Liberta o poeta que há em ti

“O jardim das palavras”

Hoje encontrei-te, e chovia
Sentado no metro, perdido no dia,
Saímos os dois, na mesma paragem
Seguimos ambos, a nossa viagem

Fui até um parque, espairecer as ideias,
Memórias, passados, escrever verborreias.
Sentado, com a mente a vaguear,
Nem dei por ti, perto a sentar.

Escrevi e, no fim, reparei que estavas ali…
Também tu, parecias estar “ausente”,
Num outro lado, a passear com a mente,
E distraído, apanhaste me a olhar para ti.

Envergonhados os dois, desviamos o olhar,
Voltei a observar-te, sem hesitar…
Coraste, e timidamente recuperaste a postura,
Sem jeito, mas com ternura…

Observamos-nos os dois, timidamente,
Sem nos perdermos de vista novamente,
Sem abrimos a boca, sorrimos levemente,
E sem falar, conversamos incessantemente

Estávamos ali, rodeados por um jardim,
Sem saber o que achamos, eu de ti, e tu de mim.
Observamos somente, num silêncio ternurento,
E ambos com respeito, aproveitamos o momento.

Olhei para o relógio, tenho de ir!
Mas será que achas que estou a fugir?
Não quero ir, quero ficar aqui a “conversar” mais um tempo,
Saber quem és, de onde vens, qual passatempo!

Conhecer as respostas, ás perguntas que me surgem,
Saber o teu nome e de onde vens,
Será que entendes, que já me tens?
E estes 10 minutos, será que urgem?

Levanto-me, e suspiro,
será que pensas porque me retiro?
Olho-te uma ultima vez,
e tu coras e foges com a vista outra vez.

“Despeço-me” com timidez,
Será que te volto a ver talvez?
Suspiras, e voltas “aonde” estavas,
Antes de nos cruzarmos, neste jardim de palavras…

Como te chamas, pergunto-me
Mas a voz não me sai,
E a cada passo que dou,
Mais sinto que algo me atrai…

Volto-me uma ultima vês,
Será que me estás a observar,
Como da outra vez?

Mas já lá não estás,
Desapareceste tão rápido,
Volto-me para trás…
É isto o efeito cupido?

Encontrar alguém, e falarmos,
Sem um palavra ter saído?
Será normal, termos então partido?
Sem saber, se nos encontrarmos

Nos voltaremos a “falar”,
Quero voltar a “conversar”,
Quero perder-me, mas nas palavras
Perguntar o porquê, que me observavas?

Falamos tanto em tão pouco,
e saímos sem ressalvas,
O quanto seria louco,
Voltar a conversarmos, com as almas…

“Tristeza…”

Desejos e sonhos, todos temos
Vontades, e virtudes, não as tememos.
Agimos sem pensar, e sem ponderar,
Se com aquilo que fizemos, pudemos alguém magoar…

E mesmo quando não é para nós o desejar,
Mesmo que seja para outrem se elevar,
O egoísmo volta, pois nem chegamos sequer a perguntar,
Se é verdade algo que estamos a tentar, por alguém, concretizar

Se ao não pensar em nada mais,
Não seremos nós a sofrer pelos demais,
Sozinhos, e sem pensar nos tais,
que nos querem bem, e sem algo a mais.

Somos egoístas, somos presunçosos,
Quando fazemos por alguém,
algo que não fazíamos por nós, preguiçosos

E sem nos aperceber,
Em vez de ajudar,
fazemos sofrer,
Quem tentamos animar…

Pessoas para quem somos como vidro,
Não reconhecemos esse perigo,
Estamos nisso, mergulhados,
Praticamos o mal, despreocupados.

Espalhamos a dor,
A quem desejávamos amor,
Sofremos nós, e o sofredor,
A quem mais nada demos, a não ser temor…

Temem por nós,
temem por eles,
Não agiremos sós,
sendo somente reles?

Consequências são só boas, imaginamos,
E quando damos conta, sim como Falhamos!
Redondamente, como vil gente
Quando apenas queríamos, ajudar gentilmente…

Queremos riqueza, para quem está na pobreza,
Sem que nos apercebamos, que também nisso há beleza…
E sem mais nem menos, intrometemos-nos com certeza,
Que não, nós sabemos que não haverá tristeza…

E a alma daquele alguém, agonia facilmente,
Pois o que para nós querem, não é diferente!!
E no entanto, findamos sem nos aperceber,
Que em vez de salvarmos, fazemos sofrer!

Neste mundo de intenções belas, de leveza,
Se é tão bom, como temos nós certeza,
porque raio, não acaba com leveza,
A p*** malfadada, da nossa tristeza?

O que está mal? Será o bem?
Será que quem sofre, já não o tem?
Quem somos nós para decidir por esse alguém,
que a nossa solução é a melhor que ele tem?!

Quem magoamos, e não vemos?
Quem “salvamos”, por quem já não tememos?
Será correto, agir sem nos revermos?
Salvar outros, enquanto nós morremos?

Será justo, ou será crime?
Que de tal maneira, e sublime,
Confundamos tal Beleza,
Sem que por trás haja tristeza?

Pergunto-me, será o incerto,
Certo, ou incorrecto?
Quem de nós, que tal insecto,
Se intromete, na vida dum “insurrecto”?

Nada mais me traz, com certeza,
Esta inveja da beleza,
que por quem nós nos sacrificamos,
E sem saber, damos tristeza…

E a quem tiramos cor,
quando achamos dar amor,
A quem acabamos por tirar,
Todo o seu esplendor!

Mesmo assim, cerramos os dentes,
Porque também nos custa ver a dor,
A quem queremos dar “presentes”,
Sem conseguirmos encher de amor…

“Contemporâneo”

O tempo corre, de igual forma
Para todo homem e criatura,
E tudo percorre, de forma
a chegar depressa à prefeitura.

Como o fim de uma viagem,
De autocarro pelas freguesias,
A ultima paragem,
Antes das ruas esguias.

O tempo é precioso,
E no entanto,
Poucos de nós lhe sabemos dar gozo.

Fica tudo para amanhã,
na boa moda do freguês,
na má moda de todo e qualquer português.

Deixamos para amanhã e depois,
Tudo que podemos fazer agora,
Sem pressas, nem pressões.

E no entanto não nos apercebemos
de algo que é momentâneo.
E que ao findar,
Deixa de ser contemporâneo.

Foi-se a oportunidade,
O que podia, deixou de ser.
O que acontecia, nunca mais vai haver.

Foi-se a pessoa,
O que existia, findou sem saber,
O que nem começou, chega a morrer?

Foi-se a vida,
O que se passou, alguém vai saber?
Mas afinal que desgraçado acabou de morrer?

O amor foi-se,
O que ama sofre, o outro esfumou-se.
O que ama pergunta, se o outro enganou-se.

O momento veio,
e com ele chegou também o receio,
Que horrivel, temei-o!

O tempo não para nem um momento,
E se perderes o momentâneo,
O que podia, não ser arrependimento,
Não vai mais ser contemporâneo…

“1/4 vazio”

Amor, nunca fui grande poeta,
Tu sabes bem, sou é um pateta,
E tu sempre esperas, de alma aberta,
Alguma coisa minha, sem que esta seja certa.

Lembras-te quando nos conhecemos?
Desde quando éramos graúdos, mas pequenos?
Não foi amor à primeira vista,
Antes foi guerra, com olhos à Boavista

“São cão e gato”, diziam de nós
“Não se entendem, não os deixem sós!”
“À mais pequena oportunidade,
Andam a bulha, sem necessidade!”

Mal sabiam eles, que é verdade o que se diz,
Quanto mais me batias, mais eu era feliz.
Foi aos 20 que nos declaramos,
E toda a gente perguntou, porque tanto demoramos…

Ao ver as nossas fotografias ao longo destes 5 anos,
As brigas deram lugar, a caricias e planos.
Juntos enfrentava-mos o que viesse,
Fossem dez, ou mil, e quantos mais houvesse.

