Estado Islâmico e as origens do Islamismo Radical

O Homem tem cor, tem religião (ou não), tem nação, tem sentido ético e moral…

… O CEO da Lockheed Martin pode ir à missa todos os dias e no entanto os produtos que a sua empresa vende mata milhões de pessoas em guerras. Business is business…

… O Califa lá do Estado Islâmico degola infiéis mas até lhes vende petróleo… Business is business.

O que existe aqui em comum é a total amoralidade de fazer negócios que a sabedoria popular há muito conhece com o famoso “amigos amigos, negócios à parte”!

Estado islâmico ameaça «destronar» Putin pelo apoio russo a Assad

O procurador-geral russo pediu hoje restrições no acesso a um vídeo difundido no YouTube pelo Estado islâmico em que ameaça “destronar” Vladimir Putin e iniciar uma “guerra de libertação” no Cáucaso russo.

Em comunicado, o procurador precisa que foi hoje enviado à Agência russa de vigilância dos ‘media’ (Roskomnadzor) um pedido de “restrição do acesso” a este vídeo que contém “ameaças de atos terroristas e o desencadeamento de uma guerra no Cáucaso do norte”, para além de denunciar o apoio de Moscovo ao regime de Damasco.

Segundo a mesma fonte, também poderá igualmente ser aberto um inquérito por ameaça de ato terrorista e por apelos públicos à violação da integridade territorial da Rússia.

Os ‘jihadistas’ do Estado islâmico difundiram terça-feira no YouTube um vídeo no qual surge um avião de guerra fornecido, segundo afirmam, pela Rússia ao regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad.

“É uma mensagem para ti, Vladimir Putin, estes aviões que enviaste a Bashar vamos despachá-los de volta, se Deus quiser”, afirma no vídeo um dos ‘jihadistas’ que se exprime em árabe e com legendas em russo.

A Rússia é o principal aliado do regime de Damasco, ao qual fornece armamento.

“E libertaremos a Chechénia e todo o Cáucaso, se Deus quiser. O teu trono (…) está ameaçado e vai cair quando chegarmos a tua casa”, acrescenta o militante do EI.

Após a primeira guerra da Chechénia (1994-96), ainda na presidência de Boris Ieltsin, a rebelião conheceu uma progressiva islamização e ultrapassou as fronteiras desta pequena república autónoma da Federação russa, para se tornar a partir de meados da década de 2000 num movimento islamita armado ativo em todo o Cáucaso do norte.

O EI, que proclamou um califado numa vasta região conquistada nos últimos meses na Síria e Iraque, reivindicou a recente decapitação de dois jornalistas norte-americanos, James Foley e Steven Sotloff.

O grupo também ameaçou matar um terceiro refém, um britânico identificado como David Cawthorne Haines.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=727328

O carácter que eu vejo nos humanos em geral (os Europeus são os que eu conheço melhor) é que estarão dispostos a aliar-se ao inimigo para liquidar o irmão.

Nem vou mais longe. A tomada da Península Ibérica em 711 é realizada durante uma guerra civil entre Rodrigo e Agilla II pelo trono Visigodo. Houve uns que se aliaram ao inimigo:

[i]La batalla definitiva comenzó el 22 de julio de 711. Se cree que el cuerpo de ejército de Don Rodrigo era de 14.000 entre infantería y caballería, mientras que el cuerpo de ejército musulmán era de 7000 hombres de a pie más 5000 que había enviado Musa como refuerzo. Un total de 12.000 hombres formaba la infantería musulmana. Su caballería no había podido embarcar.

Al mando de la columna central del ejército visigodo se hallaba Don Rodrigo, mientras que las alas eran dirigidas por los hijos del Rey Vitiza, Sisberto el ala derecha y Abba el ala izquierda. Cuando las tropas de Rodrigo esperaban la carga de la infantería musulmana, vieron como parte de sus alas abandonaban el frente para unirse al bando enemigo. El estupor se apoderó del ejército visigodo y las alas quedaron descolocadas, lo que aprovecharon muy bien las tropas musulmanas para primero aplastar el centro defendido por Don Rodrigo, y luego lo que quedaba de cada ala, por separado.[/i]

Antes quando havia livre acesso público ao Geneall.net, era possível confirmar isto:

Los supervivientes optaron por la mejor solución cual era pactar con los musulmanes caso del clan Witizano o el famoso Dux Tudmir gobernador de la región de Murcia

[…]

[i]Y ENTONCES TODO EL HONOR DE LA ESTIRPE GÓTICA PERECIÓ POR EL PAVOR Y EL HIERRO; sin duda esta frase lapidaria de la crónica Albeldense refleja de forma rotunda lo que realmente sucedió: el exterminio y la asimilación de la casta militar germánica a manos de los invasores norteafricanos muy superiores tanto moral como militarmente.

