As bolas no poste

Em 1906, José de Alvalade deu início a um projecto social e desportivo com uma frase que ficou célebre: “Queremos que o Sporting seja um clube grande, tão grande como os maiores da Europa”. Cerca de 90 anos mais tarde, José Roquette, bisneto do fundador deu início a um outro projecto com uma outra frase que, embora não tenha sido celebrizada como a primeira, não deixou de ficar na memória de muitos sportinguistas e era qualquer coisa como isto: “a sustentabilidade do Sporting nunca mais dependerá da bola que bate no poste.” Quinze anos depois de um projecto que foi pedantesco na génese, incompetente na execução e ruinoso nos efeitos, ei-las de volta para atormentar o Sporting e os sportinguistas: as bolas no poste, ou num sentido mais lato, o azar e as vicissitudes do futebol, que não cessam de se intrometer entre o Sporting e o cumprimento do seu desígnio de ser tão grande como os maiores da Europa.

Face àquilo a que se propunha José Roquette, dizer actualmente que o que tem faltado ao Sporting para obter as grandes conquistas é “um bocadinho de sorte”, como disse Bettencourt no ano passado, ou dizer que a presente época tem corrido mal devido à quantidade de bolas no poste como já se começa a insinuar, poderia ser um reconhecimento do fracasso do Projecto Roquette. Mas é muito mais do que isso: é acima de tudo uma irracionalidade e um reflexo da cultura de alijamento de responsabilidades e de impunidade que impera em Alvalade.

Vá-se lá perceber: se um jogador falha uma intercepção ou erra um passe e com isso possibilita ao adversário ficar na posse da bola, é maldito e assobiado; mas se o jogador faz um remate à baliza e a bola acerta no poste, quem se maldiz é a sorte e o poste, como se a sorte tivesse uma mão invisível que guia a bola na direcção do poste, ou como se o poste fosse uma entidade móvel que tem por missão desviar as bolas da baliza. O futebol é um fenómeno que vive mais de emoção do que da razão, mas qual será o mal em racionalizar um remate ao poste e aceitá-lo como aquilo que ele de facto é ─ uma falta de pontaria ─ em vez de lhe atribuir um significado metafísico? Os postes e a barra estão lá para delimitar a baliza e portanto fazem parte do jogo como elementos passivos. Se um jogador remata e a bola acerta no poste, é porque não teve pontaria ou engenho suficientes para colocar a bola na baliza, da mesma maneira que o defesa não teve pontaria ou engenho suficientes para receber um passe ou interceptar uma bola e com isso a deixou na posse do adversário. Não há portanto mais razões para criticar um do que para criticar outro, ou mais razões para atribuir a falha ao azar num caso do que noutro. Foi perto, foi quase, mas não foi o suficiente. Dizer que é um azar a bola bater no poste, como se o poste fosse culpado por estar onde está, é como culpar a bola por ser redonda e dificultar a sua intercepção pelo guarda-redes quando sofremos um golo.
As bolas no poste, em maior ou menor número fazem parte do jogo do futebol. Se tendemos a dar-lhes mais importância do que têm (ao ponto de, por exemplo, nos darmos ao trabalho de as contabilizar semanalmente, quando muito mais interessante e útil seria registar a evolução de todos os remates na globalidade) é meramente pelo efeito visual e sonoro que provocam, juntamente com as emoções que esses efeitos desencadeiam quer na equipa quer nos adeptos. E é por aí que deviam ser valorizadas, e não como se valessem meio golo, como se dessem pontos e vitórias, e muito menos como se servissem de desculpa para o desempenho medíocre da equipa e para mais uma época fracassada.

