Vamos por partes:
Avaliação dos professores
O que sempre esteve em causa foi o modelo de avaliação e nunca a avaliação em si, como querem fazer entender a “ministra sinistra” e o Pinócrates. E quando se referem às duas grandes manifestações como sendo apenas de sindicatos, esquecendo que estavam lá mais de 200.000 professores (nas duas), é de levar aos mãos aos céus. A nova moda agora do governo é afirmar que antes não havia avaliação: mentira! Se não me engano, o antigo modelo de avaliação foi posto em prática, inclusive, por um governo PS e consistia nos famosos inspectores que iam observar as aulas, sem aviso prévio. O problema é que esse modelo de avaliação nunca foi realmente posto em prática - e não foi por culpa dos professores.
Quando o Pinócrates e a a Sinistra vêm dizer que são apenas duas folhinhas de avaliação para preencher, esquecem-se das imensas e extensas reuniões que todas as semanas têm que se realizar parar elaborar as gralhas de avaliação. Para juntar a esta festa, todas as semanas saem esclarecimentos/adendas/correcções à lei, pelo que é necessário nova reunião para discutir novamente as regras de avaliação - como se os professores não tivessem mais nada que fazer que levar até às 21h em reuniões na sua escola.
Mais um aspecto deste modelo de avaliação é que (e conheço um caso) um professor de Educação Física é obrigado a avaliar um professor de Música: que competências existem para tal avaliação? Como se pode avaliar se nem se conhece o programa?
Mais um aspecto é o facto de as notas dos alunos contarem para a avaliação dos professores, o que, apesar de ser ridículo, vai de encontro com a política do facilitismo e de trabalhar para as estatísticas deste governo. Um exemplo: numa turma de 5º ano todos apanham 5 no final do ano; no 6º ano, se os alunos descerem as notas, quem se lixa é o professor porque passa a ser considerado mau professor segundo este modelo de avaliação. O que isto provoca é o seguinte: ou os professores passam os alunos todos para não serem prejudicados na avaliação (e poderem prosseguir na carreira) ou então dão realmente as notas que os alunos merecem e ficam parados na carreira.
Mais um aspecto no mínimo caricato: as escolas têm que ter quotas para os “muito bons” e os “excelentes”. Isto é, imaginem que numa escola existem 3 professores fenomenais, mas a escola apenas pode avaliar com “excelente” 2 professores. O que acontece é que vai ter que haver uma reavaliação e um deles vai ver a sua avaliação a diminuir injustamente.
E estou apenas a enumerar alguns dos muitos problemas que existem no actual modelo importado directamente do Chile (é verdade, não estou a brincar).
Quanto ao estatuto dos docentes ainda dá pano para mais mangas, mas não vou entrar por aí que não estou bem dentro do assunto.
Estatuto do aluno
Mais um tiro certeiro no sistema de (des)educação português. Mas aqui já não estou dentro do assunto.
Segundo a Sinistra, faltar não é um direito dos alunos. Vai daí, acaba com a justificação das faltas. O que acontece é que se tiveres doente ou fores operado e tiveres que faltar, vais ter que fazer um exame que corresponde à parte da matéria que não acompanhaste (acho que é isto mas não tenho a certeza quanto à estrutura do exame). Por outro lado, e como isso podia dar cabo das estatísticas do abandono escolar e das médias, o governo praticamente que decretou que ninguém pode chumbar. O próprio Secretário de Educação já veio publicamente aplaudir a decisão de não reter no mesmo ano os meninos com 5 negativas (e há casos que têm até mais de 5) porque, segundo ele, “dá mais trabalho às escolas passá-los de ano” e tentar “reabilitá-los”. Como pode alguém com 5 negativas (não deve ter feito/percebido um boi da matéria) passar de ano?!
Com todas estas medidas agora imaginem: chega um menino ao pé do professor e diz “Eu já não posso chumbar, portanto, este ano não me apetece fazer nada e o senhor professor vai-me dar boa nota se não quem se lixa é você”.
[hr]
“Uma má mudança é melhor que não haver mudança nenhuma?” - isto não é mudança alguma; isto é um retrocesso e uma subversão total do que uma política de educação devia ser: premiar a excelência segundo parâmetros justos, e não andar a passar de ano tudo e todos. Eu ando a matar-me para chegar onde cheguei e agora vêm uns chico-espertos que não percebem patavina e adquirem as mesmas “qualificações” (teoricamente) que eu?
“…acho uma total falta de respeito a forma que se tem encontrado de manifestação (falo dos alunos). O atirar ovos e tomates e’ duma falta de classe enorme…”: se o governo GOZA com mais de 100.000 professores na rua contra este sistema de avaliação e o estatuto de docente e de autonomia das escolas, que se manifestaram de forma totalmente ordeira, que mais via “diplomáticas” pode haver? É como eu digo: para além dos ovos, deviam atirar também as galinhas.
“A forma actual do ensino precisa de mudanças, no tempo em que la andei as baldas eram constantes e os professores, pelo menos uma grande parte deles, com avaliação, de certeza que melhoravam a forma de ensinar” - tens toda a razão, o sistema de ensino precisa de uma revolução (no meu entender) porque recentemente, e principalmente com este governo (apesar de dizer principalmente os outros também têm culpas no cartório, são todos iguais) o sistema de ensino passou a ser uma brincadeira, em que os alunos vão para a escola passar o tempo enquanto os pais não chegam do trabalho.
Peço desculpa pelo testamento mas estes assuntos revoltam: sou filho de professores e vejo/sei o que eles sofrem.