Hemos de suponer que tal exterminio se produjo pues de una forma prolongada y paulatina en el doble enfrentamiento de guerra civil y contra el enemigo exterior culminando en una absorción mediante matrimonios mixtos (Egilona-Abd al Aziz) y mediante pactos (Tudmir) de los supervivientes. [/i]

Tudo isto vai de encontro ao princípio deste debate no tópico, citando-te a ti e a mim:

A afirmação de que o "Ocidente tem sido sistematicamente aliado de potências inimigas da própria Europa", baseia-se no pressuposto voluntarista de que o Ocidente é alegadamente uma realidade homogénea e intemporal, que deveria, em nome de uma qualquer pureza de princípios, agir uniformemente contra os "inimigos da própria Europa".

O cerne da questão é mesmo este. A Europa é um mosaico bonito com uma história comum, mas é composta por… seres humanos. O animal menos fiável, o mais traiçoeiro.

Acho que o animal humano Europeu em particular tem vistas curtas, muito assoberbado. Apesar de muitos episódios onde a união existiu e foi fundamental.

A Batalha de Viena é talvez o momento mais épico de solidariedade onde se impediu que toda a Europa fosse transformada em Vilayets. Mas talvez aí todos tivessem participado por um medo comum de perderem o poder.

Tem piada essa vossa discussão porque de repente lembrei-me da Guerra Civil Espanhola onde o Franco provavelmente nunca teria conseguido conquistar Madrid sem a ajuda do seu exército colonial composto por Mouros e a quem deu carta branca para, sempre que conquistada alguma povoação ou cidade, poderem pilhar, assassinar espanhois e violar espanholas!! Isto para não falar da Legião Condor e o episódio Guernica!!

Pois é, meu caro amigo Viridis…

Não posso concordar com esse tipo de abordagem histórica sobre o modo como diversos povos, que partilham uma determinada civilização, se relacionam entre si e com as outras civilizações.

Essa espécie de “filosofia determinista da História”, baseia-se em conceitos moralistas e estereotipados (“o animal humano Europeu em particular tem vistas curtas, muito assoberbado”), apresentando o processo histórico como um grande palco teatral, em que o enredo se resume invariavelmente ao duelo maniqueísta entre “bons” e “maus”.

Por outro lado, recorre a uma espécie de “psicologismo empírico”, carregado de pessimismo e de desconfiança (“o carácter que eu vejo nos humanos em geral [os Europeus são os que eu conheço melhor] é que estarão dispostos a aliar-se ao inimigo para liquidar o irmão”), com o qual se pretende avaliar o suposto perfil moral de uma determinada civilização.

Concluindo, considero que a tua perspectiva (legítima e respeitável) é destituída de rigor científico. No entanto, tem o inegável mérito de nos convidar a reflectir sobre a identidade da Europa e o diálogo com outras culturas e povos. :great:

E como sabes, este é um tema bem actual…

O assunto desviou-se ligeiramente para um campo mais filosófico, e nem de propósito andava eu a ver a página do “Existential Comics” e eis o que me apareceu:


:rotfl: :rotfl: :rotfl: :rotfl: :rotfl:

fim de :offtopic:

Bem, não vou fazer uma análise à análise :mrgreen:

Estaríamos a entrar num campo muito teórico e muito subjectivo.

Não é tanto uma questão de maniqueísmo, de haver um bom e um mau. Simplesmente a maldade é uma característica muito comum no ser humano. Há uns que têm mais outros menos. Isso é real apesar de não ser cientificamente demonstrável.

Infelizmente a História é fértil em episódios destes.

A maldade humana pode assumir proporções grotescas.

Vou aqui colocar um vídeo do ponto em que estão as coisas, peço que só vejam se tiverem estômago.

