[b]Derrota de Munique coloca Sporting à beira da crise[/b]
12.03.2009, Filipe Escobar de Lima
A O Sporting está em convulsão na ressaca da humilhação europeia com o Bayern. Fala-se em desgosto, vergonha e apuramento de responsabilidades. E se ao descalabro de Munique se somar um eventual percalço frente ao Rio Ave, sábado, para a Liga, o caminho ficará livre para que o clube de Alvalade caia mesmo numa crise profunda.
“Todos nós jogadores estamos com vergonha”, disse o “capitão” Moutinho no final do jogo, ainda em Munique. Um acto de contrição que não evitou que, em Lisboa, alguns adeptos fossem esperar a equipa ao aeroporto e junto ao Estádio de Alvalade, não poupando os jogadores enquanto o autocarro da equipa fugia aos insultos.
Ribeiro Teles, vice-presidente do clube e da SAD, também pediu desculpa aos simpatizantes e disse que a equipa não tinha sido digna da história do Sporting: “Os adeptos não mereciam o que aconteceu”. Ribeiro Teles confessou ainda que não foram pedidas explicações a Paulo Bento pelo descalabro, mas deu a garantia de que seriam encontrados os responsáveis. “Os adeptos têm razão para estarem revoltados e sabem que haverá alguém a assumir as responsabilidades”, afirmou.
Os números exagerados das goleadas (0-5 em Alvalade e 7-1 em Munique) colocam a eliminatória como as piores do futebol português (12-1 no conjunto das duas mãos). Para Dias da Cunha, agora é altura de contenção. “É um desgosto que todos temos, mas devemos ser contidos e não é altura de começar a disparatar”, referiu o último presidente campeão pelo Sporting, em 2002. O ex-líder lembrou ainda que o clube “está a caminho de um importante processo eleitoral” e que também por isso “não se devem agravar as coisas”.
Eleições antecipadas?
Pela primeira vez, o cenário de eleições antecipadas foi colocado, pelo presidente da Assembleia Geral do Sporting. “Não defendo que as eleições tenham que ser antecipadas, mas é claro que essa hipótese tem que estar em aberto. O conselho directivo irá reunir-se para a semana, e naturalmente que as pessoas magoadas, tristes, mas com a cabeça fria vão ter que decidir como dirigir este processo eleitoral”, contou Rogério Alves à TSF.
Um dos nomes falados como futuro candidato às próximas eleições, em Junho, Abrantes Mendes, disse ter ficado incrédulo com a goleada de Munique. “Este resultado deixou-me em estado de choque. Penso que as coisas não estão bem no interior da equipa e entendo que os dirigentes do clube devem ponderar e tomar as medidas apropriadas para se ultrapassar a situação”, disse. E acrescentou: “O problema é mais profundo, uma vez que o Sporting padece de uma deficiente organização, quer em termos estruturais, quer em termos do sector futebol”.
Mendes apontou o dedo à falta de ideias para o futebol do clube. “Privilegia-se a SAD em detrimento do clube e deixa-se o futebol entregue a quem não tem o mínimo de capacidade para entender as idiossincrasias do desporto-rei”, concluiu.
Também Sousa Cintra se mostrou destroçado. “Foi uma desilusão muito grande, mas também não foi só o Sporting que ficou mal na fotografia, foi também o futebol português”, analisou o antigo presidente leonino.
Já para Octávio Machado, a instabilidade no clube pode ter estado na origem do descalabro. O antigo jogador e técnico sportinguista é da opinião que Paulo Bento “está muito isolado” num clube que “não sabe gerir”. “As palavras do Miguel Veloso na véspera de um jogo tão importante são um péssimo timing. O Sporting fragiliza-se a si próprio há anos”, conta. “Os conflitos entre o técnico e os jogadores são culpa de quem dirige o clube”, diz.