Se calhar insistirão alguns, dizendo que este ano o Sporting é a equipa com mais remates ao poste no campeonato e que esse facto prova que esta época está a ser anormalmente azarada. Mas mesmo admitindo que uma bola ao poste é um azar, esse argumento é uma falácia, por 3 razões. A primeira é que, pela lógica das coisas, quando se faz a contabilidade de bolas ao poste, em cada ano e em cada momento haverá uma equipa com mais bolas ao poste, tal como haverá uma equipa com menos bolas ao poste do que as outras ─ anormal e raro seria se todas as equipas tivessem exactamente o mesmo número de bolas ao poste; anormal e raro seria se o Sporting, e só o Sporting, ano após ano fosse recordista de remates ao poste; mas faça-se a contabilidade de remates ao poste de todas as equipas ao longo de todos os anos e estou convencido que se verá que o Sporting não é, em média, mais “azarado” que as outras equipas; se este ano temos mais remates ao poste que os outros, também chegará o ano (ou até já chegou) em que seremos a equipa com menos remates ao poste; ou seja, com uma visão mais global do fenómeno, chega-se à conclusão que esta anormalidade temporária é ela própria normal. A segunda razão é que os nossos remates ao poste pouco ou nada têm a ver com as nossas falhas defensivas; se é verdade que este ano muitos dos remates que fizemos foram “desviados” pelos postes adversários, não é menos verdade que este ano a nossa defesa continua a parecer um pass-vite, e portanto a falta de eficácia ofensiva por si só não pode explicar o mau desempenho da equipa. A terceira razão pela qual é falacioso invocar o número de bolas ao poste para justificar o mau desempenho da equipa e o azar do clube, é simplesmente o facto de que este ano não temos tido só “azar”, e arrisco mesmo a dizer que já tivemos sorte que chegasse para anular o “azar” das bolas ao poste; estou a falar por exemplo das abébias dos defesas do Brondby que nos permitiram dar a volta à eliminatória no jogo da 2ª mão, ou das arbitragens dos jogos com a Naval, com o Olhanense, com o Lille e até com FCP, já para não falar da arbitragem do jogo com o Guimarães que de nada valeu, porque mesmo assim perdemos.

E era nesses golpes de sorte que queria agora pegar. Porque para quem interessa justificar o insucesso da equipa com o azar e as bolas ao poste, não é bom falar dos golpes de sorte: tudo o que é mau no clube e na equipa será sempre culpa dos outros, do azar ou do destino, enquanto tudo o que de bom estiver será sempre mérito próprio. E a quem interessa justificar o insucesso do Sporting com o azar e as bolas ao poste? A muita gente: antes de mais, às pessoas que estão agarradas a cargos dos quais se pede muito mais do que elas são capazes de dar e portanto não assumirão erros ou responsabilidades que teriam como consequência óbvia o seu despedimento ou renúncia; depois, às pessoas que, após uma derrota ou uma eliminação, só dormem descansadas se acreditarem que foi feito tudo o que era possível e que se não se ganhou foi por causa do árbitro, da relva ou do poste; e até à comunicação social e à cultura popular, que cada vez mais vêem no Sporting terreno fértil para cultivar a curiosa, burlesca e patética imagem de um clube atormentado pelo azar, como se estivesse pré-destinado a cumprir longos períodos sem conquistas, a perder finais de competições europeias na própria casa e a ter adeptos que sistematicamente aparecem nas fotografias com uma cara de desolação. Ou seja, interessa a toda a gente, menos aos que têm realmente saudades de vibrar com uma conquista épica e grandiosa, ou de comemorar um golo com um salto tão efusivo que faz partir o candeeiro do tecto. Deviam ser esses momentos de alegria e realização que devíamos contar e recordar, muito mais do que as bolas ao poste.

Resumindo, faz-me impressão que num clube com a história e dimensão do Sporting Clube de Portugal, num clube que todos os anos se assume como candidato ao título, num clube que se quer ganhador e competitivo se atribua o insucesso ao azar e às bolas no poste. Nos grandes clubes deve cultivar-se a excelência e o bom deve ser inimigo do óptimo, para que na hora da verdade o trabalho, o esforço e a competência se sobreponham aos factores impossíveis de controlar; quando se perde há que dizer que se devia ter ganho, e quando se ganha pela margem mínima há que dizer que se devia ter ganho por mais. Nos grandes clubes há que ter espírito combativo e em vez de se lamentar a falta de sorte e as bolas ao poste deve lutar-se contra os autocarros à frente da baliza adversária, contra os árbitros, contra as condições atmosféricas e contra os relvados podres. E se assim for não será preciso andar a contar as bolas ao poste; de facto, mais importante do que as contar… é tê-las no sítio. :mrgreen:

