Fevereiro de 2020, 19 meses após a destituição de Bruno de Carvalho e continuam-se a multiplicar as narrativas da “herança pesada”, com sondagens encomendadas e artigos nesse sentido dos “notáveis” do clube e/ou apoiantes de cores diversas do actual regime do Sporting Clube de Portugal.
Uma amálgama de chavões e atoardas sem apresentação de factos e dados objectivos, com o único intuito de complemento a uma realidade paralela construída com o intuito de expurgar o incómodo que era o presidente destituído. Era e pelos vistos ainda é, como se torna também evidente que é necessário para alguns, desresponsabilizar a actual direcção do clube por um trabalho medíocre, quer na gestão do futebol, quer na comunicação com os adeptos e sócios, quer no associativismo, quer em princípios basilares como a transparência, rigor e verdade.
Aqui e ali o adepto anónimo, munido das armas das redes sociais e da blogosfera, faz por desmontar esta narrativa, mas tal tem sido manifestamente insuficiente quando o poder da comunicação, via acesso a meios mainstream, está nas mãos de quem interessa que esta narrativa vingue.
Este é mais um exercício, por certo infrutífero, de combate a essa realidade alternativa.
Vou enquadrar os dados ( extraídos dos diferentes Relatórios de Contas cujos links irei colocar ) desde o ano 2011, porque há contextos económicos, financeiros e desportivos que são paradigmáticos relativamente ao que se deve fazer e ao que não deve ser feito, quer em momentos ditos de contracção quer expansionistas. Ou desinvestimento vs investimento. Ou austeridade vs crescimento.
Todo nos lembramos da estratégia de Godinho Lopes. "Forte investimento, “vassouradas”, etc… todos nos lembramos que resultou em mais de 100M de prejuízos em 2 anos, um plantel nas mãos de empresários e fundos e a pior época de sempre. Todos nos lembramos também que em Março de 2013 se vendia van Wolfswinkel para pagar salários ( que não se pagaram ), que a rede de prospecção e formação não recebia, que as dividas se acumulavam e o clube não conseguia cumprir com o seu serviço de dívida.
Ora bem.
Em termos operacionais, essa história explica-se de forma simples.
(Página 13 )
Uma subida de 43% dos Gastos com o Pessoal, para um valor total de 42M, quando os Proveitos Operacionais eram 40M.
No que respeita a contratações e porque a informação se desde 2013 é facilmente localizável face à maior transparência da SAD, anteriormente não o era, vou-me cingir a dados transfermarkt ( que não inclui comissões ):
Com comissões ( vide negócio Elias e outros ), o valor total investido ultrapassou os 40M.
Na época 12/13:
Página 79
Os custos com o pessoal, mantiveram-se perto dos 42M, os proveitos operacionais desceram para 32M.
Contratações e vendas ( novamente, sem comissões )
Resumidamente, os proveitos operacionais, em 2 anos, totalizaram 72M, para um total de custos com o pessoal de 84M, sendo que se gastou 45M em contratações para um total de vendas 21M.
Ou por outra, Receitas Operacionais + vendas = 93M, Custos Operacionais + contratações = 129M ( na verdade, mais de 140M, pós comissões ). Mais coisa, menos coisa, cerca de 70M por época em contratações+ salários, face a RO de 36M por época.
Isto não explica obviamente o buraco de mais de 50M época, que a coisa faz-se após ter divida financeira para cumprir, FSEs, etc…
Bruno de Carvalho foi eleito em Março de 2013 e prepara a época 2013/2014. Ora vejamos como se lida com uma ( factual ) herança pesada, sem contratos NOS e sem 2 mãos cheias de jogadores para vender e na posse da SAD e não de fundos:
( Página 78 )
Página 107
Com uma ressalva importante que dos dados Transfermarkt, além de não incluirem comissões, incluiem operações como a venda de van Wolfswinkel em 13/14 ( por Godinho Lopes ) e venda de Rojo, cujos 20M o Sporting viu zero.
As imagens dos RC acima referem-se aos documentos dos anos 13/14, 14/15 e 15/16.
Portanto uma redução da massa salarial de 42M, para 25M, nas épocas 13/14 e 14/15. Que subiu para 49M na época 15/16.
Com Receitas Operacionais que subiram de 35M ( 2014 ) para 58M ( 2015 ) e 69M ( 2016 ).
Total de contratações nesses 3 anos? Do transfermarkt constam 25M, mas a coisa andou pelos 30M.
