O Problema da Transição

O centro do terreno é a zona mais importante no futebol. Resolvem-se partidas neste espaço nevrálgico, através da percepção do que deve ser uma boa transição. As equipas mais esclarecidas sabem bloquear as acções ofensivas dos adversários através do posicionamento dos médios defensivos e, normalmente, sabem também iniciar movimentos ofensivos a partir da capacidade de passe e circulação dos elementos constituintes do meio-campo.

No futebol actual, o 4-3-3 é cada vez mais o sistema primordial, devido à presença de três médios que garantem o equilíbrio na zona central. O 4-4-2 é um sistema usado principalmente por equipas inglesas e alemãs que previlegiam o jogo muscular em detrimento do técnico, sendo a construção mais directa e não através de uma circulação demorada do esférico pelos médios-centro. E, mesmo assim, a equipa inglesa que nos últimos anos tem tido mais sucesso na Europa (Manchester United) usa essencialmente o 4-3-3 contra equipas fora do panorama britânico. Analisando o sistema de três médios, é fácil perceber que um deles tem tarefas mais defensivas (seis), outro é responsável pelas transições, ou seja, a ligação entre a defesa e o ataque (oito) e o último é o chamado criativo (dez), que através da capacidade de passe e movimentação com bola cria situações de ruptura para que os extremos e avançados possam penetrar na grande-área adversária.

Neste artigo, queria debruçar-me essencialmente sobre o papel dos médios de transição. Quais são, então, as características que um bom número oito deve ter para que seja capaz de ligar a equipa? Em primeiro lugar, parece-me que deve ter uma boa capacidade de posicionamento, para a equipa não ficar “partida” quando sobe no terreno e perde a posse de bola. Depois, tem que ter também alguma agressividade para recuperar a bola quando a equipa está a defender. Por fim, tem que ter predicados na circulação de bola e na construção. Equipas onde os médios de transição não sabem circular e construir, obrigam o médio mais ofensivo a recuar em demasia no terreno perdendo a equipa clarividência ofensiva.

Olhando para o plantel do Sporting, é possível concluir que nenhum dos médios tem um conjunto de qualidades que lhe permita ser capaz de jogar na posição oito com um rendimento aceitável. Pedro Mendes, com a idade que apresenta, já não é capaz de ter a intensidade de jogo suficiente para conseguir ligar a linha defensiva e ofensiva de forma satisfatória. Zapater é um elemento sólido em termos defensivos, mas não é, de todo, um médio de construção devido às lacunas que apresenta no capítulo do passe. André Santos será, provavelmente, o que mais qualidades apresenta para desempenhar a função com eficácia. No entanto, também não é um atleta capaz de circular a bola criando rupturas e também não é aquilo que se considera um jogador de posse. É mais um médio defensivo do que um jogador de transições. Quanto ao Maniche, se tivesse menos cinco anos seria a solução ideal. Porém, neste momento, não é mais do que uma réplica medíocre do jogador que já foi.

Perante este dilema, Paulo Sérgio optou pela via mais segura: colocou no meio-campo três jogadores com características defensivas e responsabilizou os extremos pelas acções ofensivas. Isto poderia ter algum tipo de resultado se o Sporting tivesse no plantel extremos de qualidade, capazes de criar desequilíbrios nas faixas abrindo zonas de ruptura no centro para os outros dois avançados. Porém, os extremos do Sporting são medianos e o resultado é um futebol directo e sem qualidade na posse. Não é por mero acaso que se fala no “pinheiro”, ou seja, num avançado com qualidades no futebol aéreo para que o jogo directo tenha mais eficácia.

