“Destino Maldito”
Tenho um sonho, já desde de pequeno,
Sonho voar, tão alto, que vejo tudo o que não consigo,
Passeio pela cidade, embrulhado num pensamento pleno,
Crio enquanto viajo, e paro quando quando alguém se senta comigo.
Gosto de conversar, mesmo com estranhos,
Ajuda-me a passar o tempo, a conhecer outros encantos,
Principalmente com velhotes, que me contam histórias de muitos cantos,
Cantos que não percebiam, mas explicam, e eu entranho-os.
Também converso com malta nova, como eu,
que não se agarra ao telemóvel, e prefere olhar o céu.
Também quererem voar, de maneira diferente da minha,
Mas ouvir faz parte, da longa viagem, que não se faz sozinha.
Numa das viagens, o meu pensamento descarrilou,
Tal e qual um comboio, que num tremor de terra, não parou.
Saí do metro, e encontrei duas jovens, uma mais velha, e outra da minha idade,
Pergunto se precisam de ajuda, pois é óbvio o seu desnorte, são doutra cidade.
“Onde fica o shopping?” pergunta-me a mais velha,
Mas eu atentava a mais nova, em quem tinha parado uma abelha.
Ela recolheu com as mãos, sem medo que a picasse com o ferrão.
“Se quiser acompanho-as até lá”, respondi sem mais não.
Aceitaram a minha oferta, convidando-me para o lanche,
Três cafés, uma torrada, um russo, e um Brioche.
Vêm de longe, duma terra pacata, diz-me a mais nova,
Com uma atitude, bem disposta, mas que a mais velha reprova.
Venho a saber que de passagem, só estão,
E aproveitam para ver roupas para o verão.
A mais velha levanta-se e desculpa-se, vai ao quarto de banho,
Já deposita confiança em mim, pois deixa a mais nova com desdanho.
Permanecemos calados, como dois putos, envergonhados,
“De onde são…”- ia a eu a começar
“Como te chamas?”- pergunta-me ela a corar.
“Pedro”- respondo sorrindo-“E eu sou a Rita”- estávamos apresentados
“Não são daqui, tua e a tua amiga, de onde são as duas.”
“Não conheces, somos de uma aldeia, Pitões das Junias”
Rimo-nos os dois, eu pelo nome estranho e ela com embaraço,
E nisto vem a irmã, com pressa, agarrando-a pelo braço.
“Desculpa mas temos de ir, estão à nossa espera, ocorreu um embaraço”.
Trocamos de números rapidamente, pois a conversa durou um curto espaço.
Estávamos interessados em conhecer mais um do outro, com mais calma.
E despedimos-nos, à pressa, sem reparar em mais vivalma.
“Será que a volto a ver?” pensava, com os meus botões,
e combinamos encontrar-nos, num dos próximos Verões.
Falávamos todos os dias, nem a distância nos demovia.
Perguntavamos-mos, quando o próximo encontro seria.
Passou um tempo e decidimos que era naquele dia,
Combinamos encontrar-nos no mesmo sitio, era aí que a veria.
Era bela, com uns olhos castanho esverdeados e sardas na cara,
“O que raio vê ela em mim, no que será que ela repara?”
Encontramos-nos, e a vergonha voltou,
Passou algum tempo até que um de nós falou.
“Como foi a viagem, custou muito, ou não?”- perguntei
“Já é habito, de quem daquela aldeia vem.”
Passeamos por um bocado, à beira mar, apreciando a vista.
“Isto é tão bonito, parece uma foto duma revista!”
Admirado, perguntei se ela o mar já tinha visto,
“Não, é a primeira vez que vejo algo como isto!”
Paramos, e convidei-a para molhar os pés,
e ao ver que estava fria, agarrou-se a mim com timidez,
“Que gelo!!!”- ela dizia rindo, em bico de pés
E eu ria-me como um perdido- a vergonha, era uma vez.
O tempo acabou e um do outro nos despedíamos,
Não queria ir embora, sem saber quando nos veria-mos.
Ela sorrateiramente, puxou-me e disse-me ao ouvido- “vou dar-te um presente!”
Pediu-me para fechar os olhos, e beijou-me timidamente.
Eu atónito e incrédulo, com tal acontecimento repentino,
Contive a alegria, mas se pudesse, fazia ali o pino!
Perguntou-me se podia namorar comigo,
Pois apesar da distância, desejava-me mais do que um amigo.
Somos simples os dois, e olhamos ambos o céu,
Que raio de destino este, o meu e o teu.
Despedimos-nos com mais um beijinho e um adeus,
Quando nos poderemos voltar a ver?- perguntava eu a Deus.
Passou-se algum tempo, mas sempre a falarmos
e contar-mos as nossas peripécias, quem dantes pouco falava,
agora conversava, durante horas e sem pressa,
O amor é assim, até a distância ele dispersa.
Finalmente chegou à terra dela a Internet, o que antes só era voz, virou imagem também!
Já nos conseguíamos ver, e embora distantes, já apaziguava um pouco o problema que a distância tem.
Um dia esperava pela ligação do costume,
Enquanto preparava o jantar ao lume.
E nisto o computador deu sinal,
atendi mas não era ela, era a irmã.