Em pleno século XX!, Insquisição Islâmica on demand, na fronteira Iraque-Síria:

Camionistas mandados parar e executados pelo ISIS por SUSPEITA de não saberem rezar:

http:// www. youtube.com/watch?v=c7hj09BjvpU

Se quiserem ver tirem os espaços.

Obrigado Ocidente, por ajudares a libertar o Iraque e a Síria!!

PS: Uma palavra especial de agradecimento à FIFA por recompensar o Qatar, um dos grandes financiadores destes loucos, com um Mundial de Futebol!!!

Hoje foi me dito que desapareceram 11 aviões na Líbia, e que a possibilidade dos mesmos serem usados por esta gente de que aqui se fala, para atentados terroristas no 11 de setembro era grande, que acham, terá algum pingo de possibilidade de acontecer?

Sim desapareceram, assim como o da Malasian Air lines

Isso não é problema, com estado atual de defesas que ha actualmente não têm hipótese de chamuscar alguém. pois já não é novidade
Penso eu de que.

Se aparecerem aviões desconhecidos no espaço aéreo e não obedecerem, a força aérea intercede e abate-os. Simples.

Hmm, obrigado pelas opiniões malta, pode acontecer é ser em sítios " menos esperados ", mas va, pode ser que nao aconteça nada.
Já agora, li nestas páginas atras, que houve investimento na zona do Iraque etc, onde foram arranjar o dinheiro, há alguma informação?

Caro Viridis, sejamos justos, se é para agradecer temos que dizer ao ocidente obrigado por criares e “libertares” o Iraque e Siria!

Desabafo :offtopic:
Acho interessante que quando vemos nações em risco, o status quo em cheque, o mundo acorda em histeria. No entanto irmos lentamente dando conta do planeta e seus seres, nos quais nos incluímos, pouca atenção merece. Como termos milhões no mundo a sofrerem por isso não conta porque lucramos com isso (pensamos nós). Diariamente hipotecamos a casa que temos, fingindo não ver o amanhã, ou que serão outras gerações a pagar. Matamo-nos por conceitos abstractos que nem existem no mundo natural, mas o mundo natural em si é para usar de qualquer maneira. Isto é que para mim mostra o quão iludido e perdido está o homem ocidentalizado.

Tens razão e já que falas nisso, ontem vi este vídeo que me deixou verdadeiramente triste, por constatar que a coisa efectivamente não andará longe. E pior, verificamos a total incapacidade dos governos para inverter a situação.

http://youtu.be/_FEDasXNjpQ

A questão do metano e da morte dos oceanos é assustadora, mas ninguém parece estar a prestar a menor atenção.

Bom tópico e algumas boas opiniões. Outras nem tanto. A que me aborrece mais ler é a frase que todas as religiões são iguais. Não são. Senão nunca teria dado aulas sobre o tema na SOAS. É o mesmo que dizer que todos os partidos políticos são iguais. Não são. Há fascismo, democracia, etc. Só um ignorante é capaz de comparar um Jain, uma religião totalmente assente na não-violência, com o Islão. Ou o Maomé, um líder político e militar e autoproclamado profeta, como Jesus ou Buda, que cingiam as suas intervenções a questões puramente espirituais.

Indo à vaca fria, o problema do EI é precisamente o Islão. Convido todos os foristas a lerem o Corão para entenderem a génese deste autoproclamado califado.

O facto de haver cerca de 5,000 europeus a combater nas fileiras do EI é demonstrativo do colapso ideológico de uma Europa que há muito abandonou os princípios da igualdade, fraternidade e liberdade em detrimento de um darwinismo económico onde tudo tem um preço, até o secularismo, que é implementado de forma selectiva. Por exemplo, existe um debate nascente no Reino Unido sobre a possível aplicação de sharia (entre a comunidade islâmica) em questões de divórcio, viuvez etc. Séculos de secularismo esquecidos para ganhar simpatia dos países produtores de petróleo.

