Entrevista: Abrantes Mendes - "Moutinho e Veloso não devem sair"

Ex-candidato à presidência do Sporting defende Paulo Bento enquanto há hipóteses de vencer a Taça de Portugal e diz que o clube tem de fazer tudo para segurar Liedson. O juiz desembargador critica a política de aquisições e frisa que os órgãos sociais terão de prestar contas em 2009. Mas não assume para já a candidatura a presidente do clube leonino.

Correio Sport – Paulo Bento deve continuar como treinador na próxima época?

Abrantes Mendes –
É muito cedo para fazer um balanço. Neste momento, para mim, Paulo Bento é o melhor treinador do Mundo, pois o Sporting ainda tem alguma coisa a ganhar. Portanto, não vale a pena criar factores de desestabilização. Temos de apoiar a equipa e o treinador, para ver se o Sporting ganha a Taça de Portugal.

– E se o Sporting não vencer a Taça de Portugal?

– Há uma espécie de cordão umbilical entre esta Direcção e o treinador. Se no final do mandato a Direcção terá de prestar contas aos sócios, também o treinador as terá de prestar.

– Pensa que Paulo Bento já devia ter colocado o lugar à disposição da Direcção?

– Isso é uma pergunta para ser feita ao treinador. A massa associativa está desiludida, como eu, após uma época francamente má. Neste momento defendo-o, porque há um título a conquistar, e não é o segundo lugar.

– Discorda de Soares Franco quando ele diz que o segundo lugar da Liga é o mais importante?

– O segundo lugar é o primeiro dos últimos. O importante é ganhar a Taça de Portugal. Percebo a ambição de Soares Franco, devido à situação económico-financeira deplorável do clube.

– Paulo Bento também seria o seu Alex Ferguson, como chegou a afirmar Soares Franco?

– É uma frase para inglês ver. Falar em Ferguson é uma figura de estilo. Temos de criar condições para ter uma equipa vencedora seja qual for o treinador.

– Encontra explicações para a época irregular do clube?

– O Sporting não tem ambição. É um clube de altos e baixos, é uma realidade. Quando um presidente diz que o importante é o segundo lugar, eu pergunto: com que consciência é que os jogadores entram em campo? Torna o clube fraco e passa um sentimento de desânimo.

– A vitória na Taça e o segundo lugar são suficientes para atenuar esta época?

– Atenua a tristeza e seria importante para galvanizar, ainda para mais frente ao FC Porto. Sem organização, competência e trabalho não se pode ir a lado nenhum.

– Como explica o facto de o Sporting discutir o título até ao fim em 2007 e estar a 23 pontos do Porto no campeonato?

– Não me lembro de uma distância tão grande para o primeiro lugar ou de uma época com tanta desilusão. O que ressalta desta época são os 23 pontos de atraso.

– Liedson é indispensável no Sporting da próxima época?

– Se o Sporting quiser ter ambição e discutir títulos tem de preservar o que tem de mais essencial na sua equipa. E o Liedson é um avançado essencial a toda a manobra ofensiva do Sporting. É um jogador que está há muitos anos no Sporting.

– João Moutinho ou Miguel Veloso devem sair no final da época, para equilibrar as contas?

– Isso será voltar atrás. Apostar na formação para vender depois não está certo. O clube tem de criar condições que lhe permitam manter a estrutura da equipa sem vender as suas peças mais valiosas. Acho que João Moutinho e Miguel Veloso não devem sair.

– Pensa que Soares Franco dedica pouco tempo ao clube?

– Eu seria presidente a tempo inteiro. Penso que não será o caso de Filipe Soares Franco. Com a magnitude dos problemas, o Sporting precisa de um presidente a tempo inteiro.

– Considera que as relações entre o Sporting e algumas empresas ligadas a Soares Franco são muito próximas?

– Penso que não é bom, porque não permite ao presidente estar muito à vontade. Pode haver um conflito de interesses.