O problema da solução apresentada por Paulo Sérgio é não ser adequada para um clube que joga inúmeras vezes contra equipas fechadas, onde a circulação rápida do esférico é a melhor solução para criar espaços e desequilíbrios. Numa equipa como o Paços de Ferreira, jogar com três médios defensivos pode ser uma solução com resultados. No Sporting não. Por isso, considero que a melhor forma de resolver o “dilema da transição” é inverter o raciocínio: em vez de jogarmos com três médios defensivos, jogamos com apenas um e depois com dois de características mais ofensivas. Ou seja, colocar no centro do terreno Mendes, Matías e Valdés. É lógico que contra equipas mais fortes isto não é uma boa solução, mas para jogos em casa e fora contra equipas que lutam pela manutenção, parece-me a solução mais apropriada.

Nada disto, contudo, invalida a necessidade premente de encontrar uma solução no mercado para esta posição. Mais do que extremos, avançados ou defesas, o Sporting precisa urgentemente de um médio capaz de transportar a bola, não perdendo a noção do espaço defensivo. Se isto não se tornar uma realidade, dificilmente teremos uma equipa capaz de lutar pelo título nos tempos vindouros.

@Winston Smith 2011

Realmente é estranho como o Sporting tem tanto médio e nenhum deles é um médio centro que efectue as transições com a qualidade que se pretende.

Se ainda tivéssemos o Moutinho e o Veloso esse défice já não seria notado.
Muito bom texto, Winston. :great:

Era para ler o texto, mas essa foto bem escancarada tirou-me a vontade :sick:

Incrível, aconteceu-me exactamente o mesmo. Não sei é se isto é caso para rir ou para chorar :-\

Acho que é falta de consideração pelo autor do texto dizerem que nem sequer conseguiram ler , porcausa da foto. É uma realidade o que está escrito pelo Winston e aconselho a todos a lerem.

:arrow:

É um grande texto. :clap:

Parabéns Winston. :beer:

Gostei muito Winston. E concordo. No derby, para mim, era Mendes a 6 e Zapater (ou mesmo André Santos) - á falta de melhor - ao lado de Matías Fernandez (este com maior liberdade ofensiva/creativa). Isto é, até aceito que jogue Zapater ou Santos (até Maniche, vê lá!) neste triângulo de meio-campo. O que não aceito (em termos metafóricos, porque aceitar ou não aceitar acaba por ir dar ao mesmo, no plano prático da “coisa”) é que joguem os 2 (ou mesmo os 3). Porquê ? Porque isto implicaria que não jogasse Pedro Mendes (o nosso médio mais próximo de um 6) e/ou Matías Fernandez (o nosso médio mais próximo de um atleta a jogar entre a posição 8 e a posição 10 - um pouco á imagem de Bellushi no porco.

Ou seja, para este próximo jogo (pensando apenas a curtíssimo prazo) Mendes e Matías têm necessariamente de ser titulares. Quem acompanhará este duo ? Sinceramente, já pouco me interessa. Já me daria por contente que o experiente português e o criativo chileno fossem titulares. O problema é que, á partida, deve jogar um meio-campo com Mendes, Santos (ou Zapater) e Maniche ::slight_smile:

Relativamente á falta que nos faria um bom médio de transição para termos sucesso… Para mim acaba por ser relativo, porque a importância de um médio com essas características dependeria sempre do sistema de jogo utilizado. Por exemplo, esta temporada já jogámos em 4-2-3-1, o sistema que, para mim, mais favorece as características dos médios de zonas centrais que possuímos no plantel. Ainda por cima permite a Valdés jogar numa posição onde é soberbo e decisivo. Sem este chileno, no entanto, apto, percebo perfeitamente que não se utilize tal “solução”, até porque Matías tem pouco a ver com Val10.

Eu não percebo nada de futebol, mas hoje estive a ver o Barcelona jogar.

Não reparei em “médios” nem em “ 4-3-3” nem sei bem o que o Guardiola lá esteve a fazer, mas sei que vi 10 tipos direccionados para a baliza contrária, a pressionarem tanto que, ou chegavam onde queriam (à baliza contrária) ou sofriam falta. Vi 10 tipos que ninguém conseguia parar e que sabiam onde queriam ir. Eu diria que as únicas tarefas deles eram ter a bola à frente dos pés , não a perder e mete-la “naquela” baliza.