O problema principal reside na não-confrontação de uma série ridícula de credos, que só podem ter consequências funestas. Exemplos: viajar até aos céus num cavalo alado, cortar a lua em dois, casar com uma criança. Tudo isto pode parecer mitologia engraçada (excepto o casamento de Maomé, já com 53 anos, com Aisha, de 6 anos de idade, casamento esse consumado quando a criança tinha 9 anos), que ninguém ousa questionar com medo de causar ofensa. Pois bem, a viagem de Maomé no cavalo alado deu-se precisamente em Jerusalém, dentro do recinto do Templo de Salomão (podem imaginar os rios de sangue derramados por uma viagem mitológica cujo único propósito era afirmar a superioridade de uma nova religião em relação a outra anterior); o corte da lua em dois é frequentemente citado como um milagre que prova a divindade de Maomé (já agora, esse feito foi negado pela NASA); e julgo que não será necessário explicar a imoralidade que é violar uma criança de 9 anos e apresentar a pessoa que cometeu tal crime como o ser mais perfeito de toda a criação.

Já nem falo da Sura dedicada aos despojos de guerra, dos quais as mulheres não-islâmicas fazem parte, sacralizando assim a escravatura e a violação. Ou da decapitação dos 900 membros da tribo Banu Qurayza.

Como digo, quem acredita nestes contos-de-fada e aceita esta imoralidade como a moral absoluta, acredita em tudo. Até nas barbaridades do EI.

Não tenho participado activamente neste tópico porque a sua natureza controversa enrolar-me-ia aqui para todo o sempre, mas vou abrir uma excepçãozinha e escrever umas coisinhas sobre alguns assuntos.
Basicamente, e como já é sabido por quem dedicou um bocadinho de tempo a ler a história do Islamismo (mas a lábia de alguns demanda-lhes que achatem o terreno religioso, que igualem figuras diametralmente distintas), a desumanidade irradiada com tanta facilidade pelo Islão tem a sua razão de ser na mais famosa das suas figuras, Maomé – os exemplos que o Ruben mencionou são apenas alguns entre muitos outros tão ou mais depravados que os mencionados.
Dificilmente, comparando os credos mais notórios e os seus vultos mais estimados, encontraremos dois profetas, duas configurações de disseminação de uma religião, tão díspares um do outro, Jesus e Maomé, sendo este último uma figura transversalmente sórdida. É obscena qualquer noção de que os dois partilham algo (duas pernas, pronto, dois olhos, etc) – e o mesmo pode e deve ser dito dos ensinamentos de cada um (mesmo que lhes concedemos muito valor ou nenhum valor).
Não há um Islão Radical, há Islão, e este é por concebimento radical, perigoso e homicida – estimula o choque permanente e tão violento quanto possível com as outras religiões. Isto é, a estimulação da violência não é uma simples contingência, não é uma resposta a um problema temporário, é um modo de vida.
Há também um Islão Moderado, e este, sim, é um corpo bem mais distante da fé em questão que a versão hoje apelidada, por razões meramente higiénicas, de Radical – é epidémico o temor que angustia muitos quando o assunto roça esta religião…
O Islão Radical é uma versão fiel, certamente mais que a outra considerada “menos radical” ou “moderada”, do Islão que o Alcorão lisonjeia e irradia – a obra em si, a direcção que ela persistentemente anima, fala por si mesma (já li a obra, uma edição de bolso da Europa-América, adquirida a preço de desconto na Feira do Livro de 2013).

Relativamente ao que o Ruben escreveu sobre o Reino Unido e a possibilidade de as autoridades britânicas consentirem a Sharia por lá, discordo da explicação exposta pelo Ruben (e também de qualquer opinião que vá no sentido de que essa possibilidade se vai algum dia concretizar): o Reino United está na trapalhada em que está – estupidamente tolerante, permissivo, pérvio a estilos de vida que contrariam violentamente os fundamentos do país - porque abdicou da postura que o diferenciava, a capacidade de lutar por uma ideia – outrora, o parlamentarismo – com bons e estáveis argumentos e, melhor ainda, bons exemplos. Mas a reacção está viva e vai crescer: o UKIP, por exemplo, não é apenas um partido Anti-Europa…
É um dos mais sérios aborrecimentos das sociedades dos principais países europeus: a abjecta ideia de que quem não é tolerante é obrigatoriamente intolerante, que a barreira – o debate, posteriormente seguido da decisão - separa bons e maus, não havendo nada entre ambos. Não há, do nosso lado, qualquer choque das civilizações, para me servir do título da eminente obra de Samuel Huntington; há, sim, um choque impelido pelo lado de lá, e uma recepção apática, do lado de cá, incitada pela ideia de que não devemos defender (pois isso nos fará parecer sectários), no nosso território, as ideias-chave que erigiram a civilização a que pertencemos e que permitiu que chegássemos a um estádio de desenvolvimento superior aos restantes. Naturalmente, sou contra políticas que visem “exportar” modos de vida – sou contra a ideia de que devemos ocidentalizar o resto do mundo (eles que tratem disso se for esse o desejo).
O Japão, curiosamente, provou que é possível construir uma modernização desprovida de ocidentalização – a China fará o mesmo, acredito. E nós faremos o quê? Construiremos, de olhos fechados, um novo conceito, a Abstração? Ou, porque nada nos identificará, seremos achinesados?