Quem muito briga não esquece, penso e desperto,
e é sempre então aí, quando apercebo, que me aperto.
Como é injusto, e pesado
Ser humano, ser amado.

Para depois te tirarem de mim,
O que era alegre, dá me um tormento sem fim.
Porque te levaram para longe assim?
Porque não te deixou Ele, ficar ao pé de mim?

Chegaste a casa e senti-te estranha,
“Amor, que se passa, viste uma aranha!?”
Dera eu ter sido esse bicho, e antes disto
Choraste em pranto como nunca eu havia visto.

Abracei-te, tentando apaziguar,
Sem saber, o que te estava a atormentar,
Mas tu não paravas de chorar,
“Oh meu Amor, conta-me para te ajudar”

Quando nos acalmamos, e tu me disseste,
Fui eu, quem de repente, ficou a leste…
Devo ter revisto toda a nossa vida, o nosso mundo,
Mas de repente, fui eu quem ficou mudo…

Nem nos deram tempo, para assentar,
Foi da pressa Dele, de te querer levar,
Em 2 meses Ele levou-te de mim,
E não aceito, não aceito ainda assim!

Que aos 25 anos, me levem meu tesouro
O que mais amo, o meu diamante de ouro.
Foi duro, é triste, e só, chegar a casa e tu não estares.
Não podermos jantar juntos, debaixo de mais luares.

Não houve tempo, nem mais alegrias
Que impedissem esse filho da ■■■■ de destino,
Essa doença diabólica, esse cancro no intestino,
Para que Ele te deixasse com quem mais querias.

Hoje, eu entro em casa, janto e choro ás escuras,
Meu Amor como correu o teu dia? pergunto-te eu,
A olhar-te nas tuas fotos do liceu.
Ainda não tive coragem de as guardar, como as pinturas.

Não é justo, que te tenhas ido, tão repentino.
Não fomos ao nosso paraíso argentino,
Não tivemos o nosso rebento pequenino,
Não te beijei tanto, quanto te tinha prometido…

Todos os dias sinto a tua falta,
Em casa, no trabalho, no nosso “cantinho”,
De te dar a mão, de te dar carinho.
De querer ouvir do médico, “Parabéns, a sua menina tem alta”!

É triste amarmos-nos tanto, e não termos mais momentos
Oh meu Amor ajuda-me, quero ver-te, ouvir-te, e dizer-te:
Que te amei sempre sem outros pensamentos.
Por favor, eu só queria voltar a ver-te!

Tal só é possível, agora virtualmente,
Videos de aniversários, festas e casamentos,
Já os vi a todos, mais do que o aconselhável, provavelmente.
Mas não tenho outra forma de afastar, estas dores e sofrimentos.

Só tenho um desejo, que Lhe peço sempre que me é possível,
Que quando nos virmos de novo, separarem-nos seja impossivel!

Espero que não te sintas triste, nem só,
como um campo infértil cheio de pó,
Pois já chego eu, sentir-me como um baldio
todos os dias quando chego, ao Nosso quarto vazio!

“Escrevo por Ti…”

Escrevo para ti, que não me ouves,
Que sempre que eu falo, tu te escondes
Dizes que não te interessa, e mandas-me p’ras couves.
Tal e qual um rei aos seus viscondes…

Não me dizes o que está mal,
Nunca me ouves a falar de tal,
Será que és parede de repente?
Será que para nós não há futuro, decente?

Se é para isto porque não acabas tudo?
Não me falas, e queres me mudo…
Mas será que, já que não me ouves, ao menos vês?
Será que em vês de falar, escrevo e tu lês?

Eu não queria chegar a este ponto,
Passar dias feito um tonto,
a tentar chegar a ti, saber o que estás a pensar
No entanto fechas te em copas, sem me avisar.

Se acabou ao menos avisa-me
Fala, recalca, pisa-me.
Reage nem que seja num grito,
Para que perceba esse teu coração aflito.

Para que saibas que estou aqui,
Mesmo que já não me sintas,
Não te quero assim, não me mintas.
O que se passou em ti?

Fui eu? Foste tu? Foi alguém?
Foi algo, alguma coisa, que te fez refém?
Ou é algo teu, e de mais ninguém?
Nem mesmo daquele que só te quer bem?

Se não falas de ti,
Escreve por ti,
Eu leio o que te vai na alma,
E faço de tudo para te trazer calma.

Já tentei de tudo e só me resta escrever,
Para não te perder, e sentires me perto de ti.
Não não esta sozinha, não tens que temer,
Pois mesmo que não fales, eu escrevo para ti.

Tu sabes que eu já não o fazia,
Já muito longe ia o dia,
que por ultimo tinha feito uma quadra,
há muito tinha fechado a porta, que agora quero que abra.

Deixei de lado o papel e a caneta,
Porque sempre que escrevia,
Só me sentia vazio, no que “dizia”,
No que que punha em palavras, e transmitia…

Secalhar escrevo de novo porque me sinto assim,
Ao ver-te fugir-me por entre os dedos,
Quando te quero ao pé de mim,
Sem vazios e sem medos.

Volta para mim, volta para ti,
Nem que eu tenha de escrever todos os dias
Mesmo que seja pelo resto dos nossos dias,
Eu contra mim luto, e escrevo por ti.

“Ainda”

Ainda agora nós dissemos adeus,
Ainda agora, se foram 6 anos, e nunca mais no cruzamos,
Será destino, ou serão eternos, o desafios que vamos enfrentar,
Junto dos que nos querem juntos, e dos que nos querem separar?

Nunca negaste a minha existência,
Na tua vida, mesmo que não tivesse importância.
Senti-me só, e sem esperança, que um dia voltasses,
Para remexer, comigo, com a minha ânsia.

Disse te que te queria voltar a ver,
Seis anos volvidos, para que pudéssemos dizer,
O que não tivemos tempo,
De outrora fazer…

Engraçado, voltarmos a conversar,
sobre algo que nunca chegou a “terminar”.
Sempre fiquei em aberto,
Em sobressalto, e desperto,

A espera de uma reacção,
E com o passar dos anos
fui tendo uma confirmação.

Que o que ambos queríamos era tempo,
sem o termos, esperamos que o tivéssemos,
Foste tu que vieste falar comigo, tanto tempo volvido
E porem aquilo que eu pensava, nunca tinhas esquecido.

E eu que sempre te observei de longe,
Tenho te agora como nunca pensei, tão perto
E mesmo assim, nos admirarmos de tão longe,
Para agora nos encontrarmos, perto.

Nunca te esqueci a ti, e tu a mim,
Porque será assim, o que esperas tu de mim,
Será que te farei feliz? Será que sim?
Espero que se tal for o que desejas,
que a resposta seja um sim.

Observei-te calado, comentando só um bocado,
Para que não te esquecesses daquele rapaz, malfadado
Que desse conta que um dia, te quis ver em melhor estado,
Do que aquele que te deixaram, abandonado.

E tu sempre respondeste que sim,
Eu penso, esperavas tu por mim?
Nã posso deixar de pensar que sim,
Pois ao fim d tano tempo nunca sai d ti, tu de mim.

Amamos-nos, os dois,
Sem querer deixar para depois, tenta-mos
Recuperar o tempo que perdemos,
Estando juntos, e amando-nos

Como achamos não ser possível
Um dia como este, sem ser verosímil
Que tu eu fossemos sequer possíveis,
E tu no entanto sempre nos viste como impossíveis,

Insegurança, medo nem sei.
de tão feliz que fiquei,
De ter uma resposta, ao fim de tanto tempo, fiéis
Um ao outro, tal e qual dois amantes, de quem confieis.

