Continuo a pensar que estamos a viver o período mais negro da nossa história. Devem todos vós pensar que estou a hiperbolizar esta minha avaliação, pois já passamos por uma longa e terrível seca de títulos, onde ficámos dezoito inimagináveis anos à espera de um passeio extasiante pelo Marques de Pombal, para que pudéssemos inundar de alegria e felicidade, as ruas do nosso Portugal triste e enfadonho.
No entanto, apesar desse longo período pelo qual todos nós passámos, onde eu, pessoalmente, cresci e aprendi os valores do que é ser Leão, o nosso clube sempre foi capaz de manter a nossa chama acesa e bem viva, em torno do nosso clube, tentando sempre manter o clube perto dos seus adeptos, procurando sempre defender, incondicionalmente, os nossos valores e a nossa história. Porque ser do Sporting é isso mesmo; acima de tudo, é defender a nossa história.
Só que o pior, o impensável aconteceu. Aproveitando a implementação de novas regras de gestão desportiva que, a meu ver, claramente se impunha, tiveram o desplante e o atrevimento de quererem transformar o nosso Sporting num grupo empresarial, suportado num projecto de raízes muito pouco profundas e de copa extraordinariamente megalómana, desprezando completamente as fortes ligações do clube com a sua massa adepta e, principalmente, deixando para segundo e/ou terceiro plano o essencial: a defesa da nossa História.
Para defender a nossa história, não basta construir um museu, onde toda a nossa glória possa ser exibida de um modo inovador, a toda a sociedade; onde os nossos feitos possam ser recordados pelos mais antigos e descobertas pelas novas gerações. Apesar de ser capaz de atribuir todos os méritos aos responsáveis desta obra, considero que defender a nosso história e honrar o nosso nome tem que ser bem mais que isso.
A meu ver, a melhor forma de defender os nossos feitos idos, é dar condições às gerações actuais e futuras para que estas possam honrar os nossos nomes do passado.
E como o Sporting é uma organização de cariz, fundamentalmente, desportivo, é nesse aspecto que me gostaria de focalizar.
Olhando para a actualidade desportiva do nosso clube, apenas consigo vislumbrar um trabalho extraordinariamente positivo, numa única modalidade (das mais relevantes e mediáticas, é claro – que me desculpem as modalidades mais pequenas). Essa modalidade é, claramente, o Atletismo. E este projecto só foi possível, devido ao amor incondicional e ao talento inquestionável de um homem, que todos nós deveríamos, para sempre, recordar: Professor Moniz Pereira.
Apesar de todas as adversidades por que passou, o prof. Moniz Pereira conseguiu sempre elevar bem alto o nome do Sporting Clube de Portugal, quer nacional, quer internacionalmente. Retiraram-lhe uma pista de atletismo com o seu nome e ele retribuiu com títulos e glória. Que generosidade! Para si, caro Professor, o meu muito obrigado.
Nem a perda recente do, quase que crónico, título nacional, mancha o seu percurso glorioso. No entanto, esta derrota, deveria deixar-nos pensativos e pro-activos. A perda deste título nacional surge numa altura em que o professor vai, naturalmente, perdendo a sua influência e em que as condições de treino se vão deteriorando.
É por estas e por outras razões que sou da opinião que o novo pavilhão deveria ser pensado com um conceito de multiusos, onde pudesse ser instalada uma pista coberta de atletismo, a tal que se encontra empacotada por aí e que foi utilizada num determinado campeonato do mundo de pista coberta que se realizou em Lisboa, no Pavilhão Atlântico. Seria, não só uma mais-valia para o clube, como seria também uma mais-valia para Portugal, com claras possibilidades de retorno financeiro, a médio e longo prazo. Paralelamente a isso, defendo a colocação de uma pista de atletismo olímpica nos terrenos de Alcochete, com uma área própria para esta secção que tantas alegrias nos têm dado e que tão esquecida tem sido.