é por tópicos como este que tenho orgulho neste fórum. obrigado a todos os que aqui têm participado.
tanta e tão boa informação! :great:

Bom, vamos lá a ver se nos entendemos:

a) Parece-me óbvio que não deveremos comparar a figura de Jesus Cristo com a de Maomé, isso é óbvio. Jesus é facilmente e quase unanimemente, mesmo entre ateus (inclusive comunistas, anarquistas e toda a espécie de anti-clericalistas cá do meu “lado”), visto como uma figura humanista, de tradição progressista e que de certa forma, inaugura uma tradição moral e ética humanistas entre os povos indo-europeus. Para mim, e esta é a minha interpretação enquanto europeu, democrata agnóstico e próximo das ideias libertárias, Jesus Cristo é uma figura fundamental na construção de uma tradição europeia assente na democracia (que emana da tradição filosófica grega) dando-lhe um cunho de tolerância, humanidade, e demais valores que se costumam rotular de “cristãos” mas que não mais são do que o resultado do pensamento (também cristão, obviamente) europeu progressista e humanista. Maomé é uma figura que surge num contexto totalmente diferente, que assenta a sua “doutrina” (tal como as outras duas religiões abraamicas) no velho testamento, e desconfio, que bebe mais deste do que alguma vez bebeu do Novo Testamento. Se olharmos bem aos ensinamentos de Jesus Cristo, é irónico como corta quase por completo e muitos dos “ensinamentos” do Velho Testamento, aproximando-se muito mais das religiões e tradições filosóficas orientais como o Budismo, o Taoismo e o Confucionismo.

b) e é no seguimento do final do ponto anterior, que introduzo esta ideia que me parece não ir muito em convergência com o que disseste Chev, e que tem a ver com essa diferenciação do Islão e desse rótulo do Islão enquanto religião intolerante e violenta por natureza. E digo isto por uma razão simples: o Islão, que tal como disse, é também uma religião abraamica e tem em comum com o judaismo e o Cristianismo precisamente o Velho Testamento só pode ser rotulado como uma religião intolerante e violenta se assumirmos o mesmo para as outras duas. Afinal de contas o Velho Testamento prega igualmente doutrinas que se podem catalogar de violentas, intolerantes e muito pouco humanistas, e não é por isso que não deixa de fazer parte das escrituras sagradas quer de cristãos quer de judeus. Se o Islão é na sua essência - pegando nos escritos do Alcorão e na prática de vida do seu mais destacado profeta Maomé - violento, intolerante e radical, então teremos sempre de assumir que o Judaísmo e o Cristianismo o são em igual medida na perspectiva que também essas religiões têm na sua base doutrinal quer teórica quer prática, o fomento de tais valores perniciosos (o Velho Testamento é pródigo em “ordens divinas” para matar, conquista, saquear, decapitar, esterminar, etc; não esquecendo a Inquisição, ou a “conversão forçada” do Novo Mundo, ou as conquistas judaicas, etc).

c) Portanto, atendendo aos pontos anteriores, parece-me demasiado simplista - eu diria que fruto de um discurso essencialmente populista e demagógico - querer reduzir tudo a uma questão de diferenciação entre “bons e maus” relativamente ao Islão e as outras religiões. Seja acidentalmente, seja de forma ostensiva, ignora-se o factor evolução e progressismo que tal como nas sociedades, também nas religiões influencia ao longo dos tempos e molda, as interpretações dos textos e valores primitivos. A evolução dos valores humanos, da sua ética e moral, assente no pensamento de filósofos e teólogos ao longo dos tempos, permite fazer progredir a sociedade - abolição da escravatura, direitos das mulheres, bem estar animal, etc - e as religiões não lhe são alheias (sendo influenciadas de fora para dentro, ou podendo influenciar elas próprias a sociedade de dentro para fora). É neste sentido que, à luz daquilo que é hoje a noção de civilidade, de sociedade avançada, com todos os seus valores éticos e morais, as religiões devem acompanhar essa mudança (bidireccionalmente, admito), e portanto adaptar os seus “credos” e doutrinas ao que são hoje as sociedades. As religiões não se cristalizam nos valores primitivos, evoluem. O Islamismo Moderado pode considerar-se como o resultado disso mesmo, tal como o Cristianismo e Judaísmos modernos (porque também os há radicais…) e portanto é, para mim, errado avaliar uma religião contemporânea pelo que esta foi na sua génese.

