Se calhar não me fiz explicar bem… Os anticorpos monoclonais já existem há bastantes anos e são considerados uma forma de imunoterapia, sim. No fundo é sintetizado um anticorpo contra um determinado alvo no organismo que é responsável por uma via/cascata que está alterada por via de mutações que levam a neoplasia. Isto é feito por engenharia biotecnologica, utilizando bactérias para a síntese destas proteínas através da introdução da sequência genética nestas, que é depois traduzida para este tipo específico de proteína (anticorpo).
Outra coisa diferentes é induzir uma correção genética nas células imunitárias do indivíduo por forma a que estas reconheçam um determinado tumor que por um erro naquele indivíduo, escapou ao controlo do mm sistema imunológico.
É outro nível de tratamento, não tem nada a ver!
PS : mas concordo que os anticorpos monoclonais são “armas nucleares tácticas” comparativamente com a Quimioterapia (bombas de Hiroshima e Nagasaki)
VS
última terapêutica que descrevo são disparos com mira telescópica de alta precisão!
Imunoterapia no contexto oncológico é, por exemplo, checkpoint inhibitors. Isto é já neste momento mainstream, e constitui a verdadeira revolução oncológica dos últimos anos. Depois temos as CAR-T cells que começam a ganhar tracção, mas aqui ainda há muito trabalho a fazer (e é caro pra caramba, neste momento falamos em 400 mil euros por tratamento por doente ou assim). E por fim temos o mapeamento genético das neoplasias ao pormenor, algo que irá beneficiar não só as CAR-T cells a prazo como já neste momento permitir a utilização de medicamentos que vão ao target certo (alguns destes medicamentos já existem há muito tempo, só que era um exercício de adivinhação saber quando e em quem iriam funcionar). Este mapeamento também começa a ganhar espaço para se tornar mainstream.
O Conselho de Finanças Públicas no seu relatório da execução orçamental de 2023 a afirmar que as cativações bateram um recorde, a inflação a gerar uma enorme receita fiscal, os serviços do Estado a definhar… bem o Medina, está de parabéns. Quem vê ainda pensa que é fácil, vetar o investimento público que os próprios orçamentaram.
Estes são outros a querer desestabilizar. O Eurogrupo elogiou as contas de Portugal! A auditoria europeia reconheceu o mérito do Medina!
Se este Governo seguir a mesma estratégica, vou gostar de assistir às cambalhotas.
Anticorpos monoclonais não são novidade… E como bem sabes (provavelmente trabalhas na área) que têm tb muitos efeitos adversos e sobretudo riscos, apesar de ser uma grande evolução vs quimioterapia clássica (agentes alquilantes por exemplo)
Essa tecnologia que falas (CAR-T), que é no fundo corrigir o defeito das células T, que não reconhecem as células alteradas… Isso sim será a GRANDE REVOLUÇÃO no tratamento oncológico…será uma terapêutica teoricamente clean, praticamente sem efeitos colaterais.
Nope, CAR-T cells não pretendem “corrigir o defeito das células T” ou então não percebi o que querias dizer. A única coisa que as CAR-T fazem é reconhecer antigénios em células malignas que regra geral não são reconhecidos (e existe uma razão para não o serem, não é um “defeito” do sistema imunitário). E têm muitos efeitos adversos e provavelmente vai demorar muitos anos (se calhar décadas) ate deixarem de ter.
Anticorpos monoclonais (presumo que fales dos checkpoint inhibitors) não são uma “novidade”, mas podes ir ver nas estatísticas quantas pessoas são tratadas com eles. Têm alguns efeitos adversos, mas são regra geral melhor tolerados que as CAR-T. São bem mais baratos que as CAR-T, portanto muito mais massificáveis (aliás, já o são em muitos países), e são esses sim uma revolução no panorama oncológico. O principal aumento nos stats de sobrevivência ao cancro dos últimos 5-6 anos deve-se quase exclusivamente aos checkpoint inhibitors. O nivolumab foi aprovado “apenas” em 2015, na altura estes resultados, uma melhoria na sobrevivência de quase 20% a 1-2 anos, foram qualquer coisa de estratosferico:
Não sou da área da oncologia nem da imunologia, apesar de trabalhar na área de saúde. O que quis dizer é que, conseguir que os nossos linfócitos T passem a reconhecer um tumor que antes não reconheciam, é TURNING POINT!
Para mim será a grande revolução na medicina e muito para a oncologia.
Não sei se o defeito existe nas células T, por incapacidade em reconhecer receptores de superfície (Ag) dos tumores ou se são alguns tumores que não apresentam alterações suficientes para serem reconhecidos como “Não Self” por parte das células de defesa.
O que é certo é que para haver cancro, o nosso sistema imunológico falha, e já antes outros mecanismos de controlo a montante tb falharam (Gene P53 por ex).
O ponto é que será um tratamento muito mais eficaz e clean que os anticorpos monoclonais, tb antes designados de biológicos.
É claro que comparativamente à quimioterapia clássica, os biológicos foram revolucionários, mas não são novidade.
A novidade de tratamento a que me queria referir é essa designada, segundo o que disseste, por células CAR-T. Quando estiver massificada estou convencido que vai mudar a história da medicina e em particular da doença oncológica, mas não apenas nesta.
Já há vários estudos em caes, para tratar o osteossarcoma apendicular
No mundo ideal se calhar, mas não é assim tão simples. Nas CAR-T pegam em algumas das tuas T cells e fazem engineering com o T-cell receptor para reconhecer o que entenderem e depois injectam-nas de volta. Existe uma razão para as tuas T cells não reconhecerem o CD19 (que é o engineering mais comum) e que é simplesmente por ser um dos identificadores das tuas B cells. Basicamente o que estás a fazer é dar rituximab de forma permanente, dado que parte das T cells acabam por se tornar memory T cells. É só mesmo esta parte que é um bocadinho revolucionária, mas de resto nao vai dar para aplicar assim sem mais nem menos. Se fosse assim tão simples fazer target às células cancerígenas, então já tínhamos encontrado a cura. E depois é mais que sabido que as neoplasias adaptam-se, pelo que passado algum tempo o mais provável é que o cancro volte com uma mutação que evite a CAR-T. E depois tem de se fazer nova CAR-T (se der)… por aí fora.
Portanto isto vai ser mais uma arma no arsenal, mas eu creio que vai demorar mais tempo do que se pensa e que vai criar grandes problemas de efeitos secundários (já começam a surgir alguns bem graves). Vai ser a combinação de checkpoint inhibitors (e estamos ainda bem longe de ter esta terapêutica bem optimizada), quimio/radioterapia, eventualmente CAR-T e substâncias específicas para bloquear determinadas proteínas e moléculas baseado no mapeamento genético da neoplasia. Isso sim vai fazer cada vez mais a diferença.
Não desenvolvi conhecimentos nesta área desde a formacao básica e estou um pouco afastado do state of the art, para discutir contigo com maior nível de detalhe… so me lembro que o rituximab se liga aos cd 20 (linf b) levando a sua inativacao/destruição, portanto mto usado em lifomas celulas b… e tenho ideia que foi dos primeiros biologicos a par do infliximab.
Explicando de uma forma simplista, faco votos que a investigação consiga activar as celulas de defesa de um dado indivíduo que desenvolve um tumor, com vista a torná-las aptas a reconhecê-lo e combatê-lo. O futuro vai com certeza de passar por aqui.