
FEDERAÇÃO CONSIDERA-SE DESRESPEITADA E ROMPE COM O ACP
CICLISMO 25-04-2020 22:52
Por
António Barroso
A Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) revelou este sábado, em comunicado, que «decidiu abandonar o Observatório do Automóvel Clube de Portugal (ACP, liderado por Carlos Barbosa) por considerar que aquele grupo não tem qualquer credibilidade», após não ter sido auscultada pelo organismo – cujo Conselho Consultivo integra desde 2016 - no estudo de opinião publicado neste dia por diversos órgãos de comunicação social segundo o qual a maioria defende uso de capacete e seguro obrigatórios.
Ao desagrado pelo alegado ostracismo a que se considera votada, a FPF, presidida por Delmino Pereira, alega desconhecer «a forma como foram redigidas e colocadas as questões aos entrevistados» e considera «abusiva» a interpretação veiculada pela imprensa de serem «os ciclistas a favor do uso obrigatório de capacete» e de possuírem, como com os demais veículos sucede, necessitarem ainda de ter um «seguro».
As críticas ao estudo, divulgado, entre outros órgãos, pela TSF e Jornal de Notícias, endurecem mais adiante na nota enviada às redações: «Uma sondagem cuja metodologia é, no mínimo, duvidosa, e a análise dos respetivos resultados é efetuada de forma parcelar, aparentemente servindo apenas para que o ACP possa demonstrar a sua posição. Para além não incluir nenhuma análise credível ou científica dos resultados», dizem, recordando que em Lisboa e Porto os dados disponíveis sobre o uso da bicicleta como meio regular de transporte diário situa-se nos 23 e 19 por cento, respetivamente, e não nos valores inferiores a 1 por cento difundidos como estatisticamente provados.
«Sem prejuízo da pertinência e oportunidade do tema, é lamentável a abordagem simplista e redutora do suposto estudo, que parece ter como único objetivo veicular a mensagem e os objetivos do ACP, no sentido de despromover e desqualificar a utilização da bicicleta como modo de transporte», acrescenta a FPC.
A conclusão surge no mesmo tom, com o anúncio da cisão. «O ACP demonstrou uma atitude desrespeitosa, especialmente atendendo ao tema e âmbito da sondagem, que recomendaria, no mínimo, uma consulta ou informação prévia. Além disso, pretende sustentar uma posição perigosa e contrária aos objetivos da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável. Neste sentido, a FPC informou o ACP que deixa imediatamente de estar disponível para continuar a participar numa plataforma que serve interesses contrários à promoção da mobilidade sustentável e à redução do risco rodoviário», anunciaram este sábado.
As críticas contundentes vão mais longe. «O ACP demonstra que defende um paradigma retrógado e ultrapassado. A utilização da bicicleta para a mobilidade é uma realidade crescente no nosso país, apesar de estarmos ainda longe de muitos outros exemplos europeus. Não há nenhum país na Europa onde o seguro ou o uso do capacete sejam obrigatórios, porque o que é correto é eliminar barreiras à promoção de uma prática saudável e sustentável para as pessoas e para as cidades», afirmou Sandro Araújo, vice-presidente da FPC e coordenador do Programa Nacional ‘Ciclismo para Todos.
A FPC defende que «a utilização do capacete não deve ser obrigatória, embora seja recomendável em diferentes contextos», e recorda que «apesar de todos os filiados na Federação Portuguesa de Ciclismo estarem cobertos por seguros de acidentes pessoais e de responsabilidade civil, entendemos que os mesmos não devem ser obrigatórios».
Por último, mas não menos importante, e a explicar parte do desagrado suplementar da FPC, as conclusões extraídas pela imprensa… vão contra o entendimento federativo de não tornar o capacete e ter seguro obrigatórios, como acabou, alegam, por ter chegado ao grande público nas conclusões vindas a público este sábado sobre o estudo de opinião, que vão em sentido contrário. Mas no meio da polémica surgida, a prometer próximos capítulos, e como se depreende, o resultado da sondagem acaba por ser relevado, inevitavelmente, para segundo plano.
A Bola