O que é que lêem, nestas noites...? (Livros, BD, colectâneas)

[font=trebuchet ms]Esses teus testemunhos… LOL!

A ideia que tenho é que outro aspecto que muitos meteram na cabeça é quererem ser mais americanos que os americanos… Os EUA passaram de besta a bestial; são o modelo teórico a seguir.
Só que nem sequer sabem o que é ser americano, para além do que veem no cinema!

Isso nota-se muito em culturas em que a religião pouco ou nada risca.

No caso da Europa de Leste acresce o facto de teoricamente não ter havido propriedade privada durante décadas. Os mais novos deste fórum não compreenderão o alcance disso. Durante décadas era suposto terem tudo, porque tudo era de todos (atenção, em teoria!). De repente tudo o que era suposto ser de todos eclipsou-se. Deve ter sido o fim do mundo!
Não admira que quase todos os testemunhos que me chegaram ao conhecimento sejam de saudades dos tempos antigos.

Já sobre quererem ser mais americanos que os americanos, os meus correspondentes nos EUA, pessoal que vive francamente bem, dizem-me sempre para não acreditar no cinema, pois este vende a ilusão. Os que vivem aparentemente melhor dizem até que é muito raro comerem fora, beberem vinho, etc., por ser tudo mais caro. Mas quem não conhece essa realidade não quer acreditar em tal![/font]

Destaquei o que acho de mais relevante no que disseste.

  • A obessao com a America e’ uma componente essencial dos anos 90 nos paises nascidos do colapso da Uniao Sovietica. Vou dar dois exemplos atraves de filmes que se fizeram na altura e que retratam bem o estado de espirito dos russos na altura:
  • o primeiro nao me lembro o titulo mas foi feito no inicio da decada de 90. Retrata uma rapariga russa que quer ir para a America porque la’ “toda a gente e’ milionaria”. Consegue ir para Miami e la’ tem uma serie de aventuras com homens americanos, mas eles sao “apenas ricos”. Entretanto, convida alguns amigos russos que deixou em Moscovo para a visitarem, pois apenas “um homem russo a faz sentir completa”. No final, ela conhece um milionario americano num supermercado (lol) e parte com ele num descapotavel.

  • o segundo trata-se do maior sucesso comercial do cinema russo no final dos anos 90 e chama-se Brat (Irmao), com o malogrado actor Serguei Badrov (morreu novo enquanto filmava outra obra, uns anos mais tarde). A primeira vez que vi o filme fiquei chocado com a brutalidade do mesmo. Depois percebi que descrevia com fidelidade as vidas dos gangs nas ruas de S.Petersburgo na decada de 90. Hoje em dia e’ um filme de culto. Curiosamente, o sucesso foi tal que resolveram fazer uma sequela. Desta vez o cenario sao as ruas americanas e o filme retrata o “salvamento” de uma rapariga russa que foi para a America em busca do sonho americano e acabou por enveredar pela prostituicao para sobreviver. A sequela tambem foi um sucesso enorme, pois coincidiu com a mudanca de paradima: Putin sobe ao poder e evoca os russos para o patriotismo e o exaltar de tudo o que e’ russo. O filme termina com a rapariga a voltar para casa, para que possa finalmente concretizar os seus sonhos.

Os filmes Brat estao na net com legendas em Ingles.

  • A religiao esta’ muito presente na Russia, so’ que e’ patrocinada pelo Estado. Tipo, “tinham o comunismo para vos dar valores para a vida, agora devolvemos a religiao para fazer o mesmo servico”. So’ que a religiao ortodoxa nao tem a presenca no dia-a-dia que o comunismo tinha, por isso o seu efeito apaziguador e’ menor.

  • As pessoas aspiram por um tempo em que todos eram iguais na pobreza (nao eram bem pobres, mas menos abastados, digamos assim). As nomenklaturas da altura escondiam os seus privilegios. Os novos ricos esfregam-nos na cara dos mais pobres. Dai o desgosto e o ressentimento;

  • O sonho americano dilui-se um pouco no imaginario russo. Ja’ muitos percebem que nem todos os americanos sao milionarios. Ja’ na America, parece-me que os americanos tambem comecam a perceber (lentamente) que o seu modelo de vida nao e’ exemplo para ninguem. Ja’ sao muitos os americanos que nao acreditam no “american dream”…

[font=trebuchet ms]No meio de todo este nosso :offtopic: chama-me a atenção a espécie de coincidência de ver a mesma mentalidade em pessoas de sítios tão diferentes como Europa de Leste, China (mas neste caso é tudo muito mais discreto) e Palops. E o que notei em comum desde muito cedo foi a pouquíssima importância da religião do dia a dia dessas pessoas. No último caso, o tempo em que a religião esteve por assim dizer «fora da lei» começou com as independências (1975), enquanto que nos outros remonta a 1917 (para a Rússia, desde 1945 para os vizinhos) e 1949 respectivamente, ou seja os Palops estão a caminho da mesma duração, só que a importância da religião na vida das pessoas «sobreviveu» bastante mais do que nos outros casos…
Conceitos de ordem moral, como o que se é ser mais importante do que o que se possui, perderam-se, como os teus exemplos tão bem documentam.
Ainda sobre Moral (assunto a que já fui mais «alérgico»), o papel das religiões (assunto a que sou extremamente «alérgico») não foi devidamente substituído pela educação «colectivizante», visto que tudo se esvaiu muito depressa. No caso português, diria que a situação é ainda mais grave, já que o nosso ensino público se degradou imenso.

