Pelo menos 19 mortos em ataque israelita a barcos que levavam ajuda a Gaza
31.05.2010 - 09:19 Por PÚBLICO
Pelo menos 19 pessoas morreram depois de a Marinha israelita ter disparado sobre alguns barcos que activistas pró-palestinianos tinham fretado para levar ajuda à Faixa de Gaza, diz a televisão israelita. Há também 26 feridos.
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A UE já pediu um inquérito ao incidente e os palestinianos pediram uma reunião urgente na ONU. O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, classificou o ataque como um “massacre”. Os Estados Unidos lamentaram as vítimas e disseram estar “actualmente a trabalhar para compreender as circunstâncias que rodearam a tragédia”.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, manifestou o “seu inteiro apoio” ao Exército. Netanyahu falou do Canadá, onde se encontra e tem uma reunião prevista com o primeiro-ministro Stephen Harper antes de partir para Washington, amanhã. A rádio israelita noticiou que o primeiro-ministro israelita iria interromper a viagem para regressar a Israel, mas essa informação foi entretanto desmentida pela delegação que o acompanha.
Os mortos eram activistas pró-palestinianos. Os barcos partiram ontem de Chipre, desrespeitando o aviso israelita de que todos os barcos que tentassem entrar nas suas águas territoriais seriam interceptados. A bordo estavam dez mil toneladas de ajuda humanitária.
“Quinze pessoas foram mortas durante o ataque, na sua maioria cidadãos turcos”, afirmou Mohammed Kaya, responsável pela divisão de Gaza da IHH, uma organização turca de defesa dos direitos humanos, que fazia parte da operação naval. Entretanto, o Canal 2 da televisão israelita confirmou que os mortos são já 19 e os feridos 26.
A correspondente do diário “Guardian” em Jerusalém está num hospital em Ashkelon, onde diz que estão a chegar alguns dos feridos. “O xeque Rayed Salah, figura de peso entre os árabes israelitas, está a ser submetido a uma cirurgia de urgência. É um homem importante”, escreveu Harriet Sherwood através do site Twitter.
Algumas embarcações estavam assinaladas com a bandeira turca, país que já fez saber que condena veementemente esta operação militar, classificando-a de inaceitável. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, de visita ao Chile, cancelou a sua viagem à América Latina e fará declarações nas próximas horas.
Manifestações na Turquia
“Israel vai sofrer as consequências por este seu comportamento”, frisou o Ministério turco dos Negócios Estrangeiros. Ancara convocou o embaixador israelita, Gaby Levy, para lhe pedir explicações. Um comunicado do Governo turco denuncia que o Exército israelita usou a força contra um grupo de ajuda humanitária, incluindo “idosos, mulheres e crianças”.
Milhares de pessoas manifestaram-se já na praça principal de Istambul, num protesto contra o raide israelita contra a frota humanitária, anunciou um jornalista da AFP presente no local. “Morte a Israel”!”, “Soldados turcos, parti para Gaza”, gritavam os manifestantes concentrados ao fim da manhã na Praça Thaksim.
Em Ancara, um pouco menos de 200 pessoas manifestaram-se frente a residência do embaixador de Israel, protegida também ela por forças policiais. Enquanto isto, em Jerusalém, os israelitas era convidados a não mais visitar a Turquia.
UE pede inquérito e fim do bloqueio
Este ataque está, de resto, a provocar uma onda de levantamentos diplomáticos. A União Europeia quer um inquérito completo ao incidente. “A Alta Representante [Para a Política Externa] Cahterine Ashton expressou o seu profundo repúdio face às notícias de perda de vidas e feridos”, afirmou um porta-voz de Ashton.
“Em representação da União Europeia, exigiu uma investigação sobre as circunstâncias em que ocorreu o acidente. Reclamou a abertura imediata, contínua e incondicional do bloqueio à circulação de ajuda humanitária, bens comerciais e pessoas desde Gaza e para Gaza.”