Creio que a má época não se deve ás bolas no poste deve-se a uma coisa que reina neste país à beira mar plantado desde à muitos Séculos… Incompetência

Mas é muito mais do que isso: é acima de tudo uma irracionalidade e um reflexo da cultura de alijamento de responsabilidades e de impunidade que impera em Alvalade.

ATÉ NÓS ADEPTOS ESTAMOS A ENTRAR POR ESSE CAMINHO, CADA VEZ NOS RALAMOS MENOS,E ESSA GENTE ,QUE ENVERGONHA UMA CAMISOLA ,QUE ENVERGONHA UM CLUBE HISTORICO,SABE DISSO.
EXISTE UMA FALTA DE EMPENHO, UM Á VONTADE PARA FAZER, VERGONHAS ATRÁS DE VERGONHAS,QUE É RIDICULO.
FDX EU NA MERDA DE TRABALHO QUE TENHO, TENTO SEMPRE FAZER O MELHOR ,ESTA GENTE NÃO FAZ O MESMO PORQUê?
DIGAM-ME QUE ISTO VAI ACABAR!!!

O último parágrafo da excelente crónica do Eddie diz tudo.

Yap! Incompetência impune é uma das imagens de marca deste reinado de JEB.

Excelente texto Eddie!

Colocaste por palavras o que senti quando vi a intervenção do inenarrável ROC no programa da RTPN, todo feliz por o Sporting ter mais 3 bolas no poste desde o programa anterior!

Bolas no poste, relvado/sintético . . . vale tudo para tapar o sol com a peneira!

Brilhante ponto de vista! :clap:

Infelizmente está na génese do adepto-modelo do Sporting esta cultura fatalista do azar, da perseguição dos árbitros, dos maus sorteios, servindo quase sempre estes argumentos para esconder as nossas próprias fraquezas enquanto clube ao longo de uma vasta série de anos, seja ao nível de dirigentes incapazes ou de plantéis cuja qualidade esteve (e está) abaixo de outros concorrentes, havendo por isso a tendência para se justificar as nossas incapacidades com teorias para-normais.

E o pior de tudo é que essa cultura está de tal forma enraizada que molda claramente a personalidade e a crença do adepto-tipo, comportamento esse que depois se reflecte em outras vertentes da vida pessoal dos adeptos - eu considero-me uma pessoa algo pessimista, defensiva, sempre de pé-atrás, e não tenho dúvidas que grande dose desse comportamento se deve a uma sucessão de anos em que era recorrente dizer-se que o Sporting tinha azar.

Penso que demorará muito tempo, vários e longos anos a modificar esta cultura, e de facto só mesmo com lideranças fortes e competentes que sejam capazes de re-colocar o Sporting num patamar de excelência a nível de exigência, qualidade e objectivos, será possível este velho gigante, outrora um dos maiores da Europa voltar a ser Rei e por consequência voltar a ter adeptos confiantes e que saibam friamente relativizar o azar.

:arrow:

Muito ausente mas sempre certeiro Eddie! :great:

As bolas no poste não são mais reflexo do que a aselhice dos jogadores em campo e do treinador que os comanda. Com tanta falta de qualidade e bom senso no nosso futebol, até a sorte foge de algo de tão baixa qualidade. A sorte não nos acompanha, mas a verdade é que “a sorte procura-se” e o Sporting há muito que deixou de procurar a sorte.

As bolas do poste são um facto, contudo estas estão a servir de bode expiatório, para escamutiar a incompetência e falta de resultados do clube!

Já somos campeões das bolas-ao-poste.
Como se isso servisse de alguma coisa.

