Receando o que será certamente um futuro a curto prazo difícil, ainda assim confesso a minha curiosidade e já agora satisfação por termos aquilo que à partida será um plantel maioritariamente formado por jogadores nascidos no Sporting. É algo que vai de encontro aquilo que sempre quis, que é a possibilidade de criação de uma identidade própria, que advém de jogadores da mesma matriz, que desde o berço estão habituados a ganhar, que estão habituados muito deles a jogar juntos e que o fazem quase de olhos fechados.
Leonardo Jardim terá um trabalho muito difícil pela frente, mas também o desafio de extrair do próximo plantel, o que cada um dos jogadores tem de melhor e espero que aproveitando a tal matriz, que existe e tem que ser potenciada e logo agora que o clube tem uma geração de jovens acima da média.
Cedric, Nuno Reis, Ilori, Dier, Martins, Esgaio, Zezinho, Bruma, João Mário, Wilson Eduardo e outros, não devem ser vistos como um problema pela falta de experiência, maturidade, ritmo competitivo. O trabalho do clube deve ser direccionado no aproveitamento nessa vantagem competitiva que temos, que é um lote de jogadores com cultura de jogo e de clube, que se conhece, que tem qualidade ( uns mais, outros menos, outros têm potencial para serem grandes, outros nem por isso ) e saber trabalhá-los, individualmente mas principalmente como conjunto. Há aqui uma oportunidade de ouro de criar uma ideia, princípios e cultura de jogo muito próprios. Há uma base que existe, tem que ser desenvolvida.
Mais que uma definição de limites máximos ou mínimos do número dos jogadores da formação no plantel principal, é na lapidação desse núcleo que contém o mesmo ADN e torná-lo em algo único que devem ser focalizados grande parte dos esforços. Estou crente que estão criadas as condições para isso. Desde o topo, com um líder que sente este clube como poucos e que acredita convictamente no que este tem de melhor, na escolha do treinador, ambicioso e exigente e na própria conjuntura, que obriga a que sejam potenciados os recursos já existentes.
Das dificuldades financeiras e do abismo para o qual faltou menos de um passo, temos a possibilidade de marcar a história. Recriar uma cultura à Sporting, de leões que não cedem e que não desistem de fazer deste clube, aquilo que os seus fundadores sonharam. Grande, vencedor, único.
O caminho é difícil, mas há aqui uma janela de oportunidade para criar algo muito especial. Saber fazer crescer estes jovens, torná-los num conjunto que marque a diferença pelo carácter, por aquilo que foram e são como atletas que respiram Sporting há muitos anos e, desta vez, saber também encontrar fora do nosso seio, dois ou três atletas que elevam este grupo a outro patamar, capazes de assumir responsabilidades que individualmente os nossos miúdos ainda não estarão preparados para enfrentar. A facilidade com que Ilori, Dier e Bruma se impuseram não aconteceu por acaso. Mesmo as dificuldades reveladas por Zezinho e Esgaio, foram bem menos evidentes que as sentidas por outros, vindos de fora, desconhecedores da nossa realidade e alguns pagos a peso de ouro. O Sporting é a casa deles.
O futuro poderá ser nosso. Tem a palavra a direcção e o seu projecto. 2013/2014 não tem que ser o “annus horribilis”. Pode e tem que ser o princípio de um caminho ainda mais glorioso que um passado de mais de 100 anos.