No seguimento dos posts anteriores e das perversas teorias da conspiração que às vezes assomam à cabeça das pessoas, não resisto a contar uma notícia que vi hoje na RTP e me levou inclusive a escrever ao provedor do Telespectador.
No Bom Dia Portugal passou uma notícia que falava dos benefícios da cafeína no dia-a-dia, notícia essa que foi complementada com os comentários em directo de um especialista convidado. Após corroborar o que tinha sido dito na peça, já quase a terminar o pivot pergunta-lhe se a cafeína pode ter algum efeito negativo na saúde. Após alguns segundos de hesitação e outros tantos de engasganço, eis que atira um “não, a cafeína não tem qualquer efeito negativo na saúde”, que me deixou de boca aberta.
Há anos que se sabe, e está demonstrado em estudos publicados, que a cafeína interfere na absorção de cálcio pelo organismo, o que pode ser grave se a pessoa não fizer uma alimentação rica em cálcio, ou se ingerir café em excesso, sendo que é especialmente grave em mulheres na menopausa, pois são mais susceptíveis a sofrer de osteoporose.
A maneira ligeira como foi dito que a cafeína não traz efeitos negativos à saúde, ignorando por completo esta nuance da questão é um bom exemplo da falta de rigor e da falta de sentido de responsabilidade de pessoas que deviam ter idoneidade para falar deste assunto. E acima de tudo, explica em parte, muita da ignorância que se vê por aí, dada a amplificação que acaba por ser dada a falsas-verdades e meias-verdades deste género.
Obviamente mandei logo uma mensagem para o Provedor do Telespectador, falando dos predicados do jornalismo sério, das responsabilidades duma estação de serviço público e questionando a idoneidade do convidado para comentar o assunto, bem como os reais interesses e motivação de reportagens que são feitas nestes moldes.
Isto serve também de chamada de atenção para quem “come” tudo aquilo que vê, ouve ou lê sem um mínimo de sentido crítico, especialmente naquelas revistas tipo Nova Gente & Ca, que tanto gostam de reservar uma secção para as novas “descobertas da ciência”.