O que me propus fazer foi o seguinte: escolher onze jogadores do Sporting de entre os que me recordo de ver jogar (ou seja, a partir da época 1981/82, pois a minha memória futebolística não vai mais além) e formar “a equipa da minha vida”.
Não me preocupei muito em garantir que esta equipa “funcionasse” do ponto de vista táctico, por isso se me vierem dizer que os jogadores “a” e “b” seriam incompatíveis ou perguntar quem é que cobriria o jogador “c” quando ele subisse no terreno desde já vos dou razão. Quem projectar uma equipa da sua vida com 100% de rigor táctico conta desde já com o meu aplauso.
Também não me preocupei em escolher os “melhores” jogadores para cada posição. Orientei-me por três critérios: a) qualidade (apesar de não ser necessariamente determinante), b) Sportinguismo (privilegiei jogadores que no campo ou fora dele ou em ambas as situações demonstrassem amor à camisola) e c) motivos puramente pessoais.
Eis a minha equipa:
1 (guarda-redes) – Vítor Damas
Sobre o Damas já disse o que tinha a dizer - [url]http://www.forumscp.com/index.php?topic=11889.0[/url]
2 (lateral direito) – Carlos Xavier
Carlos Xavier a defesa direito? Porque não? Foi uma das inúmeras posições em que ele jogou ao longo dos anos, sempre defendendo o Emblema com esforço, dedicação e devoção.
O Carlos Xavier foi um leal servidor do Sporting durante muitas épocas, alinhou em inúmeras posições por todo o campo e no final da sua carreira era um dos jogadores mais tecnicamente evoluídos de que dispúnhamos. Nessa fase adquiriu um estatuto quase mítico no seio do plantel, por ser o último jogador em actividade no Sporting que fora campeão pelo clube, o último elo de ligação com a era pré-jejum. E tornara-se um especialista na marcação de livres, algo que muita falta nos tem feitos nas últimas épocas.
Foi um dos vários jogadores cuja carreira no clube podia ter sido prolongada por pelo menos mais uma época. Para mim saiu demasiado cedo, ainda tinha bastante para dar ao Sporting.
3 (lateral esquerdo) – Rui Jorge
Na minha opinião foi um dos jogadores mais subaproveitados do futebol português. Foi subaproveitado no FCP e na Selecção e acabou por se impor no Sporting e ajudar-nos a ser campeões.
Sempre me pareceu um jogador discreto e trabalhador e um bom lateral esquerdo. Acabou por se tornar, a despeito das muitas épocas no FCP, num símbolo do Sporting, até por causa dos famosos casos da camisola rasgada pelo Mourinho e da sua expulsão inacreditável num jogo contra o Valentim Loureiro FC que foi um exemplo do “sistema” em todo o seu esplendor. O facto de ser um jogador que “roubámos” a um dos nossos maiores rivais e que encontrou uma verdadeira “casa” em Alvalade ajuda-o a conquistar um lugar nesta “equipa da minha vida”.
4 (central) – Beto
Um produto das nossas escolas, cujos dois primeiros golos foram marcados em jogos contra os nossos maiores rivais. Também ele serviu o clube durante muitos e bons anos, acabando por sair em circunstâncias mais ou menos controversas.
O facto de ter várias vezes demonstrado interesse em sair do Sporting não me impede de o seleccionar, pois trata-se de um jogador da casa que, apesar da sua qualidade, acabou por nos dedicar os melhores anos da sua carreira.
5 (central) – Marco Aurélio
Quem o viu perceberá porque o escolho. Marco Aurélio foi essa “ave rara” que é um central que joga limpo e se orgulha de o fazer. Nada de entradas assassinas, nada de pitons nas costas do adversário. Só qualidade a rodos, qualidade para fazer desarmes impossíveis que entusiasmavam o velho Alvalade quase tanto como um golo.
O Marco Aurélio parecia ter pernas com metros de comprimento e dotadas de várias articulações, que ele usava para roubar a bola a adversários que já se julgavam isolados perante o guarda-redes.