Era tudo o que eu queria ver o Sporting fazer

(e parecia até fácil :-[ :inde:)

Bom texto.

A falta de um verdadeiro médio de transição é um problema, tal como a incapacidade de contornar o mesmo… seja por convicção do treinador ou puro medo… ou por simplesmente considerar que não existe problema, já estou por tudo…

Ouvi há muitos meses, um pseudo comentador televisivo referir que Matias e Valdés são incompatíveis no mesmo 11 e olhava eu para a constituição do meio campo do SCP e olhava para Ribeiro, André e Mendes e perguntava-me eu da compatibilidade daquilo… com este tridente ( ou tirando um e colocando Zapa ), não há verdadeiramente transição… o jogo trava, é lateralizado, não há velocidade e verticalidade… e se é verdade que temos problemas com os extremos, também é verdade que têm pouco jogo, poucos apoios e que não desencostam da linha ( claramente indicação do treinador )… no 4231 com Valdés a 10 e à frente do duplo pivot, não se sentirá tanto a falta deste tipo de médio, mas e face às características dos extremos, penso sempre que falta um apoio a Valdés nos desequilibrio e no pensar do jogo ofensivo… espero que chegue o dia em que se tenha uma equipa competente e que se veja jogar os 2 chilenos em conjunto… era capaz de ser engraçado…

Bom texto Winston. É de facto um problema evidente do nosso futebol, e até era um problema já existente na época passada, mas que ainda assim conseguimos piorar com as saídas de alguns jogadores e uma deficiente substituição dos mesmos. A capacidade de passe e visão de jogo do Veloso é algo claramente em falta nesta época, e mesmo no caso do Montinho, ainda que na época passada tenha tido claramente o seu pior período no Sporting, conseguimos perder qualidade no que respeita às transições. É como dizes, o Maniche dos velhos tempos seria o jogador ideal para estes processos, ainda que continuasse a existir a necessidade de ser complementado com outro tipo de jogador, fosse um 10 mais tradicional como o Matías, com mais qualidades na organização, ou alguém mais vagabundo e com maior capacidade de se integrar em acções de ataque e aparecer em zonas de finalização, como o Valdés.

Tendo em conta o sistema de três médios que temos vindo a utilizar, o melhor exemplo dentro da realidade do nosso campeonato, foi aquele que o Porto utilizou no passado e com os frutos que conhecemos. Jogavam com Paulo Assunção (mais tarde passou a ser o Fernando), Meireles (chegou a ser o Ibson) e Lucho. E apesar de serem todos superiores aos nossos, a grande diferença estava no Lucho, que era o tal jogador que elevava o nível de jogo do Porto para algo que para nós com o trio que utilizamos é completamente impossível de igualar.

E já antes, na Champions de 2003/2004 tinham alinhado com um trio composto por Costinha (o mais defensivo), Maniche (o tal médio responsável pelas transições) e ainda apoiado pelo Pedro Mendes. Complementados depois com o organizador de jogo, o 10, Deco.

No nosso meio-campo tem-nos faltado sempre algo, ou nos falta o jogador verdadeiramente defensivo, o elemento que funciona como âncora do meio-campo, ou o tal médio responsável pelas transições defesa-ataque, alguém capaz de levar a bola para a frente. Nesta época temos vários jogadores com características bastante semelhantes, e o treinador comete o erro grave de os querer por a jogar todos juntos, sem perceber que se anulam entre si, e acabam por anular também a equipa.

No teu texto só não concordo quando te referes ao United como uma equipa que utiliza um “10” (fora do “panorama britânico” ou não), até porque não têm um que verdadeiramente se possa assumir como um “10” nem actualmente nem nos anos últimos anos. Aliás, uma das graves lacunas do meio-campo do United nesta época é mesmo alguma falta de qualidade no miolo, até por causa da idade de jogadores como o Scholes. É um problema que deveriam resolver e não estar apenas dependentes de alguns momentos de génio de jogadores como o Nani ou Rooney, ou do faro pelo golo do Chicharito. Falta-lhes qualquer coisa no meio-campo, e isso reflecte-se depois na qualidade do seu futebol, e já ficou demonstrado várias vezes esta época.

