Faleceu Herberto Hélder

Tens que ler mais sobre o que foi a sua vida e como foi.

Herberto Helder jamais escreveria para o lucro, jamais. Foi um enorme poeta, a poesia com ele ganhava outro contorno, era música para qualquer bom ouvido. A poesia de Herberto Helder tem vida, fala por ela própria, é distorcida e acutilante.

A literatura, a cultura, tudo ficou mais pobre. Obviamente que não vai para o Panteão. Nem tão pouco qualquer homenagem. Detestaria essa exposição. O Daniel Oliveira deixou isso bem claro, mas nem era preciso referir, qualquer pessoa que o conhecia minimamente, sabe que detestava a exposição pública.

Sim, esse é o problema de julgar os outros pelos nossos padrões morais, pelo sistema financeiro com que nos identificamos e pelos objectivos de vida que temos e achamos que os outros também têm. Não os compreendemos.

Admito que possa levar com críticas dessas depois da forma como saiu o último livro (mudança de editora, poemas lidos, promoção, etc), mas o resto da vida desmente pelo menos que o HH tenha querido ir pelo caminho mais fácil de auto-promoção.

O Herberto para mim não é melhor nem pior por esse não aburguesamento, pela recusa do Prémio Pessoa, etc. Torna-se apenas coerente com o que a sua poesia sempre foi e sempre teve. Mas ela tem valor por si própria.

Não é Deus nenhum nem símbolo nenhum do País (aliás, nenhum artista é na realidade símbolo algum de um País inteiro), é um Homem e um poeta de invulgar originalidade e qualidade.

A música, a música. Uma língua original que parece fugir assombrosamente ao português e ao realismo. Aqueles versos “Como diria o outro / A minha vida longa por muito pouco” têm essa música, por exemplo.

Ficam os livros, pelo menos até nos esquecermos deles.

Eu disse grande Obra literária.

Já é uma Homenagem.

Eu acho que em Portugal se deveria Homenagear mais os anónimos , que
pelo seu trabalho fizeram tanto ou mais pelo País.

Herberto Helder nunca quiz homenagem nenhuma, não faz sentido tê-la depois de morto. Fica a obra dele, que tem o valor que cada um atribui. Para uns muito valor, para outros, um poeta anónimo sem qualquer relevância.