Electricidade e Energia na UE (Fontes Renováveis, Não-renováveis e afins)

Aqui vai a continuacão da discussão iniciada aqui Política Internacional - Parte 2 sobre as políticas energéticas da UE, agora em tópico próprio, já que tem todos os condimentos pra dar molho nos próximos anos.

Comeco com um artigo da Bloomberg de hoje:
France Pushed Off Top Spot as Europe’s Biggest Exporter of Power - Bloomberg

Um bocadinho de food-for-thought:

https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Renewable_energy_statistics

E um pequeno exemplo de como o mercado/sistema de electricidade funciona (dados em tempo-real de há uns dias atrás):


Kontrollrummet | Svenska kraftnät (svk.se)

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https://twitter.com/staunovo/status/1557738876843995142

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A França está com problemas nas centrais nucleares por causa da seca / calor, por isso é que saíram dessa lista. Quem tem ajudado a França a compensar é a Alemanha e é a queimar gás. Também exportam para os vizinhos da Europa central.

A Ucrânia também passou a exportar energia para a Europa. Estava planeado passarem da rede elétrica russa (soviética) para a rede elétrica europeia em 2023, mas foram forçados a fazer mais cedo. Fizeram 20 biliões de euros desde que começaram.

Portugal está a importar de Espanha temporariamente, também por causa da seca (não há hidroeléctrica) e estar no verão (menor capacidade para eólica).

Eu tenho uma visão de Estado Soberano em que existem ativos de valor incalculável e por esse motivo devem estar sempre na esfera de influência e controlo do Estado. 2 dos ativos que vejo de fulcral importância, são a informação e a energia.

Sobre a energia (assunto deste tópico), sempre vi Portugal (e Espanha) como 2 países em excelentes condições para não só terem independência energética verde, como também para poderem inclusivamente exportar parte dessa energia.
Compreendo que para Portugal a exportação não seja “fácil”, pois os países mais próximos (Espanha e França) possuem independência energética e ir para além disso, só com perdas enormes.

No entanto, Portugal se tivesse independência energética, podia “investir” nos custos baixos dessa energia e com isso captar indústria de elevado consumo energético (como a metalúrgica e mesmo a tecnológica [servers e clouds principalmente]) que por norma procuram locais com custos energéticos baixos e bons portos marítimos (na metalúrgica).

Dai que defendo o governo na aposta do hidrogénio.
Pessoalmente acredito que o hidrogénio será sem duvida o combustível do futuro.
Mas para se produzir hidrogénio é preciso gastar muita energia (verde) e se Portugal não tiver independência energética então não terá independência na produção do hidrogénio. E voltamos ao mesmo…

Agora, se Portugal tivesse produção excedentária (fácil de atingir na minha opinião) e utilizasse o excedente para produzir hidrogénio que serviria para armazenamento de excedente, para combustível e mesmo para exportação, então ai sim, Portugal estaria naquilo que chamo “pleno energético”.

E sobre a produção de energia: Portugal tem dependido muito da produção hidro através das barragens.
Este ano já vimos alguma contestação popular por causa do consumo de água nas barragens para produção elétrica, aumentando assim os cenários de seca.
Acredito que no futuro e com cada vez maiores períodos de seca, a contestação popular aumente, pois ninguém aceita que as barragens fiquem vazias “apenas” para se produzir energia. Assim, será expectável que a produção hidro diminua nos próximos anos, pois haverá cada vez mais exigência de desligar as turbinas a cotas cada vez mais altas (tentando evitar barragens vazias).
Logo é essencial que o Estado promova a produção energética alternativa…

Como?
Não tenho a resposta concreta, mas não consigo deixar de olhar para o mar e ver um oceano de oportunidades :wink:.

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Fonte (europa.eu)

Para que se veja o peso que a energia tem tido nos números da inflacão.

A situacão portuguesa é ainda assim algo peculiar, porque pelo que tenho lido nos media, o preco da electricidade no consumidor final não sofreu ainda aumentos de maior… mas imagino que mais tarde ou mais cedo os precos irão subir (quem é que está a pagar a factura neste momento, já agora?).

Eu sempre tive alguma curiosidade em saber que quantidade de energia será produzida pelas pessoas que fazem exercício físico. Por exemplo, a energia gasta nos ginásios traduz-se em movimento (treadmills, bicicletas, elíptica, remo) ou em levantamento de pesos. Se esses equipamentos estivessem ligados a um dínamo ou a um aparelho que convertesse a energia muscular em energia elétrica, provavelmente dava para a eletricidade de um prédio inteiro.

E em estações de metro/comboio centros comerciais e discotecas, ou seja, onde circula muita gente, o chão podia estar equipado com um aparelho que absorvesse a energia da pisadela no chão e a convertesse em energia elétrica. Também devia fornecer eletricidade suficiente para essas infraestruturas.

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Que grade tópico. Dos temas mais interessantes que se podem discutir.