Informava-me que ela tinha passado mal.
“Vamos até ao hospital amanhã!”.
Aguardei que me ligasse no dia seguinte,
Mas preocupado, não dormi até de manhã.
A manhã passou, e ninguém me ligou,
E nisto ligava eu, mas sempre alguém me desligou.
Não sabia onde ela estava,
e senti que lhe falhava…
O meu telemóvel toca- Finalmente!- pensava.
A voz do outro lado tremule, falhava…
“Estou meu amor?”- Era ela! Estava mais calmo.
“Oh que bom ouvir-te Rita!” dizia alegre, mas com fraqueza no coração .
“Estás bem, que se passou meu amor?!”- perguntava, enquanto procurava melhor recepção.
Por favor não caias agora, dizia para a chamada. Podes falhar a seguir, mas agora não.
“Tenho uma boa e uma má noticia”- disse me a Rita
“Primeiro a Boa, minha querida”- e nisto, algo do lado dela apita.
“A boa é que estou mais perto, vim para a Invicta”
A seguir disse-me que veio de urgência para o IPO, e nisto cai a chamada maldita.
Pedi o carro à minha mãe, e só parei no S.João, corri para o IPO sem saber se a via ou não
Ao chegar lá, dirigi-me logo à senhora enfermeira no Balcão.
perguntei onde era o quarto da Rita Malvã,
Expliquei que era o namorado, e nisto encontro a irmã.
Ao ver-me, chorou como uma perdida,
Abracei-a e perguntei se podia ver a nossa menina.
Ela informou-me que ia ter de esperar, estava com risco de vida.
Juntei as peças todas, e entrei pelo corredor, queria vê-la, queria ver a minha pequenina!
Os seguranças mandaram-me ao chão, e só me largaram quando me viram,
Com o olhar distante, ao olhar para o fundo, onde o apito que ouvira na maldita chamada,
Se intensificou na sala, onde não precisei de ver o nome, era do quarto da minha amada!
Enquanto me largavam os seguranças, 3 pessoas de bata, para o quarto dela corriam.
E quando vejo a maca corri, e aí já não me impediram,
Entubada e branca como cal, peguei-lhe pela mão,
Ela olhava-me, enquanto lhe dizia - "Não fales!"e ela dava-me um apertão
Tive de largar a mão, com relutância mas porque me pediram
E eu percebi, tinha de ser, para eles poderem tentar alguma coisa,
Infelizmente não passou muito tempo, estava eu com a irmã no corredor.
Nada conseguiram fazer, não tinham chegado a tempo, já só conseguiam com que não tivesse dor.
A irmã desmaiou a ouvir tal noticia, eu deixei estar com a enfermeira, e esmurrei alguma coisa.
“Posso vê-la?”- foi a minha primeira pergunta, com sangue a escorrer pela mão
“Aguarde um pouco, precisa de bata, touca e para a boca uma protecção”.
Compreendi e em 2 minutos estava a entrar, mal a vi contive-me para não chorar.
Baixinho, e ao ouvido, comecei por lhe dizer, para não tentar falar.
Beijei-lhe a testa, o rosto e as mãos,
Enquanto ela soltava uma lágrima de dor,
toquei-lhe os lábios, e pousou o rosto na minha mão.
Admirávamos-nos atentamente, comovidos, com amor.
E não falando, antes de me despedir, beijoa nos lábios com cuidado,
e dei vez ao pai e mãe que tinham agora chegado.
Foram horas difíceis, sem saber quando seria a hora,
Da última despedida - o que faria eu agora?
O pai dela sentou-se à minha beira, era homem do campo.
Mãos duras, cara queimada, ficou em silêncio, com a lágrima no canto.
Ouvia-se unicamente o choro da mãe, e da irmã da Rita.
E nisto diz-me o pai- “Ela mesmo assim, está muito bonita…”
Percebi que era a maneira de ele contornar a dor do momento,
Mais vale lembrar se assim da filha, para atenuar o sofrimento.
Contei-lhe tudo, desde como nos conhecemos, e como foi o destino
Que um ao outro nos deu, o mesmo maldito e triste, momento repentino.
Que nos afastava e obrigou-nos a despedir-mos de repente.
Ninguém quis saber o que era, pois não havia mais nada a fazer.
Era estar com ela até o destino assim o quiser.
Estávamos todos lá, quando nos deixou calmamente.
Até a equipa médica que a tratou cuidadosamente.
Chegado o momento, despedimos-nos todos dela,
Sem ninguém usar a voz, foi tão serena e bela,
Que a tristeza deu lugar a paz, repentinamente.
Ainda hoje trago um foto dela na minha carteira…
Não me casei, nem faço intenções de arranjar outra parceira,
pois já me “dei”, e estou sempre com a Rita
E vivo sem rancor, esta vida maldita!
Levou o meu amor, que nunca foi facilitado,
Mas por ela, não me posso sentir revoltado.
Recordo com saudade o que partilhamos, o que foi, por um ao outro dito,
Evitando injuriar este nosso Destino Maldito…
" O Destino é algo estranho:
Dá-nos o que pedimos, quando menos esperamos,
Como de seguida nos-lo retira,
Quando menos preparados estamos!"