ONU “chocada” com o ataque
A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, afirmou-se “chocada” com o assalto do Exército israelita aos barcos de activistas pró-palestinianos que se dirigiam para Gaza.
“Estou chocada pelas informações que indicam que uma missão humanitária foi atacada causando mortes e feridos quando a frota de aproximava da costa de Gaza”, disse Pillay.
O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, afirmou-se também “profundamente chocado” pelo assalto israelita. “Nada justificaria o emprego de uma tal violência”, afirmou entretanto o Presidente Nicolas Sarkozy.
Mesma opinião tem Berlim: “Os governos alemães sempre reconheceram o direito de Israel se defender, mas esse direito deve ser exercido no quadro de uma resposta proporcional. À primeira vista, parece não ter sido o caso”, disse o um porta-voz do Governo alemão, Ulrich Wilhelm.
A Suécia qualificou o incidente de “completamente inaceitável” e já convocou o embaixador israelita em Estocolmo para lhe dizer exactamente isso. Na sequência do ataque, a Grécia anulou uma visita do chefe do Estado-Maior da Força Aérea israelita prevista para terça-feira, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Atenas.
Na única reacção até ao momento que não condena Israel, o secretário de Estado adjunto dos Negócios Estrangeiros italianos, Alfredo Mantica, considerou que a tentativa dos barcos de romperem o embargo israelita foi “uma provocação”. “Este assunto é uma provocação com um objectivo político preciso. É possível discutir a reacção israelita, mas pensar que tudo se iria passar sem nenhuma reacção seria uma interpretação ingénua dos que provocação este acidente”, disse Mantica em declarações à rádio CNR media.
O chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, condenou aquilo que classificou como um “crime contra uma missão humanitária” e o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, apelidou o incidente de "massacre"e decretou três dias de luto nos territórios palestinianos.
As autoridades israelitas estão determinadas em manter o bloqueio ao território palestiniano de Gaza, controlado pelo Hamas, e onde vive um milhão e meio de pessoas, alegando recear o envio de armas por meio marítimo.[/b]
Israelitas afirmam ter sido atacados primeiro
Era noite escura quando seis barcos carregados com dez mil toneladas de ajuda humanitária com destino a Gaza receberam um aviso das forças de Telavive.
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A Marinha israelita contactou o capitão do Mavi Marmara a pedir-lhe que se identificasse e que o informasse sobre a rota do navio. Pouco depois, embarcações israelitas rodeavam a frota por todos os lados, mas à distância, descreve a Al-Jazira. A versão do que aconteceu a partir daqui varia consoante as fontes.
Ainda segundo a estação televisiva, os barcos encabeçados pelo Mavi Marmara desviaram-se e desaceleraram a marcha para evitar um confronto nocturno. Os responsáveis pela operação distribuíram coletes salva-vidas a todos os passageiros (cerca de seis centenas de pessoas, todas civis, asseguram) e pediram-lhes que permanecessem debaixo do convés.
O jornalista da Al-Jazira Jamal Elshayyal, que estava no ar momentos antes de todas as comunicações serem cortadas, afirmou que foi colocada uma bandeira branca, mas que isso não evitou que tiros tenham sido disparados.
Uma ONG grega que também participava na missão adiantou que um dos seus barcos, o Sfentoni, tal como o Mavi Marmara, foram alvo de “balas reais” disparadas durante a noite por helicópteros e lanchas insufláveis israelitas, e que estes foram depois tomados de assalto. A informação, adianta a AFP, foi fornecida por um outro barco grego, o Elefthéri Mesogeio, que seria abordado pela Marinha. A frota estava na altura em águas internacionais a 80 milhas da costa, assegurou a ONG “Um barco por Gaza”.
Greta Berlin, porta-voz do Movimento para a Libertação de Gaza, que organizou a operação, denunciou: “Como é que o Exército israelita pode atacar civis desta maneira? Acham que por atacar palestinianos indiscriminadamente podem atacar qualquer pessoa?”.
