As Contas do Clube - tentando explicar o passivo e os empréstimos

Tu disseste “As rendas davam para pagar o empréstimo e ainda dava para tirar algum lucro”, o Dias da Cunha nunca disse tal coisa, e ele era um crítico da estratégia de FSF. Se houvesse algum fundo de verdade nisso que dizes, ele não deixaria de o ter dito.

Onde tu vês receitas mínimas eu vejo a maior valorização de sempre dos principais activos, os jogadores formados no clube.
Acho que continuar esta discussão não adianta muito, porque olhando para a mesma coisa vemos coisas diferentes.

Também me parece que não vale a pena prosseguir, porque eu encontro uma separacão entre a SAD e o Clube e tu não a encontras. Tu achas que as transferências de jogadores fazem parte das receitas do Clube, eu acho que fazem parte da SAD. E a separacão tanto mais se justifica que tiveram de levar a AG a passagem dos direitos de TV da SCS (empresa do Clube) para a Sporting SAD (também ela empresa controlada pelo Clube)…

… Ora, se é tudo a mesma coisa, por que raio é que têm de fazer uma AG para os passar de um lado para o outro? Melhor, por que razão estão discriminadas as relacões financeiras entre a SAD e as outras empresas do SCP no R&C, o que é que cada uma deve e cobra à SAD, se é tudo a mesma coisa? Ou então por que razão está a SAD obrigada a pagar 5M€/ano de renda à SPM (outra mepresa do Clube) pela utilizacão do Estádio de Alvalade ou 1M€/ano de renda ao Sporting Clube Mãe pela utilizacão da Academia?

O que, a meu ver, é tremendamente injusto para o Clube Sporting, é que temos (ou tínhamos Academia), cedemos os jogadores que formamos a custo zero à SAD (os júniores e séniores são já geridos pela SAD), a SAD incorpora-os como activos no valor ZERO, depois vende-os a precos astronómicos (como é o caso de Nani)… e no fim o Clube limitou-se a receber 1M€ por ter cedido à SAD a utilizacão da Academia. Por que razão não está a SAD obrigada a pagar o valor do Activo (jogador) recorrendo a uma avaliacão independente no momento em que este integra os júniores e séniores? Não iria isso beneficiar muito mais o Clube Sporting?

P.S.: Quanto à renda do edifício Visconde, o que eu escrevi foi que a renda do mesmo cobria o empréstimo da sua construcão mais uns pozinhos - estou a referir-me logicamente ao juro (uma pequna parte certamente dos 16,5M€ anuais) que estava coberto na totalidade pela renda recebida - logicamente que nunca houve interesse em divulgar muito estes números… nem por exemplo a oferta de compra do edifício Visconde por parte de outro grupo de pessoas que oferecia uma proposta mais vantajosa para o SCP que o actual comprador.

EDIT/ Resumindo, o conjunto de perguntas é superior ao número de respostas, mas continuo com esta atravessada para a qual ainda não encontrei explicacão:

Onde é que estão os números das rendas e de toda a rentabilizacão das estruturas construídas para podermos comparar com os custos do pagamento da dívida bancária e chegarmos à conclusão que uma coisa não chega para cobrir a outra? Como é que se consegue assumir a falência deste modelo sem esta informacão?

Sim senhor! Aqui temos uma discussão muito interessante sobre os modelos de desenvolvimento do clube.

Até agora foram expostas 3 bases de suporte da actividade do clube:

1 - Actividade imobiliária.
Durante dezenas de anos foi apresentada como a galinha dos ovos de ouro que iria permitir o investimento no futebol. Teve como ponto alto o projecto Roquete.
Eu concordo com os que dizem que a actividade imobiliária não é uma vocação do clube, mas é errado colocar o clube em pé de igualdade com outras empresas do ramo imobiliário!
Estamos a falar da gestão de terrenos valiosíssimos, que eram do clube ou foram cedidos pela Câmara de Lisboa, como contrapartida pelo serviço público prestado pelo clube!
O projecto Roquete visava a valorização e a gestão desses terrenos. Quase todos, incluindo o próprio Roquete, dizem agora que o projecto falhou e eu ainda não percebi porquê!
Foi construído um estádio e um pavilhão muitiusos que permite gerar receitas muito superiores ao anterior.
Foi construído um edifício administrativo que, segundo se diz, era autosustentável em termos de receitas vs despesas.
Foi construída um academia que tem sido altamente rentabilizada.
Foi construído um espaço comercial que aparentemente tinha problemas de sustentabilidade (deve ser o único espaço comercial em Lisboa nessa situação).
NÃO foi construído o pavilhão dos desportos, o que, embora com grandes custos desportivos, permitiu alguma poupança no investimento.
Mas mais grave que o projecto ter falhado, é que foram vendidos alguns destes activos sem que o passivo tenha baixado proporcionalmente!

2 - Negócio futebol.
Na minha opinião, apenas com a receita de bilheteiras, publicidade, quotizações, compra e valorização de jogadores, nunca passaremos de um clube de 3ª ordem europeia. O nosso mercado simplesmente não tem massa crítica suficiente.
Os nossos clubes estão entre os que têm mais sócios a nível europeu e mesmo assim não geram receitas suficientes. Não se trata de ter mais 10 ou 20mil sócios que resolve o problema. Trata-se do mercado televisivo e publicitário não dar mais num país de 10 milhões de habitantes.

3 - Academia de futebol
Liquidado o património imobiliário, esta é a nova galinha dos ovos de ouro! Até quando?
Até agora a academia tem sido muito bem gerida, e tem gerado muitos ganhos para o clube. Com a integração na SAD vai aumentar muito a pressão sobre a actividade da formação. Pressão essa que, sendo o clube minoritário na SAD, será exercida por gestores não necessariamente alinhados com os interesses do clube.
Por outro lado, uma equipa de futebol forte e ganhadora valoriza os seus jogadores.

Não tenho dúvida que será da necessidade de uma equipa de futebol forte para valorizar e dar visibilidade aos jogadores provenientes da formação que se poderá estabelecer o equilíbrio ‘resultados desportivos / rentabilidade’ necessário à sobrevivência do clube.

Muito bom post :clap:

Permite-me só um comentário em relacão ao ponto da Academia.

Esta tem gerado receitas para o Clube na ordem do 1M€ / ano através da renda que a SAD paga ao Clube pela sua utilizacão. Já as receitas dos jogadores têm fornecido o equilíbrio necessário à própria SAD, que ainda assim tem que gerir um passivo bancário de cerca de 33M€.