Isto é algo que devemos ao nosso querido Professor Moniz Pereira.
O caso do Futsal também pode ser considerado positivo mas, a meu ver, claramente diferente. Trata-se de uma modalidade nova, ainda pouco implementada, mas em clara ascensão, na qual tem sido feito uma aposta correcta, num período difícil e que tem respondido com títulos nacionais e prestígio internacional. A liderança no futsal nacional é algo que muito orgulha a nação Sportinguista, faltando ainda um título internacional, que penso poder estar para muito próximo. Para que tal aconteça, é preciso manter e, quem sabe, reforçar o investimento. É fácil ser-se campeão, uma ou outra vez, mas construir um projecto forte e coeso é algo mais difícil de se conseguir. Os alicerces estão construídos; agora é preciso não descorar o futuro e continuar a solidificar o percurso hegemónico na modalidade.
Mas tirando o êxito no Atletismo e o sucesso numa nova modalidade (Futsal), todas as outras modalidades, que sempre honraram o ecletismo do Sporting, ou foram enterradas, ou têm sido esquecidas pelos nossos últimos responsáveis.
Em tempos idos, no início deste ciclo que considero desastroso, foi-nos dado a escolher entre o Basquetebol e o Andebol, com se fosse possível, a nós, amantes do clube, escolhermos se preferíamos ser campeão de uma modalidade, em detrimento da outra. Nós queremos é ser campeões e honrar a nossa história com mais títulos. No entanto, disseram-nos que essa escolha teria que ser feita, garantindo-nos que era a única solução para que pudéssemos ser constante e/ou sistematicamente campeões na modalidade escolhida, em opção a termos duas modalidades onde rara e/ou esporadicamente conquistássemos títulos. Mais, foi-nos dito que, para além disto, termos simultaneamente as duas modalidades referidas, estaria a retirar fundos, que seriam fundamentais no reforço da equipa de futebol. Passados todos estes anos, estes argumentos até dariam para rir, se o assunto não fosse tão sério.
Não só abdicamos de uma modalidade vibrante, onde tínhamos pergaminhos a defender e lendas para honrar, como o fizemos em favor de uma outra, também ela recheada de história, com o pretexto de a tornar sequencialmente vitoriosa, quer a nível nacional, quer a nível internacional e que, na realidade, pouco ou nada ganha e que tem sofrido constantes desinvestimentos, mais não fazendo do que arrastar o nosso nome e a nossa história pelos pavilhões deste Portugal. Não posso concordar com algo assim. Ou o Sporting é capaz de honrar o seu nome, através da criação de projectos ganhadores, ou então é melhor viver apenas dos troféus do passado, e para tal, já temos o nosso museu.
Uma outra modalidade que muito nos diz é o Hóquei em Patins. A sua sobrevivência, nos dias de hoje, é devida ao amor pelo clube de uma individualidade: Dr. Bruno de Carvalho. É claro que todos temos que lhe agradecer por esta entrega e dedicação ao clube, não permitindo que se extinga mais uma modalidade que faz parte da nossa cultura desportiva. Mas a história do Hóquei patinado do Sporting merece mais. Merece uma equipa que recupere a hegemonia nacional e internacional na modalidade, algo que é nosso por direito. É nossa obrigação honrar a memória de figuras grandiosas como Jesus Correia e António Livramento, entre outros. Por isso, é imperativo que seja construído um pavilhão onde possa ser implementado um ringue de patinagem.
Para que todas as modalidades sejam potenciadas e floresçam, de forma a honrarem a história do Sporting, é necessário que estas tenham um lar, um espaço, o seu porto de abrigo. Urge a construção de um pavilhão funcional e que albergue todos estes departamentos competitivos, num ambiente salutar e ganhador, de união e de amor por um clube e por uma causa.
