O Sporting perder, nem que seja à lerpa, dá-me uma azia do filha da mãe. Sempre! Vitórias morais para mim valem zero.
Posto isto, o jogo de ontem foi um jogo estranho. Sem público nas bancadas, foi um jogo sem alma, e penso que isso acabou por “contaminar” a nossa exibição.
O Sporting entrou com uma equipa que tinha João Virgínia, Gonçalo Inácio, Gonçalo Esteves, Manu Ugarte, Daniel Bragança e TT, ou seja, mais de meia equipa, em que a experiência na Champions era apenas residual, só mesmo o GI é que já tinha algum traquejo.
E acabámos o jogo com o Nazinho e o Essugo que ainda no outro dia andavam de cueiros.
Não sei se foi por falta de concentração, demasiada juventude, excesso de confiança, whatever, o certo é que três dos quatro golos dos neerlandeses foram autênticas prendas no sapatinho . Para prenda já chegava o galhardete da praxe que o Luís Neto ofereceu ao Danny Blind.
O Mr RAm avisou que ia dar oportunidades a quem no plantel ainda não tinha jogado na Champions e cumpriu. E deve ter tirado as suas notas e passado uma mensagem a quem de direito, leia-se Direção.
E a mensagem, para mim, foi clara: Caro Presi, grande amigo Viana, temos aqui muita gente com potencial, muita gente que vai ser trabalhada por mim, mas se queremos crescer na Europa, é preciso mais um par de jogadores credenciados.
A apontar-lhe só tenho duas coisas: o nos ter criado expectativas sobre a forma como encarava o jogo, que podíamos inclusivamente sonhar com ganhar os milhões da vitória, e não ter mexido na equipa logo ao intervalo.
De resto, a minha confiança em RAm mantém-se intacta, aliás, até saiu reforçada porque é um Homem de palavra e fiel às suas ideias, em quem se pode confiar. Isto não se aprender com cursos de treinador, aprende-se mesmo desde o berço.
Entretanto, o Ajax passou a ser um dos meus “ódios” de estimação. Quando até o Manchester City decidiu jogar sem vários titulares porque já estava apurado, o Ajax foi para cima de nós com tudo, só não jogou com o Tadič. Ainda por cima, os nossos jogadores fartaram-se de levar porrada e há um lance sobre o Bragança que foi uma agressão que merecia um vermelho. Claro que nós não pedimos nem precisamos de favores, mas era um exemplo de FairPlay, coisa em que os neerlandeses até costumam ser exemplares.
Quanto à arbitragem, foi habilidosa. Perdoou um cartão amarelo ao mexicano do Ajax num lance de cotovelo no pescoço do nosso jogador e só o amarelou já na segunda parte, o que seria um segundo amarelo e expulsão. Além disso, perdoou um cartão vermelho numa agressão à garganta do Bragança. Se tivesse sido uma arbitragem isenta, o Ajax tinha acabado com menos 2 jogadores, mas isso era acreditarmos que existem unicórnios.
E agora fica aqui a minha avaliação da equipa (de 1 a 20):
João Virgínia (14) - RAm foi claro e disse que o jogo de ontem era como que um teste do algodão para o JV e isso podia tê-lo feito jogar sobre brasas. Surpreendeu-me, principalmente na primeira parte. Teve que levar com uma grande penalidade ainda a frio e se, aparentemente, não teve uma abordagem muito ortodoxa, o que é certo é que só não o defendeu porque aquela hesitação tirou-lhe essa possibilidade. Depois teve intervenções de grande qualidade que mantiveram a equipa na discussão do resultado. Na segunda parte, não esteve tanto em jogo, mas pareceu mais nervoso. Nos golos, só acho que podia ter feito mais no quarto, mas reparte culpas com o Ricardo Esgaio. Não foi por ele que perdemos e foi mais herói do que vilão e acho que a sua exibição foi positiva. Apenas acho que é um tudo nada baixo para a posição.