Julgo não estar a dizer nenhuma barbaridade se referir que, ao ser efectuada a venda da Academia do Clube para a SAD por 21M€ (que dá 14M€ directos no Clube… deve ser depois de descontados os impostos), o Clube Sporting deixa de receber o tal 1M€ / ano, sendo que qualquer rentabilizacão futura da Academia terá como beneficiários a SAD e os seus accionistas… e podendo o Sporting Clube vir a ser apenas accionista minoritário na SAD, em vez de receber 100% de uma rentabilizacão futura, terá de se contentar com a sua pequena parcela. Pergunto: A partir de agora passa a ser o Clube a pagar à SAD uma renda pela utilizacão da Academia para a formacão de todos os escalões jovens com excepcão dos Júniores?

Antes de mais obrigadinho pelo elogio.

De facto, sendo a academia integrada na SAD, praticamente todas as fontes de receita do clube ficam entregues na SAD. Sendo que o clube continua com a fatia de leão (triste ironia) dos passivos.

Tanto quanto posso prever, as fontes de receita que permanecem no clube são:

  • 25% da quotização dos sócios;
  • Receitas do pavilhão multi-usos;
  • Receitas da utilização do estádio por parte da SAD;
  • Eventuais dividendos resultantes da actividade da SAD.

Esta última não é nada provável, e até nem é muito desejável. Por um lado a distribuição de dividendos implica o pagamento de impostos, por outro lado os dividendos são distribuídos em função da participação accionista, recebendo o clube apenas uma percentagem do bolo. Será preferível que as eventuais mais-valias que conduziriam à distribuição de dividendos fosse reinvestida na actividade de gestão do futebol.

Eu não percebo muito de economia e finanças, mas não compreendo como é que o clube, com cada vez menos fontes de receitas, vai fazer face ao enorme passivo.

Possivelmente uma solução seria a passagem do próprio estádio para a SAD, juntamente com o passivo correspondente. Mas isso provavelmente não agradaria aos accionistas privados da SAD.

Assim, um clube que gere todas as áreas desportivas menos o futebol, permanece imobilizado devido ao passivo resultante da construção do estádio de futebol.

Se a Academia, como eu defendia, permanecesse no clube, podíamos arranjar uma solução lucrativa tanto para o clube como para a SAD.

Concordo plenamento com a observação. A minha sugestão seria um pouco diferente:
A academia permaneceria no clube. A SAD incorpora os jogadores formados a custo 0, mas se vender os seus passes, o clube terá direito a uma percentagem ‘de formação’. Em mudanças posteriores de clube dos jogadores, a cláusula de formação actualmente em vigor na FIFA seria repartida entre o clube e a SAD, nos termos em que está em vigor na FIFA.

Outra questão que não me parece muito justa para o clube é a questão das quotas de sócio.

Actualmente, por contrato entre o clube e a SAD, 75% das receitas das quotas são entregues à SAD. Enquanto o clube tiver posição maioritária na SAD, insto não me choca. Mas quando for minoritário, acho que esta questão devia ser revista.

Não me parece bem que o dinheiro que eu entrego ao clube, para seu benefício, seja entregue a terceiros que o podem gerir de uma forma que pode, no limite, colidir com os interesses do clube.

Também acho que os sócios deviam ter a possibilidade de ter um maior poder de decisão sobre a forma como a sua quotização é empregue. Por exemplo, 20% das quotas poderem, anualmente, ser distribuidas por 3 ou 4 modalidades da escolha de cada sócio, em percentagem por si escolhida.

@José Silva

Sem dúvida que a venda de terrenos públicos doados foi durante muitos anos a forma de os clubes sustentarem os seus défices orçamentais. Mas a novidade com Roquette era que esse património era para ser rentabilizado, mantendo-se na posse do clube. Um centro comercial junto a um interface importante da rede de transportes da área metropolitana Lisboa e de uma nova zona residencial pode não ser um poço de petróleo, mas tem todas as condições para ser um negócio altamente rentável se for gerido por quem perceba do assunto.

Ora se podia ser rentável – como diz o bigfoot, qualquer coisa de muito estranho se passou para o Alvaláxia ser o único espaço daqueles em Lisboa que não é sustentável - porque é nem sequer se estudou a hipótese de concessão do Alvaláxia? Uma das ironias disto é que FSF não fez mais do que retomar o tal “chão que já deu uvas” da venda pura e dura de património para financiar défices momentâneos. O triste é que será muito provavelmente o último presidente do SCP a ter podido usar essa almofada.

Depois, está-se a esquecer uma segunda função do património imobiliário. É que ele serve de garantia para obtenção de crédito em condições favoráveis para investimento tanto em novas infra-estruturas necessárias à actividade desportiva como em aplicações financeiras em onde o clube possa ir tirar rendimento (por exemplo, o tal fundo financeiro). Teres um passivo de 100 não é problema se esse passivo te permitir obteres 200. Agora teres um passivo de 50 quando já vendeste tudo e não tens capital para obter lucro, é um grande sarilho. E é esta posição em que o Sporting Clube de Portugal vai ficar.

Uma última função do património é ser vendido em caso de proposta altamente vantajosa (de preferência para financiar novo investimento rentável). Claro que uma venda vantajosa presume que seja alguém interessado a abordar o Sporting e não o clube desesperado a tocar às campaínhas, desejoso por se desfazer daquilo que proclamou aos quatro ventos com um “peso morto” que o clube “não tinha vocação para gerir”. Deve ter sido a pior estratégia de venda da história…

O peso da dívida que obrigava a vender o património é outra história mal contada. Aqui vou seguir um argumento já bastante explorado. Como diz o ditado, quando deves 100 mil euros e não pagas, tens um problema; quando deves 100 milhões de euros e não pagas, quem tem um problema é o banco. Além disso, a dimensão da dívida do Sporting é altamente apetecível para um banco. Tínhamos assim trunfos negociais que podiam ser usados. Ora, porque nunca foi equacionada a negociação com outros bancos, em condições mais favoráveis, com juros mais baixos e que não envolvessem cláusulas ruinosas como a da obrigatoriedade de venda de jogadores ? Como disse o Paracelsus, o Benfica conseguiu-o…

À parte negócios claramente vantajosos, a venda do património deve ser sempre o último recurso, esgotadas todas as alternativas. Em vez disso, foi a primeira opção. Não por ser a melhor, mas por ser a mais fácil. E quem vier a seguir, que feche a porta. É este o cerne da minha discordância com a Direcção e a razão porque votei “não” na AG.