Fora do campo, era um gentleman, um homem tranquilo e avesso a confusões, que ainda fez uma perninha no campeonato italiano após sair do Sporting, sempre a bom nível, pois não sabia jogar mal.
6 (trinco) – Oceano
Existe um livro de ficção sobre basebol em que há uma equipa muito má que tem um (e um só) jogador de primeira qualidade. A dado passo do livro, uma das personagens dirige-se a esse jogador e diz “tu és a única coisa que faz do clube uma equipa da primeira divisão”. Em certas alturas (tenebrosas) da história do Sporting poderia quase dizer-se o mesmo do Oceano. Entre todos os jogadores de campo praticamente só ele parecia estar à altura da história e das tradições do Sporting e só ele parecia compreender o peso da camisola que vestia.
O Oceano lutava, o Oceano nunca baixava os braços, jogava onde fosse preciso, mesmo à baliza. O Oceano podia ir de uma área à outra em linha recta, deixando pelo caminho uns quantos adversários estendidos no chão. Foi um dos mais dignos portadores da braçadeira de capitão nos últimos tempos.
Embora fosse um jogador que privilegiava, como diria o Gabriel Alves, a “técnica da força”, nos últimos anos da sua carreira adquiriu alguma “força da técnica” e começou a ensaiar dribles que levavam Alvalade ao delírio.
Também a sua carreira foi marcada por alguma controvérsia, com a temporária remoção do posto de capitão e a saída precipitada, quando, tal como o Carlos Xavier, ainda era jogador para dar pelo menos mais uma época ao Clube.
7 (ala direita) – Figo
Este é um jogador que ainda hoje divide os Sportinguistas. Para uns é o “pesetero”, que trairia qualquer clube em troca de dinheiro. Para outros é um grande jogador, um dos maiores talentos, senão mesmo o maior, jamais saído das Escolas do Sporting.
Já escrevi neste Fórum que devíamos deixar de exigir ao Figo aquilo que ele nunca poderá dar (lealdade absoluta a um clube) para lhe agradecermos o que efectivamente nos deu. E o que nos deu foram vários anos de grande futebol e o privilégio de podermos ver um jogador sublime a envergar a camisola do Sporting.
Não me saem da memória duas exibições do Figo, ambas no Restelo. Uma numa vitória por 3-0 após o Robson o ter relegado para o banco de suplentes. O experiente inglês considerou que a fama do Figo lhe estava a subir à cabeça e quis-lhe dar uma lição de humildade, que foi bem aprendida. O Figo não resmungou, não se queixou e respondeu em campo, assinando uma exibição portentosa, que, simultaneamente, deu razão ao treinador e estabeleceu o jogador como titular indiscutível. A outra numa vitória por 1-0, após se saber que o Figo ia sair do Sporting. Foi ele quem marcou o golo e a seguir dirigiu-se à Superior Norte do Restelo, celebrando com raiva, como quem pede explicações aos sócios que, nos dias anteriores, o tinham criticado por ir deixar o clube. Nesse momento tudo foi perdoado, mas depois voltaram as dúvidas.
De qualquer modo, o Figo foi indiscutivelmente um dos melhores jogadores que vi jogar no Sporting.
8 (avançado-centro) – Manuel Fernandes
Ainda o Manuel Fernandes jogava na CUF do Barreiro, em 1900 e carqueja, o seu treinador falou com o técnico do Sporting na altura e disse-lhe que tinha um rapaz que só sonhava com o Sporting, que só queria saber do Sporting e que quando entrava na cabine ao intervalo a primeira coisa que perguntava era qual era o resultado do Sporting. O Sporting tinha que o contratar.
Esse rapaz era obviamente o Manuel Fernandes e o Sporting contratou-o, adquirindo assim um dos seus mais lendários pontas-de-lança, que ainda hoje (e sempre) é merecidamente ovacionado quando regressa a Alvalade como treinador de um adversário.
O Manuel Fernandes é o exemplo acabado de adepto tornado jogador do clube. Vi-o há uns tempos na televisão, em conjunto com o Liedson, antes deste se ter decidido a renovar. Apelou à continuidade do brasileiro com a emoção que seria de esperar de um adepto. Elogiou o Liedson com a paixão que seria encontrada num adepto. Nem quis ouvir falar da possibilidade do Liedson sair do Sporting.