Obrigado @Paracelsus

Confesso que nunca dediquei o meu tempo a grande literatura acerca desta matéria. Mas tendo em conta a evolução dos tempos recentes, não faria cada vez mais sentido uma aposta, em Portugal, na construção de uma central nuclear de maneira a conseguir produzir e exportar energia?

Por acaso até temos reservas interessantes de urânio (embora o combustível do futuro para reatores nucleares seja o tório). O problema é que uma central nuclear é um investimento brutal e que exige muito know-how, e não me parece que em Portugal haja massa crítica para um investimento dessa envergadura. Além disso, é o mesmo país que anda há décadas para decidir onde, como e quando vai construir o novo aeroporto da capital. Não me parece que seja uma solução estratégica para o nosso país, principalmente quando temos condições para tirar proveito de energias renováveis como a eólica, solar, geotérmica e das marés.

Esqueçam o nuclear cá no burgo.
Nunca vai acontecer por vontade política e popular.
Mesmo que se por acaso houvesse vontade política e popular além de guito para avançar onde faziam a central.
O nuclear e visto por cá com maus olhos e se até para fazerem o Alqueva que era uma obra mais ou menos consensual foi o cabo dos trabalhos por causa de uma aldeola com pouco mais de meia dúzia de casas perdida no meio do Alentejo imaginem uma central nuclear.

Central nuclear em Portugal? Isso podia ter sido assunto no século passado. Hoje a aposta têm de ser as renováveis (e nós até não estamos mal nesse aspeto).

Com alguns esforço de redução dos consumos podemos chegar aos 80/85% do consumo ser de fontes renováveis. Esse esforço devia ter começado no momento que se decidiu fechar Sines e Matosinhos por isso não sei é se há interesse em fazer essa redução.

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Excelente tópico! Já fazia falta um assim aqui no forúm!

Eu trabalho num projeto europeu de eficiência energética (Smart Buildings) e digo que um dos objetivos devia ser esse mesmo, tornar os edifícios cada vez mais inteligentes e sustentáveis, visto que são fonte de mais de 36% das emissões de CO2.

Com edifícios inteligentes abordam-se também outros tópicos como a internet das coisas, que apesar de poder ser fulcral e super útil, também aporta consigo problemas de segurança…

Chegaremos algum dia às chamadas Smart Cities?

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Outra questão é o lítio, usado em baterias, baterias essas que alimentam veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energias renováveis. Apesar da tecnologia do uso de lítio ser aclamada para esta parte, também tem a questão da sua mineração, que normalmente é fonte de impactos ambientais e sociais severos. Seria uma inconsistência que o uso de lítio para uma sociedade mais sustentável tivesse associado a si impactos ambientais enormes. Como resolver?

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Que medidas sugeres a curto prazo, por exemplo, para 2023?

Em relação a que questão? (Desculpa, não sei a que comentário meu é que respondeste…)

A solução já existe e é conhecida desde há decadas… não tem é havido vontade de a aplicar…
Só nos últimos anos tem havido algum movimento em relação a isto… e Portugal até está a querer estar na linha da frente, mas desconfio que por questões politicas vamos acabar por não passar de intenções mesmo…

Energia Limpa

Qual é a solução?

Eu vejo algumas medidas que se podem tomar:

  • Criar workshops com as populações locais para as envolver no assunto e explicar o que se vai passar naquelas terras
  • Adaptar o uso da maquinaria para sistemas mais atuais e menos impactantes (que penso que existem já)
  • Envolver as pessoas nos processos de tomada de decisão

O problema é que o lítio em Portugal está em Hard Rock, não há nada a fazer. Não é como na América do Sul por exemplo, que é em salinas.

  • Haverá destruição de agriculturas
  • De património cultural e ambiental
  • Poluição sonora

Mas também ajudará a criar empregos na zona, atrair investimento, desenvolver a zona…

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Quando li o título do tópico só consigo pensar no acordo de Paris. O objetivo principal é a descarbonização e a redução do consumo de energia elétrica.

As medidas passam por deixar de olhar para baixo, petróleo, e passar a olhar para cima, sol. Afinal é uma fonte renovável, que em Portugal ainda não foi encarada como uma solução para a redução do consumo de energia diário nas nossas casas.

Até 2030, o objetivo é reduzir 50% destes consumos e até 2050 ser NZEB ( nearly zero edifícion building).

Goste-se ou não, o nuclear continua a ser o sistema que menos polui e mais energia produz.
Uma central nuclear moderna, bem construida e bem mantida não só é eficaz como é segura.
A energia solar não é viável para largo output. A eólica a mesma coisa. E ambas tem impacto ambiental.
Já para não falar que a reciclagem dos materiais usados para este tipo de soluções é extremamente difícil. Pelo menos ao dia de hoje.

Os suecos (creio) encontraram a solução perfeita para se verem livre do maior problema do nuclear. Enterram o lixo atómico em poços de minas abandonadas e cobrem os sarcófagos com toneladas de betão.
Problem solved.

Temos que descarbonizar, obviamente.
Mas (ainda) não há uma solução que mate os coelhos todos de uma cajadada só.
Há que continuar a investir em R&D neste sector.