O que é que lêem, nestas noites...? (Livros, BD, colectâneas)

Obrigado !

Primeiro vou terminar o Da vinci já que já comecei, depois irei seguir o teu conselho !

Lê-se.
Só não perdoo opinarem bué, sem lerem o que lhe esteve na origem, o The Holy Blood and the Holy Grail , um livro que até se lê bastante bem.


Se gostares desse teu primeiro livro e se te sentires capaz de ler muito mais, impor-se-á considerares «O Nome da Rosa».

:rotfl: Porra és lixado!

Como obra literária é bastante fraco. Cheio de clichés. Lembro-me de estar a ler e pensar “não acredito que o gajo vai por aqui”. Mas é um livro que de facto prende. Talvez seja mesmo o ideal para tentares ganhar o bichinho da leitura.

Acabei de ler há uns dias o “Lolita” do Nabokov.
Obra prima que entra directamente para o meu top 3 de sempre.

O livro tem um pequeno problema.
O escritor quis ser um pouco elitista. Não quis que aquilo se tornasse um «Código DaVinci» qualquer. Ou não tivesse ele escrito «O Pêndulo de Foucault», em relação ao qual recusou liminarmente qualquer aproveitamento cinéfilo, a seguir.
E o que fez o escritor? Iniciou a narrativa e «O Nome da Rosa» duma forma bastante densa e maçuda, de modo a filtrar os leitores. Só merecia ler o (empolgante) final, quem ultrapassasse os dois primeiros terços do livro.
É certo que pretendeu situar os leitores, na altura no Século Vinte, na vida dum convento medieval. Mas nem conto quantas pessoas conheci que na altura começaram o livro e desistiram. Tive que dar razão ao escritor, o (empolgante) final faz mais sentido depois daquela seca, pois, ao contrário de qualquer novela policial, é extremamente pertinente estar-se dentro daquele cenário.
E, volto a dizer, o romance não merecia aquele filme horroroso, detestável, simplesmente nojento… O escritor redimiu-se em «O Pêndulo de Foucault», do qual «O Código DaVinci» parece copiadíssimo!

Fantástico! Concordo a 100%
Só não digo que os filmes são uma sombra do livro (que até o são, não vão lá), porque um deles contou com o genial Peter Sellars…
Não sei se entra para o meu top 3 (já leste o «Moravagine»?), mas para o top 5 entra de caras.

O último

O atual

Não, nunca sequer ouvi falar. Vou investigar :thanks:

Finalmente – uns triviais 60 anos após ter sido publicado nos EUA - despedaçou a muralha estatista portuguesa:

O portuga vai é levar com umas 3 ou 4 partes. :rotfl:

Depois de ler sobre a rivalidade entre Leonardo e Miguel Ângelo, ganhei coragem para começar a ler esta excelente biografia que já tinha há uns anos…

Os meus correspondentes americanos diziam cobras e lagartos dessa escritora. O mínimo que lhe chamaram foi oportunista (ao que parece, dizia mal da segurança social, mas teve um marido a viver dela, por opção da senhora…).

Leitura em curso:

Até agora a gostar bastante.

(não é tão bom como o tópico dos engates, mas enfim…)

LOL

Olha que algumas das historias nao ficam a dever nada ao topico dos engates. Avisa quando acabares e diz-me a tua opiniao.

Entretanto, acabei hoje de ler a obra-prima de Svetlana Aleksievich:

Livro duro, cheio de desencanto e frustração. Um complemento ideal ao Arquipelago Gulag de Soljenítsin.

O Arquipélago relata exaustivamente a construção do homem soviético. A obra de Aleksievitch relata o seu fim e como as pessoas estao a lidar com essa desilusão. Nao se trata de um compêndio saudosista mas sim do relato cru do tempo e da vida após o desmoronamento da Uniao Soviética.

O projecto Soviético foi muito mais do que um regime politico. Foi literalmente um empreendimento gigantesco de engenharia social. O “homem soviético” sobrevive ao fim do regime e tenta adaptar-se a um mundo novo. No livro nao se desenvolvem teorias nem se projectam analises profundas. Falam as pessoas, o comum “povo”, escorrendo nas paginas o mais profundo da sua alma e sentir.

O livro e’ doloroso, nao o consideraria um objecto de entretenimento. E’ um mergulho num turbilhão de pensamentos, emocoes, derrames de alma. Cansa-nos, retira energia ao leitor, envolve-nos num cenário sem horizonte ‘a vista. E’ um livro dos tempos modernos mas sobre uma realidade que um português (por exemplo) nem consegue imaginar.

Vale a pena o sacrifício? Claro que vale, apenas as obras mestras conseguem mexer tanto com o individuo. Um livro imperdivel.

Uma nota final: a nível pessoal, este livro foi particularmente exigente, pois vivi uma parte da realidade nele descrita. Vivi longos anos na Bielorrússia (terra da escritora) e escutei muitos relatos semelhantes aos que sao descritos de forma magistral pela autora. Senti na pele a dor, a frustração, o desespero, a angustia, a falta de perspectivas de muitos indivíduos. O “homem soviético” esta’ programado para funcionar dentro de um certo contexto. Sem ele, as pessoas sentem-se confusas e desamparadas. O que se aprende… o que aprendi, foi que uma mudança de regime nunca deve ser radical. O comunismo tinha muitas coisas boas para se perderem e o capitalismo trouxe muitos dos seus lados maus. O “pós-sovietismo” “matou” a alma de uma geração e isso e’ inadmissível.

