O “verde Sporting” - uma análise empírica
Parece-me que isto fica melhor aqui do que no Media Center, porque de certa forma o verde Sporting faz parte do nosso património!
O Sporting Clube de Portugal já teve várias marcas a fazer as suas camisolas. Desde os equipamentos dos anos 1970 até à época actual, o verde foi variando. Por vezes foi mais do agrado dos adeptos, por vezes menos. Não há uma definição clara do que é o tão falado “verde à Sporting”, e cada um tem a sua opinião.
Em particular, o verde das épocas 2010/11 e 2011/12 parece ser muito ligeiramente azulado quando comparado com épocas passadas. O Verdebranco decidiu fazer uma análise empírica a camisolas oficiais do Sporting, para tentar trazer alguma luz a este assunto.
Actualização com as camisolas listadas Puma de 2012/13
As figuras já incluem a camisola listada 2012/13, do futebol, ou seja feitas pela Puma. Ainda não estão camisolas de outras modalidades, fabricadas por outras marcas como a Asics ou Lacatoni.
Método de análise da cor das camisolas
Primeiro, foram seleccionadas camisolas listadas que considerámos representativas. Não usámos nem camisolas Stromp nem alternativas. Depois, todas as camisolas foram fotografadas com a mesma máquina nas mesmas condições de luz. Finalmente, usámos um programa standard para analisar a cor nas duas componentes RGB, ou seja, vermelho, verde e azul. Ressalvamos que este método não tem validade científica, e que portanto os resultados são apenas indicativos.
Resultados - vermelho, verde, azul
A figura 1 mostra os resultados. Parece claro que a dispersão de pontos não é muito grande, portanto é nas pequenas diferenças que devemos encontrar explicação. Em primeiro lugar, a componente verde varia sensivelmente entre 38% e 52%. A componente azul varia entre 31% e 38%. A vermelha, entre 0% e 30%.
Em segundo lugar, quase todos os pontos, com excepção de dois, caem sobre uma mesma linha (marcada a tracejado, é apenas um “guia para os olhos”). Os dois pontos que caem fora são precisamente as últimas duas épocas.
Discussão - evolução ao longo dos anos
Vejamos a variação ao longo dos anos, mostrada na figura 2. Na época “clássica”, quando não havia marca, a componente vermelha era perto de 0, entre 0% e 10%. Por sua vez, a componente azul era mais pequena do que a verde (factor de cerca de 0.9). Com a Le Coq Sportif (e também com a Hummel), o vermelho continuou a ser residual, e a componente azul baixou um pouco, para cerca de 0.8 do verde.
Com a Umbro e com a Adidas, isto mudou muito: subitamente apareceu uma componente vermelha muito forte, da ordem dos 25% a 30%, enquanto que a componente azul se mantinha cerca de 0.8 da verde. Com a Reebok inicialmente isso manteve-se assim, mas a partir de uma certa altura a componente vermelha diminuiu, para valores da ordem dos 10-15%.
As primeiras Puma tiveram uma composição de cor semelhante às últimas Reebok. Isso alterou-se nas últimas duas épocas, 2010/11 e 2011/12, como se torna claro com a figura 3, onde mostramos a razão entre a componente azul e a verde.
A componente azul, que antes era 10% menos que a componente verde (ou mesmo 20% com a Le Coq Sportif), subitamente aumentou, ficando praticamente da mesma intensidade da componente verde.
Note-se no entanto, que isso não chega para compensar o tom muito ligeiramente azulado das camisolas actuais do Sporting. Com efeito, a razão azul/verde da época passada não anda muito longe da razão encontrada nas camisolas clássicas dos anos 1970. Acontece que, à subida da componente azul, somoa-se uma componente vermelha bem maior do que nos anos 1970: cerca de 15% a 20%, quando nessa altura era menor que 10%.
Conclusões - o “verde Sporting”
Concluindo, o verde Sporting caracteriza-se por ter uma componente azul entre 0.8 e 0.9 da componente verde. Considerando que as camisolas da Le Coq Sportif são provavelmente as mais admiradas pelos sportinguistas, valores perto do 0.8 ou 0.85 são aconselháveis. Por outro lado, o verde Sporting tem uma componente vermelha, mas pequena, da ordem dos 5% a 10%.
As camisolas da Puma, por ex. em 2006/07, já estiveram fielmente inseridas nesta tradição. Nas duas últimas épocas, desviaram-se um pouco, devido sobretudo a um aumento da componente azul relativamente à verde para valores acima do normal, e ainda a um pequeno aumento da componente vermelha, se bem que dentro da gama historicamente observada.
Nota importante (edit): estes valores são uma indicação qualitativa, porque dependem das condições de luz e câmara usada! O resultado importante é que a componente azul aumentou nos últimos dois anos.
Perspectivas para o futuro: recado para a Puma dado em Janeiro de 2012
Esperamos então que a Puma, para a época 2012/13, faça o pequeno ajuste necessário para ter camisolas do Sporting simplesmente perfeitas! Se algum responsável da Puma porventura ler isto, não entenda como uma crítica: os sportinguistas adoraram muitas das camisolas que vocês fizeram para nós, e a actual é maravilhosa. Entenda antes como uma pequena achega para melhorar ainda mais.
Manual de normas gráficas do Sporting: existe ou não?
