própria de jogo. Muitas vezes dizemo que ao Varandas lhe saiu a sorte grande, mas a verdade é que foi ele que apostou nele portanto os louros são dele também. E é à volta do Amorim que tudo tem de residir, porque é ele que nos revolucionou, que nos puxou para cima e que, no espaço de 14 meses, nos passou de um 5.º lugar para o topo do futebol português.
Claro está que quando o Amorim sair, porque um dia vai sair, infelizmente; esperemos que daqui a muitos anos, tudo isto vai ter de se manter.
Sporting tem de ter esta política correcta no futebol. Tem de definir um modelo de jogo, uma identidade própria, e contratar jogadores com características para esse modelo. Tem de os estudar de alto a baixo, se são bons psicologicamente, se têm problemas de lesões, tem de ser algo escrutinado sem limites. Depois, o Treinador, que para mim terá sempre de ser português porque só estes sabem como se pode ganhar em Portugal e como se pode jogar por cá. Não é à toa que desde 2000, apenas 3 estrangeiros tenham sido campeões em Portugal.
A aposta na formação tem de ser da mesma forma. Jogadores com qualidade têm de subir à equipa A e integrar uma equipa com jogadores rodados. Por cada Coates, um Inácio. Por cada Porro, um Esgaio. Por cada Pote, um Sarabia, por cada Paulinho, um TT, por cada Palhinha, um Matheus Nunes. Experiência com irreverência.
Depois, algo que eu sou defensor já há uns tempos. O fim dos sub23. Campeonato que não representa o nível a que os nossos jogadores têm de estar sujeitos, e só tira jogadores à nossa equipa B e aos nossos juniores. Sub23 é um campeonato que serve para alimentar lobbies da FPF mas cuja qualidade não reflecte a exigência que temos de ter na formação.
Sporting tem de ter sempre um scouting e um recrutamento na formação muito forte. Daí saíram bons atletas e miúdos. Sejam juvenis ou juniores, os melhores terão de estar nos B.
Outra coisa que eu defendo. Embora seja bom ganhar títulos na formação, os miúdos têm de ter um grau de competitividade superior. Juniores e juvenis de último ano nos seus escalões, só em caso de necessidade. Sporting tem de andar com iniciados nos juvenis, juvenis nos juniores ou equipa B, juniores em larga escala na equipa B. Só assim estarão prontos para outro patamar mais competitivo e poderão, caso haja qualidade, estar ao dispor dos seniores o mais rapidamente possível.
Os treinadores também não podem ser esquecidos, já que o Sporting é uma academia de talentos dentro de campo, também o tem de ser fora dele. Não podemos andar com treinadores que não são mais que impeditivos de crescimentos dos jogadores. Temos de ter mais promissores. Um exemplo, o Seixal. Eles têm treinadores que prometem, foi de la que veio o Lage, o Renato Paiva, o Veríssimo, todos ali poderão dar o salto. É também uma academia de criação de treinadores portugueses porque, caso eles escasseiem no mercado, teremos de ser nós a produzi-los. E diria que temos poucos, de todos os nossos treinadores, apenas gosto do Bernardo Bruschy, no resto não reconheço grandes capacidades evolutivas.
Depois, porque também interessa no fenómeno desportivo, as modalidades. Sporting não tem os recursos financeiros do Benfica nem tem apenas poucas modalidades como o Porto. Está nos estatutos que o Clube deve-se preocupar com o desenvolvimento social e desportivo ao serviço do País. E eu concordo.
Em primeiro lugar, Sporting deve ter uma base de formação em cada uma das suas modalidades. Tal como tem no atletismo, no Futsal, no andebol, nas mais variadas secções. Casos como o do voleibol masculino não se podem repetir, felizmente é uma situação que já está a ser corrigida mas nunca na vida podemos abrir uma secção sem bases de formação, até por uma questão de sustentabilidade a longo prazo. Quando o clube não tem muito dinheiro para investir, e isto foi assim em toda a sua história, virou-se para a formação.
Mas não é só das camadas jovens que temos de viver. Sporting tem de gerar o máximo possível de receitas, e nisto nós estamos a muuuuuuuuitos anos de distância dos nossos rivais, para poder investir no Clube e nas suas modalidades e não só, para poder também investir nos serviços e nos seus funcionários. Sporting é uma empresa do ponto de vista empregador, mas não deixa de ser um Clube. Não podemos andar anos a fio com os mesmo materiais de trabalho, sem renovação à vista, e com as pessoas anos a fio sem progredirem nas suas carreiras ou verem aumentos. Até por uma questão de bem estar e rentabilidade. Nós vemos os serviços do Sporting e são absolutamente medíocres, mas também quem até agora tivemos que fizesse algo por os melhorar? Não sabemos nada do que se passa la dentro e a ideia que dá é que estão completamente acomodados.
Mas passando mais à parte que a todos nos agrada, Sporting tem de ter um projecto de modalidades a nível de optimização, e vou pegar nas modalidades de Pavilhão que é aquilo onde estou mais por dentro. Não faz sentido haver gorduras quando o dinheiro é escasso. Não faz sentido haver 12 jogadores no hóquei. Ou 7 NFL no Futsal. Ou 3 redes estrangeiros ou 3 pontas esquerdas no andebol. 7 estrangeiros no Basket. Cada modalidade deve ter direito ao mínimo orçamental para ser competitiva e lutar por títulos. Bons treinadores primeiro, recursos financeiros depois. Não podemos ter lacunas nas equipas. Não podemos andar com 2 pivots no andebol, ter uma equipa de voleibol que não se sabe muito bem ao que vem, nem podemos andar com jogadores de fora no Hóquei jornada sim jornada sim. O dinheiro custa a ganhar e custa a investir. É preciso um planeamento prévio de todas elas. E sobretudo é preciso que no início de uma época já se esteja a preparar a seguinte, porque sabemos que nas modalidades isto não é o futebol, há épocas que ficam definidas uma meia época ou até época antes.
Depois, na parte financeira: o Clube tem de recomprar as VMOC, obrigatoriamente. A presença na Champions é necessária para continuar a restruturação financeira mas isso entronca no que disse há uns parágrafos.
Depois, acho que não nos serve de nada termos 90 ou 95% de uma SAD. Sabemos que só investe nos clubes de futebol, acima de tudo, quem tem um carinho especial, porque não é rentável do ponto de vista financeiro. Uma vez compradas as VMOC e caso a Holdimo venda a sua parte, temos de manter um investidor que esteja interessado por cá, que faça o que a Holdimo fez em 2013 ou 2014. Mas isto, claro, sempre mantendo os 51%, isso é vital para a existência do Clube. Eu prefiro que o Sporting esteja mal por decisões de sócios do que por decisão de investidores que desconhecem o Clube. Até porque decisões de sócios podemos reverter, decisões de investidores acabam com Belenenses.
Acho que tem de passar muito por aqui. Em alguns casos posso ter sido algo vago mas não me quero alongar muito, senão teria de escrever um livro sobre o que penso.
É muito importante o Sporting ter um plano geral para o que quer de si no futuro e não apenas agora. E temos uma oportunidade única neste momento que não podemos desperdiçar. Já chega de erros históricos.
Isto é a minha visão e esperança. Só assim estaremos mais perto de dominar o desporto nacional.
SL