O ESTADO A QUE VOLTÁMOS
«Tão certas quanto as tempestades tropicais e furacões no golfo do México, entre Junho e Agosto, são as crises no futebol português provocadas por erros grosseiros de arbitragem, entre Agosto e Maio. Os anos passam e as tempestades, cá e lá, não abrandam. São fenómenos da natureza, embora no segundo caso se trate da natureza humana, a mais perigosa por ser consciente, logo, capaz de escolher aqueles que pretende destruir.
Durante muito tempo, principalmente na última década, quis acreditar que os erros dos árbitros não escolhiam alvos, simplesmente aconteciam. Cheguei a essa conclusão depois de ter sentido muita vergonha do futebol em Portugal, nos anos de 1990, quando existiam ‘leis’ bem mais brandas para o ‘azul’, imensamente mais penalizadoras para o ‘vermelho’ e ‘verde’. Neste século, as coisas melhoraram de tal forma que me tornei, neste espaço, um defensor dos árbitros. Mas em consciência, e até que me provem de novo o contrário, tenho a dizer a muitos dos árbitros que hoje estão no futebol profissional: não acredito em vocês, nem continuarei a dar-vos o benefício da dúvida. Este é o estado a que chegámos, ou a que voltámos: aquele em que o terceiro elemento tem um peso insuportável na decisão dos jogos.
O que se passou em Moreira de Cónegos é inqualificável. Não há um argumento capaz de justificar o que o árbitro Luís Godinho fez. Rebocho (Moreirense) agarra e puxa, com as duas mãos, o braço de André André (Porto) na área e não é grande penalidade? Como? O árbitro abalroa Danilo, mal sente o contacto leva a mão ao bolso para tirar o cartão, e depois relata que o mostrou por ‘bocas’? Mas acha Luís Godinho que andamos todos a comer gelados com a testa?
O que se passou em Setúbal? Edinho (V. Setúbal) diz que sentiu “um contacto nas costas”, José Couceiro afirma que o avançado sofreu “um toque no gémeo” (músculo na perna) e Coates (Sporting) garante que o árbitro lhe disse ter sido ele a fazer a falta. Ora, Coates estava à frente do sadino. Atrás encontrava-se Douglas. Mas depois de ter visto o árbitro Rui Oliveira confundir a cabeça de Edinho com a de Bas Dost, na área setubalense, nem imagino o que ele quis ver no lance capital…»
(José Ribeiro, Opinião, in Record)