Um manual de normas gráficas é um livro onde se explicitam as normas para utilização gráfica de uma marca, incluindo os tamanhos e cores. Com a adopção do novo emblema do Sporting em 2001, um emblema moderno, é difícil de acreditar que não tenha sido elaborado o manual de normas gráficas do Sporting Clube de Portugal. Aliás, já ouvimos dizer que sim! A questão é que esse manual teria forçosamente que incluir uma definição das cores usadas, e como os equipamentos fazem parte da marca, também deveria incluir as camisolas. Ora, é óbvio que desde 2001 o verde já mudou, e muito! e basta ir em 2012 à Loja Verde, e comparar lado a lado uma camisola de futebol Puma com uma de andebol Asics, para se verificar que são verdes totalmente distintos.
Alguns exemplos ilustrativos
Mostramos em baixo três camisolas com aquilo que pensamos ser o verde Sporting: à esquerda a toda a altura, uma Le Coq Sportif. À direita também a toda a altura uma camisola de algodão sem marca dos anos 1970. Por cima dela, uma Puma de 2006/07. Estas três têm o verde ligeiramente diferente umas das outras, mas dentro dos parâmetros “verde Sporting”. Ao centro está a camisola de 2010/11, onde se nota claramente o tom ligeiramente azulado. Para comparar, à esquerda por cima da LCS, uma Adidas onde é clara a componente vermelha!
Um update: análise usando pantones: O verde Sporting em pantones
A indústria usa CMYK, e tem os seus padrões, normas, e mesmo que baste meter uma camisola actual ao lado de uma dos anos 1980 para entrar pelos olhos dentro que o verde não é verde, vamos tentar fazer a mesma coisa de outra maneira. Ainda está longe do ideal, mas não somos profissionais do ramo.
Pegámos num guia pantone, o formula guide fourth edition fourth printing solid coated. Também temos o uncoated. Não temos o textil. Não sabemos qual é o standard da indústria de camisolas de futebol. Em qualquer dos casos, primeiro vimos três camisolas dos anos 1980. Não quisémos usar camisolas mais antigas porque são em algodão, e é mais difícl de comparar com tecidos sintéticos. São estas. Uma sem marca, usada pelo Inácio num particular contra o Cosmos, e duas Le Coq Sportif, uma do Gabriel e outra do Litos.
Isto estabelece, digamos assim, a linha base. O verde Sporting quando as camisolas já eram em tecido sintético, e antes da profissionalização do marketing, dos modelos, das cores. Vamos então ver que cores são estas em CMYK, e já agora em RGB. Todas as fotos com os pantones eatão aqui: O verde Sporting em pantones
Os profissionais sabem o que são estas cores. Nós, que somos só adeptos, podemos ver isto à nossa maneira, e calcular a razão azul sobre verde, ou seja B/G. Dá, para as três cores, 79%, 68%, e 66%, ou seja uma média de 71%. Notamos que a camisola sem marca é a que tem mais azul. As Le Coq Sportif, ainda hoje consideradas de forma quase unânime as mais bonitas camisolas do Sporting, têm ainda menos azul.
Pantones de camisolas modernas do Sporting
Pois bem, vamos ignorar a Hummel, a Umbro, e sobretudo a Adidas que tinha camisolas com um verde garrafa totalmente diferente. Vamos ainda ignorar todas as camisolas Reebok dos anos 1990. Vamos começar em 2000/01, e mostrar as camisolas desde esse ano até 2012/13. A foto em baixo é isso mesmo, começando da esquerda para a direita, cada risca é uma lista da parte da frente de uma camisola do Sporting, de 2000/01 até 2012/13. Não é montagem, é uma foto única.
Claramente há verdes diferentes, mas a diferença não parece assim tão grande. Acontece que na realidade há uma grande diferença, mas aconteceu devagar, ao longo dos anos. Comparando a primeira com a última, vê-se bem que são verdes bem diferentes. Isto não é de estranhar, porque as diferenças que tínhamos visto na análise empírica em termos de RGB, eram de uma variação de apenas 10% na razão B/G. Isso não é muito! E, quando acontece aos poucos e poucos, não se nota logo. Só ao fim de 10 anos é que os adeptos acordaram para este facto.
Sem manipular cor, cortámos as camisolas do meio, e mostramos aqui as de 2000/01 e 2001/02 ao lado das de 2011/12 e 2012/13. É esta, no fundo, a transição que houve ao longo de uma década.
Vimos em detalhe com pantones três camisolas Reebok, e depois, todas as Puma até agora. Todas as fotos com os pantones eatão aqui: O verde Sporting em pantones
As camisolas Puma recentes caem nestes pantones:
A componente azul com base em pantones
Pois bem: os profissionais sabem que cores são estas, e sabem perfeitamente ver que os pantones têm estado progressivamente mais azulados, independentemente de se considerar RGB, CMYK, AEIOU ou XPTO. Nós disso não percebemos nada, portanto, vamos meter isto em termos que entendemos, e vamos voltar à percentagem de azul em relação ao verde. Traduzindo tudo isto por miúdos, é isto que dá. A linha em verde claro é a média dos anos 1980, a linha a verde mais escuro é apenas para as camisolas da Le Coq Sportif. Só há uma conclusão possível: o verde das camisolas actuais do Sporting não é verde-Sporting! O “verde Sporting” é mais verde.