Uns preconizam uma luta racial, outros preconizam luta de classes. Seja como for, o ódio a algo é comum, assim como a anciania quase grotesca do discurso: uns são contra os imigrantes e a favor de um nacionalismo de ódio e bacoco, outros é a burguesia, ou seja, a classe-média, a classe social mais importante de um país e aquela que, em Portugal, tem vindo a ser sucessivamente roubada e penalizada. Economicamente, ambos os extremos são anti-capitalistas, mas a extrema-esquerda elimina o privado, transferindo toda a “criação de riqueza” para o público, enquanto que a extrema-direita subjuga o privado, delimitando profundamente a sua liberdade. Como país, tivemos ambos. Tivemos o corporativismo do Estado Novo e o socialismo do imediatamente pós-25 de Abril. Um manteve o país pobre, tendo só sido substancialmente alterado a partir da era de Marcello Caetano, o outro concluiu-se em duas vindas do FMI.
Esta é a primeira vez na história do PSD em que este defende abertamente ideias liberais. É a primeira vez que um partido do poder coloca abertamente em causa o que o Estado tem vindo a fazer, nomeadamente o seu sector empresarial e os mecanismos sociais do Estado. E a política seguida pelo PSD, que por si provoca imediata perda de votos - que tem acontecido -, é algo que merece ser elogiado. Ideologicamente, nunca o PS e o PSD estiveram tão separados. Só o nega quem quem está dependente da crítica ao “bloco central”, que não é apenas um princípio português, é mundial, até porque radicalismos, seja de esquerda ou de direita, é algo que há muito foi expurgado do mundo civilizado. O que pode acontecer é uma coligação, quanto mais, envolvendo um partido radical. Essa alteração ideológica do PSD é tão evidente que vos garanto que a campanha feita contra o PSD, por parte do PCP, BE e PS, que se unirão em torno dessa retórica, será realizada a partir de chavões “liberalismo radical”, “vender o Estado Social”, entre outros. A Segurança Social está falida, e está falida não só por motivos económicos, mas demográficos, e este problema merece uma resposta séria por parte do PSD, que passa por incluir de alguma maneira o privado na equação - nada de novo, nada de aberrante, apenas emular algumas políticas existentes nos países nórdicos, entre muitos outros. A demagogia e ignorância em torno do liberalismo é muita, abunda alegremente, porque surte vantagens partidárias e eleitorais, nos partidos de esquerda e extrema-esquerda. Costuma acontecer um terceiro partido aproximar-se dos dois principais, mas este acaba sempre por não ter a necessária paciência, que se salda num necessário sacrifício de gerações do próprio partido, que anseiam por responsabilidade e participação (e tachos!), e entrar numa coligação servindo de muleta. O partido Liberal-Democrats do Reino United há muito tempo que tem um projecto eleitoral muito interessante, mas acabou por sucumbir às tentações e aliar-se aos Conservadores, o que lhes vai sair caro.
Não entrámos ainda em período eleitoral, pelo que muito pode acontecer (ainda seremos agraciados com inúmeros casos estranhos), mas acho que o PSD vencerá as eleições porque reunirá grande parte do voto dos independentes, aqueles cujo sentido de voto oscila entre o PS e PSD, e porque será também o recipiente do voto da classe média, a classe social que tem sido escravizada pelas necessidades financeiras do Estado e pela mania de defender um “Estado Social” falido, pouco exigente e pouco ou nada criterioso.
Tenho esperança num programa eleitoral do PSD muito interessante, ideologicamente diferente de todos os outros, e virei aqui dar a sentença quando o mesmo sair, em Maio.
O jogo político português foi alterado de forma permanente pelo PS, principalmente por Sócrates, o primeiro político nacional que conscientemente incluiu às agências de comunicação uma importância e primazia inaceitáveis no jogo político, pelo que tudo passa a ser ponderado, porque só assim se explica como é que ele não foi ainda corrido pelo próprio Partido Socialista, tal é a treta, em quantidades colossais, que ele tem alimentado e provocado. O PSD, caso a quebra nas sondagens se mantenha, deveria ponderar correr com o Miguel Relvas, um estratega político que deixa muito a desejar, intelectual e estrategicamente, com clara nota negativa para a última.
O “diz e volta atrás” do Sócrates é, tenho a certeza absoluta, um recorde, principalmente no último ano. Mente a torto e direito. Claro, a culpa é do PSD.
Falta liberalismo em Portugal, mais ainda na cultura e no comportamento, porque existe uma dependência sádica e uma fé inabalável, à custa de impostos e de riqueza criada, no Estado e nas funções deste. A verdade é que o Estado pratica um regime fiscal abusivo tendo em conta o PIB per Capita, onerando altamente a classe média, e nada parece funcionar, porque todos os dias saem notícias relacionadas com a falta de dinheiro aqui, acolá, ali, etc.
Toca a dar mais poder e responsabilidade ao cidadão, ao individuo.