Impatriotismo-Incompetência-Ignorância: os 3 i's do Acordo Ortográfico

O (des)Acordo Ortográfico chegou a Lisboa

O autor, Carlos Fernandes, António Emiliano e Carlos Barroso

No dia 10 de Setembro, o (des)Acordo Ortográfico voltou a estar na berlinda com mais uma apresentação do livro “Demanda, Deriva, Desastre – os três dês do Acordo Ortográfico”, de Francisco Miguel Valada. Desta vez foi no auditório da Fundação Mário Soares, em Lisboa, e a dissertação acerca do assunto foi da responsabilidade do Professor Doutor António Emiliano (Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas), que esteve acompanhado pelo autor, pelo Secretário-Geral da Fundação Mário Soares, Dr. Carlos Barroso, e pelo representante da Textiverso, Carlos Fernandes.

Basicamente, António Emiliano tem sobre a matéria uma opinião muito clara: «O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 é um desastre, produto de inépcia científica e de indigência intelectual. Basta lê-lo atentamente. Não assenta em nenhum consenso alargado, não resulta do trabalho de especialistas competentes, contém imprecisões, erros e inconsistências de toda a ordem, não tem base científica sólida e vem minar, pela introdução generalizada e irrestrita de facultatividades “ortográficas”, a própria noção de ortografia.» Isto mesmo expressou para os ouvintes que, não sendo uma multidão, estiveram interessados e atentos. Na plateia estava, designadamente, a ex-Ministra da Cultura, Professora Isabel Pires de Lima.

Com um humor corrosivo, aliás bem contido, Emiliano diria ainda: «Devo também verbalizar o absurdo que vejo em situações como esta que nos traz hoje aqui: o absurdo de ter de se mostrar o desastre que é o Acordo Ortográfico, o absurdo de ter de se escrever artigos e livros sobre o desastre, em suma, o absurdo de se ter de “explicar o inexplicável”.»

Mas era um livro que estava em apreço, e sobre ele o académico diria sem rebuço: «Quanto ao livro de Francisco Valada, e para fazer já uma apreciação global de tipo “académico”, cumpre-me dizer que me parece um livro bem escrito, bem construído, bem articulado e bem argumentado. Os objectivos do Autor são claros e o livro caracteriza-se por uma concentração implacável nesses objectivos que, sucintamente, respeitam à análise e contestação da “base teórica” do Acordo; é uma característica louvável que revela honestidade intelectual. Estabelecidos os objectivos (de âmbito linguístico) perante os quais o Autor se sente competente e idóneo (atributos que o seu texto parece corroborar), deles não há tergiversação para áreas laterais.»

E destacou dele quatro tópicos gerais:

[ul][li]«1. o problema da sobreposição da emoção à razão na discussão do Acordo Ortográfico;[/li]

[li]«2. o problema (conexo ao primeiro) da substituição da Ciência pela Retórica e pela Política na elaboração e na promoção do Acordo Ortográfico;[/li]

[li]«3. a impossibilidade/inexequibilidade do Acordo Ortográfico;[/li]

[li]«4. a fragilidade científica do Acordo Ortográfico (…).»[/li][/ul]

Brincando com os três dês do título do livro, António Emiliano concluiria:

«Os incontornáveis três i’s do Acordo Ortográfico e do acordismo são, portanto:

 [b]impatriotismo – o Acordo não acautela, pelo contrário, o Interesse Nacional e põe em causa a estabilidade ortográfica e a qualidade do ensino da língua em Portugal, aspectos importantes para o nosso desenvolvimento e progresso;[/b]

 [b]incompetência – [u]quem fez o Acordo demonstrou não dominar adequadamente conceitos como ortografia, grafema, língua escrita, língua portuguesa, norma linguística, entre outros, etc.;[/u][/b]