– Soares Franco revelou que o passivo rondava os 230 milhões de euros. A alienação do património não devia ter tido um impacte maior na dívida do clube ou no reforço da equipa?

– Penso que sim. Hoje ainda não faço a mínima ideia de como foram aplicadas as verbas resultantes da venda do património, da venda do Nani, das contribuições da Câmara Municipal de Lisboa. As contas devem estar na internet, para que os sócios tenham conhecimento. Não basta dizer que os resultados são apreciados pela CMVM. Isso não me interessa, é uma questão de natureza legal. Fico contente por Soares Franco renegociar a dívida. Se tivesse sido eleito teria sido a minha primeira medida mas congratulo-me com esta intenção.

– Considera que houve pouca transparência nesse processo?

– Não é isso que está em causa. Dou o benefício da dúvida. Gostaria de saber em que medida foram aplicados os encaixes financeiros.

– O clube esteve refém dos compromissos com a Banca?

– O Sporting está refém dos compromissos com a Banca. O Sporting tem de ter sempre uma palavra e ser senhor dos seus destinos. Custa-me muito ver que a imagem que os jogadores do Sporting fazem transparecer não é a do clube e sim a de uma instituição bancária.

– O clube deveria manter as acções em bolsa?

– Tenho algumas acções do Sporting mas o mercado de capitais em Portugal é muito especulativo. Não tenho ainda uma ideia formada. As acções só têm peso para os investidores que querem ter peso na estrutura societária do Sporting.

– A SAD do Benfica foi alvo de uma oferta pública de aquisição (OPA) no ano passado. Receia que o Sporting possa ser alvo de uma OPA também?

– É possível, mas se eu fosse presidente do Sporting o clube nunca abdicaria do controlo da SAD.

– A aposta em Sá Pinto pode ser lida como uma forma de encontrar apoio entre os adeptos?

– Fico contente, mas penso que é uma manobra eleitoralista. Mais vale tarde do que nunca. Para mim não era só o Sá Pinto. É natural que tentem ganhar apoio. Até pelas funções que são dadas ao Sá Pinto, é só para arvorar a sua presença. Não devia ser essa a sua função [Comunicação].

– O Sporting deve investir mais dinheiro em contratações?

– Tem de investir, mas às vezes muito dinheiro não significa nada. Tem de ser gente competente a procurar jogadores de craveira, para a equipa chegar a outro nível.

– Pensa que a administração da SAD está longe da equipa?

– Os exércitos reflectem sempre os seus comandantes. Deve haver um acompanhamento especial, no sentido de levar a equipa a altos voos, e não uma postura passiva e conformista. O presidente tem de ter um discurso ganhador.

– Pedro Barbosa deixou de jogar e tornou-se director desportivo…

– Em rigor, não sei as funções que desempenha. O trabalho dele não é visível, mas não quero ser injusto.

– Há pouco espaço para a crítica no Sporting?

– Quem critique é considerado ‘persona non grata’. O Sporting é dos sócios e não de meia-dúzia de pessoas que continuam a entender o clube como se fosse sua propriedade. Quero um Sporting popular, não um Sporting elitista.

– Quem são essas pessoas?

– Não vale a pena… A verdade é que essas pessoas estão ultrapassadas. Algumas estão ligadas ao actual poder.

– É visto como ‘persona non grata’ no clube?

– Nitidamente, porque sou incómodo. Se fosse presidente do Sporting, convidaria antigos presidentes com regularidade para ouvir as suas opiniões. Infelizmente, há muita gente no actual Sporting que não percebe isso. Sou contra o Sporting tipo sociedade comercial, eu quero um clube. É por isso que sou uma ‘persona non grata’.

– A Direcção pode cair antes do fim do mandato caso a situação não se altere?

– Não. Os mandatos são para cumprir e estes órgãos sociais têm de cumprir o mandato. No final têm de prestar contas em função do que prometeram e dos resultados.