Não deixa portanto de ser engraçado como aquilo que aqui referi inicialmente como sendo uma corrente do Islão que se denomina como salafista (ou wahabista) se enquadre nesta discussão como sendo precisamente um movimento “purificador” ortodoxo do Islão, anti-progressista e que entende que o Islão deve “regressar” à sua prática doutrinal original. Imaginemos movimentos cristãos ou judaicos com a mesma agenda e dificilmente o resultado seria distinto (intolerância, violência, sadismo). Imaginemos uma seita cristã que assumisse que o cristianismo actual (sob todas as suas formas) não era puro, e sofria de perversões várias à “mensagem original”, não seria lógico relembrar-mo-nos das práticas da Santa Inquisição?

Relembro também uma coisa curiosa: se atentarmos à idade da religião Muçulmana, iremos verificar que terá qualquer coisa como 1500 anos, isto significa grosso modo, que está ainda na sua “idade média”! Como era o cristianismo na Idade Média?!

Termino dizendo que, não tenho qualquer intenção de defender o Islão, bem como qualquer outra religião, até porque vejo as religiões organizadas, como instituições que têm essencialmente como principal objectivo a manipulação das massas oferecendo a “salvação” e mitigando o medo muito humano da morte e do desconhecido. Não tenho por isso qualquer problema com as religiões enquanto manifestações individuais de espiritualidade e fé “em algo” (ainda que não comungue delas), no entanto nunca aceitarei que sob o manto da “Instituição” me tentem “converter”, limitando a minha liberdade individual. Posto isto, aquilo que pretendo com este post, num esforço de me distanciar (e é-me relativamente fácil fazê-lo sendo agnóstico) da natureza emocional da discussão religiosa, é racionalmente compreender os fenómenos em discussão. E tendo isto em conta, nunca posso entender que se continue a assumir que a religião muçulmana é uma religião “do mal” pelas razões que teriam, sob o mesmo raciocínio, de rotular da mesma forma as outras religiões abraamicas.

Caro Chev a sério que tenho problemas em entender o que tenho a bold. Somos superiores? A sério? Em que sentido? seguramente que sim na perspectiva ocidental, dos valores ocidentais que nos foram cultivados desde miúdos, mas será essa a realidade? É tão simples assim?

Além do mais nós estamos a ocidentalizar o mundo à força, mesmo que nem saibamos. As alterações climáticas estão a atingir de tal maneira as populações de certos países que se torna quase impossível manter a tradição e cultura que tinham. A alternativa, forçada, somos nós! E o que temos para eles? Nada, nós mesmo estamos em crise, sem saber para onde ir ou que queremos ser. Colocamos milhões no mundo um impasse, num limbo, não conseguem ser quem querem, mas também não conseguem ser ocidentais. E o que fazemos por estas pessoas? Nada, nem se fala nos jornais, o que interessa é Israel e Palestina, guerras geo-politicas, porque é como o mundo ocidental valoriza as coisas.

Nós, os ocidentais não somos o diabo na Terra, mas devemos começar e entender que as nossas acções têm impactos e estamos a colher e plantar o que fizémos. O pior está por vir em 20/30 anos quando virmos as alterações climáticas e a nossa sociedade falharam porque já não dá mais.

O segundo bold - Como assim o Japão modernizou-se desprovido de ocidentalização? A própria noção de modernidade é ocidental. O caminho foi esse, basta ler os desejos do Imperador Meiji ele desejava um Japão como as “potências” ocidentais. Que se diga forçaram o Japão a se ocidentalizar. O Japão hoje é mais ocidental que outra qualquer coisa. Vestem-se, comem, educam, negoceiam e governam nos moldes ocidentais. O Japão é ocidental.