É parte do n/atavismo , da nossa mala suerte, mas talvez, principalmente da nossa azelhice.
Tem solução. Treinem com balizas mais pequenas. Arranjem melhores avançados.

é o argumento dos incompetentes a querem desculpar-se com questões de sorte ou azar…qual será apróxima?

bolas na barra?

Fora-de-jogos?

Penaltis não assinalados?

Peguemos neste tema tão a propósito para fazermos uma análise realista do que se passa connosco actualmente… talvez isso sirva para encararmos o futuro com mais rigor!
Todo este tema das bolas no poste, quando não são os árbitros, ou o campo que está torto, serve sempre para alimentar aquele que é o único recurso dos medrosos e incompetentes: a DEMAGOGIA!
Mas não nos esqueçamos que esse recurso é bastas vezes utilizado porque colhe junto daqueles a quem se quer agradar:os ADEPTOS!
O problema surge quando já não há mais como esconder os verdadeiros problemas perante a permanente e triste realidade dos factos…
Assim sendo, voltemos um pouco atrás e tentemos analisar aquilo que se tem passado neste clube nos últimos 12 anos, e que nos atirou para este abismo sem fundo.
Antes demais, quero aqui deixar claro que parto sempre do princípio que todos aqueles, que passam pela direcção do clube, podem ter muitos defeitos, mas serão sempre sportinguistas, como todos nós, à procura do sucesso do clube!
Quando José Roquette assume a direcção do clube frisou sempre que não se via capaz de o fazer, tendo adiado por algum tempo esse desígnio, até à sua inevitabilidade.
Por essa altura, o clube nada ganhava há mais de 15 anos, as finanças estavam depaupuradas e os sócios afastavam-se cada vez mais…
Ao assumir o cargo, ele logo ditou falta de capacidade para gerir a área desportiva, por manifesta falta de conhecimento na matéria, tendo elegido sempre alguém para dirigir a sociedade recentemente criada.
A si chamou um projecto de renovação do clube, que ele julgava ser adequado, utilizando o vasto património imobiliário mal aproveitado, para reabilitar e tornar o clube menos dependente do sucesso desportivo.
Este projecto visava a criação de uma academia de formação, um estádio novo e uma área de exploração imobiliária.
Para tudo isto teve-se que obter um projecto de financiamento junto da banca porque nada é possível fazer sem dinheiro.
Como tal, não vem mal ao mundo em apelar à banca desde que se saiba o que fazer com o dinheiro sem o esbanjar.
No plano imobiliário começámos bem e fizemos aquilo que deveria ser a jóia da coroa: a academia.
Daí deveriam sair os futuros jogadores que ofereceriam muitos títulos e sucessos ao nosso clube… de certo modo conseguimos mas enganámo-nos no clube que deveria ter sucesso. Não é pois de espantar que os ex-nossos sejam hoje jogadores de referência por essa Europa fora com muitos títulos conquistados e outros por chegar… e se dúvidas há, basta olhar para a selecção nacional e ver quantos jogadores estão relacionados com o Sporting!
Por essa altura construía-se o estádio que se começa a tornar o nosso primeiro cancro. Acontece que, se a academia justifica ser 100% nossa, ao contrário dos nossos rivais, já quanto ao estádio estes aproveitaram o embalo do Euro para pagar o menos possível enquanto nós embarcámos na ousadia de o pagar quase integralmente.
Logo, o rigor na exploração do empreendimento teria que ser muito mais exacto: mas não foi…!
Quero-vos dizer que, em minha opinião, este estádio insere-se na zona mais nobre dos 3 campos dos «grandes». No entanto, desde o primeiro dia em que lá entrei ,que foi na inauguração, disse para mim mesmo que tudo aquilo me cheirava a decepção. No meio da euforia muitos foram os que me disseram que eu não passava de um pessimista… mas afinal apenas me considero um exigente perfeccionista, sobretudo quanto aquilo que é meu!!