Ao responderes, senti uma alegria, imensa,
Tanto nos inicio, como numa desavença,
O que pareceu impossivel,
Agora só requeria uma presença,

Par confirmar o nosso amor,
a nossa indiferença,
No nosso calor,
Com a nossa presença.

Findamos os dois, a busca do impossivel,
Apenas para nos apercebermos,
Do que era demais, possível,
Encontrarmos nos, de forma irrepreensível.

Tu formada, e eu por formar,
Mas porque raio Deus, nos quis reencontrar?
Precisas de algo, ou eu de relembrar,
O quão feliz fui, naquela noite ao luar.

Do que te quis dizer,
mas nunca fui capaz de contar,
Que queria era para ti correr,
E assim nunca deixar de te amar?

O que vai ser de nós agora,
Que tudo parou,
E a vida, já não chora,
a nossa vota tudo mudou…

E agora, será que aquilo que sentes,
É aquilo que sinto?
aquilo que te dizes, e eu não minto,
Que sou aquele, que amas sem pretendentes?

Serei eu aquele que descobriste,
Agora sem pretendentes?
Serei teu backup plan, ou pretendente
Sem dizermos algo, a não ser pela mente?

Esse teu olho azul sempre me inquietou,
Com o que conseguias ver, que o meu coração mostrou,
E aquilo que me quiseste mostrar, e o meu coração agarrou?
E que mesmo ao fim de tanto tempo, não morreu, não findou?

Será possível sempre nos termos amado,
Em silêncio como ninguém nos amou?
Termos aceite nossos defeitos,
Quando mais ninguém os aceitou.

Tinha saudades tuas confesso,
E a tua mensagem me deixou, algo disperso?
Tanto tempo depois, o porquê, a resposta eu peço
Para que no fim nós tenhamos algum, descanso, e apreço,

Um pelo outro,
Tentarmos só um pedaço,
Com cada um de nós a entregar-se,
Sem desconfiar, e aperceber-se
Que não fosse uma mera paixão, um descanso.

Amamos nos tanto tempo,
Sem sair da cepa torta,
Que quando nos apercebemos da retorta,
Ao endireitar, só ficou mais dispersa, mais “distorta”.

Porque não és capaz,
De ser directa como eu, um rapaz.
Será que dizer “Amo-te”
Será assim tão, atroz?

Amo-te Rita, e sempre o fiz,
Desde que sou apenas algo, um aprendiz,
Sempre a ver se te igualava,
Tal e qual conto da fava.

Será que chegou o nosso tempo,
De acabarmos com o lamento,
E nos entregarmos, sem julgamento
Um a outro, por puro sentimento?

Pergunto-me se possível, mais ainda,
Sermos correspondidos sem ainda,
Nos termo declarado um ao outro,
Quando tu eu dormíamos, ainda.

Amo-vos a todas, mas porém
Nenhuma me leva além,
Do que esta de quem falo e escrevo,
De quem não falo, pois temo…

Amo-te, mesmo que
Tu não o percebas ainda.
Mesmo que não te declares, para mim chega-me
O teu mero sorriso, por fotos, ainda…

“Só Nós Dois”

Só nós dois é que sabemos
O quanto nos queremos bem
Só nós dois é que sabemos
Só nós dois e mais ninguém

Só nós dois avaliamos
Este amor, forte, profundo…
Quando o amor acontece
Não pede licença ao mundo.

Anda, abraça-me… beija-me
Encosta o teu peito ao meu
Esquece o que vai na rua
Vem ser minha, eu serei teu

Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Cá dentro da nossa porta.

Só nós dois é que sabemos
O calor dos nossos beijos
Só nós dois é que sofremos
As torturas e os desejos

Vamos viver o presente
Tal-qual a vida nos dá
O que reserva o futuro
Só Deus sabe o que será."

By Joaquim Pimentel.

[member=19594]Pedro Gomes [member=21679]HugoPipo [member=20909]Koboi [member=14237]suku76

Digam aí ao Julio Alves para vir aqui espalhar a sua magia!!

“Memorias Estonteantes”

Éramos pequenos, crescemos na mesma rua,
A minha casa era mesmo ao lado da tua.
Andávamos na mesma escola e turma,
Vínhamos sempre juntos, fosse a rir ou à batatada…

Mal nos conhecemos, foi uma imediata conexão
Como se nossos corpos partilhassem o mesmo coração…
Mas não sabíamos como de repente, tudo muda
Fui ter contigo, como sempre, mas tu parecias triste, estavas muda.

Depois da escola, na volta para casa
Perguntei -te: “Então o que se passa?”
Ias embora, mas não para longe,
Mas não íamos mais juntos passear…

Lembro me do dia que te mudaste,
Chovia muito, e quando me viste à janela acenaste…
Foi a primeira vez que me senti sozinho, com a casa cheia
Ia ser difícil sozinho, a rua perdeu o brilho, ficou feia.

Sempre que podíamos, estávamos juntos
Lanches, almoços, e até no intervalos curtos
Éramos tão novos, mas soubemos logo o que era,
Era felicidade, amor, que ataca como uma fera.

Acabamos o 3º ciclo, quando voltou a acontecer,
Desta vez ias para tão longe, que não nos íamos conseguir ver
E eu fiquei abatido, e triste, e tu deste-me a mão e um papel
Não nos podíamos ver, mas podíamos escrever.

Escrevemos um para o outro todas as semanas,
Contávamos a nossa vida, relatávamos as nossas mudanças,
Para que fosse possível para cada um, conseguir o outro reconhecer
Combinamos um encontro, estávamos à um ano sem nos ver.

Estavas a morar tão longe que a viagem de autocarro
Demorava 3 horas, mais um bocado.
Ias buscar-me, e eu tão ansioso, voltei a lembrar…
E nisto o autocarro começa a andar…

O meu coração bate, rápido, e o teu bate assim também?
Porque temos de estar assim, da distancia refém?
De repente um estouro, foi um pneu que rebentou.
O tempo passava e o autocarro não andou…

Com o ponteiro dos relógios, a cada minuto avançado, o meu coração apertou…
Passaram-se 3 horas e só aí o autocarro arrancou.
Será que esperas por mim, já vou chegar tão tarde que desejei que fosses embora.
Porquê? Porque é inverno, e mais uma vez chovia, e fazia muito frio lá fora…

Enquanto esperei escrevi-te uma carta, só para o caso…
Ia declarar-me, mas tinha-a como um plano.
Caso a minha coragem fosse um fracasso,
Tu ias saber, nem que fosse num pedaço de pano…

Cheguei atrasado 6 horas, gelado e desanimado…
Não te vi na plataforma, o meu coração não aguentou, de tão apertado.
Corri pela estação toda, e na sala de espera, estava lá alguém a dormir sentado.
Timidamente aproximei-me, não queria fazer com que um desconhecido acordasse sobressaltado.

E quando vi a cara do estranho, num cachecol enrolado, e gorro esverdeado,
As lágrimas que já escorriam, de repente pararam, e o coração batia mais descansado.
Eras tu… Antes de te acordar, fiquei ao teu lado, a admirar…
O teu rosto, belo, e o teu nariz, avermelhado a resfriar…

Passei-te a mão pela cara, e tu muito devagar, começaste a acordar
O meu coração estava calmo, e eu já sorria em vez de chorar…
Esperaste tanto tempo, qualquer um tinha ido para casa zangado,
No entanto tu sabias, que não te falhava, pois nunca tinha falhado.

Abriste os olhos, e olhas directamente para mim.
Agarraste a minha mão, e num piscar de olhos, abraçaste-me, sim…
Choravas tanto e eu feito parvo sem saber o que fazer,
O aperto do teu abraço, as tuas lágrimas, senti-me abençoado.