Quanto às vendas de jogadores, sempre foi um dos objectivos da construção da Academia. Não contesto a sua importância; só contesto o facto de ser a única fonte significativa de receita na actual estratégia – confirmando-se o fraco potencial de crescimento das receitas de TV e tendo em conta a aleatoriedade das receitas da LC. Depender só de uma fonte de receitas, é sempre uma estratégia arriscada em qualquer actividade. E os riscos desta não são assim tão poucos. É preciso que:

  • A conjuntura de alta do mercado internacional de transferências se mantenha indefinidamente. Esse mercado esteve à beira do estoiro por volta 2003-4. É verdade que foi salvo com a chegada do dinheiro dos novos milionários da Europa de Leste (de que a Abramovich é exemplo) e do Extremo Oriente e que esse dinheiro tem sustentado o padrão inflaccionista que vivemos até agora. Mas o que sobe tem de cair – e quando cair, vai doer.

  • O actual quadro legal sobre as transferências se mantenha. Ora todos os veridictos dos tribunais europeus, de Bosman a Webster, vão no sentido de eliminar as restrições à mobilidade livre de jogadores entre clubes. E as compensações por formação que a UEFA garantiu são bem modestas face aos valores astronómicos das transferências.

  • A SAD, na qual o Sporting passará a ser minoritário, nunca alienará a Academia. Com a valorização dos terrenos pelo novo Aeroporto, não é nada líquido que os accionistas não votem um dia pela sua venda. Nada obriga a SAD e os seus accionistas a ter em consideração os interesses do Sporting Clube de Portugal.

Mas o pior de tudo é que, como disse o Paracelsus as receitas dessas vendas são da SAD e quase nada reverte para o clube. Na verdade, no final disto tudo, ao clube pouco mais restará que uma participação minoritária na SAD, um estádio (logo a infra-estrutura de menor rentabilidade) e uma fracção das quotas dos sócios. Muito pouco para fazer sequer face ao passivo, quanto mais para sustentar uma estratégia de sustentabilidade e expansão do clube! Acredito que isto não incomode quem acha que o Sporting deve ser um clube (ou deverei dizer uma sociedade anónima?) de futebol e que tudo o resto são distracções desnecessárias. Para outros que, como eu, acham que o Sporting ainda é grande apesar dos resultados (quase sempre) desastrosos do futebol no último quarto de século e que as modalidades tiveram um papel crucial nessa sobrevivência, essa estratégia é de uma leviandade arrepiante!

Quando ao momento histórico, parece-me um piada de mau gosto. A único facto histórico é o facto de o segundo lugar ter dado acesso à LC durante quatro anos consecutivos – algo que não se sabe quando (ou se) se voltará a repetir. Basta olhar para a vergonhosa distância de 20 pontos face ao campeão na última época e ver o nosso palmarés em pré-eliminatórias e de eliminações à primeira na Europa para vermos o quão circunstancial foi esse “feito”.

Parabéns pela análise e já agora peço que me respondam a duas perguntas . . .

Qual será a maneira de no futuro voltar tudo ao normal e ao cenário que vocês consideram como ideal?
Caso tivéssemos vendido o Veloso e o Moutinho (55milhões) e por exemplo na próxima época vendêssemos, sei lá, o Vukcevic, o Pereirinha e o Adrien (60 milhões). Com estes supostos 105 milhões, já o Sporting sairia da crise em que aparentemente se encontra ou não é tão linear assim?

Tocaste nos pontos quase todos.

Em relação a esta passagem, gostei da tua sugestão, e até acho que é melhor que a minha, uma vez que o que sugeri incentivava uma lógica de venda por parte da SAD independentemente do jogador, uma vez que ao adquiri-lo ficava logo numa situação de perda financeira, enquanto que o que descreves iria por seu lado “descansar” a SAD em relação a jogadores que prometem muito mas que depois rendem pouco e abrandar a “pressa” para os vender ao primeiro instante.

Quanto às quotas, estou de acordo contigo e já sugeri noutro tópico que a % se alterasse para as Modalidades - penso que um aumento de 15% até aos 40 poderia ser um apoio muitíssimo importante para as mesmas, já que serviria para cobrir totalmente o orçamento de grande parte delas. Já não estou tanto de acordo com o facto de se poder escolher a distribuição das quotas - penso que isso iria resultar em grande instabilidade nas previsões dos orçamentos das diferentes modalidades que necessitam de saber com o que contam para poder planear o seu desenvolvimento correctamente e, no limite, poderia criar competição interna desnecessária entre as modalidades.

Quanto ao Petrovich, tudo 100% de acordo, como é hábito e realço o seguinte:

Concordo. A única forma de essa participação ter retorno é a venda. Estou mesmo a ver as próximas direcções, com cada vez menos alternativas de receitas, a venderem aos poucos essa participação aos restantes accionistas da SAD para se manterem à tona. Não me espantaria se, daqui a 10 anos, a participação do SCP na SAD fosse já meramente simbólica.

Bem buscado. Em duas frases, resumiste a estratégia de FSF para ter uma equipa de futebol competitiva. É a estratégia da crisálida - o “velho” clube fica para trás como uma pele velha, mirrada e crivada de dívidas após ter dada à “nova” SAD toda a matéria para ela existir. Era sem dúvida, uma das opções para o futuro, mas gostava que ela tivesse sido discutida abertamente, comparando com outras possibilidades (que as havia e melhores), medindo os seus riscos (que são muitos, como já vimos) e todas as suas consequências (em particular o enorme enfraquecimento do clube e a perda de controlo da SAD.

Um dos momentos altos da AG foi quando FSF, num passe de retórica, descreveu o pagamento, pela SAD, de uma renda ao clube pela utilização da Academia como se fosse o maior absurdo da história. Fiquei estarrecido! E também esclarecido quanto ao tipo de relacionamento entre SAD e clube defendido pelo presidente do SCP - uma relação “leonina” para a SAD, como tu bem dizes.

De certa forma, a nossa discussão é académica. Salvo um milagre de última hora, o mal está feito. O património mais rentável está vendido a terceiros ou passado para a SAD, pelo que devemos centrar-nos agora sobre como limitar os danos. E preparar-nos para um futuro em que SAD e clube poderão antagonizar-se.