– Admite convocar uma assembleia geral (AG) para discutir a situação do clube?

– Não. Temos de estar unidos para ganhar a Taça de Portugal. Irei, naturalmente, à AG, mas não me parece que seja a melhor altura.

– Será candidato à presidência nas próximas eleições [2009]?

– É muito cedo para tomar uma decisão. Tenho a minha vida estabilizada. Não tenho necessidade de ir para o Sporting, não faço disso uma questão de ambição pessoal. Não nego que tenho sido fortemente pressionado para avançar. Se houver condições para avançar, não tenho dúvidas de que avançarei, mas tem de haver condições.

– Se as eleições fossem hoje seria candidato?

– Há muitos factores… Para já, não assumo nenhuma candidatura.

– Mas há um caminho para a presidência que inclui ouvir os sócios, falar com os bancos, etc. Não está já a fazer esse caminho?

– Esse é um caminho para o qual não é preciso estar a marcar reuniões. Vemos o sentimento que passa pela sociedade leonina, e esse sentimento é de franco desânimo.

– Os 25 por cento dos votos que teve em 2006 poderão ter uma expressão maior em 2009?

– Não vou ser hipócrita e dizer que não tenho isso em consideração. Mas não quero ser factor de desestabilização. Não estou contente com a actual situação, tal como a esmagadora maioria dos sócios. É um cenário que não deixo de colocar no horizonte. Pensonisso, mas é cedo.

– Qual é o prazo que definiu para avançar?

– Não sei, não estabeleço prazos. É muito cedo para isso.Mas vou acompanhar o clube com atenção.

– Rui Meireles afirmou recentemente que “daria um bom presidente”. Admite convidá-lo para uma eventual lista de candidatura?

– Rui Meireles esteve muito tempo no Sporting. Não o conhecia pessoalmente mas passámos a ter um relacionamento cortês. Ainda não ponderei sobre um convite, porque é muito cedo. No entanto, não devemos estabelecer estigmas.

“JUSTIÇA FOI LENTA NO 'APITO DOURADO”


– Como analisa a postura da Direcção em relação ao ‘Apito Dourado’?

– Os corpos sociais têm estado bem. Entendo que a Direcção não tem de se meter neste assunto. O Sporting foi dos principais impulsionadores mas não tem que se imiscuir no poder judicial.

– O Sporting devia ter um papel mais activo na evolução do caso após o trabalho desenvolvido pelo antigo presidente Dias da Cunha?

– O clube fez o que tinha a fazer, não se pode arvorar no papel de delator. A Justiça é que não actuou como devia ter actuado. Isso é um problema de Estado. Foi lenta no ‘Apito Dourado’. Depois as pessoas têm noção de que não se fez justiça.

“FORMAÇÃO TEM DE SER REPENSADA”


– A aposta na formação…

– … tem de ser repensada, mas esta Direcção não é a primeira a apostar na formação. É uma inverdade. A Direcção também nunca apostou numa política criteriosa de aquisições.

– Carlos Freitas foi o responsável por essa política?

– Não vou personalizar mas algumas decisões desta política provocam o riso dos adeptos.

– A saída de Carlos Freitas foi benéfica ou acabou por prejudicar o clube?

– Com ou sem Carlos Freitas, as coisas acabariam por acontecer. É preciso organização, competência e também trabalho.

PERFIL

Sérgio Abrantes Mendes nasceu a 14 de Junho de 1953 (54 anos), em Lisboa. Filho de Abrantes Mendes, antigo jogador e treinador do Sporting, formou-se na Faculdade de Direito de Lisboa em 1976, ingressando em 1977 na magistratura. Juiz desembargador no Tribunal da Relação de Évora. Casado e com dois filhos (Marta e Pedro, de 29 e 25 anos), é sócio (n.º 4873) do Sporting há cerca de 40 anos. Foi candidato à presidência em 2006, perdendo para Filipe Soares Franco.

in Correio Sport

Tirando o facto de SAM considerar que não é altura de realizar uma AG e de abrir uma porta à entrada de Rui Chulo Meireles numa eventual lista de candidatura, concordo com tudo o que disse.