“Eu sabia que tu vinhas! Estás bem alto” disseste enquanto enxugavas as lágrimas,
“Desculpa, foi o autocarro…” Não me deixaste acabar, deixaste me sem palavras,
Porque, olhei para ti, e estavas tão bonita, que fiquei, no tempo parado,
“O que importa é que já estás cá”, disseste indo à mochila a sorrir, “Deves estar esfomeado…”

Tiraste o lanche que nos tinhas preparado,
“Se tiver frio desculpa…”, nem deixei que tivesses acabado
“Está bom de certeza!” Disse-te eu envergonhado.
Depois de aproveitarmos o lanche, fomos dar uma volta, lá ao lado.

Conversamos tanto, as nossas peripécias,
Revivemos memórias, que pensávamos perdidas…
Começou a chover, e corremos para baixo de uma árvore.
Estava tão feliz, mas ao meter a mão no bolso, gelei como mármore.

A minha carta, o meu plano…
Tinha-se perdido, por azar e engano,
Ela notou me logo algo estranho,
e rindo-se perguntou “Que foi, foi do “banho”?”

A voz dela, acalmou-me e sem esperar mais,
Ri-me, “Não é nada, mas sabes que mais?”
Ela sorrindo, " Fala, que eu ouço-te…"
“Eu…”, com o meu coração quase parado, “Amo-te!”

“Consegui!” pensei eu, e ao olhar para ela, com os olhos aguados,
“Ouviste bem! Amo-te, amo-te à tantos e tantos anos…
Amo o teu sorriso, os teus medos, os teus enganos…
E sempre tive medo de to dizer…” dizia-lhe eu de punhos apertados…

“Quando foste embora, fiquei tão só…
O mundo era triste e cheio, de pó…
Cada Carta Tua, fazia o meu dia.
Ganhava mais do que se fosse a lotaria!”

“Eu não quero sair daqui, quero ficar contigo,
Quero ser para ti mais do que um amigo.
Quero ser sempre o teu ponto de abrigo
Quero proteger-te de todo e qualquer perigo”

“Não te quero deixar,
Não te posso largar,
Não te quero afastar,
Não acho que ia aguentar.”

As lágrimas escorriam, como cataratas pelos dois
“Eu também não quero ir-me daqui, nem agora, nem depois…
Sinto saudades tuas, de caminharmos só os dois,
De andarmos à porrada, e abraçados depois”

“Sinto falta de me animares, de me abraçares
De me sorrires, de me apanhares…
De cair e tu gozares,
Só para depois me ajudares…”

“Também ao ir-me fiquei só,
Não conhecia ninguém, faltavas me tu, seu tótó.
Para me arreliares, para me confortares,
Para te abraçar, para sacudir este “pó”!”

Ficamos parados, inquietos, pasmados
Estávamos ali, frios e abraçados,
E sem saber, tínhamos confessados
Os nossos sentimentos, que nos deixavam assustados.

Olhei para ti, olhas te para mim,
aproximamos nos, devagar, e assim
Os nosso lábios encontraram-se
E os nossos corações, “marcaram-se”…

Ficamos ali juntos até de manhã,
Apanhei o autocarro, “roubei-te” um ultimo beijo.
Choramos ao afastar-nos, com um desejo
Que nunca nos esqueçamos um do outro, deste beijo…

Infelizmente a vida afastou-nos de forma tal
Que nunca mais nos conseguimos encontrar,
E na universidade, já nem escrevíamos o nosso postal
De forma semanal, mensal ou sequer anual…

Mesmo assim nunca deixei de recordar aquele dia,
Sempre que o fazia, fechava os olhos, e via…
Via-te a ti, e à árvore, ao teu cachecol!
Ao teu cabelo, em caracol…

Estou na cidade agora, e está sol
E a passear, cruzei-me com alguém,
Com um cheiro que me inquietou,
“Não pode ser!” o meu coração parou…

Olhei para trás, e eras tu!
Reconheci-te logo, os teus lábios, os teus olhos
Ficamos a olhar-nos, olhos nos olhos,
Mas não me reconheceste, e seguiste…

Eu fiquei ali sozinho, a ver-te…
É triste crescer, foi triste perder-te…
Mas vi-te e agora sei,
Nunca mais te verei…

As nossas vidas tomaram rumos diferentes,
Mesmo com outras pessoas, estamos contentes.
Mas a tua marca não fugiu, nem se escondeu,
Sempre que passo dificuldades, ela sempre me deu…

As forças para as ultrapassar…
Mesmo que não me recorde do teu nome e tu do meu,
Mesmo que já não nos conheçamos, ao cruzar!
O teu coração é meu, e o meu coração é teu…

Como te chamas?
De quem escrevo eu?
Lembro-me do beijo, das palavras,
Mas não do nome, de quem mas deu…

Memórias estranhas,
que na pele, entranhas,
Incompletas, mas importantes,
E tal como aquele nosso beijo, estonteantes!

[member=17324]sandy que achas? :smiley:

“Fulminante…”

Pensava com os meus botões,
Como podem ser ladrões?
Como podem ser os que governam,
Aqueles que mais tiram, e os que menos deram?

Como é que há tanta gente e ninguém se mexe,
Será que lhes passa ao lado, ou é algo que se esquece?
Não lhes custa ver uns que sem esforço, sobem a pique?
enquanto outros andam anos e anos, e nada? há alguém que me explique!?

Quando é que o povo fechou olhos a essas ladroagens?
Será que fecharam os olhos, e não viram as mensagens?
Até quando a gente, vai aceitar viver apertada, aparentemente
Até quando nós no vamos mexer para mudar esta mente?

Até quando vamos deixar o senhor importante,
de obra desconhecida, e rampante,
Decidir quem prospera, e quem definha?
Mais uma vez a culpa morrerá sozinha!?

Porque é que o mundo aceita ser refém?
Do ouro negro, da nota verde, e de vaidade também?
Porque raio se olha para o outro para ver o que ele tem,
Para podermos querer algo, que é feito por 5, e sai por 100?

Até quando seremos burros, cegos e mudos?
Até quando seremos submissos, pobres e surdos?
Até quando aguentaremos a pancada no corpo pro que queremos,
para que uns a possam ter sem se mexer, serenos?

Até quando seremos egoístas, e nabos
Sem enxergar a riqueza de verdadeiros sábios?
O mundo assim com está, não tem rumo,
Como uma fruta, que ao abrir não tem sumo?

Até quando ladrões “importantes”,
são tidos como sábios, quando são ignorantes?
Até quando deixaremos os esforços incessantes,
Dos nossos antepassado serem vislumbres distantes?

Até quando até que haja uma trágica morte,
Desses abutres, ladrões, resultante?
O pior é que já houve quem pereça, sem sorte,
para que haja ouro, na vida de um traste incessante!?

É triste ver de forma incessante,
merdas que me revoltam,
Merdas que me tornam inquietante ,
O ser humano que adora poder,
Para ter mais que o outro, ser mais “importante”!
Não se importando com nada, desde que
tal seja depressa, como o som de um fulminante!

“Marcas”

Todos nós amamos!
Afinal somos feitos para amar,
Viver com alguém que gostamos,
e que não deixamos de gostar.

Mas por vezes, uma pessoa pode enganar
E com isso, todo um ser prejudicar.
Ser esse que levanta barreiras, e jura ao mar,
“Depois desta merda, nunca mais vou amar!”

Com pensamentos destes a solidão é aliciante,
Sem dor chatices, e zangas como constante.
Mas que raio de vida será essa?
Até desejam que a mesma passe depressa.

Eu gosto de pensar que somos como “tábuas”,
em que surgem impressas todas as nossas mágoas.
E a cada uma surge uma marca,
tanto mais profunda, como a desgraça.

E nós não passamos de tocos,
Marcados por várias razões.
sempre que as vemos sabemos reconhecer,
Porque passou a pessoa a que a marca pertencer.