Luís Neto (10) - O nosso Capitão teve um jogo ingrato. Não foi uma questão de falta de pernas, mas sentiu-se que jogou nervoso, o que não se entende dada a sua experiência. LN esforçou-se por comandar a defesa com a competência que lhe reconhecemos e acabou por ajudar a secar completamente o Haller, que no jogo de Alvalade só tinha feito um poker. Este viu-se no penalty e pouco mais e, em grande parte, a culpa disso foi do LN. No entanto, aquela escorregadela no lance que antecedeu o malfadado castigo máximo, o passe à queima para o Gonçalo Inácio e a forma como ataca defensivamente o lance do 3. golo, são demasiados erros. Teve lances em que ganhou devido à sua experiência, mas ontem exigia-se mais. Leva uma positiva à rasca por ter ajudado a secar o Haller.
Gonçalo Inácio (11) - Estava a jogar à Beckenbauer até… Aquela perda de bola fatal acaba por definir a sua exibição, se bem que não seja ele o único que errou. Ontem, infelizmente, houve mais colegas seus que erraram. É verdade que a bola lhe foi passada à queima pelo LN, mas revelou um excesso de confiança que lhe foi fatal. Pensou, por momentos, que estava a jogar contra a B SAD, só que não… Aquela bola era para colocar fora da área imediatamente, chutão para lá para diante e mai nada. Contudo, pensou “já fiz a merda que tinha a fazer por hoje” e acabou por recuperar a segurança que lhe reconhecemos. Uma lição que tão cedo não vai esquecer e que, como rapaz inteligente que é, sabemos que não vai repetir.
Matheus Reis (11) - De potencial dispensável, segundo os experts aqui da casa, a imprescindível. MR teve uma exibição pendular, tipo aqueles relógios antigos como o que a minha avó tinha na sala. Muito certinho, não inventa, ainda teve que levar pelo seu lado com o Antoni. No entanto, no quarto golo não esteve nada bem na forma como se fez ao lance. Não foi por ele que perdemos.
Gonçalo Esteves (14) - O menino fez uma boa primeira parte. Para quem, há poucos meses, ainda andava a jogar com os putos na rua, estar agora a jogar na Champions é um bocado como andar de carrinho de rolamentos e, de repente, o Jeff Bezos convidá-lo para viajar de foguetão. A confiança com que encarou esta chamada, sem medos, não dando lances por perdidos, trouxe-me à memória as coisas que um gajo fazia quando era teenager inconsciente, do tipo ir nadar até à bóia na praia de Carcavelos e não pensar que depois podia ficar estoirado e ver-me à rasca para regressar… O GE foi irreverente, corajoso, destemido. Não se limitou a jogar certinho, para evitar cometer erros. Quando saiu, viu-se que estava triste. De certeza que não foi pela sua exibição. Dêem-lhe mais um tempinho e vão ver o LD que vai sair daqui.
Ricardo Esgaio (10) - Sendo um dos jogadores com mais experiência, pedia-se ao RE que ajudasse o LN a orientar a defesa, já que a integração no ataque não é o seu forte. Não esteve bem nos lances do primeiro e do quarto golos. Ontem não foi um Citizen, nem sequer um Swatch, foi mais um daqueles relógios que oferecem nas Televendas. O que foi pena, pois costuma ser um dos nossos jogadores mais fiáveis, sem rasgos de génio, é verdade, mas que raramente comprometem.
Manu Ugarte (17) - Para um miúdo com 20 anos, que apenas tinha feito um jogo completo pela equipa principal, exibiu-se na Champions a excelente nível. Corajoso, lutador, teve que acorrer sozinho a tudo o que se passou no meio campo já que Bragança pouco o ajudou. Levou muita porrada, mas nunca virou a cara a luta. Joga sempre com cara de mau, talvez para mostrar aos adversários que é novo em idade, mas joga como gente grande. E joga mesmo. Foi dos melhores em todo o jogo.