Temos de explorar ao máximo as migalhas que sobraram ao clube. Concordo totalmente que é absurdo a SAD continuar a receber 75% das quotas e que estas devem passar a reverter, na íntegra, para o clube e, numa parte importante, para as modalidades. Tal como o Paracelsus, no entanto, não me parece que essa afectação seja feita ao sabor do momento, já que isso só iria incentivar rivalidades e conflitos internos que não interessam a ninguém.

Quanto a garantir uma percentagem das transferências de jogadores para o clube, não parece ser uma preocupação de FSF ou pelo menos, não lhe ouvi uma palavra sobre isso. No entanto, de acordo com as novas regras da UEFA, os clubes formadores têm direito a uma pequena parcela das transferências futuras do jogoador - o que levou, por exemplo, o Varzim a pedir uma pequena parte da transferência do Postiga, porque ele tinha lá estado dos 13 aos 16 anos. Se nenhum acordo for estabelecido neste âmbito com a SAD, o Sporting enquanto clube formador deve exigir à SAD as verbas a que tem direito nesse âmbito. Por isso, pelo menos aqui, temos ainda algum poder negocial.

Os mecanismos de monitorização da actividade da SAD são outra área em que é urgente começar a pensar e agir, enquanto o clube vai tendo uma parte importante das acções e ainda poderá impor uma ou outra coisa no seu funcionamento. Como já escrevi, as instâncias de controlo e de garantia da transparência das decisões nas sociedades anónimas são muito débeis, deixando os accionistas minoritários (como o Sporting) e o público afectado (neste caso, os sportinguistas) praticamente no escuro face à forma como são dirigidas. Como temos visto em toda esta crise, o acesso à informação é fundamental para se pode avaliar a qualidade das decisões, propôr alternativas sérias e denunciar com fundamento situações em que não estejam salvaguardados os interesses do Sporting Clube de Portugal.

Caro Petrovich
Há muitas razões para o projecto de construção do estádio e urbanização, com centro comercial terem sido o fracasso que hoje todos concordamos que foi. A maior parte da responsabilidade tem que ser atribuída às direcções do Sporting que não souberam maximizar as condições de êxito (acessos, gestão do centro, escolha de parceiros etc), mas também houve outras condicionantes que contribuíram para que se chegasse a isto.
O Alvaláxia não será o único Centro Comercial de Lisboa a ter fracassado, mas é certamente o único que foi construído à frente de um descampado - O atraso na aprovação do loteamento dos terrenos do antigo estádio fizeram com que uma posição geográfica que era potencialmente muito boa se tornasse num deserto, não é de espantar que ninguém lá vá, o sítio é desagradável. Se estivesse integrado numa urbanização que tivesse sido construída a par do estádio o seu sucesso estaria garantido. Certamente que o Alvaláxia daria muito mais rendimento daqui uns anos com a urbanização concluída e nesse aspecto a sua venda nesta fase pode ser um mau negócio, mas poderia o Sporting esperar tanto tempo?
Deveria o Sporting continuar a vender as suas pérolas em saldo?
É que aqui também se aplica a conversa da pior estratégia de venda da história, porque se todos os anos precisávamos de vender um jogador a 15 milhões, ninguém nos oferecia mais que isso porque sabiam que tínhamos de aceitar.
Ou achas que o Nani ter saido por 25 milhões depois da alienação do património e consequentemente deixarmos de estar obrigados a vender foi puro coincidência?
Até ninguém provou que podíamos ter um acordo melhor. Para o Dias da Cunha que forjou esse acordo, e se opôs a estratégia de FSF, era normal manter a venda de um jogador por ano e por ele tudo deveria continuar na mesma.
O Benfica teve um melhor acordo com os bancos, so what? Desde quando é que o que valido para o Benfica é válido para o Sporting? Sinceramente pouco me interessa o que se passa do outro lado da estrada.

Por outro lado o mercado imobiliário mundial está em crise, e ninguém pode dizer quando está crise vai acabar nem como vai acabar, na minha opinião o preço dos valores imobiliários em Lisboa é completamente especulativo e desajustado da realidade, pelo que não me espantaria que os preços caíssem bastante, então o pior negócio do mundo talvez se tornasse num negócio razoável.

Há para mim um ponto é importante realçar a alienação do património não foi feita para cobrir deficit de exploração da equipa de futebol, mas para abater passivo acumulado na construção desse património. Por isso votei a favor da alienação de outro modo votaria contra.

Relativamente à distinção entre SAD e clube, para mim todo o futebol deveria estar na SAD incluindo estádio e respectivas dívidas. Mas sinceramente isso não me preocupa muito porque sei que haja o que houver o Sporting Clube de Portugal existirá sempre. Uma SAD pode falir, um clube não. Aos sócios do Sporting caberá sempre decidir que modalidades deve ter o clube e o que fazer com as suas receitas. Sou da opinião que o Sporting deve continuar a ser um clube ecléctico, e espero que nunca deixe de ser, mas isso é uma decisão que caberá sempre aos sócios e a mais ninguém.

Relativamente ao comportamento da equipa de futebol, eu insisto em falar em ponto de viragem. Na opinião aquilo que fez com que o Benfica um fosse durante décadas o único clube português respeitado na Europa, foi o facto de durante décadas ter sido o único que participou de uma forma consistente na principal prova da UEFA, ou seja era o único que regularmente jogava com os melhores da Europa. É a jogar com os melhores que se aprende e presença regular na TC sustentava a supremacia do Benfica em Portugal.
Com Pinto da Costa e com Liga dos Campeões o Porto mudou a história, mas foi preciso andar uns anos a servir de saco de murros, quem não se lembra das primeiras participações do Porto na Champions? Eram tão más como as nossas, só ao fim da terceira é que as coisas começaram a dar certo.
O Sporting nunca conseguiu dois apuramentos seguidos para a TC/LC , significa que sempre que lá foi era inexperiente, por isso forte candidato a saco de murros. Como depois só voltava vários anos depois, com outra equipa técnica, e outro conjunto de jogadores as lições aprendidas eram perdidas.
Só agora o Sporting pode aprender com os erros cometidos nos anos anteriores, existe uma continuidade de jogadores e equipa técnica que permitem olhar para participação na Champions com confiança. Por isso acredito que vamos mudar a história, começando já este ano!