[hr]

Bom, isso dito assim realmente parece fácil. Mas não joga como o Barça quem quer, joga quem pode. O Barça tem executantes de topo, e uma estratégia bem montada à sua volta, e por isso obtém um futebol de topo. E na prática actualmente mais ninguém consegue atingir o nível de jogo que o Barça consegue. Há é algumas equipas com princípios de jogo parecidos, e que com um bom conjunto de jogadores podem fazer coisas interessantes, como é o caso do Arsenal, que até lhes ganhou recentemente.

Uma coisa é certa, aquele futebol fantástico não se joga com Maniches, Andrés Santos e Pedros Mendes, mas também não se joga com Montinhos, Fernandos e Belluschis, é preciso um pouco mais do que isso.

Bang on the money! …como se diz em Inglaterra.

Eu vivo em Holanda e aqui a maioria das equipas jogam 4-3-3 com 2 médios ofensivos.
No papel a táctica sempre parece ser ofensivo demasiado, mas a realidade é que o posicionamento certo dos jogadores dão garantias defensivos. Como Johan Cruijff sempre diz: “o ataque é o melhor defesa”.

Acho que temos material suficiente para jogar 4-3-3 como deve ser. O problema é ter um clown como treinador (…com todo respeito aos clowns :wall:), que não percebe muito disto. Até o treinador do Excelsior dava Paulo Sergio uma liçãozinho táctica.

Fora do facto negativo de ter 3 médios defensivos, quando os 3 jogadores ofensivos sobem 20 á 30 metros no terreno, o sector defensivo fica parado e o meio campo sobe só 10, criando buracos onde perdemos posse de bola e controlo do miolo facilmente.

A porcaria que usamos agora nos situações de ataque, com autoestradas, buracos e espaços de jogo para o adversário:

A táctica compacto e com triângulos e linhas de passe, como deve ser:

Espero um dia ter um Holandês como treinador no Sporting :pray:

Antes de mais, obrigado a todos. Vou tentar responder da forma mais sucinta possível:

@GTeles14
Concordo inteiramente com a questão do Moutinho e Veloso. O futebol do Sporting perdeu muito com a saída dos dois jogadores. O Veloso era o único médio do plantel com capacidades ao nível do passe.

@gonçalojbcorreia
A falta de um médio de transição não sei se é assim tão relativa. Eu percebo quando referes o 4-2-3-1, porque os dois médios defensivos jogam no mesmo espaço e essa lacuna é menos importante. A questão é que mesmo nesse sistema um dos médios sobe mais do que o outro, senão o médio mais avançado tem que recuar e a equipa fica com um grande espaço entre a linha média e a avançada.

@lion73
Era mesmo isso que que queria dizer, a falta de velocidade e verticalidade quando jogamos com 3 médios defensivos.

@e.verde
Isso ocorre no Barcelona porque TODOS os médios sabem tratar bem a “rapaqueca”, ou seja, os cinco elementos mais avançados são todos muito bons na circulação e na posse. Aquele tipo de jogo só é fácil quando se tem na equipa Xavi e Iniesta, talvez os dois melhores médios do futebol actual.

@SCP Fan
O teu exemplo do Porto é excelente, o Lucho era a grande diferença naquele meio-campo. Não era um 10 clássico, no sentido de não correr muito com a bola nos pés, mas era perito a ver espaços de penetração para os avançados devido à sua capacidade de passe. Quanto ao Manchester United, eu não disse que eles jogavam com um 10 na “Champions”, mas antes com o trio de médios. Neste caso, Fletcher, Carrick e Scholes/Giggs. E concordo em pleno quando falas da falta de qualidade, especialmente no que diz respeito à criatividade dos elementos do meio-campo. O United precisa urgentemente de comprar um ou dois médios criativos.