O arquitecto mais faz lembrar o nosso Maniche com uma carreira polémica e fora de prazo, construindo um projecto pouco atractivo e menos ainda funcional. A área comercial tornou-se um desastre desde o princípio por não poder competir em qualidade e eficácia com qualquer zona comercial minimamente decente.
O estádio de gosto duvidoso e sobredimensionado com defeitos incríveis como seja o drama do relvado, vários defeitos de concepção como aquele dos lugares para cegos… entre tantos outros!
Entretanto, na área desportiva o Sporting começava a investir finalmente com mais estofo financeiro, fruto dos créditos obtidos junto da banca através do projecto em vigor.
E aqui começa novo problema porque as pessoas que estavam encarregues deste tema não se encontravam à altura daquilo que lhes era exigido.
Por essa altura andava então Norton de Matos com uma mala cheia de pasta a distribuir por tudo o que era clube da Argentina a troco de jogadores absolutamente medíocres. Só trouxemos um de jeito:Aldo Duscher que não compensou todos os disparates feitos em tantos outros que nem me apetece recordá-los!
Só em 1999 chega alguém à direcção da SAD com algum valor não obstante o facto de ser um verdadeiro megalómano, o que se tornaria prejudicial para nós mais tarde, no equilíbrio das contas: Luís Duque!
Este faz uma equipa finalmente campeã e obtemos o nosso título ao fim de 18 anos de secura, seguido de outro, 2 anos depois…! Viviamos uma época de euforia que mais não era do que o canto do cisne deste clube… O problema residia no facto que toda esta dinâmica empreendedora e vitoriosa tinha custos elevadíssimos que tinham que ser ressarcidos àqueles que nos financiavam:os bancos!
Para tal seria necessário que toda a sociedade facturasse lucros de modo a cobrir os gastos. No entanto, todo o projecto mobiliário era deficitário, começando aí o clube a tentar obter fundos do Estado que se fez sempre muito rogado face à necessidade de ter que financiar todo o projecto do Euro com dinheiro para todos ,menos para o Sporting, por este já se encontrar com o seu projecto muito adiantado.
Lembrar que por esta altura o SLM ainda não sabia se teria novo estádio tendo sempre colocado ênfase no facto de apenas avançar se garantisse grande parte de financiamento através de permutas com o estado.
Nesta altura também ficou célebre as acções que o Estado através do ministério das Finanças de M.Ferreira Leite adquiriu ao SLM. Desastroso mas conveniente negócio…!
Como o Sporting não obtinha lucros houve necessidade de restruturar o projecto de financiamento obrigando-se a si a vender um determinado número de jogadores por ano para cobrir a dívida.
Começa então a fase de ver os putos que ainda nem barba tinham a vestir a camisola do clube para logo a despirem-na a troco de meia dúzia de milhões quando não tostões…
Nesta fase já não havia Roquette mas havia aquele que seria sempre o seu mais fiel seguidista: Dias da Cunha!
Velho e cristalizado no tempo, presidiu o clube atolhando-se em dívidas sobre dívidas sem qualquer resultado de sucesso…
Saiu em litígio com tudo e com todos por nunca conseguir perceber que aquele projecto de visão imobiliária estava completamente falido.
Até a sua referência, José Roquette, foi capaz de reconhecer isso quando Filipe Soares Franco assume o clube.
Dias da Cunha, velho e teimoso, nunca aceitou tal derrota e mais nada fez do que minar o caminho de FSF até ao fim da sua presidência.
Conseguiu com isso o suficiente para inviabilizar o projecto de FSF, que mais não se tratava do que reconhecer a incapacidade para continuar a gerir o património imobiliário, pretendendo que o clube alianasse a parte imobiliária para se desfazer de grande parte das dívidas e poder concentrar esforços na parte desportiva.
