Agora mais a sério.
Sou um pouco pessimista relativamente ao destino da raça humana. O desenvolvimento mental dos seres humanos não acompanha o desenvolvimento tecnológico. Uma ínfima parte de humanos é responsável pelos avanços tecnológicos brutais a que assistimos. São geralmente gente inteligente e sensata que compreende as implicações do que inventa e desenvolve. Depois há toda a uma massa de símios que estão essencialmente preocupados em viver a sua vida ou a embarcar alienados nas conversas dos encantadores de massas e que não compreendem patavina das implicações que o uso de determinadas tecnologias podem ter no futuro da espécie (religião, ideologias, populistas, etc).
A Humanidade coletivamente está numa situação semelhante aquele cenário em que das uma arma de fogo a chimpanzés e esperas que tudo corra pelo melhor.
Plot twist… não corre.
Portanto, a meu ver daqui a 100/200 anos não me parece que a Humanidade esteja numa local melhor do que aquele em que se encontra agora. Se ainda não tivermos chegado a um dos grandes filtros do Paradoxo de Fermi - o da autodestruição - parece-me que viveremos pior numa sociedade neo-feudalizada onde os governos serão substitutos por mega-corporações, o sonho molhado dos anarco-capitalistas, onde até a própria vida humana será uma comodity. Qualquer cenário de pioria das condições de vida dos humanos, de maiores desigualdades sociais, mais conflitos, menores índices de democracia, aumento dos nacionalismos, aumento dos desequilibrios climáticos, aumento da automação e do desemprego estrutura, aumento dos refugiados por conflitos e climáticos, etc, resultará sempre numa aproximação a esse filtro que pode materializar-se em holocausto nuclear, pandemia, catástrofe climática, ou outro.
Se por algum milagre conseguimos ultrapassar este filtro, provavelmente entraremos numa era de transhumanismo onde a o conceito de Humanidade evoluirá cada vez mais para um afastamento dos constrangimentos biológicos que um corpo físico e/ou biológico tem face ao inexorável e implacável avanço da entropia. Como disse se passarmos o grande filtro da autodestruição, provavelmente a vida humana evoluirá para formas de vida baseadas em silício ou até desmaterializadas. A simbiose entre humanos e a inteligência artificial, cada vez será mais forte até deixarmos de distinguir uma coisa da outra. Passarão por aí os tais conceitos que temos de imortalidade, transcendentalidade, exploração espacial, etc. Passaremos facilmente para uma civilização de tipo 1 na escala de Kardashev.
Esta ultima hipótese é a otimista.
Não sei se ter sido, desde tenra idade influenciado por Carl Sagan e pela ficção cientifica. Hoje um adulto de 40 anos à espera do primeiro filho, tenho um fascínio cada vez maior pela Natureza que nos rodeia. Gosto de olhar para o céu e para as estrelas, qualquer noticia sobre o cosmos, sobre o avanço da ciência, da física quântica, à ciência planetária me entusiasma. Acho que ao olharmos para o Cosmos, para as estrelas e para o que está para além do nosso planeta Terra - a nossa nave-mãe Terra como lhe chamava Buckminster Fuller - caem quase todos nossos preconceitos relacionados com a nossa posição no mundo. Passamos a pensar não como o Zé, o Manel, o português ou o espanhol, o Europeu ou o Chinês, mas como Humanos, os habitantes do planeta Terra. Como diria Carl Sagan em Pale Blue Dot… somos apenas um ínfimo grão de pó na grande vastidão cósmica do nosso Universo. Acho que o centro de gravidade da nossa noção de autopreservação muda completamente. Isso é algo que me fascina brutalmente, assim como apreciar a natureza e as suas extraordinárias obras de arte. Acho que passará muito por aqui o futuro da nossa espécie. O sermos capazes de dar este leap of faith em direção ao transhumanismo e às estrelas.