Bem, eu não queria tornar isto um tópico de arremesso sobre a reestruturacão financeira efectuada por FSF. Ontem encontrei um artigo que data de Maio deste ano e se o tivesse encontrado antes poderia ter abreviado certas explicacões, já que o mesmo está realmente bom e explicativo e cuja visão partilho por inteiro.
Em: centuria-leonina: May 2008
[i]Negócio da reestruturação financeira
A ausência de debate
Confesso que gostaria de ter evitado colocar este post tão tardio. Infelizmente, só hoje me é permitido um esclarecimento pessoal pois não quis deixar de dar a oportunidade à Direcção de expor todos os seus pontos de vista quer na sessão de esclarecimento quer em entrevistas à comunicação social, antes de publicar aquela que é, apenas e só, a minha reflexão pessoal como Sportinguista e Centurião.
A razão desta AG motivou as mais diversas desconfianças. É sabido que muitos são os que procuram explicações por o Sporting ter acumulado um Passivo gigantesco e, com elas, aferir as responsabilidades sempre tão órfãs no clube. Sou também dos que acredita que só compreendendo bem o Passado podemos almejar um melhor Futuro. Mas é o Presente que mais me preocupa. Como esclarecer hoje os sócios do que está verdadeiramente em causa com esta votação? Como dizê-lo sem ferir as mais diversas susceptibilidades?
Fruto da posição que ocupo como fundador da União de Blogues Leoninos (UBL), tenho o privilégio de trabalhar com ambos os lados da barricada, os que apoiam a Direcção e os que a legitimamente a questionam. Para compreenderem a minha posição, esta tem sido um pouco como a Suiça, neutra q.b., sempre na procura de consensos e de um denominador comum. Como devem calcular, fazê-lo não é tarefa fácil até porque União não significa Unanimidade, mas é importante!
É do debate de ideias e da pluralidade de opiniões que se alimentam as melhores soluções em Democracia. Sem transparência de processos esse debate é tendencialmente mais pobre, menos esclarecedor e, como tal, potencialmente menos produtivo. Após algumas pressões vindas da blogosfera e muito em particularmente daqui da Centúria Leonina, blogue co-fundador da UBL, a Administração acedeu à realização de um Congresso Leonino para “Pensar Sporting”.
Reunidas as condições para discutirmos o Clube, faltava para muitos algo para o Congresso ter sentido: dados, informação sobre as relações das diversas empresas do Grupo Sporting, uma visão consolidada da realidade do clube, por outras palavras, uma auditoria externa. A resposta óbvia é a de que as contas já são auditadas mas se esse propósito ajudaria a uma maior clarificação e, sobretudo, erradicação de desconfianças por parte da massa adepta leonina, então não só não me oponho como até o fomento.
Foi o movimento Leão de Verdade (membro UBL), o grande responsável pela tomada de posição dessa corrente ao angariar assinaturas para a realização de uma AG extraordinária onde o ponto primeiro da ordem de trabalhos visa, passo a citar: “Deliberação sobre a realização de auditoria externa e independente ao Sporting Clube de Portugal e das sociedades do Grupo Sporting com apresentação de contas consolidadas.” Para estupefacção de muitos o que se assistiu a seguir foi deplorável. Divulgação de dados pessoais no que refere a questões de quotização dos membros integrantes sem que se assistisse ao correspondente demarcar da Direcção, que podia e devia ter sido feito, através da simples abertura de um processo interno.
Angariadas as assinaturas necessárias para a AG Extraordinária estavam dados os passos para que o debate do Congresso Leonino surgisse com mais e melhor informação para que na qualidade primeira de Sportinguistas (não de accionistas) se pensasse qual a melhor estratégia para o clube. Foi com espanto e incredulidade que assisti à marcação desta AG de dia 28, marcada em antecipação à AG Extraordinária proposta. Lembro que a última visa tão-somente dotar os sócios de informação vital que possibilitasse esclarecer os mesmos acerca da realidade actual. Esta posição de antecipação a uma AG com tais propósitos como são a informação e a transparência, mais não fez do que extremar desconfianças.
É neste contexto de precipitação de posições, de indevida reflexão e interiorização de privação de uma discussão Democrática que um Congresso Leonino nos poderia trazer, que somos chamados a votar hoje aquele que é um dos mais importantes e certamente mais decisivo, negócio de reestruturação do clube. Responsabilizo a Direcção por não ter fomentado em devido tempo esse debate, abdicando da discussão pública entre Sportinguistas e relegando à posteriori (quando de já pouco vale) a realização do mesmo.
