No seguimento da discussão generalizada sobre a abordagem do Sporting neste mercado de transferências, pretendo com este texto sintetizar e compilar algumas ideias que fui escrevendo nestes últimos dias.
Como ponto prévio, o seguinte:
Épocas Pontos
2006/2007 68
2007/2008 55
2008/2009 66
2009/2010 48
2010/2011 48
2011/2012 59
2012/2013 42
2013/2014 67
É este o ponto de partida do Sporting 2014/2015, que vem de uma época onde conseguiu dar um salto competitivo de 25 pontos relativamente à época 2012/2013 e de um 2º lugar e respectivo regresso à Champions League, depois do 7º lugar do ano anterior, que resultou na pior época de sempre de uma equipa do Sporting Clube de Portugal.
Mas o tal salto competitivo não se pode reduzir à comparação das duas épocas. A época 2013/2014, no que ao campeonato nacional diz respeito, foi o melhor desempenho de uma equipa do Sporting em 7 anos. Após uma reestruturação financeira dolorosa, na qual se incluíram despedimentos colectivos, rescisões de contrato e reduções orçamentais em vários casos drásticas nas mais variadas modalidades, inclusive no motor do clube, o seu futebol.
Ora isto é absolutamente notável, tendo em conta as condicionantes vividas.
A equipa base que consegue este feito ou melhor, o seu núcleo, foi constituída por 8/9 jogadores: Rui Patrício, Cedric, Maurício, Rojo, Jefferson, William, Adrien, Martins e Slimani/Montero.
Ou seja, isto:
[b]Patrício
Cedric Maurício Rojo Jefferson
William
Martins Adrien
Slimani/Montero[/b]
Consensualmente e entre os que seguem o clube mais de perto, defendeu-se que para as necessidades do Sporting na abordagem ao mercado para esta época e na preparação da mesma, seria importante manter a tal base, com reforços cirúrgicos que aumentassem a qualidade do onze titular.
Ou seja, a entrada de dois extremos de qualidade superior e um médio de ataque que permitisse dar à equipa aquilo que André Martins não dá, que é essencialmente um médio centro. Eram basicamente estas as prioridade referidas, não menosprezando a necessidade de alternativas para as laterais, para a posição “6”, para Slimani e Montero. Havia uma ou outra nuance, conforme a cabeça de cada adepto, mas penso que isto resume em boa parte a matriz opinativa dos adeptos. Era esta a minha opinião, certamente. Ainda é.
O que foi feito foi diferente.
Todos gostaríamos de ser clarificados relativamente a esta matéria, porque a abordagem no mercado claramente nos surpreendeu e dificilmente aceitamos como totalmente verdadeira a declaração presencial “temos o plantel que queremos”. Não temos, certamente. Bruno de Carvalho levantou um pouco o véu há algumas semanas: “ o Sporting não tem capacidade para contratar jogadores feitos”.
O Sporting não tem capacidade para contratar jogadores feitos? Tem, certamente. Os 12, 13… 15 milhões investidos neste defeso, tal comos salários dos 10 jogadores contratados poderiam ser direccionados para os tais 2 ou 3 jogadores que pudessem dar garantias no curto prazo e elevassem o nível do nosso 11 titular.
Não foi isto que o Sporting fez. Recebe o Nani por empréstimo no âmbito do negócio Rojo, de um mercado alternativo contrata Tanaka e contrata nove sub23. Seis deles sub21. Oriundos também de mercados alternativos e/ou periféricos, na sua maioria.
Atletas jovens, com mais ou menos experiência mas quase todos ( ou mesmo todos ) impreparados para assumir um lugar de destaque na melhor equipa ( a titular, leia-se ) do Sporting, ora porque precisam de se adaptar, crescer e evoluir ou porque ocupam posições de jogadores que dão garantias de rendimento ( uns mais, outros menos ).
Colocando-se de lado a hipótese de haver a convicção por parte dos responsáveis do clube no impacto imediato destes jovens ( novamente, em ganharem o lugar no melhor 11 ), porque tal obviamente não fazia sentido nenhum e globalmente, com erros evidentes e alguns deles assumidos ( que sempre acontecerão, por mais competência que haja em quem decide ), o trabalho efectuado até ao momento por esta direcção faz sentido e há um rumo definido, explico a política de contratações e é um ponto de vista pessoal meu pelos seguintes factores:
-
[glow=greenyellow,2,300]Prioridade absoluta à manutenção da base da equipa[/glow].
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[glow=greenyellow,2,300]Diversificação do risco[/glow] ( optou-se por não se alocar todos os recursos nos 2 ou 3 jogadores que a equipa necessitava no imediato e optou-se por alargar a base de escolha, em atletas que despontaram recentemente e ainda acessíveis aos nossos bolsos ), tendo em conta os meios escassos e sem a alavancagem de vendas relevantes.
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[glow=greenyellow,2,300]Profundidade do plantel[/glow]. O acerto nas escolhas efectuadas será julgado mais tarde, mas essa profundidade agora existe.
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[glow=greenyellow,2,300]Preparação do futuro[/glow]. Existe a equipa B que tem vários jogadores com potencial ( e alguns poderiam e deveriam já estar no patamar acima ), mas a grande maioria falhará. O número de jogadores jovens talentosos e com capacidade de integrarem/substituírem jogadores nucleares e/ou com mercado a médio prazo é agora muito maior. Não será possível replicar o esforço deste ano, para o próximo, relativamente à manutenção dos melhores jogadores. Esperando que haja evolução dos nossos atletas e que a equipa corresponda desportivamente, na próxima época teremos muito possivelmente abdicar de vários jogadores do nosso núcleo duro e haverá em teoria e esperando que o crescimento dos jovens seja efectivo, mais gente com capacidade e mais preparada do que está agora, para os substituir.
Em linhas genéricas, são estas as razões que encontro e que entendo estarem na base da nossa política de contratações.
É verdade que há lacunas no plantel. As saídas de Rojo e Dier parece-me que são um potencial foco de instabilidade ( elevado ) no centro da defesa e não existe um médio de ataque preparado para dar resposta imediata ao nosso vértice mais ofensivo do meio campo, embora quanto a esta última lacuna, eu acredite que o plantel tem soluções que a possam minorar ou que com outra abordagem táctica e outro tipo de dinâmica colectiva, esse problema pode ser bem menos evidente do que é agora.
São portanto pontos deste trabalho no mercado que me insatisfazem e que certamente me preocupam, mas eu não escrevi este texto para defender a qualidade do plantel ( que me parece contudo por vezes excessivamente desvalorizada ) ou sequer a política de contratações, pelo menos como uma opção que eu tomaria. Defendo é, salvo um ou outro caso pontual, a sua coerência. Vista como um todo.
Deixo uma nota final. É importante acautelar, proteger e premiar os jogadores da nossa formação que o merecem. Ou melhor, os que o merecem. A um nível global, mas refiro-me essencialmente a quem já está dentro do plantel principal e até eventualmente pertence à tal base que referi acima ou está à porta da A e já devia ter entrado. São recursos importantíssimos para o nosso futuro e o trabalho no mercado deverá sempre respeitar os recursos já existentes. Sempre.