Hoje é o pasquim do norte que acrescenta qualquer coisa:
"Emagrecer" oito milhões nos próximos quatro anos
As negociações entre o Sporting e os seus parceiros financeiros (BES e Millennium BCP) estão numa fase adiantada, e o novo acordo deve ser assinado até ao fim de Janeiro. Os "leões" terão de proceder a uma reformulação da sua estrutura empresarial, mas beneficiam do ajustamento do projecto à realidade actual
JEAN-PAUL LARES
As negociações com vista à reconfiguração do acordo entre o Sporting e as instituições financeiras com as quais o clube estabeleceu o “Project finance” que permitiu a construção do novo estádio e da Academia (Millennium BCP e Banco Espírito Santo) estão em fase adiantada e deverão ficar concluídas até ao fim do mês de Janeiro. Em causa está a precisão de adequar as condições do acordo às necessidades actuais, de forma a permitir, a médio prazo, benefícios para todas as entidades envolvidas.
Como em qualquer operação desta natureza, as entidades bancárias pretendem ver assegurados os critérios de convergência financeira que presidem ao princípio do acordo, numa base de rigor na gestão do grupo de empresas do universo “leonino”. Assim, o Sporting terá de proceder a alguns reajustamentos, no sentido de “emagrecer” a estrutura empresarial, sem descurar a necessidade de aumentar o volume das receitas.
Este conjunto de medidas visa uma redução de oito milhões de euros na coluna dedicada às despesas, num período de quatro anos, durante o qual as receitas deverão subir em proporção inversa, num total de dois milhões de euros. Estes valores já terão colhido a concordância das instituições financeiras à mesa de negociações, tendo as conversações chegado a uma fase de acertos de pormenor.
Meio caminho andado
Certo é que a vontade de dar por concluída a renegociação do projecto financeiro é comum a todas as partes, sendo este um passo fundamental para que o emblema verde e branco possa normalizar as operações de gestão corrente.
Os mecanismos a adoptar para alcançar as metas propostas estão a ser estudados pelos responsáveis “leoninos”, enquadrados numa série de medidas que já vêm sendo executadas (refira-se, a título de exemplo, a reestruturação a que foi sujeita a Sporting, Comércio e Serviços, na sequência do protocolo assinado com a TBZ).
Certo também é que o “emagrecimento” passa pela análise criteriosa e individualizada das várias áreas de actividade do grupo, procedendo-se, progressivamente, à racionalização dos custos. Aliás, o caminho traçado, apesar de não estar isento de dificuldades, apresenta já diversos indicadores claros e, com a “colaboração” da estrutura de gestão da SAD (ver peça à parte), bastará às restantes empresas do grupo Sporting abater à coluna de despesas um milhão de euros por ano, nos próximos quatro anos, para respeitar os compromissos que estão em vias de ser contratualizados.
SAD “corta” quatro milhões em dois anos
A estrutura de gestão dedicada ao futebol do Sporting será um auxílio precioso no processo de redução de despesas correntes no universo de empresas do emblema verde e branco. Tal como já estava previsto, a SAD tenciona contribuir de forma decisiva para o “emagrecimento” dos custos associados às actividades do grupo, através da significativa redução do orçamento para as próximas duas épocas. Assim, e se para a temporada em curso o orçamento ascendia a um montante muito próximo dos 20 milhões de euros, em 2005/06 os valores traduzidos por este mecanismo de gestão não deverão ultrapassar os 18 milhões, enquanto em 2006/2007 a verba atribuída não irá além dos 16 milhões de euros.
Este processo obedece a critérios anteriormente estabelecidos pelo Conselho de Administração, mas permite arcar, em apenas dois anos, com metade da redução a que o Sporting se compromete na renegociação do acordo com os seus parceiros financeiros (ver peça principal).
Há muito que a necessidade de adequar os custos associados ao futebol profissional à capacidade de gerar receitas foi identificada, razão pela qual os quatro milhões de euros que a SAD pretende “poupar” na gestão anual se enquadram na política global do projecto.
O desafio passa por lograr a racionalização dos custos sem afectar as ambições desportivas, tarefa que poderá ser facilitada pelo facto de estarem a atingir o seu termo os contratos de alguns atletas, assinados noutros tempos e à luz de outros critérios, que representam uma grande fatia da folha salarial do plantel.
O que se sabe é pouco e não tem rigor que permita comentar com pormenor. É melhor esperar por uma versão oficial que divulgue os termos do acordo, se é que essa versão será facultada ao público.
O que me preocupa não é tanto o prazo de pagamento até 2016- ninguém prometeu, nem seria possível, que o estádio estaria pago em 2006-, mas sim o perceber-se que será uma vez mais o futebol a pagar a crise, com mais reduções em cima das que já sucederam nas últimas três épocas.
Preocupante e intrigante é também o facto de há muito tempo os terrenos do antigo Alvalade, que desde a primeira hora foram o sustentáculo da operação, terem desaparecido, como por mistério, da equação financeira. Se alguém me souber explicar agradeço.