Poderia ficar aqui, eternamente, a falar de outras modalidades como o Voleibol, como o Râguebi, como o Ciclismo, que tantas alegrias nos deram e cujo passado merece tanto ser honrado. No entanto, falar do Sporting Clube de Portugal, sem falar de Futebol, a nossa maior paixão, é quase como falar de Portugal sem lembrar Camões, Eça ou Pessoa.
Grandiosa é a nossa herança do Futebol! Como grandiosa é a nossa sede por glórias!
Falar de Futebol, neste momento, é falar num passado recente negro, que nos envergonha a nós e que envergonha o nosso Sporting. No que transformaram o nosso Futebol? Apetece-me perguntar…
Há alguém, apaixonado pelo Sporting, que se reveja no caminho traçado nestes últimos 15 anos? Servir-nos-á de consolo os 2 títulos nacionais conquistados durante este período, ao qual foi possível ir pincelando com alguns troféus de menor nomeada e com uma final europeia? Servir-nos-á de alento o facto de termos uma das melhores formações de futebol do mundo, da qual saíram dois recentes “Bolas de Ouro”? Que benefícios retirámos nós disso tudo? Aliado ao retorno financeiro da venda de formados na nossa academia, não poderia vir acoplado sucesso desportivo? Não teria sido possível potenciar ainda mais esse retorno financeiro, se tivessem sido dadas condições para que os nossos talentos extraordinários tivessem tido sucesso desportivo no nosso clube? São perguntas como estas que inquietam o meu espírito há demasiado tempo. Tanto tempo como têm as sucessivas direcções que mais não fizeram do que humilhar e descredibilizar o nome do Sporting.
A esses senhores, licenciados em economia e gestão, donos de currículos invejáveis na área das finanças, que pensam que descredibilizar o nome do Sporting é não pagar à Banca, a esses eu digo que, descredibilizar o nome do Sporting é também ficar a quarenta (40!) pontos do primeiro classificado.
Aqueles que dizem que este descalabro desportivo por que passamos é devido a um desinvestimento no futebol profissional, ou não conhecem a realidade do clube, ou querem desculpabilizar os constantes maus resultados com falácias, com o objectivo de camuflar as más opções de gestão feitas até hoje. Existe um dito popular que exprime esta atitude: “Deitar areia para os olhos das pessoas”.
Foram contratados enormes quantidades de jogadores, muitos deles com verbas astronómicas, muitos deles sem qualquer qualidade para jogar no Sporting. Pagaram-se exorbitâncias a jogadores em fase descendente das suas potencialidades, que mais não fizeram do que se arrastarem pelos relvados, prolongando penosamente as suas carreiras, em troca de um vencimento principesco, num país privilegiado para se passar férias. Apostou-se sistematicamente em segundas e terceiras escolhas de clubes europeus, que chegam com promessas de querer relançar as suas carreiras e mais não fazem do que encarar o Sporting como um retrocesso nos seus percursos profissionais. Contrataram-se técnicos sem prestígio e sem ambição e, principalmente, incapazes de demonstrarem liderança e capacidade para implementar uma filosofia de jogo digno do Sporting Clube de Portugal.
Estes acontecimentos não foram fruto do acaso. Foram opções tomadas em consciência pelos responsáveis do clube, por pessoas que, em vez de zelarem pelos interesses do clube, utilizaram a imagem do Sporting para se promoverem e para passearem a sua vaidade, colocando esta grandiosa instituição ao serviço de empresários ou até (pasmem-se) ao serviço de clubes rivais. Mais! Ao ponto de colocarem em causa o futuro do nosso Grandioso Sporting!
Também estas pessoas deveriam constar no museu do nosso clube, num “cantinho da vergonha”, para que sejam sempre recordados e assim, evitarmos que algo de semelhante aconteça no futuro.
É por tudo isto, e por muito mais, que eu digo e continuarei a dizer, que estes últimos 15 anos são o período mais negro da história do nosso clube.