@Antonio_4
Era exactamente isso que eu queria dizer. Obrigado por teres ilustrado com dois esquemas. De facto, basta inverter o triângulo do meio-campo para que a equipa ganhe uma dinâmica completamente diferente. É pena termos um treinador cobarde…

Bom texto e concordo no geral , até porque também estou sempre a martelar nesta tecla.

É um problema cronico do Sporting que sempre foi disfarçado por jogadores como o Veloso ou Moutinho , ainda que nenhum dos dois tenha tido a oportunidade de jogar num meio campo de solido de 3 (como o porto agora faz). No losango de Bento , o tal médio de transição (eu gosto muito da nomenclatura brasileira , uma espécie de 2ºvolante com toques de meia de ligação) desaparecia para dar lugar a um médio ofensivo , dois interiores e um trinco. No inicio o Veloso pelas suas características conseguia suprimir esses problemas mas aos poucos foi perdendo capacidade defensiva para jogar no lugar. Depois com o Carvalhal , sempre muito indeciso em jogar com 1 ou 2 pontas de lanças , quase sempre sacrificava um médio para posições junto da linha.

O futebol actual ganha-se aqui. Em médios capazes de gerir o que fazer com bola. Se é para a levar mais á frente em posse , se em passe , se guardar a bola , começar a circulação nos laterais ou no médio. É o futebol na sua face mais simples e ao mesmo tempo a mais importante.

O Sporting actual nao tem uma estrutura ofensiva adequada a uma equipa que pretende ganhar todos os jogos. Começa a maioria dos seus movimentos ofensivos em saidas dos laterais , passes directos dos centrais , os médios normalmente funcionam meramente para recuperar e trocar a bola entre eles . Nao existe progressão com bola , nao existe uma construção de uma jogada de forma racional . É tudo aos repelões porque um avançado nao gosta de estar sempre a receber a bola nas costas , porque os extremos têm pouco espaço (e talento para desequilibrar) , porque muitas vezes nem existe médio ofensivo. E ao não ter qualidade com bola , a equipa perde muitas vezes a luta nesta zona do campo , seja contra o porto ou o paços…é assustador que isto acontece mas expectável. Somos fortes a recuperar mas fraquissimos a distribuir. Passamos os jogos a perder as bolas que acabamos de recuperar.

Obrigado pela resposta Wiston. Concordo, mas parece-me que existe uma diferença ainda significativa entre um médio defensivo a jogar em 4-2-3-1 que suba mais que o companheiro do lado e um médio de transição puro.

( :offtopic: obrigada pelas v/ respostas e paciência :great: )

Isto realmente é muito mais complicado do que parece à primeira vista … mas realmente bate certo com o v/ diagnóstico no meio campo…

Às vezes ponho-me a contar quantos passes conseguimos fazer de seguida e há jogos em que na maior parte das vezes perdemos a bola ao 2º toque - a bola connosco não avança, o jogo frequentemente sucede no nosso meio campo e parece que toda a gente “engonha” – porque realmente os “defensivos” ficam sem saber o que fazer com ela e o jogo parte no meio campo.

Então, e os jogadores não se podem adaptar mais? Não seria de exigir-lhes um pouquinho mais de empenho nestas lacunas como complemento das suas funções? Ou é o trabalho do treinador que não as identifica e portanto não as soluciona? – pois lá está, será tudo junto com certeza, jogadores abaixo de excelentes, polivalências impossíveis e treinador sem soluções (depreendo).

Muito trabalho pela frente… muitas escolhas importantes a fazer

Mais um jogo, mais do mesmo.