@ José Silva,

Nem vou tentar rebater-te os argumentos, apenas dizer-te que a venda do património não acabou nem deixou de acabar com a necessidade de vender jogadores por parte da SAD. A dívida bancária da SAD é de 33 M€ e assim é desde há muito tempo, e a venda do património não acrescentou 1 € sequer à SAD e sabes porquê? Porque o único património que a SAD possui chama-se “Jogadores”. O património não-desportivo e os terrenos do antigo estádio não fazem nem nunca fizeram parte da SAD que gere o futebol profissional do Sporting.

O problema do Sporting é ter um presidente que é mais presidente da SAD do que do clube…

O que vemos neste momento é um Soares Franco preocupado em resolver as situações da SAD e não co clube, e como tal fez o trespasse do bem mais valioso do clube para a SAD:a Academia! É sabido que a Academia é o bem mais precioso do clube, pois é de lá que saiem os “talentos” para serem trabalhados com o intuito de ser vendidos (infelizmente é a mentaldiade que está instoituida!)… Para além disso, é sabido por toda a gente que os terrenos onde se situa a dita Academia vai valorizar de uma forma parva devido à construção do aeroporto, sendo que irá ser uma fonte de lucro tremenda no momento da venda.

Ora, é evidente que o clube irá ficar entregue a nada, a afundar-se em dívidas porque deixará de ter o bem mais precioso que lhe garantiria uma boa maquia financeira em caso de venda dos terrenos, pois aliado a este facto está a perda de força do clube na SAD, deixando desta forma de ter o grande poder decisório, assim como boa parte dos lucros…

Desta forma, se eu fosse um alto capitalista e que quisesse ter lucro a médio prazo, não teria dúvidas em investir forte e feio em acções da Sporting SAD nesta altura, pois só a venda da Academia valeria esse investimento, e se a isso juntarmos a venda de jogadores que de lá provém…

É verdade que esta medida à primeira vista poderia resultar em instabilidades nos orçamentos e criar competição interna.
Quanto à instabilidade orçamental eu acho que a possibilidade é mais teórica que real, pois na prática cada sócio seleccionaria sempre as suas modalidades favoritas.
Quanto à competição interna, penso que até poderia ser positivo , pois assistiríamos a um maior esforço de divulgação das muitas actividades realizadas, de uma forma positiva . . . não estou a ver o pessoal de umas modalidades a denegrir outras . . .

Este medida teria como grande vantagem o crescimento da dinâmica da relação entre os sócios e o clube. As modalidades amadoras poderiam ver reflectido no seu orçamento o esforço de comunicação e angariação de sócios.
Por outro lado os potenciais sócios que não se interessam por futebol teriam a garantia de que pelo menos parte do sua quota iria para actividades do seu interesse.

Partindo do princípio que as pessoas dentro do Sporting têm boas intenções, então acho que sim, que seria uma boa ideia, embora consiga assim de repente lembrar-me de outras coisas que podem não funcionar tão bem, como seja o facto de uma determinada modalidade nao receber apoios dos sócios na época seguinte por ter tido uma época má e isso colocar em perigo a subsistência da modalidade.

Ou seja, seria sempre necessário assegurar orçamentos de “x” para as modalidades (por exemplo patrocínios e merchandising), sendo as quotas um factor de acréscimo - penso que assim seria menos “instável”, mantendo uma certa competitividade interna (que continuo a não ter a certeza que seja benéfica, mas pronto).

Mas dentro do contexto do património, como se podem analisar estas declarações de Aguiar de Matos, um dos mais acérrimos opositores à venda na altura?

«O desporto ensinou-me a ser humilde, humilde nas derrotas e humilde nas vitórias. Saber reconhecer umas e respeitar as outras. Fui um dos opositores à venda do património não desportivo. Defendi, com toda a minha convicção que tal venda não deveria ser verificada, face à situação que se vivia no momento. Não há dúvida de que os pressupostos que me levavam a defender a não venda do património não desportivo se alteraram profundamente. Hoje em dia, tenho que reconhecer, com humildade, que foi uma sorte ter-se vendido o património imobiliário não desportivo. Quero por isso reconhecê-lo publicamente e manifestar esse meu reconhecimento ao presidente do Conselho Directivo. Desejo uma época recheada de êxitos e que o Sporting consiga ser campeão. As maiores felicidades para este último ano de mandato para a Direcção dos corpos sociais.»

O que terá levado Aguiar de Matos a mudar assim tanto de opinião e que pressupostos serão esses de que fala?

Fiquei realmente surpreendido com essas declarações. Não era um dos grandes apoiantes do Abrantes Mendes?
Bom, de qualquer modo cada vez se justificam mais as perguntas do Paracelsus.
Quais serão exactamente os pressupostos que têm convencido este e outros Sportinguistas a apoiar SF?

Bem, eu não queria tornar isto um tópico de arremesso sobre a reestruturacão financeira efectuada por FSF. Ontem encontrei um artigo que data de Maio deste ano e se o tivesse encontrado antes poderia ter abreviado certas explicacões, já que o mesmo está realmente bom e explicativo e cuja visão partilho por inteiro.