Marcamos muita gente que passa por nós, sem nunca o perceber,
E mesmo quando o fazemos, vamos sempre tarde para tal não acontecer.
Mas a vida é assim, e infelizmente só temos disso ao crescer.
De tal forma que morremos um toco marcado, como um belo ser.

:clap: :clap: [member=16856]Maranhão Estive a ler todos os teus poema e gostei muito, até me identifiquei com alguns deles! Para quando a publicação da coletânea deles?? Seria o primeiro a comprar :great:

[member=24335]jokapaiva o intuito de escrever poemas não é nada mais que um hobby.

Gosto de escrever, mas não tenho o vocabulário dos grandes, pelo que os meus poemas são simples comparados com aqueles das colectâneas.

Mas obrigado, sabe sempre bem ler criticas positivas.

Se os quiser usar estás a vontade :beer:

A propósito das autárquicas:

“Falsas Pessoas, Falsas Premissas”

Isto mete-me nojo, é verdade!
Mete-me nojo que as pessoas façam o bem, por vaidade.
“Hey olha que fixe que sou, não percam a próxima novidade!”
Mas vejo todos os outros a aplaudir tal superficialidade!

O mundo não passa disso, uma gigante feira de vaidades.
Os “heróis” são agora celebridades, que se aproveitam de ingenuidades!
E enquanto isso vão passando despercebidas verdadeiras atrocidades!
Monstros disfarçados, de puros, mentiras difundidas, em vez de verdades!

Parece que todos agem em conformidade,
Já não se consegue distinguir, se é amizade,
Se é puro interesse para se aproveitarem,
de alguém que, por coração, age por bem.

Não vejo ninguém incomodado,
falam de tudo, sem o mal ser mencionado,
Servem-se de promessas ocas, de mundo e fundos,
quando não tencionam na verdade. cumprir o que apregoam aos 7 mundos.

Tal e qual aquelas que chegando a velhice,
Por saberem o que fizeram, e para cometerem mais uma aldrabice,
Fingem como sempre, “Estás a ver Deus, não falho um terço, uma missa”
Mas Quem tudo vê, sabe identificar sempre, uma falsa pessoa, uma falsa premissa.

“Liberdade para todos, e não só para alguns”

Foda-se que mundo marado,
Parece que está tudo bem,
sem que no entanto haja alguém,
que grite chega, a este mundo esgroviado!

Todos querem dinheiro,
os honestos e trabalhadores,
E os vigaristas e impostores,
que não se importam de tirar, do pobre, o mealheiro.

De alguém que não quer essa merda para nada,
Não precisa de fingir ser amigo de quem tem tudo,
Não precisa de dar o cu, a língua, para essa fachada,
São esses que aqueles “com tudo”, acusam de ter 0, nada?

Mas quem aqui não tem nada?
Uma casa, um carro, uma família,
Não servem senão, para o abono dar entrada?
Não vão estar com os filhos, só para ganhar mais meio dia?

Não se questionam o porquê dos salários dos “que nada têm”,
Não se alterarem muito, enquanto os preços de tudo dispararam porque convêm?
Ninguém se pergunta a quem convém, que uns não tenham, para que outros ostentem?
Ainda por cima dizem que é normal, pois aqueles foram capazes de tudo para o terem?

Isto dos “capazes de tudo”, deixam-me podre, fodido!!
orgulham-se disso ,como se fosse grande, subir á custa do amigo!
Amigo descartavel agora que se está numa posição, onde o seu dinheiro não corre perigo.
E todos se calam e desejam conseguir o mesmo que esse corrompido!!!

Ninguém se revolta, ninguém se liberta,
Das amarras do dinheiro, que são, pela sociedade, encoberta!
pois convém a uns que, para uns a morte cedo seja certa,
só para que a gasolina no tanque, nunca fique deserta!!!

Fodam-se todos, literalmente todos,
Os que fecham os olhos, e os que corrompem a rodos.
Farto que esses sejam vistos como heróis!
quando na verdade, nunca passaram de peixes em azoi$.

E daqui a nada aparecem os amigos,
Para alegar justiça nisso,
Pois num mundo vigarista, a vigarice é justa e por isso,
“Merece mais um médico, que um bombeiro!” dizem esses, da mente, sem-abrigos!

Porque já é normal ver gajos que não querem trabalhar,
Arranjar maneira de aldrabar,
pois fartos tão eles de ver,
que quem aldraba, acaba sempre por vencer.

Já não há valores, não há “Palavra”,
Não há Honra, nem Senhores.
Algures o Tempo, os Senhores substituiu
Pelo desonesto ladrão, roubando sem motivo.

E o ladrão é visto como motivo de orgulho,
Orgulho esse, que é uma merda gente!!!
Diferente do orgulho de alguém, que vence na vida dignamente!
Já poucos sabem o que é “vergar a mola”, todos os dias arduamente.

Pois agora para se ser rico, só entrando desonestamente.
" Então a lotaria, o euromilhões e placards?"- dizem uns.
“Com festas e bolos se enganam os tolos”, digo-vos sinceramente
Que a liberdade, actualmente, não é para todos, é só para alguns!!!

“O Fado Português”

Todos sabem o que é fado,
Nós portugueses, e o resto do mundo é maravilhado,
Mas este nosso Fado, que nada tem a haver com o estilo musical,
Este estilo, tão próprio nosso, de não ver o que está mal.

Assobiamos para o lado, a encher de bolsos de pessoas incompetentes,
Que passam sempre, por “especialistas”, com resultados surpreendentes.
Os nossos jornalistas, a nossa imprensa, já não noticia, não nos representa,
Serve apenas para os “especialistas”, enganarem a nossa gente, menos atenta.

O caso dos fogos, do país completo a arder,
Só demonstra a incompetência de quem governa, sem disto perceber.
Num país que é grande, quem o outro rouba, que é maior, quem do outro se aproveita,
A isto tudo o nosso povo assiste, sereno e em paz, e nada contestando, tudo aceita!!

Depois admiram-se de ouvirmos mais um chavão,
“Portugueses estão cansados!”, então não estão?
Num país em que a desonestidade é vista como qualidade,
Só para poder dizer “Eu sou melhor que tu”, quando tal não é verdade!

Pessoas deixam cair boas e duradoras amizades,
Por orgulho, desacatos estúpidos, e meias verdades.
Aqui importam mais, politiquice e cores partidárias,
do que valores reais, provados em conquistas e “obras” diárias!

Depois é ciclico, elegem-se os mesmo que afundam o nosso amado Portugal.
No nosso país onde até o que é dado como certo, consegue correr mal,
Para encher os bolsos de mais um “grande”, que não passa de mais um animal,
E ainda dizemos nós, todos tristes, “È este o nosso fado! O fado de Portugal!!”

Ardem-nos as matas, pastos, casas e vidas,
Em imagens todos os anos repetidas,
Sempre com as mesmas desculpas,
E sem que ninguém assuma as culpas.

Todos querem, todos opinam, todo sabem,
E no entanto, fecham-se os olhos, para carteiras que abrem.
Falam todos do Zé Povinho, mas neste país já não o há,
Agora existe o Zé Dinheirinho, que se vende a quem mais dá!

Até quando vai interessar mais, se o partido x ganha as eleições,
Do que se as promessas feitas são cumpridas, ou só passam de chavões?
Mas a culpa é sempre do anterior, mesmo que o actual seja infinitamente pior.
Aqui, onde a imagem importa mais, mesmo que sejamos ocos e sem pudor!

A mim custa-me ver o nosso país, discutir mais o problema,
Do que investigar a sua raiz, sem incomodar o sistema,
Montado para beneficiar ladrões, e burlões,
Escondidos atrás de “sucessos”, apresentados como “campeões”.

O resultado está à vista, na presença de uma ignorância atroz,
pois já se dizia “Quem sabe, é como quem não vê!”, no tempo dos nossos avós.
E as amarras vão-se perpetuando, sem desaparecerem de vez,
E as pessoas queixam-se, sem nada resolverem, quanto ao Triste Fado Português!

