Escrevi este texto num blog em 2008(?) sobre o porquê de não se investir no automobilismo português e no Álvaro Parente.
"Atenção que o nosso fenómeno não é assim tão similar ao espanhol. E explico porquê. Quer se queira quer não, o único desporto de massas em Portugal é o futebol, por todas as razões e mais algumas (muitas delas várias pessoas já se encarregaram de dar as razões noutros tópicos). O automobilismo, ainda assim tinha a capacidade de atrair multidões em dois momentos: Rally de Portugal e Grande Prémio de F1. Também se pode incluir o Dakar nesses momentos, embora tenha sido efémero. Ora, o Rally perdeu um pouco a aura que o revestia nos anos 80 e 90 (a quantidade de pessoas que se juntavam nas classificativas de Fafe, Arganil e Sintra, por exemplo criavam um ambiente fantástico). E quanto á F1 desde 1996, que não ouvimos o baralho fantástico de um motor (salvo testes esporádicos). O interesse das novas gerações esvaiu-se. Eu vejo isso por mim. Os meus amigos chamam-me louco por me levantar as 5 ou 6 da manhã para ir ver o GP do Japão ou da China.
O que é que eu quero dizer com isto: Que pode ser um processo mais lento e moroso que o ocorrido em Espanha. Em Espanha antes do fenómeno Alonso, tinhamos no motociclismo Alex Crivillé como campeão mundial apoiando pela Repsol. Antes, embora no ciclismo ( outro desporto que com o passar dos anos tem vindo a perder entusiastas no nosso país), Miguel Indurain tornara-se pentacampeão no Tour de France. Agora nesta modalidade temos o fenómeno Alberto Contador . Ou seja, não é um país exclusivamente virado para o futebol, embora tenha dois dos maiores clubes do Mundo – Barcelona e Real Madrid.
Veja-se também o caso da imprensa, mais concretamente, e para resumir a amostra, do jornal Marca, o maior desportivo espanhol. Embora grande parte das capas sejam sobre temas futebolísticos, não é assim tão raro aparecerem capas sobre os ídolos espanhóis e suas modalidade (Alonso-F1, Contador-Ciclismo, Pau Gasol-NBA). E em Portugal? Lembro-me de 3 capas não-futebol. Todas feitas pelo jornal A Bola: Francis Obikwelu após ganhar a medalha de prata em Atenas’04,Tiago Monteiro antes da estreia em Melbourne”05 e Nélson Évora após ser medalha de ouro em Pequim’08. Diferença abissal!
Centremo-nos agora na mentalidade empresarial nacional. Antes de dar a conhecer a minha visão sobre este assunto, vejo-me obrigado, por uma questão de coerência, a falar do nosso mercado. Qualquer comparação com Espanha é irrealista. No entanto, e este é uma mal que já nos acompanha há séculos, o típico português empresário ( e perdoem-me se há aqui no blog algum) não inova, não arrisca. Considero que somos um país com capacidade tremendas em várias vertentes. Um exemplo: Se somos de facto número 1 nas energias renováveis, porque não apostar na divulgação do nosso produto? O projecto inédito no nosso país com a Nissan, pode ser um ponto de partida, mas não chega. Sendo o nosso mercado residual, porque não divulgar e fomentar algo em que somos bons? Se somos bons na cortiça, que se apoie o esse sector. Se somos bons no fabrico de sapatos que se apoie esse mesmo sector. Se somos bons no turismo que se invista e promova o sector (que dizer do “crime lesa-turismo” que se está a fazer na Linha do Tua? Será que não há ninguém que se oponha ao fecho daquela linha e invista, em parcerias público-privadas ou privadas numa das regiões mais belas do nosso Portugal? Porque não fomentar ainda mais o turismo rural?).
Fazendo a ponte para o caso do Álvaro, penso que estamos perante um caso de inoperância das entidades empresariais portuguesas. E até o Estado, se tivesse um mínimo de visão estratégica, através de uma das suas empresas, poderia aproveitar esta oportunidade para alimentar a ideia:
Portugal–»País do Choque Tecnológico–» País em que quase todas as crianças têm um computador –» Exemplo de renovação do sistema educativo (dado referenciado até pela Administração Obama)–» Energias Renováveis–»Aposta da Nissan–» Divulgação a nível mundial, apostando em várias plataformas, entre as quais a F1, um mercado com milhões ou mesmo milhares de milhões de consumidores–» Alvaro. Isto é apenas um pequeno exemplo de algo que no caso de ser bem trabalhado ( porque, infelizmente não se resume a setas e caracteres) poderia ter um resultado estrondoso.
Concluindo: Não há que estar com rodeios, porque todos nós sabemos que se fosse por qualidade enquanto piloto já o Alvaro estava no grid. É possível criar um fenómeno, que não depende apenas da equipa de management do Álvaro, não só em termos de popularidade, mas também possivelmente ao nível empresarial, gerando receitas, criando empregos."