O sporting não consegue criar um ataque, sim porque para mim ataque não é passar do meio campo com a bola, as jogadas começam no meio campo defensivo do sporting normalmente por um defesa central, ou por um médio que baixa, e quando se vira para a frente para passar a bola só tem opções laterais, porque os outros dois medios que se deviam encontrar na linha do meio campo não baixam para vir dar opções, visto isto, ou se joga para trás de novo nos centrais, ou vai se para a linha, se se vai para a linha os laterais são obrigados a fazer passes longos em que 80% deles são perdas de bola.

Se o sporting está no meio campo do adversário, vemos 3 jogadores do sporting colados na linha do fora de jogo, a 40metros do portador da bola, se a bola está nos flancos, parece que o sporting não se “adapta” aonde a bola está, os medios que jogam no centro do terreno não descaem para o lado da bola, raras são as jogadas que o portador da bola tem 2/3 jogadores (já nem digo linhas de passe) num raio de 20 metros, os jogadores não se desmarcam mas fogem do portador da bola, os dois medios mais de contenção têm de apoiar tanto os laterais como o médio mais atacante dando lhe linha de passe, o/s avançado/s têm de apoiar tanto o médio mais atacante estando de costas para a baliza, como os flancos, descaindo para estes dando linha de passe e abrindo espaço na defesa adversária para tanto o extremo do flanco oposto entrar, como os médios.

É impressionante como isto não acontece mais do que duas vezes por jogo, eu já nem sei se o problema dos jogadores não se mexerem neste sentido é culpa do treinador, ou se é culpa dos jogadores.

A equipa faliu. Não há volta a dar… até final da época é juntar os cacos e colocá-los da melhor maneira possível, o que duvido que venha a acontecer porque o treinador é um falhanço em toda a linha.

Hoje viu-se uma equipa confiante, com bons executantes e desequilibradores. Futebol ligado e em progressão, sempre virado para a baliza.

No outro lado, exactamente o contrário. Plantel com lacunas no início da época e chega-se a esta altura e não se conta com, sejam quais forem as razões, Valdés, Vuk, Izma, Liedson… bem, faz mossa, principalmente quando o trabalho do treinador é… invisível.

Ainda existem duvidas da incapacidade total dos medios circularem a bola com o mínimo de qualidade ? Ontem escrevi sobre a falta de ideias da equipa do Sporting na fase de construção , obrigando a passes directos , a ataques iniciados pelos laterais , á falta de espaço dos alas e á constante solicitação de bolas para o ponta de lança quando este está de costas para a baliza…e apareceram todas essas evidencias no mesmo jogo. E contra 10 é ainda mais evidente.É enervante.

O Pedro Mendes e o André passaram o jogo todo a olhar para a partida , sem nunca se envolverem verdadeiramente nas accoes ofensivas com qualidade. O Sporting aparecia quando o Matias recuava (e depois gerava um buraco enorme). O benfica faz o contrario , parte de uma solucao sem essa necessidade (uma especie de losango) mas quando o saviola se coloca atrás do ponta de lança , o carlos martins pode baixar e começar a distribuir jogo.

O meio campo de ontem de facto deixou algo a desejar mas o problema maior é o facto de se entrar com uma equipa coxa para dentro de campo.

Infelizmente temos um lateral esquerdo que forçosamente obriga a constantes dobragens dos centrais e médios e um “desequilibrador” como o Cristiano. Não há meio campo que resista a isto.

No entanto percebo a ideia. Falta-nos alguém em que a bola saia dos pés com olhinhos, que assegure a primeira fase de transição com qualidade. O Martins faz isso muito bem, o Veloso em tempos também o fez e nós de facto não temos ninguém naquele meio campo com esses pezinhos. No entanto é diferente organizar jogo quando de um lado existem Coentrão ou Gaitan para jogar de forma apoiada e a criar desiquilíbrios e do outro existem o Grimi e o Cristiano.

A equipa tem funcionar como um todo, se o futebol é constituído por 11 jogadores é natural que se entrarem 9 para dentro de campo a função destes fica bem mais complicada e a margem de erro destes escassa.