“Olhares desapercebidos”

Dizem os entendidos, escritores, com muita calma,
que os olhos “São como o espelho da alma”,
Transparecem o mais profundo dos sentidos,
Enxergam algo que não “vemos” despercebidos.

Quem nunca, só de cruzar o olhar,
Sentiu algo, que “não se estava a passar”?
A sensação miúda de que há algo a escapar,
Como a agua que jorra, duma fonte sem parar.

Encontrei-te, “perdida” na noite ontem,
Tomavas um café, e bebia-lo como alguém,
Que está ali, presente, mas com o pensamento além.
Pensas em quê? Alguma coisa te incomoda, ou alguém?

De repente voltas a estar aqui, a minha frente.
Olho-te, tens o olhos aguados, e levantas-te de repente.
“Vamos dar uma volta?”- pergunto-te seguindo-te levemente.
Não respondes, pois a resposta já a tenho certamente.

Pagamos e saímos do café, em silêncio, quentinhos
Chego me a ti, e caminhamos a sós, certinhos.
Reparo numa lágrima, que te cai pela face,
E penso que deve ter sido, apenas algo de relance.

Abrandas o passo, e sem proferires uma palavra, de repente
Sentas-te num banco, Cabisbaixa, com o olhar condizente,
Deixas cair mais uma lágrima, pelo teu belo e rosado rosto,
“Que se passa amiga, conta-me a razão do teu desgosto.”

E tu, envergonhadamente, limpas a face, com rapidez,
“Não é nada , lá estás tu com as tuas coisas outra vez!”
Não te feches sobre essa magoa e conta-me, penso eu,
Deita cá para fora a dor que te tolda esse coração teu.

Ficamos sentados em silencio, por breves momentos,
A rua vazia e fria, e sem que hajam quaisquer movimentos.
Chegaste a mim, e começas a chorar intensamente,
as lágrimas escorrem por ti, comigo a abraçar-te, impotente.

Acalmas-te, com o tempo, quanto foi não sei, mas algo me diz,
“Foi a minha pergunta que te incomodou, ou algo que fiz?”
Enxugo-te as lágrimas, com a minha mão e um sorriso envergonhado,
E perguntas-me tu, num tom irritado," De que te ris seu desalmado?!".

“Eu faço-o, não por gozo, mas por compaixão…”
Ficas-te impávida, com as bochechas num rosadão
e os Teus olhos que tão depressa mostraram Ira,
Ao acalmarem-se, mostram-me logo a tua mentira.

“Vais falar, ou queres ficar aqui assim mais um pouquinho?”
“Eu espero, se precisares, posso ficar mais um tempinho”
Encostas a tua cabeça no meu ombro, do alto do teu metro e meio,
“Não te vás já, fica mais um pouco seu feio!”

Afago-te a cabeça, e beijo-te a testa,
“Acalma-te, conta-me o que é essa “besta”.”
“Besta, mas qual besta?” refutavas a desviar a conversa.
“Tu sabes do que falo” digo eu muito depressa.

E a Leoa que aparecera a minha frente,
Virou cordeirinho muito depressa,
e voltando a olhar o chão, tristemente,
“Sinto me só, sabes…”- confessa.

“Mas estamos os dois aqui, não estás só!”
“Eu sei, mas sinto me nada, sinto-me pó!”
Abracei-te encarecidamente,
as lágrimas voltaram repentinamente.

Não sabia o que se passava, e calei-me por momentos,
que faço eu, para te acabar com os lamentos?
Voltas-te a recompor-te, e com os teus olhos ternurentos,
Olhas me e dizes “Vamos embora…”, como que a esconder os teus ferimentos.

Sinto a tua dor, mas respeito o teu espaço,
“Vem comigo, vou te levar a um lado”
Juntos, recolhes o lenço e amarraste-me o braço.
“Onde me levas tu?” - murmurando- “Desgraçado”.

Caminhamos, numa noite sem vento,
Fria, mas sob um Luar calorento.
Observamos o mar, os dois, e a praia vazia,
Encostas-te mais, com frio, mas eu sentia.

Sentia-te mais calma, mais em paz.
Andamos mais um pouco, até um rochedos
Sento-me e digo, “Anda vou-te mostrar uns segredos”
Sentas-te ao meu lado, e encostas-te o mais que és capaz.

“Quando me sinto assim, e não quero falar…
Venho para aqui, reflectir, pensar.”
Tu olhavas-me, enquanto falava, atentamente
“E vens sozinho?” perguntas-me repentinamente.

“Sim, mas porquê tanta curiosidade, de repente?”
“Por Nada!” dizes, olhando-me estranhamente.
“Aqui deixo tudo aquilo que me incomoda diariamente…
Por ser um sitio a esta hora calmo, apazigua o coração e a mente”

Tu olhavas o mar enquanto falava, e os teus olhos perdiam-se no horizonte,
“Não sabia dessa tua faceta, seu feioso…” dizias tu mais alegremente,
“Ninguém sabe tudo sobre o outro, nem nós próprios, sobre nós.
Temos de ir descobrindo, com ajuda ou, como nós estamos agora, sós”.

Tu ao ouvires-me, deixavas-te ir com a corrente, com o barulho do mar.
Esse som, misturado com a maresia, ajudaram-te a acalmar.
Os teus Olhos mostravam-se agora serenos,
“Deixa de ser lamechas” dizias tu, enquanto entrelaçávamos os dedos.

“Tens as mãos frias…” -resmungavas baixinho
“Mãos frias, coração quente!”- disse-te encarecidamente
E abraçando-te, ali ficamos, calados, mais um bocadinho.
Olhas-te me, serena e disseste calmamente.

“Isto nem é tão mau quanto pensava…”
“Ui?!Como assim?” -ria-me enquanto te questionava.
Ao que respondes calmamente, “Sabes é dificil explicar.”
“O quê, esse de repente, teu acalmar?”

“Sim, é estranho…”- respondias-me timidamente.
“Já não me sinto só, nem triste, de repente”
“Fez-me bem trazeres-me aqui, quando voltamos novamente?”.
Ao que te respondo, “Só tu o saberás, futuramente”.

Esboças-te um sorriso, olhaste-me fixamente
Procurava um razão para tal interesse de repente.
“Como Sabias que era disto que precisava?”
Inquiriste-me sem ressalva.

Olhando para ti, respondi-te calmamente,
“Aquilo que escondes de toda a gente…
Quem os procura encontra-os facilmente”
Porque os olhos demonstram o que o coração sente".

“Basta-me olhar para ti, atentamente”.
E fixando o nosso olhar, aproximei-me timidamente,
Deixando com que os nossos lábios se toquem,
E beijamos nos, devagar, com receio do que os nossos corações sentem.

E quando nos olhamos, rimo-nos um para o outro silenciosamente.
Porque, o que o coração e a alma sentem,
Fogem a todos, mas não a nós certamente,
porque amava-mo-nos, com os olhos, desapercebidamente…

“Substância Imperial”

Substância o que significa?
Já ouvi tantas definições,
Umas corretas, outras cheias de incorrecções,
Mas afinal, qual delas a mais magnifica?

Diz-se por aí, substância é algo natural,
um espécie de matéria, essencial!
Indispensável a qualquer material.
Ou então algo, simplesmente existencial.

Mas substância, pode ser tudo e não ser nada?
Como aquelas feitiçarias num conto de fada?
Hoje em dia a substância vai-se num instante,
Tão rápido como rastilho de corda flamejante!

Mas há algo em que se pode estar de acordo,
Que qualquer que seja a definição, definitiva,
Esta passa sempre um limite, como a água um rebordo,
Como se no fim houvesse uma matéria, explosiva!