Religião e Moral aparte, mencionaste o cinema. Também me parece ter havido aí uma certa regressão. É certo que na Europa de Leste quase só havia cinema de propaganda política, mas lembro-me duma ou outra tentativa muito interessantes a nível de ficção científica.
Mas há filmes recentes de sucesso, quanto mais não sejam as comédias (as que me lembro assim de repente) «Good Bye, Lenin!» e «Le Concert». Este último quase me provocou uma ataque de asma! Achei-o mais crítico que o primeiro (mesmo sendo muito menos famoso).[/font]

[quote author=one_o_six link=topic=1909.msg4769201#msg4769201 date=1500396228]

Eu conheco pouco ou nada da mentalidade e vivencia das pessoas nos PALOP ou na China, mas uma coisa posso garantir: embora envolvidos com o comunismo em diferentes graus, “sofreram” (ou “sofrem”) do mesmo processo de engenharia social que a aplicacao da ideologia acarreta. Por isso nao me surpreende que certos comportamentos estejam “standardizados” em diversos continentes.

A questao da religiao no antigos paises do bloco comunista sempre foi ambigua. Por um lado o comunismo teorizava sobre o mal que a religiao era e a necessidade de o extirpar da sociedade. Por outro lado, era precisamente na religiao que as populacoes (nomeadamente na provincia) encontravam o compasso moral que as apaziguava e lhes dava o conforto espiritual que a ideologia nao conseguia preencher. A religiao foi, em inumeras ocasioes, a valvula de escape permitida mas nunca consentida.

No entanto, a religião tambem sofreu as consequências da engenharia social comunista (nomeadamente os cristaos ortodoxos). Vou usar mais uma vez historias da minha vivência pessoal para exemplificar:

  • Numa altura fui a uma igreja ortodoxa em Minsk com uma namorada que era a tipica “praticante” daquela religiao. Quando la’ chegamos ela explicou-me que poderiamos concretizar desejos ou aspiracoes, escrevendo-os num papel e entregando o mesmo ao padre. Eu la’ fui na conversa e escrevi umas coisitas em portugues e ela tambem escreveu algo. Depois explicou-me o passo seguinte: os papelitos deviam ser enrolados numa nota e quanto mais alto fosse o valor, maior a probabilidade de os desejos se concretizarem. Ora, eu entrei com o dinheiro (apesar de a nota ter valor na moeda local, valia menos de 5 dolares) e ela la’ enroulou os papelitos em duas notas diferentes. Chamou um dos padres barbudos, fez uma venia e deu-lhe os papeis. Uns minutos depois saimos da igreja e ela pergunta-me: “O que pedis-te?”. Eu brinquei que era segredo mas la’ disse que tinha pedido saude e paz…“. Ela interrompe-me e diz:” Ora, para isso nao valia a pena teres pago. Tinhas de pedir bens materiais tipo um carro, uma casa. Eu pedi, entre outras coisas, um telemovel novo…". Eu calei-me e fiquei a pensar qual era a ideia de fe’ daquela gente.

  • Noutra altura, tinha uma namorada que trabalhava numa loja de sofas italianos em pele, os mais caros da cidade. Um dia, quando a fui buscar ao emprego, estava ela para sair quando chega um valente jeep de vidros fumados. Do banco de tras saem dois padres que entram na loja. Rapidamente pedem para falar com a gerente, que veio de imediato recebe-los. Queriam comprar um sofa novo, com a maxima urgencia, pois o lider metropolita ia visitar a sede episcopal. Escolheram um sofa que custava 8000 dolares, um dos mais caros da loja. Sairam passados 10 minutos, com a promessa de o artigo ser entregue no dia seguinte pela manha. Outro detalhe que eu reparei foi que um deles tinha no pulso um elegante Patek Philippe. Mais uma vez fiquei a matutar nas praticas mundanas daquela religiao.

Ou seja, a pratica religiosa tornou-se numa bizarra simbiose entre o materialismo e o mundo espiritual. Um sucesso inaudito do pos-sovietismo.

Em Portugal, aquilo que me parece e’ que, cada vez mais, temos o catolicismo hipocrita ou “a-la-carte” como o mais instituido entre a populacao. Mas essa degeneracao nao me parece que tenha sido influencia de qualquer componente ideologica.

Por fim, relativamente ao cinema russo, sofreu nas ultimas decadas um declinio de qualidade ao mesmo tempo que goza de um sucesso comercial a nivel interno sem paralelo. Aquilo que se fez nos ultimos tempos foi apresentar versoes russas mais ou menos decalcadas de sucessos de Hollywood, que a audiencia russa aprecia. Depois tens o patrono dos cineastas - Nikita Mikhalkov - a filtrar tudo o que e’ argumento, pois e’ um dos maiores apoiantes do regime e nao permite nada que insinue critica social e muito menos politica.

