Exmo. Senhor Dr. Eduardo Prado Coelho
Lisboa, 26 de Novembro de 2004
Exmo. Senhor,
Dever de ofício e preocupação com o manter-me a par das opiniões de uns quantos pânditas do burgo, levam-me diariamente a folhear os media tanto generalistas como desportivos.
Ontem deparei-me com o seu “Será este o futuro?”. Para além do talento habitual – aquele talento que com frequência lhe permite transformar coisa nenhuma numas linhas interessantes ou, dito de outro modo, a qualidade da mulher bonita a quem qualquer trapinho fica bem – encontrei nele muito fel, o que, vindo de si, nem será excepcional.
Porque acredito, como o bom povo, que os gostos não se discutem – sobretudo quando proclamados tão altaneiramente por quem seguramente se vê como árbitro dos árbitros do bom tom – estive tentado por um encolher de ombros encomendado por “mais uma do bom Dr. Prado Coelho”.
No entanto, o dano manifesto e desmedido causado ao Sporting pela sua sanha impôs-me considerar o encaminhamento da sua prosa para os serviços jurídicos do Clube.
Finalmente, quando ainda hesitava na solução a escolher, ocorreu-me que numa crónica sua de há anos revelara, ou pelo menos assim julguei, afinidades sportinguistas.
Assim, juntando a sua suposta simpatia clubista à manifesta ignorância que revela do Alvaláxia – sendo certo que outra qualidade que facilmente lhe reconheço é a vontade de ir sempre mais longe na procura de conhecimentos, quem sabe se para não se quedar na superficialidade que todo o talento que é o seu lhe permitiria – resolvi-me por um convite: organize-se em termos das suas infindáveis ocupações para dispor de um par de horas e venha almoçar comigo a Alvalade.
Aproveitaremos, se acaso concordar com o meu alvitre, para discorrer sobre a história recente do Sporting. Estou certo de que encontraremos uma oportunidade para trocar impressões sobre o sufixo “áxia” que tanto mal estar lhe causou e para, provavelmente, concluirmos que embora comummente associado ao espaço sideral, está longe de conduzir univocamente à algidez dos astros mortos – que faríamos do calor das estrelas? De qualquer modo, aprenderia certamente que os estádios modernos não têm traseiro, perdão traseiras.
Na esperança de que aceite este meu convite, subscrevo-me,
António Dias da Cunha
P.S. Estou certo de que, pelo menos, o terei levado a repensar o seu “Será este o futuro?” e assim a tomar consciência de que, embora a sua “guerra” seja com as “pipocas” e que a fez com tanto mais gozo quanto nela conseguiu envolver um grande nome do capital financeiro – ser de esquerda é outra coisa, não é verdade Dr. Prado Coelho?- o Sporting foi por si brutalmente atingido, à maneira dos hoje tão badalados danos colaterais. Um modo de começar a reparar o dano, necessidade que o seu espírito de justiça não deixará de lhe apontar, será assegurar “a esta carta aberta” a mesma divulgação do seu escrito.