Podemos dizer então, meus caros amigos
Que Portugal dessa determinada substancia não tem falta!
Substância essa, que foi perpetuando certos perigos,
Desde Faro, a Valença, disso infelizmente não falta!

E quem fala de nós, Portugal, fala também no mundo,
Onde quem tem tudo, a esses substância não escasseia,
Mas os que nada têm, a mesma é lhes incutida, sem pausar um segundo!
E a miragem do sucesso, não vai passar de mito, tal e qual uma sereia.

Assintomático passar a mesma de pessoa em pessoa,
Tal como uma crença, passada de quem pratica e apregoa!
E a verdadeira essência humana, o que nos identifica e caracteriza,
Vai desaparecendo, como uma insignificante, e leve brisa.

Famílias vão sendo desfeitas, pela Substancia moderna,
Guardando a verdadeira, mais antiga, numa remota caverna,
que fechamos a sete chaves, e que lançamos a uma fera,
Para que nunca mais a tenhamos, mesmo que seja eterna a espera.

Dói e custa ver,
Como raio foi acontecer,
De tanto a tão pouco,
Sem de nada perceber.

Perde-se a Substância boa,
Para Substância do poder!
Esses que roubam à toa,
Doa a quem doer.

E que nada fazem,
quando se ouvem louros,
Quando se fala de ouros,
Vêm logo a salivar e correr.

Dizia hoje no metro um velhote para o Ar:
“Nos dias que correm, qualquer dia pago para respirar”.
Penso eu que razão não lhe há de faltar,
Pois a ele a boa substância, decerto não chegou a abandonar.

Dizia ele que gente como a de antes, já é difícil de encontrar,
Gente de antes, até do tempo de Salazar.
Em que se era pobre, mas rico em afeição,
E quando mais nada havia, partilhava-se de coração

Fico doente, sem saber quando nem porquê!
Pois só pela pinta, um gajo sabe quando a vê!
Só que vê tanta hoje em dia, sem ninguém se importar,
Substância essa, que perpetua em vez de terminar.

E quando esta porra sumirá
Arrisco-me a dizer nunca o fará,
Pois a definição diz que a mesma subsiste por sí
Agora faz sentido, mesmo que não queira, ela andará sempre por aí

Corrente escrita, falada e sem dó, não musical.
Onde se difunde, que só está bem, quem o faz mal!
Rondam tudo, e todos os bons que ainda algo têm,
Roubando pouco a pouco, sem que os que devem os deterem
Usurpam-se a eles mesmos, para crescer nessa substância “factual”
Poder que só se obtém assim, na nossa “Dissociedade” actual.
Cão ladra, a caravana passa, mas sem destino, no qual
Aos que lerem e não perceberem que substância é essa afinal,
Onde basta desta quadra lerem, em coluna, cada letra inicial!

“Destino Maldito”

Tenho um sonho, já desde de pequeno,
Sonho voar, tão alto, que vejo tudo o que não consigo,
Passeio pela cidade, embrulhado num pensamento pleno,
Crio enquanto viajo, e paro quando quando alguém se senta comigo.

Gosto de conversar, mesmo com estranhos,
Ajuda-me a passar o tempo, a conhecer outros encantos,
Principalmente com velhotes, que me contam histórias de muitos cantos,
Cantos que não percebiam, mas explicam, e eu entranho-os.

Também converso com malta nova, como eu,
que não se agarra ao telemóvel, e prefere olhar o céu.
Também quererem voar, de maneira diferente da minha,
Mas ouvir faz parte, da longa viagem, que não se faz sozinha.

Numa das viagens, o meu pensamento descarrilou,
Tal e qual um comboio, que num tremor de terra, não parou.
Saí do metro, e encontrei duas jovens, uma mais velha, e outra da minha idade,
Pergunto se precisam de ajuda, pois é óbvio o seu desnorte, são doutra cidade.

“Onde fica o shopping?” pergunta-me a mais velha,
Mas eu atentava a mais nova, em quem tinha parado uma abelha.
Ela recolheu com as mãos, sem medo que a picasse com o ferrão.
“Se quiser acompanho-as até lá”, respondi sem mais não.

Aceitaram a minha oferta, convidando-me para o lanche,
Três cafés, uma torrada, um russo, e um Brioche.
Vêm de longe, duma terra pacata, diz-me a mais nova,
Com uma atitude, bem disposta, mas que a mais velha reprova.

Venho a saber que de passagem, só estão,
E aproveitam para ver roupas para o verão.
A mais velha levanta-se e desculpa-se, vai ao quarto de banho,
Já deposita confiança em mim, pois deixa a mais nova com desdanho.

Permanecemos calados, como dois putos, envergonhados,
“De onde são…”- ia a eu a começar
“Como te chamas?”- pergunta-me ela a corar.
“Pedro”- respondo sorrindo-“E eu sou a Rita”- estávamos apresentados

“Não são daqui, tua e a tua amiga, de onde são as duas.”
“Não conheces, somos de uma aldeia, Pitões das Junias”
Rimo-nos os dois, eu pelo nome estranho e ela com embaraço,
E nisto vem a irmã, com pressa, agarrando-a pelo braço.

“Desculpa mas temos de ir, estão à nossa espera, ocorreu um embaraço”.
Trocamos de números rapidamente, pois a conversa durou um curto espaço.
Estávamos interessados em conhecer mais um do outro, com mais calma.
E despedimos-nos, à pressa, sem reparar em mais vivalma.

“Será que a volto a ver?” pensava, com os meus botões,
e combinamos encontrar-nos, num dos próximos Verões.
Falávamos todos os dias, nem a distância nos demovia.
Perguntavamos-mos, quando o próximo encontro seria.

Passou um tempo e decidimos que era naquele dia,
Combinamos encontrar-nos no mesmo sitio, era aí que a veria.
Era bela, com uns olhos castanho esverdeados e sardas na cara,
“O que raio vê ela em mim, no que será que ela repara?”

Encontramos-nos, e a vergonha voltou,
Passou algum tempo até que um de nós falou.
“Como foi a viagem, custou muito, ou não?”- perguntei
“Já é habito, de quem daquela aldeia vem.”

Passeamos por um bocado, à beira mar, apreciando a vista.
“Isto é tão bonito, parece uma foto duma revista!”
Admirado, perguntei se ela o mar já tinha visto,
“Não, é a primeira vez que vejo algo como isto!”

Paramos, e convidei-a para molhar os pés,
e ao ver que estava fria, agarrou-se a mim com timidez,
“Que gelo!!!”- ela dizia rindo, em bico de pés
E eu ria-me como um perdido- a vergonha, era uma vez.

O tempo acabou e um do outro nos despedíamos,
Não queria ir embora, sem saber quando nos veria-mos.
Ela sorrateiramente, puxou-me e disse-me ao ouvido- “vou dar-te um presente!”
Pediu-me para fechar os olhos, e beijou-me timidamente.

Eu atónito e incrédulo, com tal acontecimento repentino,
Contive a alegria, mas se pudesse, fazia ali o pino!
Perguntou-me se podia namorar comigo,
Pois apesar da distância, desejava-me mais do que um amigo.

Somos simples os dois, e olhamos ambos o céu,
Que raio de destino este, o meu e o teu.
Despedimos-nos com mais um beijinho e um adeus,
Quando nos poderemos voltar a ver?- perguntava eu a Deus.

Passou-se algum tempo, mas sempre a falarmos
e contar-mos as nossas peripécias, quem dantes pouco falava,
agora conversava, durante horas e sem pressa,
O amor é assim, até a distância ele dispersa.

Finalmente chegou à terra dela a Internet, o que antes só era voz, virou imagem também!
Já nos conseguíamos ver, e embora distantes, já apaziguava um pouco o problema que a distância tem.
Um dia esperava pela ligação do costume,
Enquanto preparava o jantar ao lume.

E nisto o computador deu sinal,
atendi mas não era ela, era a irmã.
Informava-me que ela tinha passado mal.
“Vamos até ao hospital amanhã!”.