Dito de outra forma, o Sporting reduziu os seus gastos médios de 70M ( salários e aquisições ) para 30M, 40M, 60M.
Mas no processo duplicou os seus proveitos operacionais! E desta vez com os seus activos ( após recuperação dos passes ) nas suas mãos!
Agora vamos ver como não se faz. E isto considerando e disse-o na altura, várias vezes, que houve um forte desaproveitamento de recursos internos nas épocas 16/17 e 17/18 e que o plantel era no minimo 15M/ano mais caro do que valia.
Em 2017/2018, último ano de BdC ( que não concluiu o ano contabilístico e não pôde também vender jogadores face ao terramoto Alcochete, era um ano decisivo face aos critérios de acesso à Champions. Só o campeão teria acesso directo, o terceiro ficaria de fora.
Era também o ano em que o rival FC Porto estava sob a alçada da Uefa e o Benfica andou a dormir na forma em termos de investimento no plantel, perdendo a maior parte da defesa titular, para grandes campeonatos.
Página 78
EM 16/17, Custos com Pessoal 63M. 17/18, 73M.
Proveitos Operacionais 80 e 91M, respectivamente ( recordo que a coisa andava entre os 30M, 40M, meia dúzia de anos antes ),
Portanto foram estes os anos dos “all in irresponsáveis”, “onde se gastou num ano o que se devia ter gasto em x anos” e que resultam na herança que tanto atrapalha e condiciona o sr Frederico Varandas.
Ora…
Este é o RC pós Alcochete e rescisões. Com 2 meses de Cintra e a CG e 10 meses de Varandas.
Portanto mesmo com o despedimento de JJ e o seu salário astronómico, as saídas de Patrício, Gelson e William ( 3 pesos pesados em ordenados ), a massa salarial é apenas 5M mais baixa que 17/18 e 5M mais alta do que 16/17!!
Sem Champions League ( RO baixaram de 91M para 75M ) e sem a almofada de 2 mãos cheias de activos com valor!
Responsabilizo aqui o Sr Varandas pelos custos excessivos face às receitas e ao activo da SAD? Não. A não ser pelas opções de mercado ( quer em saídas, quer em entradas, de janeiro 2019, que enfraqueceram a equipa ).
Responsabilizo é pela narrativa falaciosa do sr Varandas e apoiantes ( sportinguistas e não sportinguistas ), pois o seu primeiro ano de mandato, cuja preparação da época esteve a cargo do sr Cintra e amigos, significa também um ano de custos idêntico ao dos tais “anos irresponsáveis” de Bruno de Carvalho, mas com bem menos receitas!
Mas calma.
Que a narrativa da “herança pesada”, quando o sr Varandas bate no peito pelo “melhor ano de sempre” ( após uma época em que não preparou, futebol e modalidades e que nestas em algumas nem mexeu ), não acabou e voltou em força agora, naquele que está a ser um dos piores desempenhos de sempre do futebol do Sporting, cujo plantel enfraquece a olhos vistos.
Página 11
Portanto, meus caros, 20M em salários só no 1º trimestre. Há uma componente não recorrente de indemnizações, mas é seguro dizer que a massa salarial não será longe dos 60M no final do ano ( e para isto, o valor teria que baixar para 13M para cada um dos 3 trimestres ).
60M? A mesma coisa que na época 16/17!
Por outro lado, entre Cintra e Varandas o Sporting gastou perto de 60M em contratações, o que a somar aos 130/140M em salários no final do ano em curso, vai dar cerca de 100M época só nestas 2 rúbricas!
Eu vou repetir-me. 100M/época, que comparam com 30M na época 13/14, 40M época 14/15, 63M em 15/16 e 100-115M das épocas 16/17 e 17/18.
Com receitas em queda ( não há Champions e não há perspectivas de regresso ).
No processo, entre os négocios com os clubes que recolheram os rescisores e vendas, o Sporting fez 200M, só no último ano e meio.
200M!
Gasta-se o mesmo num plantel ao nível dos piores das últimas décadas, do que se gastava com planteis onde constavam Patrício, Dost, William, Gelson, Adrien Silva, Piccini, Coentrão, Mathieu, Coates, Bruno Fernandes, Nani, Montero e por aí fora.
Olhe-se para o plantel actual. Para o rendimento desportivo. Para o valor de mercado. Para a qualidade dos jogadores que o compõem. Para os jogadores que saíram. Para os jogadores emprestados. Para os gastos acima descritos.
E continue-se a bater na tecla da herança, escondendo a incompetência olímpica, a todos os níveis, da actual direcção do Sporting.