Em: centuria-leonina: May 2008

[i]Negócio da reestruturação financeira

A ausência de debate
Confesso que gostaria de ter evitado colocar este post tão tardio. Infelizmente, só hoje me é permitido um esclarecimento pessoal pois não quis deixar de dar a oportunidade à Direcção de expor todos os seus pontos de vista quer na sessão de esclarecimento quer em entrevistas à comunicação social, antes de publicar aquela que é, apenas e só, a minha reflexão pessoal como Sportinguista e Centurião.
A razão desta AG motivou as mais diversas desconfianças. É sabido que muitos são os que procuram explicações por o Sporting ter acumulado um Passivo gigantesco e, com elas, aferir as responsabilidades sempre tão órfãs no clube. Sou também dos que acredita que só compreendendo bem o Passado podemos almejar um melhor Futuro. Mas é o Presente que mais me preocupa. Como esclarecer hoje os sócios do que está verdadeiramente em causa com esta votação? Como dizê-lo sem ferir as mais diversas susceptibilidades?
Fruto da posição que ocupo como fundador da União de Blogues Leoninos (UBL), tenho o privilégio de trabalhar com ambos os lados da barricada, os que apoiam a Direcção e os que a legitimamente a questionam. Para compreenderem a minha posição, esta tem sido um pouco como a Suiça, neutra q.b., sempre na procura de consensos e de um denominador comum. Como devem calcular, fazê-lo não é tarefa fácil até porque União não significa Unanimidade, mas é importante!
É do debate de ideias e da pluralidade de opiniões que se alimentam as melhores soluções em Democracia. Sem transparência de processos esse debate é tendencialmente mais pobre, menos esclarecedor e, como tal, potencialmente menos produtivo. Após algumas pressões vindas da blogosfera e muito em particularmente daqui da Centúria Leonina, blogue co-fundador da UBL, a Administração acedeu à realização de um Congresso Leonino para “Pensar Sporting”.
Reunidas as condições para discutirmos o Clube, faltava para muitos algo para o Congresso ter sentido: dados, informação sobre as relações das diversas empresas do Grupo Sporting, uma visão consolidada da realidade do clube, por outras palavras, uma auditoria externa. A resposta óbvia é a de que as contas já são auditadas mas se esse propósito ajudaria a uma maior clarificação e, sobretudo, erradicação de desconfianças por parte da massa adepta leonina, então não só não me oponho como até o fomento.
Foi o movimento Leão de Verdade (membro UBL), o grande responsável pela tomada de posição dessa corrente ao angariar assinaturas para a realização de uma AG extraordinária onde o ponto primeiro da ordem de trabalhos visa, passo a citar: “Deliberação sobre a realização de auditoria externa e independente ao Sporting Clube de Portugal e das sociedades do Grupo Sporting com apresentação de contas consolidadas.” Para estupefacção de muitos o que se assistiu a seguir foi deplorável. Divulgação de dados pessoais no que refere a questões de quotização dos membros integrantes sem que se assistisse ao correspondente demarcar da Direcção, que podia e devia ter sido feito, através da simples abertura de um processo interno.
Angariadas as assinaturas necessárias para a AG Extraordinária estavam dados os passos para que o debate do Congresso Leonino surgisse com mais e melhor informação para que na qualidade primeira de Sportinguistas (não de accionistas) se pensasse qual a melhor estratégia para o clube. Foi com espanto e incredulidade que assisti à marcação desta AG de dia 28, marcada em antecipação à AG Extraordinária proposta. Lembro que a última visa tão-somente dotar os sócios de informação vital que possibilitasse esclarecer os mesmos acerca da realidade actual. Esta posição de antecipação a uma AG com tais propósitos como são a informação e a transparência, mais não fez do que extremar desconfianças.
É neste contexto de precipitação de posições, de indevida reflexão e interiorização de privação de uma discussão Democrática que um Congresso Leonino nos poderia trazer, que somos chamados a votar hoje aquele que é um dos mais importantes e certamente mais decisivo, negócio de reestruturação do clube. Responsabilizo a Direcção por não ter fomentado em devido tempo esse debate, abdicando da discussão pública entre Sportinguistas e relegando à posteriori (quando de já pouco vale) a realização do mesmo.

Prós & Cont(r)as

Quanto ao negócio propriamente dito, eis a minha visão pessoal. Vou tentar ser tão simples quanto me for possível.

Renegociação do Project Finance
Diminuição da Taxa de Juro, Comissões e da amortização da divida bancária
O Sporting consegue uma redução das taxas de juro, muito por força do “spread” aplicado de 6,3% para 4,7%. Ora, o spread não é mais do que a taxa de risco aplicado pelos bancos sobre o custo do financiamento. Se o custo do financiamento aumentar, o spread poderá ser reduzido. No final, o banco arrecada mais lucros porque a sua taxa incidiu sobre um montante superior. Quanto às comissões, sendo os valores anuais inferiores, é lógico que estas também diminuam. A diminuição exigida da amortização da dívida bancária de 175 M€ para 109M€ em 5 anos era um ponto obrigatório sob o risco de não poder ser cumprido. Existiam várias formas de o fazer. A dilatação do prazo de cumprimento era, talvez, a mais sensata.
Prós:
Spread faz diminuir a taxa de juro concedida e valor das prestações diminui. Com ela diminuem as Comissões anuais a libertar assim como o valor das amortizações necessárias a médio curto/prazo.
Contras:
Custo do financiamento aumenta consideravelmente elevando o valor da dívida global atenuada com dilatação de prazo de pagamento, paga-se menos por mais tempo. O mesmo se aplica ao valor das Comissões.
Análise:
Revelador das dificuldades em se cumprir os requisitos do Project Finance vigente procura-se soluções de alívio de Tesouraria. É uma boa medida desde que não se hipoteque o Sporting dos nossos filhos.

Desobrigação anual da alienação de passes de jogadores
Todos os anos o Sporting é obrigado a realizar valias de 5,5M€ na alienação de jogadores em função do Project Finance actual. Este novo acordo, na teoria, termina com isso mas tem o revés da medalha face ao valor das cláusulas de rescisão. O Sporting fica “apenas” obrigado a canalizar 20% das vendas dos passes, libertando os restantes 80%.
Prós:
Desobrigação da alienação de passes de jogadores no valor de 5,5M€
Contras:
Novo acordo reduz possibilidades dos valores de investimento no futebol face a possíveis cláusulas de rescisão accionadas. 20% de obrigação de canalização do produto das vendas é sempre canalizado para a banca.
Análise:
O Sporting no ano passado realizou mais-valias na ordem dos 30M, 20% desse valor significam 6 M€, 500 mil euros a mais face ao obrigatoriamente estipulado. Utilizar o argumento de que através desta libertação de obrigatoriedade existirá mais dinheiro para investir no futebol é, no mínimo, questionável.
Este acordo prejudica o clube na medida em que irá forçá-lo a aceitar valores abaixo das cláusulas de rescisão porque a banca, como veremos mais à frente, irá reforçar a sua posição através das VMOC’s não tomadas. Isto deixará o clube ainda mais fragilizado e susceptível de aceitar a melhor proposta em detrimento da proposta ideal.
É uma medida desastrosa para o Sporting Clube e os seus sócios e excelente para a Banca pois cada vez mais os instrumentos de gestão do futebol passarão a ser geridos em função dos interesses dos accionistas e não os dos sócios. Tal, como veremos mais à frente, poderá mesmo culminar com a perca de gestão da SAD e aí, nem as acções de tipo A nos poderão valer pois serão sempre os interesses dos accionistas a serem defendidos em 1º lugar e os sócios serão apenas vistos como Clientes.