O Manuel Fernandes há de continuar a querer saber quantos há no jogo do Sporting até ao dia em que morrer.
9 (avançado-centro) – Liedson
Confesso que a escolha do segundo ponta-de-lança me deu algum trabalho (o Manuel Fernandes terá sempre lugar garantido na “minha” equipa). Para além do Liedson pensei no Jardel (tecnicamente terá sido o melhor avançado-centro do Sporting desde o Yazalde), no Iordanov (outro exemplo de dedicação exemplar e saída controversa) e no Acosta (que, afinal de contas, foi decisivo para que se enterrasse o jejum de uma vez por todas).
Mas acabei por optar pelo Liedson, pois combina o talento para marcar golos com uma devoção pelo Sporting semelhante à do Oceano. Se o Liedson tivesse sido feito nas Escolas do Sporting e tivesse passado a vida inteira em Alvalade não se dedicaria mais à causa Leonina. Também ele tem que remar, muitas vezes sozinho, contra a maré, indo buscar jogo se não lho derem, correndo o campo todo e esfalfando-se semana após semana em prol do Sporting.
Hoje em dia o Liedson é a alegria dos Sportinguistas. Cada um dos seus golos é celebrado nas bancadas como a confirmação, vez após vez, do seu talento natural para marcar golos.
Embora também não esteja isento de controvérsias (pelas quais culpo exclusivamente, como bom adepto, o Sr. Veloz), o Liedson sabe defender as cores do Sporting e sabe reconhecer o apoio e o carinho que lhe são votados pela massa adepta. Agradeceu-nos recentemente o nosso apoio, mas na verdade somos nós quem lhe deve agradecer. Falta-lhe ser campeão pelo Sporting…
10 (n.º 10!) – Balakov
Ter visto o Balakov jogar foi um privilégio. Não é raro pensar nele ainda hoje, especialmente nos lances de bola parada. E é sempre para lamentar a sua ausência (ai se o Balakov aqui estivesse…). Inesquecível a maneira como marcava os “cantos mais curtos”. Quantas bolas não mandou ele para dentro da baliza a partir dessa zona entre a linha lateral e a grande área. Inesquecível a sua qualidade técnica.
Inesquecível a noite em que, entrado quase no final dum jogo de nervos e frustração contra o Salgueiros, depois de ter ficado no banco como castigo por discutir com o Carlos Queiroz durante um jogo-treino no campo do Casa Pia, soube marcar o único golo, o golo do triunfo, fazendo a bola passar por entre a multidão de defesas que lotava a área dos portuenses. Apesar da pouca importância do jogo, é ainda hoje uma das memórias mais queridas que tenho da minha vida de adepto.
11 (ala esquerda) – Amunike
Esta é uma escolha ditada por motivos puramente pessoais. Depois de mais de vinte e cinco anos a ver o Sporting, devo dizer que poucos reforços “desconhecidos” me entusiasmaram mais do que o nigeriano. Quando o Jardel ou o Schmeichel chegaram, já todos sabiam o que eles valiam. O Amunike era uma incógnita. E, pelo menos para mim, foi uma revelação.
Apesar da sua baixa estatura, tinha uns pulmões enormes e corria toda a ala de uma ponta a outra, ia buscar a bola à zona defensiva do Sporting e levava-a até ao outro lado do terreno, sempre veloz como uma bala. Só faltou foi centrar, desatar a correr, ultrapassar a bola e cabecear o seu próprio centro.
Quando o vi pela primeira vez pensei (juro que é verdade) que com um jogador como ele seríamos campeões. Não fomos, mas ganhámos a Taça de 1995. Amunike é um dos jogadores emblemáticos da primeira metade da década de 90, quando o Sporting voltou a ter uma equipa a sério e saiu da era mais negra da sua história.
Para mim, Amunike será para sempre sinónimo de três coisas: juventude (a minha), esperança e tardes de sol no velho Alvalade.
Esta é a minha equipa. Qual é a vossa?