As Renovações e o Projeto Desportivo e Financeiro do SCP
Acredito que é consensual o excelente trabalho que esta direção tem estado a fazer no SCP onde, em apenas 2 anos se resolveram vários problemas graves, diria mesmo, estruturais do nosso clube.
É importante nunca esquecermos a situação de onde veio o SCP antes desta direção ter tomado posse.
Tínhamos uma SAD armadilhada com contratos ruinosos e que vinha acumulando prejuízos anuais à velocidade de 45ME por ano sem que, desportivamente, daí resultasse qualquer benefício.
Aliás, bem até pelo contrário, tínhamos uma equipa que se arrastava pelos relvados nacionais sem honra e sem glória, chegando mesmo a terminar uma época no 7ºlugar, algo impensável num clube com a dimensão do SCP numa liga como a portuguesa.
A situação patrimonial também era preocupante onde assistíamos a uma tendência para a alienação de património herdada do regime roquetista como via para tapar, embora de forma muito parcial, os imensos buracos financeiros deixados por sucessivas direções incompetentes. O problema da inexistência de Pavilhão para as modalidades também se arrastava há anos sem que se avistasse qualquer hipótese de solução.
Em apenas 2 anos esta direção conseguiu estabilizar as contas da SAD passando de uma situação catastrófica de prejuízos anuais de 45ME para o breakeven sem que o rendimento desportivo fosse afetado negativamente. Aliás, desportivamente, o que se verificou fui uma clara melhoria.
Em termos patrimoniais, acabou a tendência para alienar património (que também já não é muito) e, pelo contrário, está lançado o projeto para a construção do Pavilhão.
Estamos a falar de conquistas muito importantes para o SCP.
Estamos a falar de questões verdadeiramente estruturais que determinarão o futuro do clube por muitos anos.
Era importante não errar aqui onde eventuais más decisões têm impactos tremendos.
Não se errou!
Falta o verdadeiro sucesso desportivo que, num clube como o SCP, se mede em títulos.
Esse tem que ser o próximo passo!
O sucesso desportivo de um clube grande em Portugal depende do seu projeto desportivo e financeiro que assenta muito na valorização e venda de ativos (jogadores) para clubes mais poderosos como forma de financiar parte do exercício das SAD’s.
FCP e SLB levam esta lógica a um extremo dependendo brutalmente deste tipo de receitas.
O SCP privilegia uma abordagem não tão radical e menos arriscada financeiramente aptando antes por, por um lado, fazer uma maior aposta na formação, e por outro, não investir tanto no chamado 2º ou 3ºmercado internacional. A ideia passa pois por reduzir significativamente os custos quer em contratações (menos de 10ME/ano) quer em custos com o pessoal (25ME/ano).
Independentemente destas nuances, os 3 grandes convergem no que à necessidade de fazer receitas extraordinárias com jogadores diz respeito.
Para o SCP isto também é muito importante e se queremos evoluir de uma forma sustentada não podemos, de forma alguma, desperdiçar esta forma de financiamento.
Qual é o drama?
É que para se poder fazer este tipo de vendas pelo justo valor dos jogadores é preciso estar numa boa posição negocial. Ora, é aqui que entra o problema das renovações.
Vender jogadores como o Carrillo, o Adrien, o William Carvalho ou o Slimani com os seus contratos a findar não é o mesmo que fazê-lo sem este tipo de condicionante. Diria mesmo que é bastante diferente até.
Estou a ter a perceção de que está a ser muito difícil ao SCP conseguir renovar com os seus jogadores mais emblemáticos. Se com jogadores das camadas jovens, isso está a ser conseguido beneficiando o clube do seu ascendente de depender de si dar a esses atletas o benefício de uma montra gigante, situação clara de win-win, já no caso dos séniores, aparentemente, não está a ser possível chegar a acordo positivo para as 2 partes.
Ora, isto preocupa-me porque põe em causa a evolução do nosso projeto.
Põe em causa receitas futuras e causa uma instabilidade indesejável no plantel.
Não estou com isto a fazer nenhuma crítica à gestão da SAD.
Nem tenho dados suficientes para criticar ou deixar de criticar.
Estou simplesmente preocupado com esta situação.
Reparem na situação contratual dos nossos jogadores:
Até mesmo um jogador a 3 anos do fim do contrato pode ser problemático se nesse jogador virmos uma receita futura de 30/40ME. Não renovar com ele e não o vender este ano, implicará que dentro de 1 ano ele tem mesmo que renovar (coisa que pode não ser possível) ou ser vendido. Ora, normalmente, quando se sabe que um clube tem mesmo que vender um jogador, este perde valor de mercado. Estou a falar da situação, por exemplo, do William. Não se pode brincar com um ativo desta magnitude.
O casos de Slimani, Adrien, Jefferson e, principalmente, Cédric e Carrillo, são já grandes problemas.
Colocam-se as seguintes questões:
Porque não se está a conseguir renovar atempadamente com estes jogadores?
Será que é porque eles estão a pedir valores pouco razoáveis e assim não é viável chegar a um acordo?
Ou será que a direção está a ser demasiado inflexível nos valores que está a propor arriscando perder os jogadores por valores incompatíveis com o seu valor?
Sinceramente, não sei.
O que sei é que este tema me preocupa cada vez mais.
Temo que um orçamento de 25ME para custos com pessoal (que tanto jeito nos tem dado para equilibrar as nossas contas) possa ser incompatível com a renovação de contratos com os nossos melhores jogadores, pelo menos até os conseguirmos rentabilizar desportivamente e depois vender pelo valor que consideramos mais justo.
Isto lança-nos mais um desafio de gestão que pode fazer com que tenhamos que afinar o nosso projeto.
Espero que a nossa direção esteja muito atenta a esta questão estratégica de sustentabilidade do nosso modelo.
Isto preocupa-me!
Diria mesmo que esta é atualmente a minha maior preocupação em relação ao nosso projeto!