Do lado israelita, as coisas não se passaram assim. As autoridades afirmam que os seus oficiais foram atacados com armas de fogo e facas durante a investida, e quatro ficaram feridos. As autoridades israelitas dizem que a operação se agravou depois de um dos activistas ter tirado uma arma a um dos comandos. Dez activistas morreram, referem os responsáveis de Telavive, mas várias fontes apontam agora para 19 mortos.
Há um vídeo disponibilizado por Israel onde é possível ver um oficial a comunicar que o Mavi Marmara está em águas israelitas e a avisar que se a frota pretende entregar ajuda aos palestinianos, então deverá seguir para o porto israelita de Ashdod, que as autoridades a encaminharão seguindo os trâmites normais. As ameaças de que todos os barcos seriam interceptados já tinham sido lançadas ontem, quando as embarcações partiram de Chipre.
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A bordo dos barcos atacados estavam deputados, jornalistas e muitos activistas
Eram 759 os participantes desta iniciativa que visava levar de barco até Gaza 10 mil toneladas de ajuda. Entre estes encontravam-se 20 deputados, uma ex-congressista norte-americana, a Prémio Nobel da Paz da Irlanda do Norte Mairead Corrigan Maguire , um sobrevivente do Holocausto e vários jornalistas.
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A esmagadora maioria dos passageiros eram turcos. De acordo com o Movimento Gaza Livre, havia ainda pessoas dos EUA, do Reino Unido, da Austrália, da Grécia, do Canadá, da Malásia, da Argélia, da Sérvia, da Bélgica, Irlanda, Noruega, Suécia e Kuwait. Seguiam também três deputados alemães, que viajavam a bordo do barco turco que foi atacado.
Os jornais do Reino Unido dão conta de que seguiam a bordo dos barcos 27 britânicos, incluindo Sarah Colvin, da campanha Solidariedade Palestina, e Kevin Ovenden.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Bulgária disse estar a tentar obter informações sobre dois jornalistas búlgaros que estavam nas embarcações. “O nosso embaixador em Telavive está a tentar saber o que se passa com a ajuda do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita”, disse às agências Vessela Cherneva, porta-voz do Ministério de Sófia.
Dois activistas e um jornalista espanhol também ali estavam: David Segarral, da Telesur; e Manuel Tapial e Laura Arau, membros da ONG Cultura, Paz e Solidariedade Haydeé-Santa María. Os três viajavam no mesmo barco, o Mavi Marmara, alvo do ataque.
O pai de Manuel Tapial negou que a Flotilha da Liberdade transportasse armas ou colaborasse com o Hamas, afirmando desconhecer o paradeiro do seu filho: “Agora mesmo, está morto, está ferido ou está preso”, disse.
De Estocolmo chega a notícia de que 11 suecos integravam a missão, incluindo o escritor Henning Mankell, de 62 anos, autor de uma série de romances policiais de sucesso em torno do comissário “Wallander”.[/b]
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On-board video of Gaza Freedom Flotilla storm, aid workers & Israeli troops clash
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Abri este tópico para que se pronunciem sobre qual deveria ser a atitude a tomar por parte da Nações Unidas e países Ocidentais em resposta a este massacre. Sim, já que 19 mortos e 20 e tal feridos tem que ser considerado um massacre.
Estes governo Israelita acabou de cometer um erro enorme e não me parece que irá ser com mais mentiras como a de terem sido atacados primeiro, que irão evitar um enorme public relations nightmare. Quanto a mim devia haver uma medida punitiva por parte das Nações Unidas, não digo que se devia bombardear Israel, até porque sei que os Estados Unidos nunca iriam concordar, mas algo de natureza económica seria justo. Este tipo de acções por parte de Israel têm o potencial para colocar o Médio Oriente a ferro e fogo, uma região que já era problemática, tornou-se ainda mais.
Julgo que todos concordamos que Israel neste caso é indefensível, o que falta agora é consenso sobre como lidar com este failed state.