Permitam que deixe um apelo a todos os associados que, independentemente das opiniões que tenham sobre o momento do Clube, não aceitam vê-lo envolvido em cenas como as que presenciámos na sexta-feira passada: não se alheiem do Sporting!
Decidi utilizar este espaço do nosso jornal para me dirigir a todos os sportinguistas por entender que este momento o justifica, não por causa de um ou outro determinado resultado desportivo mas, sim, porque, a seguir a uma Assembleia Geral tão importante, devemos reflectir em conjunto sobre o Clube.
Escrevi, e repito, que foi uma Assembleia Geral muito importante.
Não, infelizmente, pelas razões que tiveram mais eco junto da opinião pública. Essas foram realmente relevantes, pela negativa, motivo pelo qual não permitirei que o assunto passe em claro. Já lá irei.
O primeiro aspecto que desejo realçar, porém, é o de a Assembleia Geral ter significado uma vitória em toda a linha da gestão dos órgãos sociais em funções, apesar do movimento de intimidação que foi preparado para perturbar a tomada livre de decisões na reunião. Feito o apuramento final, verificou-se que prevaleceu a vontade do verdadeiro Sporting, da parte sã do Sporting, amplamente dominante no universo de três milhões que somos. A democracia triunfou sobre os que tentaram subvertê-la. Não através de uma suposta luta entre “velhos e novos”, entre o “passado” e o “futuro”, mas, sim, porque os valores e princípios cultivados pelo Sporting e pelos sportinguistas desde a fundação e ao longo de cem anos, estão profundamente enraizados e não são propriedade de gerações ou grupos de pressão. O sportinguismo não tem donos e aprofundou-se, ao longo dos tempos, através da convivência tolerante, construtiva e apaixonada de sócios e adeptos de todas as idades, de todas as camadas sociais, de todas as opções políticas e de consciência, defensores de ideias saudavelmente divergentes sobre o desenvolvimento e o engrandecimento do Clube. Quaisquer expressões fora deste quadro, normalmente da autoria de quaisquer desqualificados iguais aos que existem em tantos outros sectores da sociedade, nada têm a ver com o Sporting, não interpretam a vontade dos sportinguistas.
Permitam, contudo, que deixe um apelo a todos os associados que, independentemente das opiniões que tenham sobre o momento do Clube, não aceitam vê-lo envolvido em cenas como as que presenciámos na sexta-feira passada: não se alheiem do Sporting! Compreendo aqueles que, com o andar do tempo e a proliferação dos enxovalhos durante a Assembleia, a foram abandonando por sentirem até que ponto se degradara o clima da reunião; saúdo, ao mesmo tempo, a coragem – é de coragem que se trata – daqueles que, como, por exemplo, o consócio Manuel Frazão, defenderam os seus pontos de vista enfrentando insultos e as vaias. Foram vários os que, imbuídos do verdadeiro espírito sportinguista, enfrentaram o clima provocatório e aguentaram horas a fio um ambiente de aberrante hostilidade, contribuindo assim de forma decisiva para a vitória do Sporting e dos princípios democráticos nele vigentes. Note-se que não falo de pontos de vista coincidentes com os dos órgãos sociais mas, simplesmente, do direito à liberdade de ter ideias dissonantes da minoria intimidatória. Um princípio básico como o da liberdade de expressão foi posto em causa no nosso principal espaço de decisão.
Sportinguistas, não podemos permitir que tal se repita. Volto a dizer: não se alheiem do Sporting!
O Sporting Clube de Portugal apresentou, pelo segundo ano consecutivo, um resultado positivo nas suas contas. Fora de oito milhões de euros no ano anterior; foi de 16 milhões agora.
Tal facto aconteceu pela primeira vez na história do Clube. Em cem anos de vida, só em quatro exercícios se registaram resultados positivos, dos quais nos últimos dois anos. Temos razões para nos orgulhar, apesar de esta realidade não ter sido transmitida para a opinião pública com o merecido relevo. Parece, afinal, ser comum que os clubes desportivos, tantas vezes insultados e desqualificados na comunicação social, consigam proezas como esta, fruto da difícil conjugação entre a paixão sportinguista e uma gestão racional que não hipoteque nem a grandeza nem o futuro do nosso Clube…
Além disso, como consequência do recentemente concluído processo de requalificação do passivo, associada à obtenção de receitas, o Sporting deu passos de extrema importância para uma gestão mais tranquila. O Clube deixou praticamente de ter dívidas a curto prazo – não ultrapassam actualmente os oito milhões de euros – graças à liquidação de importantes dívidas a fornecedores e também à transformação dos compromissos de curto prazo em médio e longo prazo. É uma alteração qualitativa que desanuvia o dia-a-dia e o futuro do Sporting. Esta foi, igualmente, uma enorme vitória dos órgãos sociais em funções, consagrada pela Assembleia Geral.
O clima em que decorreu a Assembleia Geral não me permitiu, como desejava, responder aos vários consócios que, no pleno uso dos seus direitos e expressando-se com a urbanidade própria das sociedades civilizadas, levantaram questões e críticas sobre a vida do Sporting, designadamente do futebol.
Em primeiro lugar, desejo pedir-lhes desculpa por tal não ter sido possível, por manifestamente não haver condições.
Estou, entretanto, em condições de informar que o Conselho de Administração da Sporting, SAD e a equipa técnica liderada pelo prof. José Peseiro têm avaliado ao pormenor a forma como decorre a temporada do futebol profissional. Assim aconteceu numa reunião realizada há poucos dias.