São as opiniões dele. Pessoalmente não lhe reconheço credibilidade como alternativa.

O homem que devia ser actualmente o presidente.

E podia ser se os sócios lhe tivessem reconhecido credibilidade como alternativa. Algo muito dificil em alguem que fez parte da direcção de Jorge Gonçalves.

Soares Franco deve terminar o mandato mas nunca na vida votaria numa pessoa que diz o básico (como demonstra a entrevista).

Alternativas precisam-se! Dias Ferreira? João Lagos?

Não gosto de Soares Franco, é ponto assente. Não lhe reconheço esforço e essencialmente dedicação e devoção ao Sporting suficientes para lhe dar o benefício da dúvida. Mas ainda menos gosto de papagaios que só aparecem nos momentos maus.

Abrantes Mendes não tem suficiente credibilidade na Banca para ser presidente do Sporting. :cartao:

Diz o basico? Pois diz. Vai ser bastante do agrado de uma parte do forum ja que repete ipsis verbis o que por aqui e dito.

Agora o que fazem Dias Ferreira e Joao Lagos? Teem mais intervencao? Teem melhor intervencao?.. pois…

Se esse e o criterio devias ficar delirante com o regresso do Roquette, nao? :arrow:

Credibilidade práqui, credibilidade práli, mas afinal porque é que o homem é menos credível do que os que lá estão agora?

Por causa da profissão? Por não ser rico? Por ter sido Presidente da Assembleia Geral no tempo de Jorge Gonçalves? Sinceramente… ::slight_smile:

Não tem credibilidade na Banca? Ele nem nos adeptos consegue gerar credibilidade. Esta entrevista bem espremida dá o quê? O que diz ele que possa melhorar o Sporting? O mesmo de sempre, zero.

Dias Ferreira? O homem que no último programa da SIC disse que tinha saudades dos tempos que trocava impressões com uma série de dirigentes e disse nomes como Valentim Loureiro, Pinto da Costa, Adriano Pinto entre outros, tempos que andamos no deserto e que o poder estava completamente instalado a Norte. Não, obrigado.

Já o João Lagos era um caso a pensar.

Não. Mas o Sporting neste momento é dos bancos. E se nao houver ninguém que os sossegue e consiga renegociar a mega-divida que temos, estamos perdidos. O Dias da Cunha conseguia-o. Soares Franco não, por isso vende património.

O Dias da Cunha conseguia-o e o Franco não e por isso vendeu património? Então por que motivo a venda de património já estava prevista pelo Dias da Cunha quando era Presidente, por forma a abater o passivo?

Ah pronto, afinal temos um forista que é representante da Banca e já tem informações sobre o Abrantes Mendes e a sua credibilidade junto da mesma… já estou mais descansado, e fiquei a saber que é preciso ter-se credibilidade junto da Banca para se ser presidente do Sporting…

Quando refiro Dias Ferreira e Joao Lagos faço-o com a intenção de dizer que são precisas alternativas e ambos parecem-me melhores alternativas do que as que existem actualmente, se é que existem.

Actualmente precisa.

eu ate acho que o homem disse umas baboseiras acertadas, alias, gostei de tudo menos no facto de ele ter equacionado um possivel regresso do Rui Meireles.

O gajo deu uma grande machadada, ao dizer que o sporting n era um clube mas uma instituiçao bancaria.

Ai não sabias?! Quer dizer, até podes ter um presidente “aventureiro” mas certamente o Sporting fechará portas um dia depois dele tomar posse. Sim porque agora somos uma empresa, caso também não saibas. E que está hipotecada até à ponta dos cabelos.

Ah ok… curvo-me perante tais verdades dogmáticas e inabaláveis… sempre a aprender :great:

Fechara as portas porque? ora explica la esse raciocinio.