Daniel Bragança (10) - É dotado de uma excelente técnica, mas só isso não chega para jogar numa equipa que faz do seu querer, do seu crer e da sua intensidade as suas principais armas. Não sei se ficou condicionado pelo lance do penalty, mas nunca foi a ajuda que o Manu Ugarte precisava naquele meio campo. Muito macio, inconsequente, levou mais do que deu. Contudo, foi alvo duma autêntica agressão à garganta que, se o árbitro fosse um gajo sério, tinha dado em expulsão. Se quiser ser solução, vai ter que ganhar mais intensidade e tirar o cabelo dos olhos. Aconselha-se um corte à Palhinha ou à Ugarte.
Nuno Santos (10) - O nosso Peaky Blinder não esteve bem. É verdade que marcou um golo pleno de oportunidade, numa excelente desmarcação a um passe fantástico do Bruno Tabata, um golo que nos punha novamente em jogo depois de um penalty sofrido a frio, mas não foi o Nuno Santos do costume. Muito trapalhão, nunca conseguiu fazer um passe de jeito, nunca meteu uma bola nos colegas, nunca criou um lance de perigo. E, para borrar completamente a pintura, ainda teve aquela perda de bola infantil que deu o segundo golo. Uma noite que seria para esquecer se não fosse pelo golo marcado. Mas, como dizem os espanhóis, Valor! Até o Tommy Shelby teve dias maus.
Bruno Tabata (18) - Foi indubitavelmente o elemento mais da equipa ao longo de todo o jogo. É verdade que foi um bocado trapalhão, mas foi por ele que os nossos (poucos) ataques criaram perigo. O primeiro remate à baliza, ainda que algo disparatado, foi dele. O passe “celestial” para o nosso primeiro golo foi dele e viu a boa exibição coroada com um excelente golo, com uma execução primorosa numa bola difícil. Acho que provou que é mais do que um dançarino de samba no Carnaval e que merece mais oportunidades.
Tiago Tomás aka TT (10) - Sejam francos, o que é que o TT acrescentou ao jogo? O que é que o TT acrescentou em cada jogo, nesta época? Pareceu sempre desenquadrado do jogo, não criou linhas de passe, não criou um lance de perigo. Corre, corre, corre mas é inconsequente. O TT é o nosso Melhoral, não faz bem, nem faz mal. É muito novo, joga numa posição difícil, mas por esta altura já devia mostrar algo mais.
Peter Iceberg Potter (10) , João Paulo aka Paulinho aka Petit Paul (10) e Pablo Sarábia aka Paulo Saraiva (10) - Entraram e acrescentaram mais domínio no jogo. Ainda deu para cheirar um bocadinho do chocolate que a PSP podia ter espalhado por aquele relvado e o Petit Paul ainda teve ocasião para o falhanço da ordem. O que é certo é que, com a entrada deste trio, a equipa cresceu e marcou o 2. golo, deixando uma imagem, digamos, mais de acordo com a que sodomizou os rabolhos.
Flávio Nazinho (-) e Dário Essugo (-) - Estrearam-se nestas andanças e foi pena que não desse para sentirem o ambiente do que é jogar na Champions em toda a sua plenitude. Teria sido fantástica, de sonho, se tivesse havido público e tivéssemos ganho. Mas, calma, há mais marés que marinheiros. E tenho a certeza que estes miúdos não vão ser marinheiros de água doce.
Rúben Amorim (12) - A nota é pela coragem em manter-se fiel às suas convicções, em não falar simplesmente por falar. Disse que ia dar oportunidades aos jovens e cumpriu. Pode não ter ganho o jogo, mas estes miúdos vão “morrer” em campo pelo Sporting porque sabem que têm um Treinador que os motiva, que realmente acredita neles. Ontem, podemos ter perdido um jogo, mas podemos ter ganho um naipe de jogadores que serão muito úteis no futuro.