Aguardei que me ligasse no dia seguinte,
Mas preocupado, não dormi até de manhã.
A manhã passou, e ninguém me ligou,
E nisto ligava eu, mas sempre alguém me desligou.

Não sabia onde ela estava,
e senti que lhe falhava…
O meu telemóvel toca- Finalmente!- pensava.
A voz do outro lado tremule, falhava…

“Estou meu amor?”- Era ela! Estava mais calmo.
“Oh que bom ouvir-te Rita!” dizia alegre, mas com fraqueza no coração .
“Estás bem, que se passou meu amor?!”- perguntava, enquanto procurava melhor recepção.
Por favor não caias agora, dizia para a chamada. Podes falhar a seguir, mas agora não.

“Tenho uma boa e uma má noticia”- disse me a Rita
“Primeiro a Boa, minha querida”- e nisto, algo do lado dela apita.
“A boa é que estou mais perto, vim para a Invicta”
A seguir disse-me que veio de urgência para o IPO, e nisto cai a chamada maldita.

Pedi o carro à minha mãe, e só parei no S.João, corri para o IPO sem saber se a via ou não
Ao chegar lá, dirigi-me logo à senhora enfermeira no Balcão.
perguntei onde era o quarto da Rita Malvã,
Expliquei que era o namorado, e nisto encontro a irmã.

Ao ver-me, chorou como uma perdida,
Abracei-a e perguntei se podia ver a nossa menina.
Ela informou-me que ia ter de esperar, estava com risco de vida.
Juntei as peças todas, e entrei pelo corredor, queria vê-la, queria ver a minha pequenina!

Os seguranças mandaram-me ao chão, e só me largaram quando me viram,
Com o olhar distante, ao olhar para o fundo, onde o apito que ouvira na maldita chamada,
Se intensificou na sala, onde não precisei de ver o nome, era do quarto da minha amada!
Enquanto me largavam os seguranças, 3 pessoas de bata, para o quarto dela corriam.

E quando vejo a maca corri, e aí já não me impediram,
Entubada e branca como cal, peguei-lhe pela mão,
Ela olhava-me, enquanto lhe dizia - "Não fales!"e ela dava-me um apertão
Tive de largar a mão, com relutância mas porque me pediram

E eu percebi, tinha de ser, para eles poderem tentar alguma coisa,
Infelizmente não passou muito tempo, estava eu com a irmã no corredor.
Nada conseguiram fazer, não tinham chegado a tempo, já só conseguiam com que não tivesse dor.
A irmã desmaiou a ouvir tal noticia, eu deixei estar com a enfermeira, e esmurrei alguma coisa.

“Posso vê-la?”- foi a minha primeira pergunta, com sangue a escorrer pela mão
“Aguarde um pouco, precisa de bata, touca e para a boca uma protecção”.
Compreendi e em 2 minutos estava a entrar, mal a vi contive-me para não chorar.
Baixinho, e ao ouvido, comecei por lhe dizer, para não tentar falar.

Beijei-lhe a testa, o rosto e as mãos,
Enquanto ela soltava uma lágrima de dor,
toquei-lhe os lábios, e pousou o rosto na minha mão.
Admirávamos-nos atentamente, comovidos, com amor.

E não falando, antes de me despedir, beijoa nos lábios com cuidado,
e dei vez ao pai e mãe que tinham agora chegado.
Foram horas difíceis, sem saber quando seria a hora,
Da última despedida - o que faria eu agora?

O pai dela sentou-se à minha beira, era homem do campo.
Mãos duras, cara queimada, ficou em silêncio, com a lágrima no canto.
Ouvia-se unicamente o choro da mãe, e da irmã da Rita.
E nisto diz-me o pai- “Ela mesmo assim, está muito bonita…”

Percebi que era a maneira de ele contornar a dor do momento,
Mais vale lembrar se assim da filha, para atenuar o sofrimento.
Contei-lhe tudo, desde como nos conhecemos, e como foi o destino
Que um ao outro nos deu, o mesmo maldito e triste, momento repentino.

Que nos afastava e obrigou-nos a despedir-mos de repente.
Ninguém quis saber o que era, pois não havia mais nada a fazer.
Era estar com ela até o destino assim o quiser.
Estávamos todos lá, quando nos deixou calmamente.

Até a equipa médica que a tratou cuidadosamente.
Chegado o momento, despedimos-nos todos dela,
Sem ninguém usar a voz, foi tão serena e bela,
Que a tristeza deu lugar a paz, repentinamente.

Ainda hoje trago um foto dela na minha carteira…
Não me casei, nem faço intenções de arranjar outra parceira,
pois já me “dei”, e estou sempre com a Rita
E vivo sem rancor, esta vida maldita!

Levou o meu amor, que nunca foi facilitado,
Mas por ela, não me posso sentir revoltado.
Recordo com saudade o que partilhamos, o que foi, por um ao outro dito,
Evitando injuriar este nosso Destino Maldito…

" O Destino é algo estranho:
Dá-nos o que pedimos, quando menos esperamos,
Como de seguida nos-lo retira,
Quando menos preparados estamos!"

“Arte Sem Aviso”

Música para os meus ouvidos
Sai dum piano cheio de pó,
Numa cave com sofás encardidos
De tanto uso, sol e dó

Um pianista é um poeta que escreve
O que sente, com cada tecla tocada leve,
ou bruscamente, consoante um poeta,
Escreve duro ou suave, de lápis ou caneta.

Ou como o som de um violino,
da vibração, aguda ou grave,
das sua cordas, de linho fino,
Ou tripa de carneiro, suave.

Os ritmos e pausas, alteram
Consoante o interprete as mold,a
Ás suas emoções que afloram,
E que a plateia que ouve, tolda.

Plateia, que ouve cada nota com encanto,
Como quem lê poemas com calma.
Apreciando cada nota/palavra portanto,
Da maneira a que reage às mesmas , sua alma.

Uma música ou poema pode ser triste,
Ou passar uma ira, de ficar com punhos em riste!
E de repente, ser alegre, com um tom mais ao de leve,
Conforme a imaginação do poeta/interprete se eleve!

Literatura e música andam de mãos dadas,
Não fossem muitos poemas músicas,
E muitas composições musicais, palavras.
Umas responsáveis, outras não tão púdicas,

Quem não se lembra de Bocage, e sua lírica brejeira,
Ou de Bethoveen e a sua mágica e bela maluqueira?
Camões com os Cantos suaves e perpétuos deveras,
Ou de Vivaldi, com as suas lindas sonoras primaveras.

A alma de um artista, não se define de forma simplista,
Depende sempre de quem recebe sua obra, e a revista.
Compreendendo ou tentando compreender,
O que o artista está a tentar transparecer.

Dizem que nem todos podem ser músicos,
Ou escrever como autênticos poetas,
Mas a verdade meus caros, nada é mais errado
Do que definir artes, como coisas certas!

Pois o que hoje inspira à Descoberta,
amanhã desespera, tocando por parte incerta.
Tal e qual nota que não soa bem,
Ou a palavra, que ontem se tinha, e hoje já não se tem.

Aos que têm medo, de tocar ou explanar,
aquilo que vai, na sua alma e coração,
que ganhe coragem e pegue o monstro
De olhos nos olhos, e espada na mão.

Porque todos somos artistas,
Todos somos escritas,
Das vozes anteriores que ecoam, pelos tempos
A espera de serem captadas, pelos mais atentos.

A sua forma, depende de quem as ouve,
E interpreta, de forma sempre correta,
Pois quem não as sente, não sabe que existem,
Mas quando ouvem/lêm, de uma ou doutra maneira as reconhecem.

E um artista é mesmo isso!
A ligação entre um mundo e o outro,
Exposta como um improviso,
Ou como uma obra, que aparece sem Aviso!