Vivendo em Lisboa, conheci muito pouca gente que conheceu essa realidade. Mas conheci um dobro que dizia ter conhecido outros, que conheceram, ou seja, relatos em segunda-mão…
Em todos os casos, mencionaram aquilo (actual Federação Russa?) ter andado «de cavalo para burro». Passaram dum regime que, apesar dos defeitos, garantia alguns direitos aos cidadãos, para um verdadeiro «salve-se quem puder», «vale tudo menos arrancar olhos», etc.
Ou seja, uma transição muita mal feita, pelo que a tua tese tem algum fundamento.
Juntando a esses exemplos alguns exageros na transição portuguesa para a democracia, a descolonização sem pés nem cabeça, a tua tese deverá ter muitos seguidores…

“O ensaio da cegueira” - jorge jesus - prefácio do xico

A questão e’ complexa. O plano que deveria ter sido seguido era o da manutenção da Uniao Soviética com a designação de CIS. Mas Yeltsin odiava Gorbatchev e a pressa de ter o poder absoluto condenou esse projecto, com as 3 mais importantes republicas (Bielorrússia, Ucrânia e Rússia) a declararem a independência no pacto de Belavezha.

Depois foi uma gestao de expectativas disparatada: a Rússia seria como a América, onde toda gente e’ milionária. Os filmes russos do final dos anos 80 e da década de 90 estao cheios de referencias a esse mito. Mas em vez da riqueza veio a anarquia e o crime violento organizado.

Pessoas perderam os seus apartamentos de um dia para o outro, intimados pelos gangs. Outros mal tinham dinheiro para viver. Os mais qualificados tentavam sair do pais a todo o custo. Depois, as economias desapareceram de um dia para o outro com a reconversão do rublo. Os heróis passaram a ser os gangsters e o Estado desmoronou-se.

O paraíso que estava do outro lado da cortina de ferro nao chegou aos Urais. Como e’ que aquele povo nao se pode deixar de sentir duplamente enganado?

Um dos efeitos residuais dessa década de desilusão e colapso e’ o excessivo materialismo que grassa entre o povo russo. Tu és aquilo que possuis e tudo o resto e’ secundário.

Isso aplica-se a quase todos os países, hoje em dia.
Embora se note mais em países que sofreram choques ideológicos recentes (como toda a Europa de Leste), nomeadamente onde as religiões foram postas em causa, basta olharmos à nossa volta para o notar em todo o lado…

Tens razao, o “materialismo” e’ a religião dos tempos modernos, um pouco por toda a parte. Mas naquelas paragens o mesmo tem contornos distorcidos, com expectativas quase paranóicas do que significam bens materiais.

Vou dar alguns exemplos soltos para demonstrar este ponto de vista:

  • Um amigo meu que andava com o certificado de autenticidade de um cinto Armani no bolso do casaco e fazia questao de o mostrar assim que alguém notava o cinto que ele estava a usar;

  • O facto de a sociedade local aceitar o estado civil “ter um sponsor”. Existem sites que facilitam os encontros e tudo se faz de uma forma institucional. Conheci N de raparigas que tinham apartamento, carro, roupas e viagens pagas pelo sponsor. Quando ele nao estava (a maior parte eram homens casados), agiam como se fossem livres e sem qualquer compromisso. As famílias sabiam e ate’, em grande parte, apreciavam a situacao;

  • Um italiano que conheci cancelou o casamento quando a noiva lhe exigiu que pagasse um vestido no valor minimo de 10 mil euros. Ate’ ao casamento ela tinha-se comportado de forma perfeitamente normal.

  • Uma rapariga que conheci, que era originaria de uma aldeia, mas vivia na cidade. Tinha um bom emprego e partilhava apartamento com duas colegas. Quando lhe perguntavas pelo futuro dizia sempre que queria um homem que tivesse um jato privado. Rejeitava viver com alguem que trabalhasse e lhe desse “apenas” um apartamento para viver. Acabou no Dubai a “satisfazer” um arabe;

  • E por fim uma historia curta caricata: um colega meu andava sempre com os mesmos sapatos, que ja’ se estavam a desfazer. Ele podia comprar uns sapatos locais mas andava a juntar dinheiro para uns sapos de pele italianos. Eu disse-lhe para se deixar disso e que lhe trazia uns bons sapatos de Portugal. Comprei-os mas esqueci de os levar para Minsk. Para nao desiludir o rapaz fui a um centro comercial e comprei os melhores sapatos que por la’ havia. Obviamente que lhe ia dizer a verdade mas o homem, a partir do momento que viu os sapatos, nem me deixou falar “Grande amigo, obrigado pelos sapatos portugueses. Ve-se logo a qualidade deles, que categoria, bla bla bla”. Eu nao tive coragem de lhe dizer que eram sapatos locais, tal o entusiasmo. Passado um mes, vejo-o com outros sapatos novos e perguntei-lhe "Aconteceu algo aos teus sapatos “portugueses”? “Nao” respondeu ele “Mas um amigo ofereceu-me 100 dolares pelos sapatos estrangeiros e eu…olha, nao resisti e vendi-os. Nao ficas ofendido, pois nao?”. Eu disse que nao e esperei que o amigo dele nao fosse muito esperto:)