O “Le Concert” ainda nao vi mas vou dar uma espreitadela. Ja’ o Goodbye Lenine me parece mais actual do que nunca. Isto porque ainda sao milhoes os que nunca fizeram a transicao do mundo comunista para a realidade moderna

Stop the press
Tive que parar tudo (tudo mesmo), por causa deste livro, que me afecta pessoalmente (e familiarmente).
Trata-se de algo que ninguém quer saber, mas, como disse, me afecta pessoalmente, por ter conhecido de perto pessoas implicadas. Têm compreender que ter entrado para a Universidade num período revolucionário deixa marcas, cruzamo-nos com pessoas que mais tarde nem acreditaríamos…
(nem os outros acreditam, sobretudo hoje!)
E, por isso tudo, este livro tem prioridade:


Foi apresentado ontem, mas consegui comprá-lo imediatamente antes e sair a correr.
Artigo relacionado:
"O Fim da Extrema-Esquerda Em Angola" em novo livro da jornalista portuguesa Leonor Figueiredo

Estou a gostar imenso.
Nalgumas histórias até fico naquela «então e o resto, é só isto?», ou seja, fica a saber a pouco.
Gostava de ver o Daniel(*), e outros da área da Gestão, a comentarem o livro.
Mas entretanto tenho andado a saltar de livro em livro, num rodopio. Depois de «O Fim da Extrema-Esquerda em Angola» de Leonor Figueiredo,

vou iniciar um livro directamente relacionado, «Holocausto em Angola» de António Cardoso Botelho.


Mas quero ver se despacho primeiro o «Corporates: The Censored Stories: The book they don’t want you to read», dum tal [member=6989]JSabino,

que já está bué adiantado.
(*) [member=http://www.forumscp.com/index.php?action=profile;u=5714]Chev Chelios

O que aconselham do Bernard Conwell?

Nunca li BC (engraçado falares nele, uma vez que há uns meses vi na Tv Cine os filmes Sharpe e fiquei com o desejo de ler os livros, mas por alguma razão esqueci-me de dar seguimento a esse desejo), mas conheço o autor e sei que a sua habilidade literária é elogiada.
Podes começar por ler os livros cujo enredo passa por aqui, durante as Guerras Napoleónicas.

Ya, vou agora mesmo realizar esse desejo. Vou ali à wook ver o que há.

Terminado:

Vivamente recomendado!
Segue-se «Holocausto em Angola» de António Cardoso Botelho.

O que aconselham sobre o Churchill? E sobre o Genghis Khan? São duas personagens históricas sobre as quais eu gostava de aprender.

Sobre o primeiro, não aconselho nada, acho que será perder tempo, pois não passa dum mito.

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Sobre o segundo, não tenho recomendações para sugerir. Nem me lembro de alguma vez ter visto algo especificamente sobre ele escrito em português. De certeza que na Amazon existe algo em inglês.

Sobre Churchill, tens dezenas e dezenas de livros. A do Martin Gilbert é fixe, ainda que a proximidade entre o autor e o biografado seja enorme (a família Churchill escolheu MG para ser o biógrafo oficial de Churchill).
Se quiseres algo não tão próximo, tens a biografia de WC escrita por Roy Jenkins.
Um livro que resume muito bem Churchill como líder de guerra é o Finest Years, de Max Hastings.

Obrigado pelo feedback. :great: Pedia-te um favor: uma review curta na pagina do livro na Amazon. Parece que ter um numero de reviews elevado e’ muito importante para a divulgacao do mesmo.

Vou ver se arranjo inspiração (nunca tive jeito para publicitário).
Diria que o livro é bastante bom, mas talvez não seja suficientemente «escandaleiro» para vender…

Nao precisa ser nenhum ensaio. Basta meia duzia de palavras, ate’ porque o mais importante sao o numero de estrelas atribuido.

Eu tive de controlar o nivel da “escandaleira” pois ainda vou precisar do mundo corporate no futuro. Digamos que tem o nivel maximo de polemica, dentro das circunstancias :wink:

Ok obrigado. Já agora, quais são as tuas biografias preferidas?

Sobre outros? Ou sobre Churchill? Essas duas.
Olha, eu adorei o Churchill: Study in Greatness, de Geoffrey Best.
Se conseguires ler em inglês, escolhe o Study in Greatness.
Gilbert é amigo e o autor da outra biografia, o Roy Jenkins (que fundou um dos partidos que mais tarde se fusionou com outro para formar os Liberal-Democrats), escreve num inglês desorganizado.

Se te estavas a referir a outras biografias, diz.

Sim, outras biografias quaisquer. Já li algumas e gostei bastante da “Life” do Keith Richards.

Biografias, só mesmo de políticos, guerreiros/exploradores, magnatas, reis, etc.
De futebolistas, só li 2, a de Peyroteo e a de Alan Shearer (ambos autobiografias).
Nunca li uma biografia de um músico, de um actor, etc.

Eric Clapton- Autobiografia
Autor Eric Clapton - Muito boa.