Há várias definições de derrota humilhante. Há quem diga que é perder com o Benfica ou com o Porto por números gordos. Eu não acho. Por muito mau que seja um jogo com um rival, pelo menos perdeu-se com um igual ou, como infelizmente hoje sucede, com alguém com um orçamento bem superior ao nosso. Não. A verdadeira humilhação é quando se leva uma tareia de uma equipa fraca ou desconhecida, daquelas que já ficaria contente por não perder por muitos ou até - num arroubo de ousadia - levar um pontito do jogo. Quando se houve “Uma vergonha, vocês são uma vergonha!” ao som da “Guantanamera”. Quando temos vontade de doar os nossos jogadores para experiências científicas envolvendo lâminas rombas, choques electricos e implantes biónicos. Quando não temos coragem de sair da cama na 2ª Feira seguinte. Sim, sei que há material para 4 ou 5 listas destas - pelo menos! Mas as que escolhi constituem exemplos de fiasco ao cubo, a créme de la créme da humilhação. Aqui estão:
0-3 vs. Viking, Stavanger, 1999
O pai do campeão do mundo Marco Materazzi é creditado por alguns como tendo quota parte do crédito do título pela preparação física da equipa na pré-época. No meu livro, é apenas responsável por frases tão infelizes como “o Sporting é uma das quatro ou cinco boas equipas portuguesas” (OK, nada de piadas sobre profecias para a época de 2007-8…) e pela derrota mais humilhante de sempre do nosso clube – e, acreditem-me, não é obra fácil. Perante uma equipa semi-profissional, ao tempo 9ª classificada da poderosa Liga Norueguesa, o Sporting ainda aguentou bravamente na primeira parte, mas acabou batido. E – o pior insulto que se pode dizer nestas alturas - com toda a justiça do mundo. Já com Inácio ao leme, a segunda mão serviu apenas para reabilitar Beto Acosta, para um encolher de ombros à saída do estádio e para uma frase lapidar de um vizinho de bancada “Porquê é que ainda nos damos ao trabalho de participar?”
0-3 vs. Gil Vicente, Alvalade, 2003
Ao longo dos anos, tornei-me cínico sobre o juízo das bancadas de Alvalade. Afinal, demonstrámos todo o nosso conhecimento de bola adorando Maurício Pinilla e José Dominguez, insultando Figo e Pedro Barbosa e escorraçando José Mourinho. Boloni devia saber quando finalmente acedeu aos pedidos insistentes das bancadas e colocou Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo de início na equipa: receita para o desastre. Os dois são jogadores geniais, mas defender não era com eles. Aos 20 minutos já perdíamos por 0-2 e podem adivinhar o resto…
0-4 vs. Penafiel, 25 de Abril, 1988
Havia uma anedota que se contava na Rússia de Yeltsin em que dois amigos se debruçam sobre um poço e um deles cai. Ao fim de um longo minuto, grita lá para baixo a perguntar-lhe se o outro se tinha magoado – e outro responde: “Não. Ainda estou a cair!”. O Sporting do final dos anos 80 deu pancadas sem conta nas paredes do poço até atingir o fundo e esta, contra uma equipa que nunca ficou acima do 10º lugar, foi das mais dolorosas. Chorei a ouvir isto no rádio e tentei fingir-me doente para não ir à escola no dia a seguir. A minha mãe não foi a na conversa e tive direito à maior sessão de gozo que me lembro – e naqueles anos não eram poucas.
O resultado, esse, é ainda hoje a maior vitória do Penafiel na I Divisão.
2-3 vs. Halmstads, Alvalade, 2005
Quando uma equipa está a fazer a cama ao treinador, não há nada a fazer. Após uma honrosa presença na final na época anterior, regressámos ao nosso padrão ridículo na Europa. Um estatuto de cabeça-de-série que só serviu para nos pôr a jogar com a Udinese na pré-eliminatória da Liga dos Campeões esteve na base desta eliminação tragicómica. Assistência fraca, atitude inqualificável dos jogadores, mas objectivo cumprido: treinador na rua! Contentes?
1-3 vs. Paços de Ferreira, Alvalade, 2001
Os adeptos do Sporting estão habituados a doses cavalares de crueldade divina e de incompetência própria – caramba, se jogássemos num campeonato só connosco, arranjávamos maneira de ficar em segundo! Mas mesmo pelos nossos padrões, o que se passou neste jogo justificava a queda do maxilar inferior do mais indefectível da Superior Sul. Ainda mais, quando a equipa dessa época era capaz do 8 ou do 80. 10 minutos, 0-1: acontece, pouca sorte. 12 minutos, 0-2, mau, mau… 22 minutos, o ponta-de-lança do Paços bisa: esfrego os meus olhos - mas que merda é esta?! A Quinta Dimensão?! Em pleno Alvalade, o Paços fechava um jogo com toda a limpeza antes da meia-hora. O Sporting ainda reduziu por Spehar, mas o resto do jogo sem grandes sobressaltos. Será que não sabemos acabar campeonatos perdidos com um mínimo de dignidade?