Prós & Cont(r)as
Quanto ao negócio propriamente dito, eis a minha visão pessoal. Vou tentar ser tão simples quanto me for possível.
Renegociação do Project Finance
Diminuição da Taxa de Juro, Comissões e da amortização da divida bancária
O Sporting consegue uma redução das taxas de juro, muito por força do “spread” aplicado de 6,3% para 4,7%. Ora, o spread não é mais do que a taxa de risco aplicado pelos bancos sobre o custo do financiamento. Se o custo do financiamento aumentar, o spread poderá ser reduzido. No final, o banco arrecada mais lucros porque a sua taxa incidiu sobre um montante superior. Quanto às comissões, sendo os valores anuais inferiores, é lógico que estas também diminuam. A diminuição exigida da amortização da dívida bancária de 175 M€ para 109M€ em 5 anos era um ponto obrigatório sob o risco de não poder ser cumprido. Existiam várias formas de o fazer. A dilatação do prazo de cumprimento era, talvez, a mais sensata.
Prós:
Spread faz diminuir a taxa de juro concedida e valor das prestações diminui. Com ela diminuem as Comissões anuais a libertar assim como o valor das amortizações necessárias a médio curto/prazo.
Contras:
Custo do financiamento aumenta consideravelmente elevando o valor da dívida global atenuada com dilatação de prazo de pagamento, paga-se menos por mais tempo. O mesmo se aplica ao valor das Comissões.
Análise:
Revelador das dificuldades em se cumprir os requisitos do Project Finance vigente procura-se soluções de alívio de Tesouraria. É uma boa medida desde que não se hipoteque o Sporting dos nossos filhos.
Desobrigação anual da alienação de passes de jogadores
Todos os anos o Sporting é obrigado a realizar valias de 5,5M€ na alienação de jogadores em função do Project Finance actual. Este novo acordo, na teoria, termina com isso mas tem o revés da medalha face ao valor das cláusulas de rescisão. O Sporting fica “apenas” obrigado a canalizar 20% das vendas dos passes, libertando os restantes 80%.
Prós:
Desobrigação da alienação de passes de jogadores no valor de 5,5M€
Contras:
Novo acordo reduz possibilidades dos valores de investimento no futebol face a possíveis cláusulas de rescisão accionadas. 20% de obrigação de canalização do produto das vendas é sempre canalizado para a banca.
Análise:
O Sporting no ano passado realizou mais-valias na ordem dos 30M, 20% desse valor significam 6 M€, 500 mil euros a mais face ao obrigatoriamente estipulado. Utilizar o argumento de que através desta libertação de obrigatoriedade existirá mais dinheiro para investir no futebol é, no mínimo, questionável.
Este acordo prejudica o clube na medida em que irá forçá-lo a aceitar valores abaixo das cláusulas de rescisão porque a banca, como veremos mais à frente, irá reforçar a sua posição através das VMOC’s não tomadas. Isto deixará o clube ainda mais fragilizado e susceptível de aceitar a melhor proposta em detrimento da proposta ideal.
É uma medida desastrosa para o Sporting Clube e os seus sócios e excelente para a Banca pois cada vez mais os instrumentos de gestão do futebol passarão a ser geridos em função dos interesses dos accionistas e não os dos sócios. Tal, como veremos mais à frente, poderá mesmo culminar com a perca de gestão da SAD e aí, nem as acções de tipo A nos poderão valer pois serão sempre os interesses dos accionistas a serem defendidos em 1º lugar e os sócios serão apenas vistos como Clientes.
Amortização do Passivo em 5 anos
Segundo este negócio, a amortização do Passivo diminuirá em 5 anos para números abaixo dos 140 M€, num total de 115 M€ amortizados. A amortização prevista resulta de 60 M€ da emissão de VMOC’S, 40M€ em resultado da alienação dos terrenos do antigo estádio e 15M€ provenientes da exploração positiva da SAD.
Prós:
Diminuição do Passivo
Contras:
Passagem da Sporting Comércio e Serviços para a SAD;
Passagem da Academia para a SAD;
Consumação do negócio da alienação de terrenos à MDC;
Perca da posição maioritária na SAD;
Risco, no limite, de perca de controlo da SAD;
Perca de influência dos sócios;
Extinção quase total das modalidades;
Risco de diminuição do número de associados.