Para isso havia que apostar forte na formação através da academia e construir uma equipa de qualidade.
Deixava assim o clube de ter que vender os seus míudos acabados de chegar da formação e poder fazê-los mais valiosos e contribuintes para o sucesso desportivo do clube.
Mas o clube rolava por estes dias no fio da navalha!
Por um lado tinha-se que tentar fazer o melhor negócio possível com a venda dos imóveis, antes disso tinha-se que obter a autorização de larga maioria dos sócios, exigir de um modo férreo mas diplomático aquilo que nos era devido pelo o Estado e, no meio disto tudo ainda ter que gerir uma equipa de futebol com pinças por não haver muitas hipóteses de garantir fundos ,de imediato, para comprar jogadores de renome.
Diga-se que nesse aspecto fomos bafejados por alguma sorte que já mereciamos porque vindos de uma situação em que tinhamos uma equipa em cacos fizemos uma aposta muito feliz em Paulo Bento, que era uma incógnita, e revestimo-nos de jogadores na maioria muito jovens mas também muito valorosos.
Durante 4 anos andámos em frente mas não tanto quanto a massa associativa começava a exigir.
De resto, minado por todos os lados, FSF nunca conseguiu lançar o seu projecto em pleno, muito por força de uma oposição decrépita e inútil que nunca nada fez pelo clube senão criticá-lo e afundá-lo, com o velho D.Cunha à cabeça…!
Quando FSF dá lugar a JEBO, este prefigurasse como a salvação desportiva do clube e usando de algum estofo financeiro que finalmente começavamos a ter, por força da política de rigor e contenção de FSF.
Foi então um verdadeiro desbaratar começando logo com aquela criatura que era reserva de um banal clube espanhol:Pongolle!
Foi o mote para o que viria daí para a frente e até agora o regabofe tem sido interminável… Conseguimos num breve espaço de tempo hostilizar aquilo que era já uma imagem de referência do clube como a sua formação reconhecida no mundo inteiro, foi um correr com tudo o que eram valores firmados do clube para ir torrar verdadeiras fortunas em jogadores absolutamente medíocres já para não falar nas fortunas gastas em jogadores em fim de carreira!
Tudo isto fumentado e dirigido por verdadeiros arrivistas que nunca nada provaram para merecer os lugares que ocupam!
Para mim, isto já não é incompetência mas sim demência…!
Soluções para esta crise: É preciso perceber que o património de prestígio já quase não existe e começando pela equipa prácticamente ninguém se aproveita para o futuro.
Os clubes não morrem mas definham até quase à sua inexistência… pode-nos acontecer isso se não houver forças vivas do clube dispostas a avançar mas de uma forma absolutamente competente e sem demagogia, custe aquilo que custar aos sócios e adeptos deste grande clube!!
Há quem, como já por aqui vi que aposta em advogados de ocasião, policías e até em fórmulas Futre como se ele alguma vez tivesse mexido um dedo por nós…
Eu julgo que a saída para isto necessita de alguém com crédito financeiro para poder reequilibrar as contas do clube porque ainda não é apesar de tudo o pior do clube devido muito à gestão muito rigorosa de FSF que trouxe as contas do clube para valores mais sustentáveis, bem longe daquilo que se passa no acampamento dos índios…!
Desse modo só vejo alguém como José Ricciardi à frente do Sporting mas secundado por gente jovem e dinâmica mas que não se embrenhe em demagogias parvas e que faça um trabalho competente na reconstrução da equipa.
Houve alguém aqui que disse uma coisa muito acertada que eu passo a citar: O tempo e a paciência são permanentemente beligerantes!
Entendamos estas palavras e talvez um dia possamos inverter a lógica viciosa da derrota e da destruição…

