Tenho 25 anos de sócio do Sporting. Entretanto, por caprichos da vida, após 30 anos a viver quase à sombra do velhinho Alvalade, mudei-me para o Nordeste Transmontano, onde, como calculam, já não posso acompanhar “ao vivo” o nosso Sporting. Ainda assim, não posso esquecer os meus tempos, os tempos em que ia com a Juve Leo e a Onda Verde (alguém se lembra?) para todo o lado. Das molhas que apanhei no mítico Topo Sul, agarrado a uma bomba de bicicleta que soprava naquela que era a buzina mais rouca que por lá se ouvia. Das noitadas em Bruxelas (jogo com o Malines) ou da jornada épica em que abafámos os Ultra Sur, em pleno Santiago Bernabéu.
Abri este tópico para conhecer outras histórias. Histórias do pessoal das claques. Histórias de espectadores. Histórias que, cómica ou tragicamente, contem um pouco das aventuras daqueles que, à custa sabe-se lá de quê, acompanharam o nosso Sporting e gritaram por ele um pouco por todo o país, um pouco por todo o mundo.
E, para dar o exemplo, deixo-vos um episódio que se passou comigo, salvo erro em 1984, quando dava os primeiros passos no mundo das claques.
Estávamos nós a sair de um dos verões mais quentes do futebol português. A guerra Sporting- fcporto estava no auge. O Pacheco e o Sousa tinham vindo para o Sporting; o Futre para o porto. O João Rocha e o pinto da costa andavam com as unhas de fora. A certa altura, o porto vem a Lisboa para jogar com o Belenenses. Alguns iluminados das nossas claques resolveram ir a Belém, naturalmente equipados à Sporting, para assistir à partida. E, para minha desgraça, resolvi aceitar o repto. Saímos de Alvalade e concentrámo-nos junto aos pastéis de Belém, sempre de olho nos autocarros do porto que se aprestavam a chegar. Não me lembro do que causou a confusão que se gerou, como não faço ideia de como me vieram parar à mão os bilhetes para o jogo. Mas lembro-me, como se fosse hoje, de me ter visto, de repente, na companhia de meia-dúzia de lagartos corajosos e de termos entrado por uma qualquer porta norte do Estádio do Restelo. De um momento para o outro, apercebemo-nos que tínhamos acabado de entrar na bancada da claque dos tripeiros. Não éramos mais que seis, mas atravessámos, de mãos a cobrir as cabeças, todos os degraus no meio de tantas guarda-chuvadas, que não sei como é que de lá saímos. E, curioso, o que mais me recordo é que foram as mulheres quem mais molhou a sopa; os machos tripeiros (honra lhes seja feita) é que impediram as respectivas patroas de impossibilitarem que hoje, tantos anos depois, eu esteja aqui a partilhar esta memória. Algum de vós lá esteve? Era giro saber.