Considero que, numa actividade sujeita a tantas circunstâncias aleatórias como é o futebol – incidências próprias do jogo, lesões, castigos, arbitragens, por exemplo – o mais importante é ter uma noção precisa da forma como se trabalha. E posso dizer-vos que, no futebol do Sporting, se trabalha bem e de forma competente. A nível de Conselho de Administração, temos acompanhado o funcionamento do grupo de trabalho, temos estado permanentemente à sua disposição, tudo fazemos para garantir que as condições sejam as melhores.
Do lado do prof. José Peseiro, temos recebido uma colaboração preciosa, que nos permite estar ao corrente do trabalho desenvolvido, na continuidade do realizado na temporada passada e em harmonia com o sector de formação, que, como se sabe, é estratégico para o Sporting.
O técnico principal permite-me informar também os sportinguistas de que, na última reunião realizada, ele reafirmou um princípio formulado a seguir à assinatura do contrato e posteriormente renovado em momentos difíceis segundo o qual uma hipotética saída do Sporting não traduziria quaisquer encargos para o Clube. Como sabem, é princípio assumido pelo Sporting que os contratos são para se cumprir. Mas se o Conselho de Administração da SAD perdesse a confiança na equipa técnica – o que não é o caso – ou o prof. José Peseiro sentisse que já não existiam condições para se manter no cargo – o que também não acontece – a rescisão não implicaria indemnizações. Um gesto nobre, invulgar em qualquer sector de actividade nos dias que correm, absolutamente insólito no mundo do futebol, o que também revela o carácter confiante e determinado do técnico do Sporting. Sportinguistas, pensem bem nisto quando, no meio da multidão, vaiarem ou agitem o que quer que seja em direcção ao homem solitário que é o mesmo que levou o Sporting à sua segunda final europeia e pôs a nossa equipa a jogar o melhor futebol do País – como unanimemente foi reconhecido.
Termino, voltando às incidências da Assembleia Geral, às que, lamentavelmente, tiveram maior eco externo e contribuíram para diluir as decisões tomadas –de tanta importância para o Sporting.
Já várias vezes afirmei, e repito-o, que o Sporting é governado pelos órgãos legitimamente eleitos e não por minorias activistas organizadas por quem terá seguramente ambições de poder e não se envergonha de recorrer a métodos arruaceiros.
O Sporting terá eleições democráticas dentro de um ano. Nesse quadro se decidirá, através dos sócios, quem passará a dirigir o Clube.
Tudo simples e naturalmente democrático. Os associados podem organizar-se em listas, elaborar os seus programas, defender as suas ideias em relação à evolução do Clube e, depois, sujeitar-se ao parecer soberano dos sócios.
Prestando atenção a algumas ocorrências, sinto-me tentado a concluir que haverá quem admita que pode preparar terreno para chegar ao poder servindo-se de grupos de intimidação, verbal ou física, para impor os seus conceitos de monopólio do sportinguismo. Tristes daqueles que pensam triunfar apoiando-se em grupos de choque sem deles ficarem reféns, até se transformarem em suas vítimas quando chegar o tempo em que as contingências do futebol ditarem novos maus humores. É que não se ganha sempre.
Note-se que, quando falo em grupos intimidatórios organizados, não estou a aludir a qualquer entidade em especial, nem às claques, mas, sim, a indivíduos desqualificados cujas fragilidades são manipuladas por oportunistas que, por exemplo, tão depressa são capazes de agredir jornalistas como de tentar servir-se deles.
A propósito de jornalistas, renovo os pedidos de desculpa que anteriormente formulei, lamentando ao mesmo tempo que não tenham resistido à tentação de privilegiar informativamente as arruaças em relação à importância do que foi decidido pela Assembleia Geral. Nós, sportinguistas, temos abundantes razões de queixa da comunicação social, mas o combate que travamos pela informação correcta faz-se com ideias, com a divulgação das nossas posições através de meios legítimos, nunca através da agressão física ou verbal. Na noite da Assembleia Geral, abandonei as instalações do Clube juntamente com os jornalistas. Foi a maneira que, na altura, encontrei para testemunhar a minha solidariedade e o meu respeito para com o seu trabalho, embora nem sempre esteja de acordo com ele e com os métodos utilizados.
Dito isto, renovo aos sportinguistas as linhas gerais desta minha mensagem: não se alheiem do Clube, apoiem-no principalmente nos momentos mais difíceis, não se deixem intimidar por minorias que dizem ter o monopólio do sportinguismo. O Sporting somos todos nós.
Ainda a tempo:
Fiz questão de escrever esta mensagem antes do jogo em Paços de Ferreira, pelas razões que acabei de expor sobre as relações entre a Sporting, SAD e o grupo de trabalho. Verifiquei depois que, num dia em que o Sporting, em segundo lugar na Liga, realizava um jogo fora de casa muito importante para a luta pelo título, indivíduos que se intitulam sportinguistas fizeram publicar um anúncio pago num jornal (onde, aliás, se acoitam alguns dos que mais atacam o Sporting) apelando a uma mobilização para desestabilizar o grupo de trabalho. Ainda bem que o fizeram. Ficamos todos a conhecer melhor o seu “sportinguismo”. E não tenho qualquer problema em associar tal anúncio com os incidentes na Assembleia Geral. São estilos de manifestação diferente mas o conceito é o mesmo: arruaça.
Podem, pois, agitar lenços brancos onde quiseram ou de uma ponta a outra do Estádio.
O Sporting não é governado de fora para dentro, muito menos pelos que cobardemente se escondem "