O Projecto Roquette foi um movimento falhado na tentativa de dar ao futebol uma gestão profissionalizada. A justificação desse falhanço prende-se essencialmente com o desconhecimento primário daquilo que é o futebol de alto nível e a alta performance desportiva. O problema é que, em vez de reconhecer o erro e aperfeiçoar o modelo (o que acharia até plausível), o Sporting optou por perpetuar o ciclo erróneo através de cooptações sucessivas, à laia das fotocópias, de qualidade gradualmente inferior…

Endhoscopy
http://leaodabeira.blogspot.com/

Bom texto, Pepeu… uma ou outro coisa que discordo.

Não acho que, apesar do jejum, houvesse afastamento dos sportinguistas relativamente ao clube. As pessoas vibravam. Sentia o clube bem vivo.

Quanto à construção das equipas campeãs e o custo envolvido… não vejo que tenha sido este o problema… o que eu acho é que a gestão dos ( bons ) activos do plantel foi péssima. Vendemos, indexados ao sucesso deste período, Duscher e Viana por 25 milhões, mas o desaproveitamento de outros valores, por razões diversas e sua rentabilização foi criminosa. Tinhamos condições na altura para criar uma nova hegemonia no futebol português e tudo se perdeu por falta de visão de médio/longo prazo ( precisamente o que os dirigentes na altura diziam que era preciso ter, justificando os cortes orçamentais que se verificariam posteriormente ). Os custos de um plantel daquela grandeza eram elevados, mas os benefícios ( desportivos e financeiros ) de uma equipa verdeiramente competitiva são tão evidentes que nem vou enumerá-los.

Bons plantéis, com bons jogadores não os vejo como custo mas como investimento, desde que a estrutura de suporte seja competente. É este um dos problemas das pessoas que governam o clube, não conseguem criar esta estrutura e não têm capacidade para perceber esta dicotomia custo/investimento.

A desorçamentação, o discurso economicista em exagero, a falta de preocupação em apetrechar o futebol profissional com as mesma armas que os rivais e acima de tudo a incompetência na aplicação dos poucos recursos existentes mataram a capacidade competitiva do clube e isto sim, afastou os adeptos.

Discurso economicista: este afastamento dos clientes ( adeptos ) gera menos quotas pagas, menos bilheteira, menos merchandising, menos patrocínios porque o público alvo é menor, contratos televisivos mais baixos ( quando acabar este, em 2018 ( ? ), quero ver quais serão os novos valores )… enfim… menos receitas, menos poder para investir no futebol, piores jogadores, pior espectáculo, ausência da Champions… é um ciclo vicioso.

Gostei do texto do @ pepeu apesar de não me rever totalmente nas suas afirmações (dificilmente se conseguirá encontrar dois Sportinguistas que pensem de igual forma).

Não concordo, por exemplo, quando fazes a apologia de FSF e da sua política de contenção. É verdade que precisavamos urgentemente de sanear as contas mas o desinvestimento na equipa de futebol, a política do “think little” em vez do “think big” num clube que virou o milénio como campeão e repetiu, a falta de coragem e arrojo que poderia, volto a reforçar, poderia resultar em títulos e conquistas várias, cavou o fosso em que nos encontramos.

Das tuas palavras depreende-se, e aí concordo, que desde José Roquette, todos os Presidentes que tivemos, uns mais do que outros, tiveram culpa no estado a que o Sporting chegou.

A História encarregar-se-á de os julgar e espero que faça justiça com mão pesada.