Análise:
Ponto por ponto;
Passagem da Sporting Comércio e Serviços para a SAD
A Sporting Comércio e Serviços passar para a SAD por um valor aproximado de 60 M€ que, segundo nos é dito, é o valor da sua dívida. Se tivermos em conta que esta Sociedade é detentora dos direitos publicitários e das transmissões televisivas no clube, facilmente depreendemos a razão de ser do negócio.
Como diria um amigo meu, “o negócio da televisão fica totalmente nas mãos de uma sociedade onde existe também uma posição qualificada da Sportinveste (ou seja, Olivedesportos). Isto quer dizer que quem compra os direitos televisivos por um valor vergonhosamente baixo, é também representante de quem o vende, gerando margens pornográficas, de acordo com o que se ouve no mercado.”
Como a SAD não dispõe de recursos financeiros para esta operação, surgem a figura das VMOC’s (valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis) em acções no prazo de 5 anos. Para o sucesso muito depende a expectativa que a SAD conseguir gerar no mercado nacional. O capital disperso garante uma posição mais favorável ao clube pois, caso contrário, vê a tomada de posse do remanescente pelos seus credores, fortalecendo com isso as suas posições. Aliás, isso irá sempre ocorrer pois no conceito económico em que vivemos é expectável a tomada de 60 milhões de euros em obrigações por parte dos Sportinguistas? Não creio mas oxalá esteja enganado. O facto de ter de se transformar esses 60 M€ em capital social da SAD, só possível por aumento de capital, poderá e deverá alterar as posições relativas dos actuais accionistas, o que no caso do Sporting pode ser perigoso por poder ver a sua participação diluída, que é como quem diz, ainda menor do que a prevista.
É um negócio ruinoso para o clube e para os sócios que se vêm privados da uma das maiores fontes de receitas disponíveis em detrimento da SAD e dos seus accionistas. Assim com fazem perigar a sua posição na SAD face ao aumento de capital previsto.
Passagem da Academia para a SAD
Como é sabido os terrenos da Academia seguirão uma tendência de valorização face à cidade aeroportuária prevista para a região de Alcochete. Estamos a falar de uma valorização que poderá ultrapassar os 100% dos valores actuais de mercado. É por isto que considero injusto a contrapartida de 22 M€ sabendo que o preço de custo rondou 15 M€. A mais valia após estes anos seria apenas de 7M€ (isto excluindo o serviço da dívida senão falaríamos de números ainda menores).
Esta operação existe para que as VMOC’s sejam mais atractivas mas sobretudo para que a valorização da Academia se verifique como activo da SAD e não do clube. Como o próprio Presidente mencionou, se daqui a alguns anos tiver uma proposta muito superior, alienará a Academia. Esqueceu-se de referir que segundo esta proposta o Sporting Clube (e os seus sócios) deixam de encaixar 100% da mais-valia realizada (tanto Passivo que se abateria meu Deus…) para passar a encaixar apenas os dividendos relativos à sua participação na SAD, isto se fossem distribuídos, o que nunca aconteceu antes.
É um negócio ruinoso para o clube e para os sócios que se vêm privados da valorização dos terrenos da Academia e da mais do que provável alienação em detrimento da SAD e dos seus accionistas.
Consumação do negócio da alienação de terrenos à MDC
Confesso que não possuo dados suficientes para fazer a merecida análise a este negócio e até duvido que alguém exterior ao processo o consiga fazer. De uma coisa não restam dúvidas, tem sido um processo moroso e confuso onde parece evidente o Sporting ter ficado a perder. Tanto quanto sei é o que vou ouvindo e lendo dos diversos responsáveis que abordaram estas questões e aqui incluo:
Os valores negociados correspondem a valores estabelecidos em 1998, se ainda não foi finalizada a operação porque não se renegoceiam esses valores? Sabe-se que um dos responsáveis que negociou a venda dos terrenos passou após a mesma a pertencer aos quadros da empresa compradora, não houve aqui conflito de interesses?
Temo que os esclarecimentos solicitados pelo Leão de Verdade em AG Extraordinária já venham tarde demais, pelo que a falta de informação em matéria de decisões correlacionadas, não é boa conselheira para um voto em consciência.
Perca da posição maioritária na SAD
São públicas as palavras de Filipe Soares Franco no que concerne à SAD, se fosse possível recomprá-la era o que faria, retirando-a de bolsa, assumindo com isso todo o controlo do negócio do futebol por parte do clube. Sinceramente, não acredito muito nisto. Seria então expectável que o Sporting se aproximasse tanto quanto possível dessa ideia (afinal trata-se da opinião do Presidente do Clube e da SAD). Seria normal assistir a uma valorizando da participação do clube na SAD. Ora o que acontece é precisamente o contrário. O Sporting Clube valoriza a SAD e diminui a sua participação na mesma, tornando as palavras do Presidente incongruentes.
