Crónica em http://www.sersporting.org/idealsporting/?p=922:
[b]O novo Paulo Bento[/b]Francisco Santos Ferro, 21 de Abril de 2010 0:33
A grande dúvida que me tem assistido nas últimas 24 horas é de tentar perceber a razão da contratação do novo treinador para a equipa de futebol profissional.
Paulo Sérgio não foi escolhido por ser um conhecedor do campeonato ou do futebol Português, pois haveria certamente outros candidatos bem mais experientes nesse ponto.Não foi também escolhido por ser uma grande promessa. É-lhe reconhecido um bom (e não um grande, muito bom ou excelente) trabalho pelos Clubes de 2º e 1º Ligas por onde passou – Olhanense, Santa Clara, Beira-Mar, Paços de Ferreira e V. Guimarães, mas sempre sem entusiasmar pelos resultados ou exibições.
Não tem um grande currículo, pois assumiu as funções de treinador principal há cerca de sete anos atrás, e com o percurso acima referido.
Por último, não é um treinador barato. A Sporting SAD pagou 600.000 Euros pela contratação deste treinador, valor acima (!) da cláusula de rescisão do treinador, cifrada em 500.000 Euros. Porque razão foi pago um valor adicional de 20% (não deve ser o IVA…) ao valor necessário para a contratação, desconfio que não o saberemos.
Ora se Paulo Sérgio não foi um treinador barato, não tem grande currículo, não é muito experiente, e não é uma grande promessa, então porque razão foi este senhor escolhido para treinar o centenário Sporting Clube de Portugal?
Na minha opinião, a resposta a esta questão é a procura da reedição da era Paulo Bento.
Muito mais do que partilhar curiosamente o nome com o antigo treinador, Paulo Sérgio Bento Brito tem características semelhantes àquele que (quer se tenha gostado ou não) marcou uma era no Sporting.
É conhecido por ser disciplinador, fazer-se respeitar, as suas equipas praticam um futebol também disciplinado, compacto, de boa concentração defensiva. Tal como o original, as equipas deste Paulo Bento também não jogam um futebol atractivo, antes privilegiam a eficácia.
É minha convicção que Paulo Sérgio Bento foi escolhido para reeditar a primeira era Paulo Bento. Esta foi uma era marcada pelos segundos lugares e por vitórias em taças, por um futebol dormente, que beneficiou da travessia do deserto encarnada para se auto-projectar perante os sócios, e que configurava a situação ideal para os dirigentes do Clube: sem exigir reforços caros, Paulo Bento ia dando conta do recado, arrecadando umas taças e colocando a equipa sempre à frente do grande rival, situação suficientemente agradável para a maioria da massa adepta e associativa.
Não vejo outra razão para a compra de Paulo Sérgio Bento.
Para ser barato, ficávamos com o actual treinador, que beneficiaria de conhecer o actual plantel.
Uma jovem promessa, pelo menos para mim, também não o é especialmente. Muito mais promessas são, por exemplo, Domingos ou André Villas-Boas (continuo a apostar que estarão os dois no Porto e no Braga, só não sabendo qual fica com qual, embora aposte mais na continuidade de Domingos…).
Se a experiência não foi o factor de decisão, o baixo custo e o elevado potencial (na minha óptica) também não, então só posso ficar com a ideia de que o treinador foi escolhido pelo perfil Paulo Bento.
Quais as consequências a curto prazo da escolha de Paulo Sérgio?
Pela amostra do dia que passou, a aceitação geral foi negativa, pelo que a margem de manobra do treinador será muito reduzida. É extremamente negativo um treinador partir para um contrato de dois anos com uma margem de manobra reduzida, pelo que os primeiros meses/jogos serão fundamentais para o sucesso a médio prazo de Paulo Sérgio no comando da equipa.
Em segundo lugar, não sendo uma escolha que entusiasme, certamente as vendas de gameboxes não irão disparar (já este ano, certamente por vergonha, não foi revelado a quantidade de gameboxes vendidas – falou-se em 24.000, muito longe do recorde de 33.000 de há três épocas), o que se irá reflectir numa diminuição cada vez maior das assistências em Alvalade.
Pelo acima exposto se depreende que não concordo mesmo nada com a escolha do treinador. Os dirigentes do nosso Clube esquecem-se, ou pretendem que os sócios e adeptos se esqueçam, que o nosso Clube é o Sporting Clube de Portugal, não é o Guimarães, o Belenenses ou o Boavista. Infelizmente é algo que vem acontecendo, de há vários anos a esta parte, com os benfiquistas Fernando Santos, José Peseiro, Paulo Bento e Paulo Sérgio, e o portista Carlos Carvalhal.
Será que se lembram ainda de um presidente do Sporting contratar o treinador bi-campeão da Holanda e ex-seleccionador inglês? É verdade que cometeu um (assumido) erro ao substitui-lo a meio da época, mas quando o fez, contratou um treinador que tinha sido campeão do mundo de sub-20.
Esta estratégia deliberada da actual linha directiva de nos querer transformar num clube de segunda, ignorando a história centenária do Sporting Clube de Portugal, afastando cada vez mais sócios da vida activa do Clube, perdendo cada vez mais adeptos entre os mais novos, tem um objectivo claro: o adormecimento da massa associativa de modo a perpetuar a sua permanência no poder, onde podem a seu belo prazer terminar o seu “projecto” para o SCP.
Não seria de admirar, daqui a uns meses, a ocorrência de (mais) uma assembleia-geral do Clube (não esquecer o último adiamento da reestruturação financeira), onde seria pedido aos sócios mais um voto de confiança e a aprovação de mais medidas de venda de património ou participações sociais com vista à libertação de meios financeiros rumo a uma equipa de futebol mais competitiva, pois “sem orçamento para mais” não será possível “lutar com as mesmas armas” com os nossos rivais (quais rivais, os rivais históricos benfica e porto, ou os actuais rivais guimarães, nacional e braga?).
Se tivéssemos um treinador capaz de transformar o actual grupo de jogadores numa equipa competitiva e a obter resultados à altura da grandeza do Sporting, esse argumento já não poderia ser usado como chantagem com os sócios para se aprovarem esse tipo de medidas.
Por último, e para que fique claro, nada tenho ou me move contra o treinador Paulo Sérgio. É meu desejo profundo que ele tenha sucesso pois o seu sucesso será o do Sporting, e acima de tudo, que ele me surpreenda e demonstre que para fazer omoletes não é necessário ovos do campo, também se fazem com ovos de aviário, que até são mais baratos e nunca vêm estragados.
Uma grande equipa não precisa de estrelas, uma grande equipa precisa acima de tudo de uma grande estrutura e de um grande treinador. Um grupo de grandes jogadores com um treinador mediano nunca será uma grande equipa, enquanto que um grupo de bons jogadores com um grande treinador pode ser a melhor equipa do mundo.
Saudações Leoninas.