 [b]‘ignorância’ – os autores do Acordo não tinham qualificações mínimas em matérias fundamentais como Literacia, Grafética, Grafemática, Psicolinguística, Psicologia, Didáctica, etc.; [u]à ignorância dos acordistas (autores e promotores) soma-se a ignorância dos decisores que levianamente ou desinformadamente embarcaram nesta aventura e, logo, a ignorância geral do público a quem nunca se explicou verdadeiramente o que esta reforma ortográfica implica e acarreta.[/u]»[/b]

Seguir-se-ia uma pequena dissertação do autor, Francisco Valada, que reiterou estas considerações e deu alguns exemplos concretos. A plateia entraria depois no debate com intervenções importantes, e, mesmo depois de a sessão terminar, a conversa manteve-se na sala e prolongou-se na rua. Pano para mangas, pois.

Ver intervenções do Autor em:

http://www.ciberduvidas.com/controversias.php?rid=2158
http://www.ciberduvidas.com/index.php

Ou ler:

  • “Os ii do Acordo ortográfico, ponto por ponto - As razões da ortografia são linguísticas, não devendo estas ser ofuscadas por luzes que do rigor há muito se afastaram”. In jornal “Público” n.º 7217, de 07-01-2010, p. 31
  • “O Desacordo Ortográfico e a confusão vocabular”. In “Jornal de Leiria” n.º 1331, de 14-01-2010, p. 18.
  • “O Acordo Ortográfico, o “excludente” e o ornitorrinco - Nem a Einstein foi dado o impróprio privilégio de ver teorias não provadas serem directamente vertidas em texto legislativo”. In jornal “Público” n.º 7228, de 18-01-2010, p. 29.

Ou, por todos:

http://ipleiria.academia.edu/

in http://www.textiverso.com/index.php?option=com_content&view=article&id=132:o-desacordo-ortografico-chegou-a-lisboa&catid=1:noticias&Itemid=55

ver também

http://www2.fcsh.unl.pt/docentes/aemiliano/documentos_diversos/EMILIANO-FMS20090910.pdf

Votei 2. Estive indeciso entre a 1 e a 2, mas como tenho a consciência tranquila, e não me compete lutar contra moínhos de vento, vou esperar que a sociedade civil se mobilize (ou não) e então estarei sempre do lado da raíz etimológica e linguística (nas vertentes escrita e oralidade) do Português original. Isso não quer dizer que a língua seja estanque, mas não faz qualquer sentido um acordo ortográfico que altere abrupta e significativamente o carácter do Português que se aprende ao longo da infância, transmitido de pais para filhos, e que estes aprenderam com os avós, que se ensina nas escolas, que se fala em todo o lado, e que vem nos livros.

Portanto, vou tomar toda essa história de acordo ortográfico imposto (mais um?) como mais um absurdo que um qualquer borra-botas se lembrou de implantar, como se fosse dono da língua, da cultura e da verdade.

Principais alterações no português europeu:

* Supressão de c e p quando não pronunciados (ex.: accionar > acionar)
* Queda do acento no ditongo ói da sílaba tónica de palavras graves (ex.: heróico > heroico).
* Queda do acento agudo ou circunflexo em homógrafos de palavras gramaticais (ex.: pára [verbo parar] > para; pêlos > pelos).
* Queda do acento circunflexo nas formas verbais terminadas em -êem (ex.: lêem > leem).
* Alterações no uso do hífen (ex.: auto-estrada > autoestrada; há-de > há de).

São apenas algumas das vergonhosas alterações à Língua Portuguesa :naughty:

Custa-me principalmente perder acentos, eu que até acho que deviamos ter mais um ( ¨ )…

É triste que alterem uma das coisas que nós Portugueses temos de mais bonito… A Língua Portuguesa…
:cartao: :cartao: :cartao:

:arrow: :arrow: :arrow:
É isto…

O que me levou a escrever este tópico foi o embaraçoso episódio do “Igitu” na RTP:

http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Revolta-egipcia-suscita-duvida-de-ortografia.rtp&headline=20&visual=9&article=411750&tm=7

Não sei quem é este artolas pseudo-intelectual que aparece todo contente no vídeo mas nunca sequer em tempo algum pronunciei Ê-GI-TO. Toda a vida pronunciei E-GIP-TO.