A perca de posição maioritária é um risco que, como sócio, não quero correr. Argumentam e bem os defensores desta hipótese que o Sporting é o único que detém acções do tipo A, não vendáveis, que lhe conferem uma posição privilegiada sobre a Gestão. É um facto. Mas também é um facto que essas acções Tipo A, não implicam per si a atribuição da Gestão aos seus detentores. Apenas defendem-no em questões específicas pré-definidas pela Lei como por exemplo fusão, cisão ou alienação de património que são protegidas pelo Direito de Veto. Ora isto nada tem a haver com a Gestão operacional da SAD que ficará a cargo dos responsáveis eleitos em AG de accionistas, não de sócios.
Entrando já no ponto seguinte,
Risco, no limite, de perca de controlo da SAD
Possuindo uma posição minoritária, o Sporting será forçado a defender os seus interesses mediante alianças estratégicas a que tenha de recorrer. É certo que se terão que adoptar parceiros estratégicos cujos interesses sejam os menos maus para o clube, um pouco à semelhança com o que acontece na formação de coligações dos partidos.
No limite, tanto quanto me foi possível aferir, o Sporting Clube poderá mesmo perder o controlo da SAD, o que a acontecer levaria a que apenas nomeasse um Administrador fruto das acções de Tipo A que detém e que lhe conferem poderes especiais .
Claro que isto não acontecerá no mandato de FSF, pois a VMOC´s só serão convertíveis em acções após 5 anos, protegendo-o deste e de um eventual futuro mandato. Não se poderá afirmar o mesmo do Presidente que vier a seguir, será sempre alguém fragilizado pelo poder da Banca que a meu ver serão os futuros donos da SAD, ou seja, do negócio do futebol do Sporting Clube de Portugal.
Perca de influência dos sócios
É sabido que o motor do clube é futebol. Se as receitas a ele inerentes passarem todas para a SAD, são os accionistas que passarão a definir a estratégia para o clube. Os sócios perdem o poder que sempre detiveram em 102 anos de existência. O Sporting Clube de Portugal, em matéria de associativismo e tal qual o conhecemos hoje, pura e simplesmente deixa de existir.
Extinção quase total das modalidades
Será a consequência natural da aprovação desta negociação. Passando as receitas para a SAD, estas de lá só sairão de duas formas, ou para o futebol (incluo os Administradores) ou para os accionistas. As modalidades têm os dias contados mesmo sabendo que o investimento nelas gerou muitos dos Sportinguistas que hoje vão ao Futebol. Não existe este tipo de visão nas SAD’s.
Risco de diminuição do número de associados
À medida que se forem tornando evidentes as consequências da aprovação deste acto, os sócios tenderão a afastar-se do clube pois a sua posição em vez de valorizada, é novamente diminuída. Nem a implementação do projecto de angariação de novos sócios suportada pelo novo cartão de sócio, ambos projectos idealizados por mim, poderão impossibilitar a desertificação do número de sócios nos anos vindouros. Só a paixão evitará que muitos não o façam já hoje.
Conclusão
Não me sinto dono da verdade, apenas tentei esclarecer na medida que me é possível os demais sócios. Posso e devo ter cometido erros de análise, seria injusto pensar o contrário face à falta de dados que me permitam uma avaliação mais correcta. Ainda assim, sei que a renegociação do Project Finance só teve lugar mediante um negócio atractivo para a banca, ainda mais atractivo que o anterior. A diminuição do Passivo em 115 M€ cria ilusões nos sócios mas também uma forte expectativa nos recebimentos dos credores que, no limite, poderão se tornar donos e senhores de uma indústria como o futebol que gera valorizações exponenciais de activos como nenhuma outra. Tal, porém, não significa que seja necessariamente pior para o Sporting Clube de Portugal, é apenas uma questão de perspectiva daquilo que se valoriza mais, o clube com o poder nos sócios ou a SAD com o poder dos accionistas. Diria que é um negócio bom para a SAD, mau para o clube e ruinoso para os sócios. Existem alternativas, é preciso é procurar entender primeiro a vontade dos sócios e depois votar, não o contrário…
Da minha parte, sou fiel às palavras de Alfredo Augusto das Neves Holtreman, “Queremos que o Sporting seja um grande clube, tão grande como os maiores da Europa”.
Voto NÃO, para que no futuro possamos continuar a votar.
Abraço de Leão,
Verdão[/i]