Amortização do Passivo em 5 anos
Segundo este negócio, a amortização do Passivo diminuirá em 5 anos para números abaixo dos 140 M€, num total de 115 M€ amortizados. A amortização prevista resulta de 60 M€ da emissão de VMOC’S, 40M€ em resultado da alienação dos terrenos do antigo estádio e 15M€ provenientes da exploração positiva da SAD.
Prós:
Diminuição do Passivo
Contras:
Passagem da Sporting Comércio e Serviços para a SAD;
Passagem da Academia para a SAD;
Consumação do negócio da alienação de terrenos à MDC;
Perca da posição maioritária na SAD;
Risco, no limite, de perca de controlo da SAD;
Perca de influência dos sócios;
Extinção quase total das modalidades;
Risco de diminuição do número de associados.
Análise:
Ponto por ponto;
Passagem da Sporting Comércio e Serviços para a SAD
A Sporting Comércio e Serviços passar para a SAD por um valor aproximado de 60 M€ que, segundo nos é dito, é o valor da sua dívida. Se tivermos em conta que esta Sociedade é detentora dos direitos publicitários e das transmissões televisivas no clube, facilmente depreendemos a razão de ser do negócio.
Como diria um amigo meu, “o negócio da televisão fica totalmente nas mãos de uma sociedade onde existe também uma posição qualificada da Sportinveste (ou seja, Olivedesportos). Isto quer dizer que quem compra os direitos televisivos por um valor vergonhosamente baixo, é também representante de quem o vende, gerando margens pornográficas, de acordo com o que se ouve no mercado.”
Como a SAD não dispõe de recursos financeiros para esta operação, surgem a figura das VMOC’s (valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis) em acções no prazo de 5 anos. Para o sucesso muito depende a expectativa que a SAD conseguir gerar no mercado nacional. O capital disperso garante uma posição mais favorável ao clube pois, caso contrário, vê a tomada de posse do remanescente pelos seus credores, fortalecendo com isso as suas posições. Aliás, isso irá sempre ocorrer pois no conceito económico em que vivemos é expectável a tomada de 60 milhões de euros em obrigações por parte dos Sportinguistas? Não creio mas oxalá esteja enganado. O facto de ter de se transformar esses 60 M€ em capital social da SAD, só possível por aumento de capital, poderá e deverá alterar as posições relativas dos actuais accionistas, o que no caso do Sporting pode ser perigoso por poder ver a sua participação diluída, que é como quem diz, ainda menor do que a prevista.
É um negócio ruinoso para o clube e para os sócios que se vêm privados da uma das maiores fontes de receitas disponíveis em detrimento da SAD e dos seus accionistas. Assim com fazem perigar a sua posição na SAD face ao aumento de capital previsto.
Passagem da Academia para a SAD
Como é sabido os terrenos da Academia seguirão uma tendência de valorização face à cidade aeroportuária prevista para a região de Alcochete. Estamos a falar de uma valorização que poderá ultrapassar os 100% dos valores actuais de mercado. É por isto que considero injusto a contrapartida de 22 M€ sabendo que o preço de custo rondou 15 M€. A mais valia após estes anos seria apenas de 7M€ (isto excluindo o serviço da dívida senão falaríamos de números ainda menores).
Esta operação existe para que as VMOC’s sejam mais atractivas mas sobretudo para que a valorização da Academia se verifique como activo da SAD e não do clube. Como o próprio Presidente mencionou, se daqui a alguns anos tiver uma proposta muito superior, alienará a Academia. Esqueceu-se de referir que segundo esta proposta o Sporting Clube (e os seus sócios) deixam de encaixar 100% da mais-valia realizada (tanto Passivo que se abateria meu Deus…) para passar a encaixar apenas os dividendos relativos à sua participação na SAD, isto se fossem distribuídos, o que nunca aconteceu antes.
É um negócio ruinoso para o clube e para os sócios que se vêm privados da valorização dos terrenos da Academia e da mais do que provável alienação em detrimento da SAD e dos seus accionistas.
Consumação do negócio da alienação de terrenos à MDC
Confesso que não possuo dados suficientes para fazer a merecida análise a este negócio e até duvido que alguém exterior ao processo o consiga fazer. De uma coisa não restam dúvidas, tem sido um processo moroso e confuso onde parece evidente o Sporting ter ficado a perder. Tanto quanto sei é o que vou ouvindo e lendo dos diversos responsáveis que abordaram estas questões e aqui incluo:
Os valores negociados correspondem a valores estabelecidos em 1998, se ainda não foi finalizada a operação porque não se renegoceiam esses valores? Sabe-se que um dos responsáveis que negociou a venda dos terrenos passou após a mesma a pertencer aos quadros da empresa compradora, não houve aqui conflito de interesses?
Temo que os esclarecimentos solicitados pelo Leão de Verdade em AG Extraordinária já venham tarde demais, pelo que a falta de informação em matéria de decisões correlacionadas, não é boa conselheira para um voto em consciência.
Perca da posição maioritária na SAD
São públicas as palavras de Filipe Soares Franco no que concerne à SAD, se fosse possível recomprá-la era o que faria, retirando-a de bolsa, assumindo com isso todo o controlo do negócio do futebol por parte do clube. Sinceramente, não acredito muito nisto. Seria então expectável que o Sporting se aproximasse tanto quanto possível dessa ideia (afinal trata-se da opinião do Presidente do Clube e da SAD). Seria normal assistir a uma valorizando da participação do clube na SAD. Ora o que acontece é precisamente o contrário. O Sporting Clube valoriza a SAD e diminui a sua participação na mesma, tornando as palavras do Presidente incongruentes.
A perca de posição maioritária é um risco que, como sócio, não quero correr. Argumentam e bem os defensores desta hipótese que o Sporting é o único que detém acções do tipo A, não vendáveis, que lhe conferem uma posição privilegiada sobre a Gestão. É um facto. Mas também é um facto que essas acções Tipo A, não implicam per si a atribuição da Gestão aos seus detentores. Apenas defendem-no em questões específicas pré-definidas pela Lei como por exemplo fusão, cisão ou alienação de património que são protegidas pelo Direito de Veto. Ora isto nada tem a haver com a Gestão operacional da SAD que ficará a cargo dos responsáveis eleitos em AG de accionistas, não de sócios.
Entrando já no ponto seguinte,
Risco, no limite, de perca de controlo da SAD
Possuindo uma posição minoritária, o Sporting será forçado a defender os seus interesses mediante alianças estratégicas a que tenha de recorrer. É certo que se terão que adoptar parceiros estratégicos cujos interesses sejam os menos maus para o clube, um pouco à semelhança com o que acontece na formação de coligações dos partidos.
No limite, tanto quanto me foi possível aferir, o Sporting Clube poderá mesmo perder o controlo da SAD, o que a acontecer levaria a que apenas nomeasse um Administrador fruto das acções de Tipo A que detém e que lhe conferem poderes especiais .
Claro que isto não acontecerá no mandato de FSF, pois a VMOC´s só serão convertíveis em acções após 5 anos, protegendo-o deste e de um eventual futuro mandato. Não se poderá afirmar o mesmo do Presidente que vier a seguir, será sempre alguém fragilizado pelo poder da Banca que a meu ver serão os futuros donos da SAD, ou seja, do negócio do futebol do Sporting Clube de Portugal.
Perca de influência dos sócios
É sabido que o motor do clube é futebol. Se as receitas a ele inerentes passarem todas para a SAD, são os accionistas que passarão a definir a estratégia para o clube. Os sócios perdem o poder que sempre detiveram em 102 anos de existência. O Sporting Clube de Portugal, em matéria de associativismo e tal qual o conhecemos hoje, pura e simplesmente deixa de existir.
Extinção quase total das modalidades
Será a consequência natural da aprovação desta negociação. Passando as receitas para a SAD, estas de lá só sairão de duas formas, ou para o futebol (incluo os Administradores) ou para os accionistas. As modalidades têm os dias contados mesmo sabendo que o investimento nelas gerou muitos dos Sportinguistas que hoje vão ao Futebol. Não existe este tipo de visão nas SAD’s.
Risco de diminuição do número de associados
À medida que se forem tornando evidentes as consequências da aprovação deste acto, os sócios tenderão a afastar-se do clube pois a sua posição em vez de valorizada, é novamente diminuída. Nem a implementação do projecto de angariação de novos sócios suportada pelo novo cartão de sócio, ambos projectos idealizados por mim, poderão impossibilitar a desertificação do número de sócios nos anos vindouros. Só a paixão evitará que muitos não o façam já hoje.