Também não sei o que fazer, isto é mau demais para ser verdade. Por isso, senhores ESPETADORES… dêem-me sugestões!!! :lol:

Uma autentica palhaçada :arrow:

Concordo com o post do Viridis (até que enfim :mrgreen:), porque também acho este acordo inexplicável. O MRG já referiu várias situações, eu queria só deixar aqui um exemplo de como as coisas mudaram para pior:

  • Egipto = Egito
  • egípcios = egípcios

Portanto retira-se a letra na primeira palavra e não na segunda, o que não faz sentido nenhum. Está-se a mexer com a própria fonética da língua negativamente, o que vai provocar dificuldades de aprendizagem nas crianças que começam a agora a ler. Não faz sentido.

As línguas são entidades mutáveis, não são estanques e estão em perpétuo movimento. Porém, quando pensamos num acordo pensado por várias pessoas para “revitalizar” a língua, pensamos em algo que irá ajudar a melhorar o português. E não foi isso que aconteceu: a língua perdeu acentos, palavras, a fonética ficou diferente. Mudámos para pior e isso não pode ser aceite.

Recuso-me a utilizar este pseudo Acordo Ortografico. Continuarei a escrever como aprendi.

Eu cá vou continuar a escrever como sempre tenho escrito a minha vida inteira. Era o que faltava…

Não votei. Estava inclinado para a 2, porque vou continuar a escrever como sempre que escrevi, mas sempre. Se não o puder fazer, continuarei a fazê-lo. Discordo e não me parece que tenha necessariamente de aceitar todas as mudanças resultantes deste acordo ortográfico…

:arrow: :arrow:

Ele não faz o mínimo sentido. Uma língua evolui normalmente, não se podem estabelecer estas mudanças. E desde quando é que mudar para ficar parecido com a língua das ex-colónias faz algum sentido? A evolução foi diferente para sítios diferentes desde 1500, é assim e mais nada, não sendo nenhum problema. Acham que os britânicos alguma vez vão dizer movie, taxi ou apartment? NÃO! Até dentro de um próprio país há coisas que se dizem de maneira diferente!! :wall:

E o pior é que o Acordo vai entrar em vigor em 2011/2012, ou seja, vou fazer exame em que se escrever alguma coisa contra o Novo Acordo perco preciosos pontos!

não votei mas estou inclinado para a 1… gostava de fazer alguma coisa, só não sei o quê!

Se eu não estou em erro, a nivel de exames quem não cumprir com este acordo ortográfico será penalizado na nota…

É isto mesmo que devemos todos fazer.

Então diz-me, como é que um aluno universitário, toma conhecimento de tamanhas e ridículas alterações? Ou vou passar a ter uma cadeira nova para aprender a escrever? coisa que já sei fazer no meu PORTUGUÊS.

:arrow: :arrow: :arrow:

Mete-me uma tremenda impressão ver Egito na televisão :eh: …mas que raio, mudar a nossa lingua de raiz para passar a uma especie de “Portugues-Brasileiro” :wall:

Uma imposição típica de um governo que sabe que ninguém aceita a decisão. Pura manietação.

Fiam-se no receio que as pessoas têm da “penalização”, porque sabem que, como diz o Manuel Moura Santos, “o povo português é muita bem mandado”.

Desobediência Civil. Colectiva. E eles desistem.

Whatever…

Isto ainda toma contornos mais estúpidos porque nós, portugueses, pronunciamos mesmo o dito “c”…

Eu pelo menos digo “facto”, “intelectual”, “Egipto” com todas as letras…

E agora vão-me descontar no exame de português no 12º por escrever como me ensinaram a escrever?

É que a escrita já de certa forma tão “automática” que eu não me vou dar conta se estou a tirar os ditos “c” ou “p”…

Enfim, é por estas e por outras que o país está como está…