Faleceu Herberto Hélder

Faleceu Herberto Hélder

O poeta Herberto Helder morreu, aos 84 anos, na segunda-feira em Cascais. O poeta que nasceu em 1930 no Funchal morreu em casa e não foi possível ainda apurar a causa da morte. Era considerado o maior poeta português da segunda metade do século XX.
In: Público

Escusado será dizer que foi uma perda enorme, de uma grande personalidade portuguesa. Que descanse em paz :-\

[center][center]Sobre um Poema

[i]Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,

  • a hora teatral da posse.
    E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

  • Em baixo o instrumento perplexo ignora
    a espinha do mistério.
  • E o poema faz-se contra o tempo e a carne. [/i]
    [/center]

Paz à sua alma…

RIP :cry:

RIP

SL

RIP

RIP

Que descanse em paz. :frowning:

Que descanse em Paz.

Pai dum grande leão, Daniel Oliveira. Não fazia a mínima ideia da gestao que tinha feito da sua exposição mediática e repeito-o (admiro-o) por isso.

Que descanse em paz.

Possivelmente maior que Pessoa.

Mas, enfim, morreu, e isso também me tolda o julgamento.

Ahhhh, um de abril…

Ou então era do adiantado da hora, presumindo que não madrugou. :slight_smile:

Não madrugo.

Fez da poesia uma linguagem verdadeiramente diferente da quotidiana, única, original, assombrosa. E, sobretudo, não teve correspondências ridículas ou coisas sem valor a sair (de qualquer forma, lá está… só morreu agora).

É certo, também, que sem Pessoa não teria havido Herberto. Mas que este último levou a linguagem a um limite maior, que fez da poesia uma língua em si mesma, isso parece-me claro.

Pessoa é Deus. Não devia ser comparado com um ser humano. É desleal.

Olha que, com tudo o que tem saído, essa informação já não cola com a realidade. Aliás, desde as famosas cartas (que só são boas para citar pelo Facebook), que isso para mim é ponto assente.

Mesmo a “Mensagem”, que é boa, não é nada divina.

A poesia e o Livro do Desassossego, sim, justificam o reconhecimento na sua totalidade. Mais a Poesia que o Livro do Dessassossego, diga-se também em verdade.

A poesia do Herberto parece ela mesma divina (vinda de uma língua, com um ritmo, uma “música”, um encadeamento original que parece não pertencer ao português). E é absolutamente verdadeira (dentro do que é a verdade na poesia), viva e pessoal.

Faz-me recordar o que o Jorge de Sena apontou de poesia de testemunho vs poesia de fingimento. Sendo que o testemunho no Herberto não é confessionalismo, pieguice, ou lugares comuns; é uma língua nova numa língua já “gasta”, que inclui e exclui. Arrebata.

Talvez, na realidade, o grande mérito do Herberto seja precisamente fugir ao Pessoa, que foi figura tutelar de muita poesia portuguesa que se lhe seguiu, soando sempre a cópia sem grande sentido (e de alguns que o fizeram eu até reconheço o valor).

Fundar um caminho novo, absolutamente pessoal, marginal do realismo e do surrealismo, da metafísica (a tal “vida sonhada” do Pessoa) e da “vida vivida”). Marginal disso tudo e mistura disso tudo.

A poesia do Pessoa é brilhante, e serviu de muito; mas dificilmente assombra como a do Herberto, comove. Onde Pessoa foge à repetição com os heterónimos, e com os diferentes cânones, duma forma diga-se genial para a época, o Herberto num momento posterior, já esgotado das fórmulas camonianas e pessoanas, consegue ainda assim fugir-lhe com a língua: em si e por si.

De qualquer forma, estamos seguramente a falar dos únicos poetas portugueses geniais do Século XX, e o que não falta no Século XX português é bons poetas.

Gozem, gozem.

Herberto fez caminhar o poema depois de Pessoa. É grande.

Querem ver que é outro a ir para o Panteão… :whistle:

Grande obra literária, da qual viveu e lucrou, ponto.

Que comentário tão limitado. Herberto foi um poeta genial.

Plenamente de acordo.