Conclusão
Não me sinto dono da verdade, apenas tentei esclarecer na medida que me é possível os demais sócios. Posso e devo ter cometido erros de análise, seria injusto pensar o contrário face à falta de dados que me permitam uma avaliação mais correcta. Ainda assim, sei que a renegociação do Project Finance só teve lugar mediante um negócio atractivo para a banca, ainda mais atractivo que o anterior. A diminuição do Passivo em 115 M€ cria ilusões nos sócios mas também uma forte expectativa nos recebimentos dos credores que, no limite, poderão se tornar donos e senhores de uma indústria como o futebol que gera valorizações exponenciais de activos como nenhuma outra. Tal, porém, não significa que seja necessariamente pior para o Sporting Clube de Portugal, é apenas uma questão de perspectiva daquilo que se valoriza mais, o clube com o poder nos sócios ou a SAD com o poder dos accionistas. Diria que é um negócio bom para a SAD, mau para o clube e ruinoso para os sócios. Existem alternativas, é preciso é procurar entender primeiro a vontade dos sócios e depois votar, não o contrário…
Da minha parte, sou fiel às palavras de Alfredo Augusto das Neves Holtreman, “Queremos que o Sporting seja um grande clube, tão grande como os maiores da Europa”.
Voto NÃO, para que no futuro possamos continuar a votar.
Abraço de Leão,
Verdão[/i]

Se vendermos o Veloso (30M€) e o Stojkovic (3M€), a SAD fica sem dívidas?

Se o dinheiro for todo aplicado na reducão do passivo bancário, sim, a SAD fica sem dívidas bancárias. Existe ainda um passivo restante de 30 e tal milhões de euros que não está relacionado com os bancos, mas sim com outros credores (é possível que este número tenha descido na última época para os cerca de 20M€ devido ao resultado positivo de 15M€ da época 06/07).

  1. Não é mais possível voltar ao cenário “ideal”, já que os sócios optaram por ficar sem património não-desportivo e terrenos do antigo estádio. Como dizia o Petrovich, a nossa discussão é de certo modo académica.

  2. O teu exemplo é pouco realista, uma vez que a venda de todos esses jogadores implica um enfraquecimento e diminuicão real da competitividade da equipa, que teria de ser compensado com aquisicões (as quais também custam dinheiro). Mas, imaginando que tal fosse possível:

Amortizando 105M€ no passivo bancário, os 33 da SAD desapareciam e desaparecia também o restante passivo (não sei se serão 20 ou 30 e poucos milhões porque ainda não saiu o R&C da época que passou). Imaginando que ainda sobravam 50M€ e que amortizavas o passivo do clube com esse dinheiro (não sei se tal é possível e se não tem de se descontar impostos aqui e ali, pois implica passar dinheiro de uma empresa para outra), então em vez dos cerca de 200M€ que tens agora passavas a ter no imediato 150M€, sendo que continuavas a ter de pagar juros + amortizacões todos os anos.

Mas existem 2 notas importantes:

  • Primeiro, é improvável que os bancos te deixem amortizar desta forma sem te penalizarem em grande. Lembra-te que são os juros os lucro do banco e se amortizas tudo de uma vez quando existe outro acordo com o banco com uma duracão de “x” anos, os bancos são capazes de não achar piada e aplicar uma “multa” para o valor que eles considerarem mais agradável.

  • Segundo, a SAD do SCP ter passivo não é mau em si desde que a actividade comercial permita cobrir os compromissos associados ao passivo. É como ter uma casa… ninguém está à espera que chegues aos 20-25 anos e tenhas 150 000 € em dinheiro para dar ao comprador. Em vez disso, pedes um empréstimo ao banco a uns 50 anos, ficas com um “passivo” bancário que vais gerindo, pagando todos os meses o juro + eventuais amortizacões. O que é que é importante nisto tudo? É teres um trabalho estável que te dê um salário que chegue para as tuas despesas diárias e simultaneamente pagar o juro + amortizacões do empréstimo (e na SAD é ter receitas suficientes - bilheteira, quotas, TV, etc). :wink:

OK OK, graças a ti, Paracelsus, já perçebo melhor tudo isto. Obrigado!

Ou seja, a SAD possui a Academia e pouca mais não é? Se pudesse ser, mete aqui o património do clube e o proprietário, ou Sporting ou SAD.