No entanto, quem acaba de ler estas minhas duras e implacáveis palavras, fica com a ideia que eu sou da opinião de que estes tempos acabaram. Por favor, caros amigos! Não confundamos aquilo que eu desejo, com aquilo que eu penso.
Eu, tal como todos vós, quero que esta direcção honre a grandiosa e incomparável história do Sporting. Que saiba elevar bem alto o nosso nome. Mas, os acontecimentos recentes, fazem-me temer o pior.
Apesar da gestão desportiva ter sido iniciada com uma medida, a meu ver, muito positiva, através da contratação do Domingos Paciência, para treinador da equipa de futebol profissional e, por toda a estrutura do futebol estar suportada sobre o enorme “peso” institucional de Luís Duque e por um Carlos Freitas bem mais experiente e conhecedor do mercado, eis que somos todos surpreendidos com um “novo” modelo de contratações, que nos faz recordar temos passados, que me fazem temer pelo continuar destes dias negros que temos vivido.
Quando é bem visível o aumentar da euforia por parte dos adeptos, o que só me deixa satisfeito, pois mostra que o nosso enorme clube está vivo e de boa saúde, aqui apareço eu, como um “Velho do Restelo” a alertar para o facto de devermos todos colocar os pés bem assentes no chão.
Recuemos uns anos. Os suficientes, para chegarmos ao período de gestão de Carlos Freitas, aquando da sua primeira passagem pelo clube. Este administrador, altamente conhecedor do mercado, foi o responsável por cerca de 50 contratações de futebolistas, na sua grande maioria, de qualidade altamente duvidosa. Os resultados foram o que foram. Queremos que esses tempos voltem? Não! Claro que não! Então porque é que o método utilizado me parece tão semelhante?
Carlos Freitas, com pouco mais de três meses de clube, prepara-se para contratar mais de uma dúzia de novos atletas, pois chegou-se à conclusão que o plantel passado não era digno de representar as cores do nosso grandioso clube. Até aqui, tudo bem. Duvido que alguém recriminasse esta atitude, se as injecções de qualidade na equipa fossem indiscutíveis. Serão? Aqui já tenho algumas dúvidas.
Em vez de se contratar jogadores de qualidade indiscutível, opta-se por jogadores jovens, perfeitamente desconhecidos, com margem de progressão e que pouco ou nada mostraram ainda (Carrillo, Turan, Arias, Rubio), jogadores que evoluíram em equipas de menor nomeada (Marcelo, Van Volfswinkel, Aguiar, Rinaudo), jogadores que, apesar de terem qualidade, estão marcados pelas lesões (Schaars, Rodriguez, Bojinov, Onyewu). Isto, naturalmente deixa-me apreensivo. Mas depois vêm os optimistas dizer: “Oh pá! Não achas que estás a dramatizar?” Eu respondo claramente. Estou. É claro que estou a dramatizar. Há aqui jogadores que me deixam com grande espectativa (analisarei brevemente, um a um, todos os jogadores do plantel) mas não consigo ficar 100% descansado com estes responsáveis.
Repito! Desejo muito ser calado! Desejo muito ser desmentido! Como eu desejo que todas estas aquisições se manifestam mais-valias indiscutíveis e que conquistem a glória, para todos nós. No entanto, sempre que assisto a uma conferência de imprensa do Carlos Freitas a apresentar um novo jogador, recordo-me de Farnereuds, Kokes, Nalitzis, Motas e outros que tais…
Na realidade, a maioria dos nomes contratados, pouco ou nada nos dizem. São poucos aqueles que têm conhecimentos futebolísticos suficientes para os avalizar incondicionalmente. Por isso, das duas, uma: ou temos confiança nos conhecimentos do nosso director, ou mantemos uma expectativa atenta e crítica.
Por isso, deixo uma última mensagem aos nossos responsáveis: Honrem o nome do Sporting Clube de Portugal e a nossa grandiosa História!