Quero ressalvar que não imputo culpas a ninguém, que teve à frente do Sporting, por não ver nas suas atitudes quaisquer acções permeditadas.
Vejo, isso sim, responsabilidades na sua falta de competência.
Todos terão as suas, mas é absolutamente injusto achar que todos as têm por igual.
De todos os últimos presidentes sou um claro adepto de Filipe Soares Franco que irónicamente era aquele que me oferecia maiores dúvidas à partida.
De notar ainda que a eleicção do JEBO se deve em grande parte ao legado de FSF dado que, e apesar do descontentamento existente aquando da sua saída, reconhecia-se que o clube andava agora mais equilibrado e capaz, e que aquilo que realmente faltava era competência na gestão desportiva.
Acontece que o nosso clube tornou-se uma «mayonnese» e simplesmente talhou com a entrada do JEBO…!
Como sou alguém averso a qualquer tipo de demagogia instalada, por isso aceitar com muita dificuldade o actual estado das coisas que se passam tanto ao nível do meu clube quanto ao nível do país, apenas vejo saída e solução para qualquer crise através dum discurso de verdade onde todos os intervenientes assumam a sua própria responsabilidade no processo e viabilizem a condução moderada e sustentada do mesmo.
Por isso, aqui digo que para lá da responsabilidade imposta aos dirigentes, outra há que deve ser imputada aos associados, sob pena de serem estes os que por fim sofrerão as tristes consequências dum projecto derrotado… tal e qual aquilo que se passa hoje em todo o nosso país!
Mas uma vez vos digo que de nada serve apenas dizer que o problema do Sporting assenta apenas no não-investimento na sua equipa de futebol.
Se fosse apenas isso, tudo seria claro e fácil de solucionar. Há efectivamente muitos outros paradigmas que precisam de ser revistos sob pena de começar a ficar realmente tarde para o fazer…
É por demais evidente que o JEBO que nos preside, e toda a sua corte decrépita de zelosos seguidistas, nunca serão parte da solução, mas sim do problema.
Mas é preciso também reconhecer que não podemos cair na falsa demagogia e devemos procurar soluções em gente capaz e com vontade de fazer algo pelo clube, e não em iluminados, convencidos apenas pelo seu ego, que têm o dom alquímico para dar a volta ao assunto!
Disso ando eu farto e já perdemos muitos anos da nossa história com esse tipo de gente… Estamos todos apenas no limiar de fazer algo muito sacrificante, mas futuramente congratulante, pelo clube ou então na iminência de entregar as chaves do clube a uns quaisquer lunáticos que farão o favor de fechar a porta dele definitivamente…!

@Pepeu: Apenas um conselho: Põe parágrafos no teu texto com linhas em branco para separar. Assim fica muito chato de se ler! :great:

Eu não vou tão longe! Não me posso esquecer da avaliação feita aquando da venda dos terrenos do antigo estádio. Nem do facto de um iminente sportinguista ter dado o salto directo do Sporting para a empresa compradora!

Já quando ao Soares Franco, não sou tão entusiasta acerca dos seus méritos. Mais uma vez, alguns detalhes nas cláusulas de venda do património não desportivo deixam-me algumas dúvidas. Mas é a sua visão do clube (associativismo vs empresalismo, ecletismo vs ‘futebolismo’) que não me deixa saudades!

É por isso que só a realização da célebre auditoria é que pode restabelecer a confiança entre os sócios e quem os dirige!

Lamento pepeu, mas os factos revelam que FSF não fez um bom trabalho… eu até te vou ajudar:

PRESIDÊNCIA DE FILIPE SOARES FRANCO

Evolução a Nível Desportivo (2006-2009):
2006/07: Taça de Portugal + Supertaça
2007/08: Taça de Portugal + Supertaça
2008/09: Zero títulos.

Evolução a Nível Financeiro (2006-2009):

Quando entrou o Sporting tinha:
Receitas: 40 M€
Capital Próprio: 34 M€
Activo: 124 M€
Despesas: 40 M€
Passivo: 67 M€

Quando saiu o Sporting tinha:
Receitas: 47 M€ b[/b]
Capital Próprio: -16 M€ b[/b]
Activo: 126 M€ b[/b]
Despesas: 60 M€ b[/b]
Passivo: 142 M€ b[/b]

Evolução a Nível Patrimonial (2006-2009):

Quando entrou o Sporting tinha no seu património:

  • Estádio José Alvalade
  • Academia Sporting
  • Alvaláxia
  • Health Club
  • Clínica CUF
  • Edifício Visconde de Alvalade

Quando saiu o Sporting tinha no seu património:

  • Estádio José Alvalade
  • Academia Sporting
    - Alvaláxia :menos:
    - Health Club :menos:
    - Clínica CUF :menos:
    - Edifício Visconde de Alvalade :menos:

Além disto foi durante a sua presidência que o Sporting angariou:

  • 4 vezes consecutivas o dinheiro da Liga dos Campeões
  • Investiu menos em jogadores (compras)
  • Vendeu Nani por um valor recorde no clube (25 M€)

Mesmo sem contar com outros detalhes e vertentes, acho que isto chega para fazer uma avaliação. Pergunto-te a ti e aos outros foristas… qual é o veredicto?