O tema das claques sempre foi controverso no mundo do futebol. Com uma contribuição contagiante no apoio á equipa, irredutíveis e sempre presentes no incentivo os nossos atletas, por vezes um espetáculo dentro do próprio espetáculo, as claques tornaram-se uma presença indissociável do futebol moderno. Por outro lado, o fenómeno ultra, tantas vezes associado a violência e ao submundo do crime contribuiu para dar ás claques organizadas um epíteto de desordeiros e radicalismo que, ocasionalmente, fere os próprios valores do clube que defendem.
Com o decorrer dos anos, no entanto, as claques também adquiriram outra função cuja importância não foi devidamente destacada: tornaram-se o barómetro do sentimento reinante nos adeptos e associados do clube. Sentimentos de intensa alegria ou de crescente insatisfação na massa adepta encontravam nas claques o eco e caixa de ressonância que rapidamente transmitia aos responsáveis directivos do momento o pulsar do Sportinguismo. Mais do que as assembleias gerais do clube, as claques reflectiam o estado da nação Sportinguista, sendo igualmente impulsionadores de mudança, quando esta se afigurava inevitável.
Contudo, os últimos anos do Sporting, conturbados e repletos de eventos que nada beneficiaram o clube, também trouxeram uma mudança substantiva no comportamento das claques ou, pelo menos, da liderança das mesmas. A Juve Leo (e não só) institucionalizou-se! As últimas direcções do clube, percebendo a capacidade influenciadora e interventiva das claques do Sporting, trataram de eliminar essa componente instável dos seus mandatos. Os líderes e muitos dos membros das claques organizadas passaram a ser parte integrante dos movimentos de apoio às sucessivas direcções do Sporting, comprometendo a sua independência e integridade por um punhado de euros. Progressivamente, as claques do Sporting deixaram de ter como prioridade absoluta apoiar o clube para passarem a ser fundamentalmente apoiantes de Filipe Soares Franco, José Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes. Ultimamente, parecem ter também funções intimidatorias com potenciais contestatários e de segurança pessoal do presidente, denegrindo ainda mais os ideais que representam.
Sendo que algumas das actividades recentes das claques são passíveis de crítica, nunca deixaram, no entanto, de apoiar a equipa principal e de incentivar os jogadores para dignificarem a camisola verde e branca. Pelo menos, até agora. Recentemente, a Juventude Leonina (ou a sua liderança) decidiu suspender o apoio à equipa profissional do Sporting, deixando de efectuar a única função que justifica a sua existência. Alegaram para tal que os jogadores, pelas suas constantes más prestações, não merecem o incentivo da claque. Colocam desta forma o ónus da crise actual nos atletas e na(s) equipa(s) técnica(s). Estão também, obviamente, a fazer (mais) um favor à actual direcção do clube, desviando as atenções dos verdadeiros responsáveis pela calamidade actual.
Tudo pode ser questionado e discutido, menos o apoio que a equipa do Sporting merece durante os 90 minutos. Após o jogo, todos os apupos e incentivos são justificados, mas durante a partida a obrigação do verdadeiro Sportinguista é de apoiar de forma incondicional os nossos atletas. A Juve Leo quebrou essa regra sagrada, tornando-se num óbvio foco de instabilidade, muito maior que qualquer crítica na imprensa, opinião de blog ou desabafo no fórum. Esta ausência de apoio à equipa vai resolver o quê afinal? Se há protesto sem sentido e sem utilidade, este é o maior deles todos.
Esta ausência no estádio, este silêncio comprometido nada mais faz do que pôr em questão a razão de ser da existência da própria Juve Leo assim como comprometer de forma definitiva a claque com a actual direcção do clube. Cabe aos elementos que não se revêem nestas atitudes, neste uso dos elementos como “braço armado de Godinho Lopes”, neste prostituir constante do ideal de servir o Sporting, cabe a esses Sportinguistas salvar o que resta de dignidade na Juventude Leonina. Também nesses actos se pode inverter o caminho para o abismo que o clube está a percorrer.